quinta-feira, 31 de julho de 2008

Por que Morpheu me atrapalha a vida

Em seu livro "O Atleta Interior", Dan Millman fala que, como treinador de ginastas universitários, ele percebeu que um sinal de progresso é ser mais auto-consciente dos próprios erros - vários dos jovens sob sua batuta vinham lhe falar que, desde que entraram para o time principal, seu desempenho decaíra muito desde o tempo de escola. Contudo, quando Millman comparava vídeos de competições escolares com vídeos atuais, ficava claro para ele que seus alunos estavam melhores do que nunca! O erro deixa de ser algo natural para se tornar algo a ser extirpado. Algo deste tipo está acontecendo comigo, e já relatei muitos dos meus vícios aqui: chocolates, sucos, carne e preguiça, principalmente. Poderia falar de muito mais coisas, mas no momento, quero falar do que considero meu pior e mais enraizado vício: o sono.

Por oito anos, estudei no período da tarde. Isso me permitia dormir até às 9 ou 10 horas da manhã todos os dias. Nos finais de semana, ia um pouco além, e dormia até às 11, ou mesmo até ao meio-dia. Este regime permissivo me tornou quase incapaz de acordar cedo. Quero dizer, acordar por acordar. Quando tenho um propósito claro em minha mente, é muito fácil sair da cama. Tanto é que nunca faltei um acampamento dos escoteiros por que queria dormir mais cinco minutinhos. Não vou dizer que nunca faltei aula por excesso de sono. No Ensino Médio, a coisa mudou de figura, e algumas vezes pedi para meus pais me deixarem matar o primeiro periodo e dormir mais seis vezes cinco minutinhos. E, na faculdade, já perdi duas aulas matinais por que, quando acordei, vi que estava atrasado, dei de ombros e voltei a dormir. Fiz isso no primeiro e no terceiro semestres.

Mas ir para a aula não significa prestar atenção nela. E qual melhor forma de ignorar um professor completamente que baixar a cabeça na mesa e dormir sem o menor pudor? Desenvolvi esta habilidade no Ensino Médio, graças à minha baixa tolerância ao periodo anterior às 9 da manhã, a chatice das aulas e meu fraco sentimento de pertença à minha turma, e por causa dela fui apelidado criativamente de Soneca e o prêmio Leda para Criaturas Inúteis na categoria "Melhor Seguidor do deus Morpheu". Mas foi no cursinho e na faculdade que elevei esta habilidade ao nível da arte. Tal como os iogues, que conseguem controlar seus batimentos cardíacos e pressão sangüínea, para entrar em sono profundo, basta apenas eu baixar minha cabeça, e esperar alguns minutos, "prestando atenção" ao hipnótico blá-blá-blá do professor. Mas este meu poder foi se apoderando de mim, ao ponto de ter dormido em todas as aulas que já tive até o momento. Uma professora minha (que dava aula de manhã) me fazia ficar sentado em cima da minha carteira, pois, desse jeito, ela sabia que eu não dormiria - e se dormisse, cairia no chão e acordaria.

Para piorar minha situação, eu durmo tarde. 23 horas é cedo segundo meus padrões. A faculdade certamente não colabora para mudar isto, pois cansei de ficar acordado até às 6 ou 7 da manhã fazendo relatórios. A pior cagada que já fiz num dia destes foi ter ido para a academia. Cheguei pensando em treinar dois ou três horários seguidos, e saí impressionado que tinha conseguido treinar um horário inteiro. Foi uma dissociação interessante, pois enquanto minha mente funcionava impecavelmente, meus músculos entraram em greve. Falei da minha situação para o professor, que ao término da aula disse explicitamente "vê se dorme". Quando um professor de Kung Fu diz isso, é sinal que, sim, você deve dormir.

As férias viraram meu relógio biológico do avesso, especialmente o ENEP, onde ir dormir às 4 da manhã era rotina. Agora, estou lutando para mudar este comportamento. Como já disse, não encontro problema algum em levantar, desde que tenha um bom motivo. Antes de viagens, sempre tenho medo de dormir demais e perder o ônibus. Foi assim nos dois ENEPs e no EREP que fui, e para o congresso em Buenos Aires. Mas em todos eu acordei muito antes do necessário, e sozinho. A questão é que, apesar de saber racionalmente os benefícios de acordar cedo, não vejo muito propósito. "Acordei às 7 da manhã. Viva para mim! Agora, eu vou... fazer o quê mesmo? Ah, então vou voltar pra cama que é mais lucro." Já fiz isso muitas vezes. Mas eu quero acordar mais cedo, então eu vou mudar este meu hábito ruim. Só não tenho muita idéia de como fazer isso.

Olim-piada

Copa do Mundo e Olimpíadas. O que estes dois eventos têm em comum, com a exceção de serem eventos esportivos mundiais muito importantes? Antes de começarem e durante seus jogos, não pára de passar propagandas na TV com atletas popstars. Eu me lembro que na Copa de 2006, o queridinho era o Ronaldinho Gaúcho, que só não fez propaganda de absorvente interno por que achou que o cachê pra colocar o OB era muito pequeno, se bem que o Ronaldo Fenômeno também não ficava muito para trás. Agora, o bola da vez é o Giba da seleção de vôlei - em menos de 5 minutos olhando os comerciais do "Globo Esporte" ele apareceu duas vezes, fazendo propaganda de duas porcarias diferentes. Não que haja uma relação causal, mas em 2006 os dois Ronaldos fizeram fiasco e saíram com fama de capitalistas-vagabundos-vendidos-sem-amor-pela-camiseta. Depois que a Copa do Mundo acabou, com o Brasil eliminado nas quartas-de-final e a Itália tetracampeã, não vi mais a fuça feia do Ronaldinho Gaúcho na TV emprestando seu prestígio para alguma marca grandona de... alguma coisa. Bem, até por que ninguém queria o prestígio dele.

Mas eu não quero ficar fazendo críticas ao modelo capitalista - para isso temos os professores de Ciências Humanas das universidades federais. É problema desses atletas se eles emprestam a própria cara para ganhar uma banana vendendo celular ou o que quer que seja. Isso faz parte das regras do jogo e é problema deles se eles querem fazer isso ou não. O que me incomoda mesmo é a maneira como usam o "espírito olímpico" (ou "espírito do futebol" no caso da Copa do Mundo) como motte destas propagandas. Fazem parecer que a Olimpíada é uma grande confraternização de esportistas, que se reúnem pelo prazer de competir e pela paz mundial, e que esta é a coisa mais nobre do mundo. Nada mais distante da realidade. Olimpíada é um evento que reúne um número extremamente elevado de atletas de alto nível, tanto em desempenho físico quanto em egolatria, onde um toma mais anabolizante pra cavalo que o outro pra ver quem ganha a medalha de ouro e o direito de cantar vantagem de ser campeão olímpico, e quem é eliminado cedo na competição passa o resto do tempo bebendo e fodendo. Hmmm, pensando bem, essa segunda parte não é tão ruim assim... Em todo caso, não é nobre ou elevado como passam a imagem por aí.

Sem falar em toda a política por trás das olimpíadas. Todo ano de olimpíada tem algum tipo de protesto contra alguma coisa. Esse ano foi "Free Tibet!", o que levou muita gente a querer boicotar o evento. Quando o evento foi sediado na União Soviética, a delegação dos EUA não foi. Ou algo assim. A escolha da sede também é uma escrotice.

Mas o mais importante de tudo, é que a grande maioria dos eventos são chatos de assistir. Tipo, qual a graça de assistir uma corrida de revezamento, ou qualquer outra prova de atletismo? Não que eu gostasse de ter torcida quando eu mesmo corria os meus 3200 metros nos EUA, mas o fato das pessoas irem assistir um bando de malucos correr em círculos sempre me intrigou. É pra ver quem chega primeiro? Ou por último (nesse caso eu era um cara popular, já que com alguma freqüência eu chegava em último nas corridas)? O mesmo vale pra Fórmula 1 e esses outros "esportes" pra gordo ficar assistindo no domingo de manhã, com a diferença que, nesse caso, o maior esforço empreendido pelos "atletas" é pisar no freio (mas eles devem ter reflexos absurdos para dirigir à 300km/h). Ainda assim, é só ficar assistindo. Quase como filme pornô, ou televisão de cachorro. É sem graça. Vá ler um livro ou caminhar no parque. Eu vou fazer isso enquanto as olimpíadas não acabam. E depois que elas acabarem também.

* Andarilho tem 19 anos, é estudante de Psicologia, gosta de cookies e de xingar psicanalistas, e estava levemente fora de órbita quando escreveu este artigo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Dias Dietéticos (Parte 6) - Epílogo

Já não estou mais de dieta fazem dois dias, mas as considerações continuam. Demorei quase a manhã inteira de ontem para pegar um alfajor e comer, mas depois que abri o pacote e dei a primeira dentada, foi difícil parar e não abrir mais um, e mais um, e mais um, indefinidamente. Para ser franco, só parei de comer por que acabaram-se os alfajores. Há de se diferenciar entre necessidades verdadeiras e desejos puros e simples. Chocolate é gostoso, mas não é necessário. E o drive para sempre comer o próximo é assustador.

Quanto às outras restrições, demorei um pouco mais para quebrá-las: suco, só tomei à noite, e carne vermelha nem pretendo comer.

Regras alimentares mostraram-se necessárias, para restringir meu consumo de porcaria - eu só não sei que regras formular. Ainda não, pelo menos. Acabei de abrir um pacote de língua de gato (chocolate muito gostoso), e sei que vou acabar com seu conteúdo em muito pouco tempo. Que benefícios isso vai me trazer, exceto a efêmera satisfação de ter consumido em 15 minutos mais gordura do que muita gente consegue em um ano?

Espero que, quando eu escrever o meu próximo post, eu já tenha chegado em algum lugar. O pacote de chocolate continua ali.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Responsabilidade e Liberdade

No post "A Sempre Condicional Liberdade", expus algumas de minhas idéias referentes à liberdade humana, resultado de muito ler e pensar sobre o assunto. Nos comentários, o Marcelo deixou algumas perguntas importantes, que merecem um post inteiramente novo para serem respondidas. Transcrevo-as aqui:

Como ficam as questões de responsabiliade, mérito e culpa a partir dessa tua concepção de liberdade? E fazes alguma diferenciação entre liberdade e livre-arbítrio, ou estás tratando como sinônimos?

Bem, como disse anteriormente, considero que a liberdade reside no vácuo entre nossas escolhas - em outras palavras, somos seres livres justamente por tomarmos decisões, e por sermos capazes de auto-reforçarmos nossos comportamentos mais desejáveis, ou, melhor dizendo, mais corretos, pois muitas vezes, temos que escolher entre uma opção agradável, porém eticamente duvidosa, e outra, de conseqüências fisicamente desagradáveis, mas congruente com nosso sistema de valores. Toda tomada de decisão envolve conseqüências futuras: eu posso preferir abandonar os estudos e viverna boêmia às custas dos meus pais, mas chegar nos 40 anos sem saber fazer nada além de beber e fazer festa, ou escolher afundar-me completamente nos livros, negligenciando minha vida social por completo, e ser bem-sucedido profissionalmente mas um fracasso em minha vida pessoal aos 40 anos, como também posso tentar buscar um equilíbrio entre estes dois extremos. Seja qual for minha escolha, as conseqüências serão inevitáveis, e eu terei de confrontá-las, cedo ou tarde. Não há escapatória, pois, por mais variáveis externas que possam ter interferido na minha vida, eu ainda sou o único e último responsável pelo meu sucesso ou pelo meu fracasso. Responsabilidade é inseparável da Liberdade, tanto que Viktor Frankl costumava dizer que deveria ser construída uma Estátua da Responsabilidade na Costa Oeste dos Estados Unidos para completar a Estátua da Liberdade na Costa Leste.

Mas um arguto debatedor como o Marcelo não aceitaria minha resposta como satisfatória, e me perguntaria sobre a responsabilidade que um psicótico teria sobre os crimes cometeu. Seria de um terrível mau gosto culpar um esquizofrênico por ouvir vozes assassinas em sua cabeça, e não acho que seja possível responsabilizá-lo por matar alguém. Simples que este pequeno esclarecimento pode parecer, ele abre um precedente filosófico muito importante para este debate: até que ponto não somos, nós mesmos, psicóticos, e portanto livres de qualquer responsabilidade por nossos atos? Até que ponto não somos meramente controlados como bonecos por nossos instintos, arcos reflexos e tendências hereditárias, e até que ponto esta chamada vontade não está sufocada debaixo de todos os nossos desejos primários? É uma questão tão complexa quanto antiga e polêmica, tendo muitos teóricos concluído que não somos livres, enquanto outros concluíram que possuímos livre arbítrio. Pessoalmente, acredito que é infantil discutir este assunto de forma tão dicotômica, pois penso existir não apenas dois pólos distintos, mas um continuum, partindo do bebê que nada pode decidir, até o adulto que pode tomar decisões muito complexas em sua vida. A completa liberdade seria, segundo as filosofias orientais, a iluminação, ou a auto-atualização para Maslow e a individuação para Jung. Não pretendo discutir o que é a iluminação ou como alcançá-la, mas entendo por que tão facilmente se conclui que o ser humano não é livre, pois poucos alcançam tão elevado grau de desenvolvimento pessoal, ficando a grande maioria das pessoas inconscientes, envoltas em ilusão. Ainda assim, por mais inconsciente que uma pessoa seja de si mesma e de seu mundo, por mais afundada que esteja em delírios psicóticos, ela ainda terá que enfrentar as conseqüências de seus atos. Podemos debater se filosoficamente ela mereceria tal tratamento, mas o universo não alimenta tais dúvidas, e é implacável na aplicação da lei do efeito. Como Sartre disse, "estamos fadados à liberdade", por que estamos fadados À responsabilidade de todos os nossos atos.

Entre aqueles que acreditam que o ser humano não é livre, existe uma crença muito comum de que a melhor forma de governo seria a tecnocracia, onde alguns poucos cientistas tomariam as decisões governamentais baseados em pesquisas empíricas e educação rigorosa. É o que defende Skinner em seu livro "Walden II" e Platão em "A República", e a sociedade distópica que Aldous Huxley pinta em "Admirável Mundo Novo". Este modelo de governo está, na minha humilde opinião, destinado ao fracasso, pois além repousar em bases pouco sólidas (por exemplo, como seriam escolhidos os governantes e quem escolheria a educação a eles dada?), falha justamente em delegar responsabilidades reais aos seus cidadãos. É através da responsabilidade que uma maior liberdade torna-se possível, através da expansão da consciência que seus conflitos causam em nós. Poderíamos simplesmente viver como a sociedade que Huxley descreveu, e simplesmente nos drogarmos para alcançar um estado de estupidez mental tão grande que esqueçamos de nossos problemas, conforme aquele adágio que diz que "a ignorância é uma benção", mas viveríamos, creio eu, vidas sem sentido, indignas de serem vividas.

Nesta concepção de liberdade, mérito e culpa são termos perfeitamente utilizáveis, mas secundários. Poderia dizer que quanto mais consciente uma pessoa é, mais responsável pelos seus atos se torna, e talvez seja cabível culpá-la por um erro grosseiro mais do que uma pessoa ignorante, da mesma forma que é mais louvável uma pessoa não iluminada agir de maneira mais elevada. Mas no fim, o que importa verdadeiramente é a responsabilidade pessoal, e enfrentar as conseqüências, boas ou más.

Por fim, sinto que não sou capaz de responder a segunda pergunta do Marcelo a contento, por não compreender a possível diferença entre liberdade e livre arbítrio, mas acredito que os utilizei como sinônimos intercambiáveis neste post e no anterior.

Dias Dietéticos (Parte 5)

E está oficialmente encerrada minha semana sem doces, sucos e carne vermelha. Antes da apresentação das conclusões as quais cheguei através desta "pesquisa fenomenológica" de delineamento de estudo de caso único, quero fazer um pequeno apanhado do que aconteceu ontem e hoje.

Ontem aconteceu o terceiro encontro do "Juventude em Cena", um projeto de extensão do CEP-Rua em parceria com escolas da região metropolitana de Porto Alegre, no qual participo como monitor (é, cuspi pra cima quando disse que nunca mais iria fazer nada do CEP-Rua depois do curso de extensão). Como as atividades durariam quase o dia inteiro, almoçaríamos por ali mesmo. Para variar, o almoço, pago pelo projeto, era massa com guisado com Tang. Carne vermelha e suco: só faltou chocolate de sobremesa. Cheguei atrasado no RU, onde estavam sendo servidas as viandas, vi que era guisado mesmo e decidi jejuar. Na verdade, eu sabia de antemão o cardápio do dia, mas nem me cocei para conseguir um rango alternativo. Já pensava em jejuar de qualquer forma. Pensei em me render aos meus impulsos mais baixos, aos meus nafs, como chamam os sufistas, mas não foi um pensamento muito sério e foi logo descontinuado. Mais difícil foi explicar para o grupo que monitorava por que cargas d'água eu não comeria coisa tão gostosa como guisado. Pensei em falar sobre meu experimento alimentar, meus objetivos e minha metodologia para alcançá-los, mas achei mais simples dizer "por que eu não quero" e dar o assunto por encerrado.

Pensei em fazer jejum pelo resto do dia, mas a fome e as pizzas de frango do lanche mudaram meus planos. Frango eu não cortei da minha dieta. Pelo menos ainda.

Sábado de noite eu estava em Caxias, e passei o domingo inteiro aqui. Passei o dia dando olhadas furtivas para a geladeira e para os armários da despensa, cheios de coisas gostosamente proibidas, mas não cedi à tentação. Na verdade, se fosse um pouco mais frouxo comigo mesmo, eu poderia já ter começado a comer chocolate e a tomar suco desde ás 18 horas, quando os 7 dias de dieta se encerraram. Até o presente momento, não comi nada disso. E olha que tem sorvete no freezer.

Fazendo um balanço geral de toda a semana, posso dizer que o experimento foi proveitoso. Concluí que comer mais frutas, beber mais água mineral e comer menos doces e coisas industrializadas (chocolates e sucos em especial) é benéfico. Algum cretino pode deixar um comentário dizendo "os cientistas já provaram isso muito tempo antes de você!" ou apontar erros metodológicos no meu delineamento que impedem que qualquer generalização seja feita. Pra você que pensou em fazer isso, vá pro inferno. Essa foi uma experiência pessoal vivencial, que é existencialmente muito mais marcante que todos os artigos científicos do mundo.

Num plano mais etéreo de descobertas, também cheguei à que ainda estou muito apegado aos meus desejos. Minha experiência no corredor de porcarias do Zaffari na sexta demonstrou claramente isto, e meus constantes pensamentos achocolatados também. Tenho muito o que treinar ainda.

Amanhã não vou me privar de tomar um sorvete bem servido, mas vou pensar bem no que fazer daqui em diante. De forma bem superficial, já considerei algumas estratégias para diminuir meu consumo dos ditos alimentos: comer chocolate só dois dias por semana, tomar só um copo de suco e somente durante refeições, cozinhar mais por conta própria e deixar os congelados congelados por mais tempo... mas nenhuma delas é definitiva. Provavelmente este não é meu último post sobre minhas indiadas alimentares. Até o próximo, vou ter concluído pelo menos alguma coisa (e tomado algum sorvete, só espero que não muito).

sábado, 26 de julho de 2008

Vida Dura (Parte 17)

No caminho para academia, passo sempre na frente de um restaurante chamado "Boteco Dona Neusa". Ao contrário do que o sufixo "boteco" possa indicar, o estabelecimento é relativamente chique. Talvez seja melhor dizer que é justamente o "boteco" o melhor indicador que o tal lugar é chique - por que tá na moda ser chinelo, ou pelo menos parecer chinelo até certo ponto.

Boteco que é boteco não tem boteco no nome: é bar, lanchonete ou, no pior dos casos, restaurante. Quem coloca "boteco" no nome do lugar é por que quer dar um ar de chinelagem. Ou fingir que dá um ar de chinelagem. Imagine uma conversa entre um casal de classe média alta, sobre onde eles vão comer:

- Amor, hoje é sexta-feira. Vamos ficar em casa assistindo o DVD de Friends pela quinta vez ou vamos sair?
- Também não agüento mais essa porra. Ouvi dizer que abriu um restaurante novo na Lima e Silva, boteco Dona Neusa. Quer ir lá?
- NOOOOOOSSA! Eu sempre quis comer em um boteco de verdade! Vamos agora!

Na frente do tal "boteco", havia uma placa dizendo "venha comer a verdadeira comida de boteco!", escrita com giz numa lousa verde, para dar mais autenticidade para a coisa toda. Mas o que seria a "verdadeira comida de boteco"? PF de feijão com arroz? Batatinha frita? Calabresinha frita? Não. A verdadeira comida de boteco é definida por uma só palavra: sujeira. Aliás, toda a experiência boteco é definida por um monte de sujeira, em todos os cantos, inclusive e especialmente na SUA comida.

O botecão true é aquele mal iluminado, fedendo a cigarro, com mesas tortas de sinuca, com um bêbado de lei que bate ponto todo dia às duas da tarde pra beber até às duas da manhã. Ali, você vê baratas dançando e copulando na frente de todos, e ratos competindo por espaço com elas. Seu Jucão, ex-pedreiro e amasiado com um travesti, é o dono do recinto e o único que anota os pedidos. Ele anda sempre com um palito de dentes na boca, e se não vai com sua cara, manda Pedrinho, o moleque que quebra galho na cozinha, esfregar o pão do seu sanduíche nos próprios testículos.

O boteco de verdade não é aquele da Dona Neusa, com piso branco e limpo, garçons uniformizados esperando para anotar seu pedido. Não. Botecos são a quintessência da sordidez humana. Um lugar onde nosso querido casal nunca se atreveria a entrar.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Dias Dietéticos (Parte 4)

Dois dias se passaram desde o último post sobre minha semana de dieta (ou dieta da semana, tanto faz). Amanhã será sábado, e domingo acaba o experimento.

Uma coisa que ficou muito clara para mim é a importância de nossos desejos. Fui no mercado hoje depois do treino para comprar maçã, bergamota e pão, e enquanto caminhava até o corredor das frutas, fui olhando para os balcões e pensando em todas as coisas gostosas que eu me proibira de comer por uma semana. Uma semana, e já é demais.

Depois que já estava com tudo em mãos e pronto para pagar, decidi que iria passar na frente de todos os iogurtes, doces e bebidas que encontrasse pelo caminho até o caixa, e olharia bem para eles - pois não iria comprá-los de jeito nenhum. Foi aí que tive o estalo: quem manda no meu corpo: minha razão ou meus desejos? Lamento ter que dizer isso, mas até o momento, meus desejos provaram ser muito mais fortes que minha razão. Mesmo que mil pesquisas e mil anos de experiência com comida provassem que chocolate é veneno e frutas são a panacéia, eu ainda levaria uma barra de Alpino para casa ao invés de um cáqui. OK, estou exagerando um pouco - talvez, eventualmente eu comprasse fruta ao invés de chocolate, mas seriam poucas vezes, e no fim irrelevantes.

Buddha estava correto quando disse que a fonte de todo o sofrimento são nossos desejos. Até eu ter meu estalo, eu passava pelas prateleiras do Zaffari um tanto quanto triste, pois eu queria comer tudo aquilo (não, não tudo, mas uma boa parte pelo menos). E se eu deixo minha razão, que teoricamente é minha guia na vida, ser mera serva dos meus volúveis desejos, o que vai ser da minha vida?

É nessa hora que nossa capacidade de auto-regulação, mais conhecida por vontade, entra em cena, e usa as informações que a razão trás, pesa com os desejos, e decide o que é melhor. Bem, não é uma teoria psicológica muito bem fundamentada, apenas na minha experiência pessoal, mas faz muito sentido para mim.

Domingo pensarei melhor a respeito, mas estou considerando manter minha dieta pelo menos parcialmente daqui para frente, comendo chocolate e doces apenas uma ou duas vezes por semana. Quanto aos sucos, não sei bem o que fazer. Como já disse, vou pensar melhor no domingo.

Sorte Orkutiana do Dia (Parte 4)

Sorte de hoje: Confiamos só em Deus; quanto aos outros, paguem à vista.

É. O que o Orkut disse.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Livros, livros, livros...

Dizem por aí que eu leio demais. Não é mito - é realidade. Para confirmá-lo, aqui vai mais uma série de fotos, dos livros que tenho espalhados pelo meu quarto:

De baixo do prato com cascas de bergamota, livros que peguei de bibliotecas.

Minha cama, que atualmente não passa de um depósito de livros.

Pilha dos livros que estão sendo lidos agora. Faltam dois.

Alguns livros que pretendo ler no futuro próximo, e uns polígrafos da faculdade, que estou lentamente desbravando.

Pilha suprema de livros ainda por ler. Como podem ver, tão alta quanto a cômoda.

Salci fufu! Tinha mais livro escondido do lado da pilha grande! Há!

E é isso. Esse é meu quarto.

A Sempre Condicional Liberdade

Tal como muitos filósofos e cientistas antes de mim, preocupo-me com a questão da liberdade humana. Este debate divide-se basicamente em duas posições, aparentemente irreconciliáveis e antagônicas: ou o ser humano é livre, ou não o é.

De fato, o ser humano é largamente determinado por causas sob as quais ele não exerce o menor poder – sua carga genética de Homo sapiens e membro de sua família, e o meio ambiente em que vive – físico, natural e social. O argumento de que o ser humano é livre para ser o que bem deseja é na maioria das vezes falho, pois parte do pressuposto de que há dentro de nós um ser autônomo, que nos faz agir de acordo com seus desejos, deus ex machina. Diria que isto é absurdo, se não fosse tão ingênuo. A diferenciação geralmente feita entre organismo e ambiente é meramente didática, pois não temos como viver sem um ambiente. Mesmo que me retirasse para o meio do nada, eu ainda viveria num ambiente composto por nada (e ainda teria o problema filosófico de definir o nada absoluto para resolver, o que não é nada legal). E também não tenho como fugir dos meus genes, muito menos dos milhares de anos de seleção natural e evolução que formaram a raça humana, que continua a modificar-se.

Ainda assim, acredito que somos livres, não de forma total e plena, mas circunstancialmente. Em nossas vidas, somos obrigados a tomar muitas decisões. Algumas são praticamente inconseqüentes, como que tipo de pão comprar, outras são mais graves, como que profissão seguir. É neste vácuo de escolhas que nossa liberdade reside. Claro, mesmo quando tomamos decisões somos influenciados pelo nosso passado, mas sempre podemos escolher algo completamente diferente de tudo que já vivemos ou conhecemos. Pode não parecer ser uma grande liberdade, mas é ela, e essencialmente ela que pode nos levar a sermos heróis ou vilões, santos ou pecadores, auto-realizados ou perdidos no abismo hedonista do mundo material.

Como disse, são nossas experiências com nosso ambiente que nos determinam. Assim sendo, quanto mais eu sei e conheço do mundo, mais livre sou, pois meu repertório comportamental é maior e mais variado. Uma pessoa que nunca saiu de sua cidade natal muito provavelmente é mais apegada aos seus hábitos e costumes que uma pessoa que viajou pelo mundo todo e conheceu estilos de vida diferentes do seu. Não quero dizer que pessoas viajadas são mais livres que pessoas que nunca saíram de casa, mas é mais provável que o sejam. Mas não se conhece o mundo apenas através de viagens, mas também de livros, jornais, filmes e qualquer outro meio de comunicação. Talvez seja melhor dizer que pelo menos um poderoso veículo de nossa libertação é a informação, ou o conhecimento, pois com ela, somos capazes de agir de formas mais variadas. Com o conhecimento, podemos nos libertar do nosso passado e criar um novo futuro, diferente de tudo que viera antes de nós.

De fato, o ser humano não é livre, enredado que está em seus genes e condicionamentos. Os primeiros, não podemos mudar tão facilmente. Os segundos, contudo, estão sob nosso poder, apesar de na maior parte do tempo os deixarmos comandar. Liberdade é nossa capacidade de auto-reforçarmos nossos comportamentos mais desejáveis. Assim sendo, o ser humano pode não ser livre, mas caminhar paulatinamente para uma maior liberdade.

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Não fiquei muito satisfeito com o texto em si - achei que ele ficou um pouco confuso e desconexo - mas achei que seria interessante compartilhá-lo no blog, e ver se alguém aqui tem algo a dizer a respeito.

Missão Matrícula

É... estou, neste exato momento, às 3:15 da madrugada, acordado e fazendo minha matrícula para o semestre letivo de 2008/2. A largada foi dada à meia-noite de hoje, 24 de julho, para todos os estudantes interessados em continuar estudando de graça na UFRGS efetuarem suas matrículas. Como eu conheço o ser humano, esperei o fervo das primeiras horas passar, o Portal do Aluno se descongestionar, para que só então eu me coçasse pra fazer qualquer coisa da matrícula.

Acho que já falei isso anteriormente, mas repito agora: é impossível estudar na UFRGS sem se incomodar pelo menos uma vez com a matrícula. No Instituto de Psicologia, os departamentos costumam oferecer disciplinas eletivas aleatórias, que dependem do interesse momentâneo dos estudantes e professores e do Espírito Santo, e tendo caráter provisório, não podem ser marcados à ferro quente na grade curricular. São, então colocados dentro de uma disciplina guarda-chuva, de nome genérico, para que estas disciplinas sejam cursadas de forma legal perante o DECORDI. E a sociedade. E a Justiça. E a Verdade. E as drogas.

Cada departamento chama essas disciplinas do jeito que bem entende. No Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e Personalidade, ela se chama "Tópicos em Psicologia" - I, II e, mais recentemente, III. Semestre passado, as duas eletivas que cursei estavam registradas como Tópicos I e II. No próximo semestre, quero cursar outra eletiva - que também está registrada como Tópicos em Psicologia II. Caso você tenha lido tudo e não tenha entendido nada, eu explico a parte essencial: vou ter que ir na Comissão de Graduação (COMGRAD) e pedir por escrito para que eu seja matriculado manualmente em Tópicos em Psicologia II, abrir processo no DECORDI e esperar que eles gostem de mim, e aprovem meu pedido logo de uma vez.

Isso é tudo culpa da globalização. Sempre é. E do aquecimento global. Eu deveria parar de escrever tanta bobagem quando eu tô com sono.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Dias Dietéticos (Parte 3)

Nada de extraordinário para relatar sobre meu dia dietético de hoje. Fui no mercado depois do treino, e quando passei naquele corredor com as porcarias que devem ficar geladas ou estragam, vi um sabor novo de Danette. Parei, olhei para os potinhos e pensei "Uuuuh! Deve ser bom. Mas eu não posso comer", e fui embora.

Fiz a tal da batida de de banana com leite. Não é ruim, mas com mel teria ficado mais gostoso. E hoje fiz uma janta extremamente afrescalhada: cachorro-quente sem molho.

De resto, só posso dizer que está ficando mais fácil de conviver com esta dieta. Sinto falta do chocolate e tudo mais que for doce, mas é perfeitamente aceitável viver assim.

EDIT: E este é post número 300 publicado no blog. O que muda com isso? Nada. Por isso nem me dignei a fazer um post especial sobre isso.

Questões Disciplinares

Eu gosto de treinar. Talvez não do treino em si, mas o desafio que ele é. Gosto tanto de treinar que, mesmo quando não vou na academia, faço exercícios em casa mesmo, e às vezes, pratico até mesmo as formas quando disponho de um espaço mais amplo (por que não dá pra sair reboleando um bastão em cima da cabeça dentro do meu quarto). Na maioria das vezes, contudo, me atenho à uma série de exercícios que selecionei por mexerem com todo o corpo. São dois tipos de abdominais, três resistências, sete flexões diferentes e barras. Geralmente, vou na academia num dia, e no outro fico em casa, mas faço essa série.

Eu faço quase religiosamente estes exercícios, deixando a peteca cair só em situações específicas. Ainda assim, eu enfrento certos problemas. O mais óbvio deles é o horário que treino. Procrastino até alta madrugada, quando percebo que, se for dormir, não treino. Durmo até tarde de manhã, procrastino até de noite e repito o processo. Por essas e outras, eu raramente consigo fazer as barras, por que não tenho uma barra fixa aqui em casa, e eu não vou sair às 3 da madrugada para completar o treino.

Outro problema que encaro é relativo a outro tipo de exercício: respiração. Aprendi com o Kung Fu alguns tipos de respiração concentrada. A mais legal dela é a chamada Harmonização. Ela é feita depois da corrida de aquecimento e no final da aula. De fato, ela realmente harmoniza - me recupero mais rapidamente quando a faço (funciona até com soluço!). Há outras que não são tão poderosas quanto essa, mas que são bem legais também. Estou implementando no meu programa de treino caseiro que, ao acordar, eu faria três respirações diferentes. Mas como eu acordo muito tarde, eu levanto e vou fazer meu café/almoço e esqueço delas.

A terceira questão que quero abordar é referente à prática de formas e técnicas específicas do Wushu. O ideal é que as aulas não sejam o local para treino, mas para esclarecimento de dúvidas. O treino em si deve ocorrer fora do horário de aula, em qualquer lugar espaçoso o suficiente. Em Caxias, eu treinava quase todas as noites no pátio do prédio dos meus pais. Aqui em Porto Alegre, no entanto, NÃO TEM PÁTIO! Se quero treinar de forma independente, preciso pegar minhas tralhas e ir até o campo de futebol atrás do Hospital de Clínicas. No começo, eu sentia a maior vergonha de fazer isso. Pô, o que as pessoas na rua pensam de um cara andando com um pau de pendurar cortina na mão? Também tentava ir em horários em que pouca gente circulasse perto do campo, pra evitar olhares curiosos, mas já abandonei essa frescura (pelo menos em parte), tanto que já treinei no Parque da Redenção algumas vezes. Mas, por motivos que vão desde pouco tempo disponível até preguiça, eu treino só quando vou na academia. Lá, pratico quase todas as formas que sei a mais tempo, mas as que estou recém aprendendo ficam um tanto quanto negligenciadas, já que dependem da memória (e dos caprichos) do professor lembrar de me mandar fazê-las. Eu poderia simplesmente sair treinando o que quero, mas isso é Kung Fu, Arte Marcial, e se obedece o mestre em quase qualquer situação. Também está nos meus planos voltar a fazer estes treinos caseiros, ou pelo menos solitários. Uma solução para meus problemas é emendar um segundo horário de treino na academia - como já vou estar aquecido e alongado, vou poder treinar só as técnicas.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Dias Dietéticos (Parte 2)

Essa dieta não é exatamente difícil, mas também não é tão fácil de ser seguida. Várias vezes hoje, senti fome e pensei em comer alguma coisa. E o que geralmente vinha à mente eram chocolates, biscoitos e outros doces que deliberadamente me privarei por uma semana. Toda vez que queria doce, comia uma fruta, como maçã ou banana. Pode até enganar, mas não é a mesma coisa.

Olhando por esse ângulo, foi uma boa coisa fazer esssa dieta, pois ficou óbvio que meus hábitos alimentares são, até certa medida, viciados. Aqui em Porto Alegre, exceto o bom e velho Nescau, dificilmente eu tenho chocolate ou doces em casa. Por isso, quando aparece uma barra de Alpino ou uma caixa de Bis por aqui, ela é quase que imediatamente devorada. Em Caxias, onde há maior oferta destes itens, eu faço a festa.

O mesmo que falei sobre os doces eu posso falar dos sucos - meu primeiro impulso quando tenho sede é ir até a geladeira e pegar um suco de caixinha. Costumeiramente, só tomo água quando não há mais nada em casa para aplacar minha sede (isto acontece com certa freqüência no final do semestre, quando sou atacado por todos os lados pelos trabalhos finais da faculdade, e relaxo na manutenção da boa ordem caseira).

O fato de poder fazer estas observações após meros dois dias de regime mostram em que grau estou mal-acostumado em termos alimentares. Não digo que é absolutamente insalubre comer chocolate ou tomar sucos doces, nem que pretendo abandonar seu consumo por completo - até por que gosto muito de suco e chocolate - mas certamente moderação é importante.

Ainda no assunto da dieta, estou um pouco indeciso quanto a se mel pode ser considerado doce. Estou com uma caixa de leite aberta na geladeira, e seu conteúdo irá azedar se não for consumida logo. Se não tivesse cortado o Nescau da minha dieta seria barbada. Não sou grande fã do gosto de leite integral puro, e por isso estava pensando em fazer uma batida no liquidificador, usando leite, mel e talvez alguma fruta (banana, preferencialmente, por ser fácil de descascar). Leite com mel fica muito gostoso. Não sei se posso comer mel, dadas as atuais restrições alimentares que me impus. Strictu sensu, mel é doce, portanto não posso comê-lo. Por outro lado, se analisarmos meu padrão de proibições, veremos que bani essencialmente produtos industrializados, coisa que mel não é.

Numa situação como esta, pergunto a mim mesmo "o que Gandhi faria no meu lugar?" A resposta é muito simples: ele seria honesto consigo mesmo, e avaliaria sua promessa inicial. Dei uma relida no post onde faço meus votos de dieta. Lá diz "nada de doces". Não diz nada sobre doces industrializados ou não. Sendo o mel doce, e usado para fazer doces, está fora da minha dieta atual. E, se mesmo depois de reavaliar o que foi dito anteriormente restarem dúvidas, ele aplicaria a lei do maior rigor: se mel fica numa área cinzenta, é sinal de que é ambíguo, e portanto deve ser abolido da minha dieta. Feita a decisão.

Post nada a ver sobre cores

Sinestesia, segundo a Wikipédia, é a relação de dois planos sensoriais diferentes, como sentir um gosto quando ouve um som, ou vê uma cor quando pensa em uma palavra. Eu tenho um pouco disto, pois, na maioria das vezes que penso em uma linha teórica da Psicologia, ela frequentemente vem associada com uma cor.

Psiquiatria, Neuropsiquiatria e Neurociências são linhas vermelhas para mim.

Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia, por outro lado, são azuis.

Análise Experimental do Comportamento, e a escola filosófica do Behaviorismo Radical, são verdes.

Psicologia Humanista e Psicologia Positiva são azul-celestes.

A Psicologia Transpessoal é algo entre branco e azul, um tom de prata, talvez.

A Psicanálise é uma incógnita para mim. Na maioria das vezes, ela é amarelo queimado, mas já apareceu como sendo vermelha.

A Sociologia não é uma linha teórica da Psicologia, mas vejo ela como amarela.

A Antropologia, outra Ciência Humana, é um azul meio verde, que as mulheres e os frescos chamam de Gelo.

Não posso explicar corretamente por que penso nas linhas da Psicologia (e áreas afins) por cores. Talvez faça isso como uma forma de categorização, mas não consigo identificar nenhum padrão. Sei a origem da associação entre as cores e as linhas, contudo - muitas vezes, li panfletos e sites destas linhas que eram coloridos com estas cores, e acabei associando-as de forma íntima. Por que escrevi este post? Sei lá. Achei que seria legal.

Dias Dietéticos

Ontem foi meu primeiro dia da minha dieta sem doces, sucos e carne vermelha. "Vai ser barbada" pensei, "é só comer o resto das coisas que não estão restritas". Fácil falar. Durante a reunião do pessoal do projeto de extensão, comecei a ficar com fome, a pensar em comida e a planejar o que eu iria comprar no supermercado, assim que saísse dali. "Queijo, peito de peru, maçã, banana e alguma outra fruta... limão... mas como é que eu vou comer limão? É azedo demais pra comer como laranja. Eu posso cortar, pôr no liquidificador com um pouco de açúcar e... merda, isso é suco" Só que, para eu perceber que isto era suco e que eu tinha cortado isto da minha dieta por uma semana, levei 15 minutos. Foi um insight rápido, ainda assim. Ontem de manhã, olhei o cardápio do RU para esta semana, e vi que na sexta-feira a sobremesa seria pavê. Eu adoro todos os doces servidos no RU, não por serem gostosos (o que realmente são), mas por serem quase tão raros quanto ver o cometa Halley. Fiquei esfuziantemente feliz com esta notícia, pensando "sexta-feira tem pavê! Sexta-feira tem pavê!". Só depois de algumas horas, quando pensei novamente no assunto, percebi que não poderia comer pavê, não se quisesse manter a disciplina. Merda.

Parece que o corpo pede justamente aquilo que a mente proíbe. Durante essa reunião, uma colega puxou um pacote de chicletes, pegou um e começou a mascar. Tenho a merecida fama de ser ladrão de comida, e na mesma hora que vi o pacote, pensei em pedir um. Mas, de novo, pensei: "Doce. Não. Merda."

Tirando o fato de não tomar nada além de água (exceto depois de treinos e no café da manhã), minha dieta permanece basicamente a mesma, pois já restringira meu consumo de carne vermelha anteriormente. A maior mudança que estou tentando fazer é aumentar meu consumo de frutas frescas. Comi uma banana meio verde ontem. E a terceira fruta que comprei foi bergamota.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Eu quero que o dia do amigo vá pro inferno

Comemora-se uma pletora de datas no Brasil. O mais cretino de todos é o Dia do Amigo. Primeiro, por que não é feriado. Segundo, por que amigo, ao contrário de pai e mãe, que no máximo tem 2 (vide casais homossexuais), de Papai Noel e Coelhinho, amigo todo mundo têm um monte - e a mera idéia de dar presentes para a metade deles me dá calafrios. E, terceiro, é irritante beirando o enlouquecedor ficar recebendo e lendo por aí recadinhos dizendo "Feliz Dia do Amigo". Pior que isso, só os powerpoints coloridos, cheios de bichinhos e coisas fofas, dizendo quanto eu sou especial para a pessoa que me mandou este amontoado de e-fezes cor-de-rosa, me desejando tudo de bom e pedindo pra que eu repasse a porcaria de mensagem para todos os meus amigos queridos. Um clássico é dizer que, se mandar para o amigo que mandou originalmente, ele vai ficar muito feliz pela amizade. Eu certamente não ficaria feliz com um e-mail de 2 mb na minha caixa de entrada, tendo um igual na caixa de saída. Em seu favor, o dia do amigo tem o fato de não ser uma data comercial, como o dia das mães. Mas até isso é irritante, pois o povo sai dizendo "feliz dia do amigo" por aí e nem faz a economia progredir.

Enfim, não é mais dia do amigo fazem pelo menos duas horas agora. Ainda assim, o recado ainda é válido. Quer ser meu amigo? Não me mande spam desejando feliz dia do amigo.

domingo, 20 de julho de 2008

Alimentação - Escolhas

Lendo o livro de Gandhi, tive outros pensamentos, mais físicos e pragmáticos do que os relatados no post anterior. Mais uma vez, são relacionados à minha dieta.

As escolhas de Gandhi em relação à sua alimentação foram muito severas, mas serviam um propósito claro, o cumprimento do Brahmacharya, o voto de conduta divina, que implica na mais absoluta austeridade e ascética no estilo de vida. Diante da severidade de tal voto que Gandhi tomou, fico quase envergonhado com minha lassidão e falta de autocontrole. Contudo, meus objetivos, apesar de visarem minha auto-realização da mesma forma que Gandhi, passam por caminhos bem diversos. Não preciso, portanto, passar a me alimentar apenas com frutas secas e sementes. Posso, contudo, me beneficiar do exemplo dele e cortar da minha dieta tudo aquilo que perceber como maléfico, e incluir mais do que percebo como benéfico e mudar de idéia, se assim for necessário e bom.

Minha primeira decisão é relativamente leve, se for me comparar com Gandhi: por uma semana, não vou comer nada de doces e carne vermelha, beberei só água e comerei tantas frutas quanto puder. De resto, manterei minha dieta como está. À única exceção feita ao que bebo será o leite de soja, que tomo depois dos treinos e no café da manhã – e mesmo assim, não vou tomar o de sabor chocolate. Quanto à carne vermelha, é um pequeno experimento meu. Já faz algum tempo que pretendo largar o consumo de carne por completo. Até o presente momento, não consegui fazer isso, mas não fui totalmente fracassado, pois diminui drasticamente quanto de carne vermelha como. Não parei de comer carne vermelha por completo por causa do RU, que é levemente indiferente aos vegetarianos e pessoas que querem comer mais salada e ainda assim se manterem vivos e saudáveis. Mas esta semana, que passarei em Porto Alegre, vou ignorar esse fato, e mesmo que só sirvam bife todos os dias, não vou comer em nenhum deles. Depois que minha experiência acabar, vou calcular os benefícios, os prejuízos e ver o que faço daqui para a frente.

Vida e Espírito

Estou lendo a autobiografia de Mohandas Gandhi, “Minha Vida e Minhas Experiências com a Verdade”. Esta leitura tem suscitado em mim muitas dúvidas, algumas das quais expus nos meus textos anteriores sobre hábitos alimentares, disciplina e ética. A dúvida que me vem a mente agora é mais sutil e complexa do que comer carne ou não. Gandhi, como qualquer um que saiba um pouco de história recente pode dizer, era um asceta, e fazia rigorosas dietas, em que não só a carne e o álcool lhe eram vetados, mas o leite, os ovos e até mesmo leguminosas e sal. E em ao longo do livro, ele relata diversos momentos de doença grave, seja sua ou de entes queridos, onde precisou decidir entre suas crenças alimentares e a vida. Deveria ele tomar leite e recuperar-se rapidamente, ou persistir com sua dieta, e correr risco eminente de morrer? Ou, deveria ele autorizar que fosse dado caldo de carne para sua mulher, para que ela tivesse uma alimentação mais rica em proteína e pudesse se salvar, ou expô-la a riscos maiores, mas persistir na fé?

Como disse anteriormente, não são questões nada fáceis. Em todas as situações deste gênero que Gandhi relatou, ele escolheu sua fé e sua crença no ahimsa, na não-violência contra qualquer ser vivo, seja ele humano ou animal, e não autorizou nenhuma mudança em sua dieta (exceto uma vez, quando se permitiu ingerir leguminosas cruas). E, todas as vezes que assim se portou, foi capaz de impedir a morte da sua própria maneira. Se assim aconteceu por causa ou apesar de suas escolhas, não cabe a mim decidir, e também não acho que ele tenha mentido ou omitido qualquer ocasião em que seu estilo de vida fez com que alguém morresse, pois seu compromisso com a verdade era grande demais para tal. Isto certamente demonstra uma grandeza sem par, onde o Espírito sempre prevaleceu sobre a matéria. Contudo, o Espírito humano não pode manifestar-se senão através do corpo, da matéria, e, se digo que Gandhi teve sorte, é por que as coisas poderiam ter acontecido de maneira muito diversa, e ele poderia não ter levado sua missão adiante por ter se negado a comer carne quando necessário. Há uma história de um santo russo, cujo nome correto ainda não encontrei, que, na ocasião da Sexta-Feira Santa, encontrou um homem subnutrido e moribundo, e decidiu que ele deveria ingerir carne para fortalecer-se. Como o homem se negava a quebrar uma regra tão sagrada, o santo comeu junto, para convencer o homem a fazer o mesmo. Também neste santo vemos um exemplo de grandeza moral, pois ele preferiu ir contra tudo o que a convenção eclesiástica dizia e salvar a vida de um semelhante. Mas quem é mais nobre: Gandhi ou o santo russo?

Vejo-me obrigado a dizer que não tenho uma resposta satisfatória para tal pergunta, mas ainda outra: a vida precede o espírito, ou o espírito vem antes da vida? Em nome de nossa verdade, devemos abrir mão de nossa vida a qualquer momento, ou devemos manter-nos vivos, para podermos perseguir nossa verdade por muito tempo? Ambas as alternativas são igualmente válidas, e igualmente perturbadoras. Eu posso manter-me fiel a meus votos, mas por causa disso morrer, e não mais ser capaz de cumprir minha missão neste mundo; por outro lado, eu posso permanecer vivo e realizar meu destino, mas talvez a mácula do pecado seja grande demais, e me impeça de viver minha vida plenamente – atingir a Verdade.

Mais uma vez, lamento em dizer que não tenho respostas satisfatórias, no máximo, hipóteses muito precárias. Talvez seja um exercício infrutífero analisar estes casos a posteriori, e decidir qual foi a decisão superior. Ambos os homens tiveram bons motivos para agirem como agiram, e ambos foram felizes em suas escolhas. Não se sabe o que teria acontecido se tivessem feito escolha oposta àquela feita, muito menos se poderiam ser repreendidos se assim fosse. No fim, ambas as decisões gravitaram em torno do caráter sagrado da vida – seja mantê-la, seja consagrá-la e perde-la – e talvez o único norte que temos em tais situações-limite seja nossa voz interior. E não sabemos o que se passa na alma alheia, nem na de Gandhi, nem na do santo.

sábado, 19 de julho de 2008

Oh não! Ainda mais algumas notas sobre minha alimentação!

Prometo que este será o último post do dia sobre comida (até por que acho que falei sobre tudo que me deixa pensativo sobre esse assunto atualmente). Desta vez, o tópico é salada. No Orkut, já fui membro de uma comunidade intitulada “capim é pra cavalo!”. Admito, salada tem gosto ruim. Rúcula é amarga, alface não tem gosto de nada e tomate, bem, tomate até que é gostoso. Apesar de tudo isso, sempre soube que salada é saudável e que é necessário comer um pouco por dia. Só depois de 17 ou 18 anos de vida me disciplinei a pegar salada nos bifes e restaurantes em que como. No RU, eu sempre pego um pouco, por mais medonha que seja a aparência, e como junto com o feijão e com o arroz para disfarçar o gosto. Na casa dos meus pais, como com óleo de oliva, que é muito gostoso (e bom para o coração ou algum órgão vital do corpo, dizem por aí). Aqui no meu apartamento, contudo, salada é coisa rara: quando tem, eu não pego, apodrece fácil, vai fora, e concluo que salada é dinheiro posto fora. E assim, abandono qualquer plano de ter um estoque de alface e tomate na minha geladeira.

Não descarto a possibilidade de, um dia, comprar salada em quantidade razoável para consumo próprio aqui em Porto Alegre. Mas, no momento, vou empurrando com a barriga o dia tomarei esta decisão. Acho que preciso, primeiramente, me acostumar a comer coisas saudáveis mais gostosas, como frutas, e ir gradualmente comprando capins mais agradáveis ao paladar, como tomate e beterraba, para só então partir para os extremos, como rúcula.

Aqui perto de casa tem um restaurante de comida chinesa que só serve pratos vegetarianos. É gostoso comer lá, apesar de caro. Até eu me acostumar a comer menos carne e mais salada, vou almoçando por lá e no RU.

Ainda mais algumas notas sobre minha alimentação

Como ainda estou embalado, decidi escrever um terceiro post sobre meus hábitos alimentares: o hábito de comer carne. Vegetarianismo e carnivorismo são dois movimentos alimentares tão opostos quanto Grêmio e Internacional. De minha parte, estou dividido entre os dois.

Há muitos argumentos contra o consumo de carne – religiosos, éticos e científicos. Como este não é o lugar para ficar falando extensamente sobre a questão de comer carne ou não, citarei apenas os principais: infligimos sofrimento aos animais, que são nossos semelhantes e não possuem meios de defenderem-se do ser humano, o que gera karma. Além disso, um número considerável de pesquisas científicas tem demonstrado que comer carne faz mal para a saúde em diversos aspectos, e que o consumo de vegetais (frutas, legumes e verduras) é extremamente saudável. Em contrapartida, também há argumentos religiosos, éticos e científicos em defesa do consumo de carne, a saber: Deus criou os animais para servirem o ser humano, o que inclui a alimentação; nos preocupamos com os animais e não com as pessoas morrendo de fome, e, para coroar tudo, há um número igualmente considerável de pesquisas demonstrando exatamente que consumir carne faz bem para a saúde, e que ingerir apenas vegetais pode ser danoso à saúde.

Não vou discutir se estes argumentos são válidos ou não (aposto que alguém vai fazer algum comentário sobre isso). Quero apenas enumerá-los para mostrar como a questão é complexa. Como já disse, sinto-me dividido entre comer e não comer carne. O argumento de que causamos sofrimento desnecessário aos animais ressoa muito fortemente dentro de mim, da mesma forma que não somos superiores a eles. Continuo a comer carne, contudo, por diversos motivos. O primeiro deles é por que é gostoso. Fui criado comendo carne, e admito que gosto.O segundo motivo é comodismo: o RU da Saúde é ótimo, mas não dá muita trela para vegetarianos, e eu não gosto da idéia de negligenciar minha dieta por um idealismo que não faz sentido para mim, pelo menos não agora. O terceiro, e talvez mais importante motivo, é justamente a minha saúde – não acho que as pesquisas científicas de ambos os lados tenham chegado à conclusão definitiva alguma. Poderia deixar de comer carne, mas não sei o que comeria em seu lugar. Carne de soja? Tem gosto de sola de sapato. E não, nunca comi sola de sapato, mas só queria usar um comparativo que deixasse claro que abomino o gosto do supracitado alimento. Já ouvi vegetarianos dizerem que carne de soja tem o sabor que o cozinheiro desejar, desde que este saiba o que está fazendo com as panelas, mas não sei não. Além disso, não conheço muitos modelos alimentares vegetarianos confiáveis. A quintessência da alimentação 100% sem carne, para mim, é a macrobiótica, e não a vejo com bons olhos. Segundo ela, não poderíamos comer feijão com arroz, por que o primeiro é um legume, e o segundo uma semente, ou alguma babaquice sem fundamento do gênero (tá certo, o fato de ter ouvido uma pessoa sem o menor conhecimento de Nutrição falar isso com a maior convicção do mundo ajudou a moldar minha opinião, mas isso não vem ao caso). E histórias que ouvi de gente que passa uma semana só comendo arroz integral me soam absurdas.

Apesar das minhas dúvidas, não fiquei paralisado. Seguindo o conselho do meu antigo professor de Kung Fu, parei de comer carne de gado e de porco, e, exceto em situações extraordinárias (o RU servindo bife na chapa e eu ter só R$ 1,30 no bolso e nada pra comer em casa), como só carne de frango e peixe. A lógica por trás desta decisão é tão científica quanto a explicação macrobiótica para não comermos feijão com arroz, mas fez sentido (e por confiar no meu professor): primeiro, paro de comer carne de animais de quatro patas; depois, de duas patas, e, por fim, deixo de comer qualquer tipo de animal, tenha ele patas ou não. Esse processo é gradual, e não me faria ter uma “crise de abstinência carnívora”, e me acostumaria aos poucos com uma dieta mais vegetariana.

Mais algumas notas sobre minha alimentação

Outro assunto referente à minha alimentação são os líquidos que bebo. Normalmente, não ingiro bebidas alcoólicas, por achar que têm gosto ruim (exceto quando são doces, como caipirinha) e que os efeitos colaterais não compensam qualquer desvantagem social de ser abstêmio. Também não bebo refrigerantes, por ter sentido na pele a influência devastadora que eles exercem sobre a resistência e capacidades físicas: fui competir numa prova de 3200 metros depois de comer um cachorro-quente e tomar uma Coca-Cola, e não me lembro de nenhuma outra situação que eu tenha desejado tão ardorosamente morrer, tão desagradável a experiência foi. Tomo, contudo, muitos sucos. Prefiro os naturais, mas os de caixinha industrializados são gostosos e saudáveis, pelo menos aparentemente. Normalmente, é bem tranqüilo para mim não beber álcool ou refrigerante, mesmo em situações que só haja estes dois tipos de bebida e comida muito salgada.

No ENEP, contudo, eu relaxei a disciplina, e bebi muito refrigerante – Coca-Cola principalmente, mas bastante Guaraná. Racionalizei que ENEP só acontece uma vez por ano, e poderia curtir tanto quanto pudesse, desde que, de volta em Porto Alegre, eu começasse um programa de purificação corporal. Antes do ENEP, não ingeria muito da boa e velha água mineral. Por isso, decidi que passaria pelo menos uma semana sem tomar sucos, naturais ou industrializados, e beberia só água nas refeições, que seriam regulares. A exceção desta regra foram as bebidas “grossas”, como o leite de vaca e de soja, que bebo no café da manhã e após os treinos. Talvez esta decisão tenha sido um erro, mas me parece plausível que, ao acordar, eu precise de mais energia que um copo de água pode me oferecer, e que depois de exercício físico, eu precise repor mais proteína e todas aquelas coisas de nome complicado que os nutricionistas falam do que de costume.

Não segui, contudo, essa minha dieta à risca. Na quarta-feira, na festa do sushi da minha turma, tomei caipirinha (com efeitos já bem conhecidos por meus leitores). Decidi, como forma de compensação, estender até a próxima quarta-feira meu regime de água. Outro erro que cometi foi beber leite demais, tomando três ou quatro copos bem servidos (o suficiente é um e meio, segundo meus cálculos e intuição). Estou considerando a opção de estender por mais alguns dias para compensar este excesso, mas não sei determinar quanto tempo mais.

Algumas notas sobre minha alimentação

Comida! Um assunto muito importante para todo ser humano. É base da hierarquia de necessidades de Maslow, algo que nos mantém vivos e felizes. Pesquisando pela palavra “comida” no Google, aparecem aproximadamente 46.700.000 resultados. Claro, é uma pesquisa tão rigorosa quanto, digamos, ficar discutindo psicopatologias de personagens literários, mas dá uma mostra de quão importante comer é para nós.

Quando um determinado assunto é importante, ele é levado em consideração de diversas maneiras por diferentes pontos de vista. Acredito ser razoável dizer que todos os sistemas religiosos do mundo possuem um código de conduta relacionado à boa alimentação. Judeus e muçulmanos não comem carne de porco, alguns hindus não comem carne nenhuma, outros chineses não comem alho ou cebola, por motivos tão variados quanto é possível. Como era de se esperar, há um campo de pesquisas científicas sobre alimentos e saúde, as Ciências da Nutrição, que, apesar de crença em contrário, vêm ampliar e apoiar os esforços espirituais por uma vida mais pura. Cientistas e místicos podem não concordar em tudo, por exemplo, em relação à carne, mas são atritos necessários para o progresso.

Comecei a ler esta semana a autobiografia de Mohandas Gandhi, “Minha Vida e Experiências com a Verdade”. Neste livro, o aclamado Pai da Índia (ele provavelmente detestava esse título, por isso o aclamado) fala, além de seu envolvimento com política e resistência não-violenta, de seus experimentos alimentares comportamentais, que praticava em busca de maior harmonia e com o mundo e a Verdade. Eu próprio, como um buscador da Verdade tenho feito algumas tentativas de melhorar minha alimentação. Tento várias abordagens diferentes ao mesmo tempo, mas no momento, desejo falar da minha busca por comer mais frutas.

Casa de solteiro homem universitário é uma tristeza, pois as únicas criaturas que se alimentam bem em tal recinto são as formigas e as baratas. O webcomic PhD frequentemente faz piada disso, debochando do grande gosto que os estudantes de pós-graduação dos EUA têm por Cup Noodles e Miojo (por lá conhecido como Ramen). Admito que muitas das insuficiências alimentares que enfrento são devidas à preguiça, mas meu desconhecimento das artes culinárias e caseiras muito contribuiu para que eu seja um cliente assíduo do RU (que, diga-se de passagem, oferece uma dieta bastante balanceada, ainda que bastante carnívora).

Minhas experiências de comprar frutas começaram fazem dois ou três meses, quando, passando na frente de uma banquinha perto da rodoviária, resolvi comprar uma manga. Comi no mesmo dia. Verde. Não sei, ainda, diferenciar frutas maduras das verdes, nem em quanto tempo elas amadurecem. Por essas e outras já joguei muita laranja fora por deixar “passar do prazo”. Tenho comprado, com certa freqüência, maçãs, que são relativamente baratas e gostosas, além de fáceis de comer, já que não precisa descascar nem nada. Já comprei pêras também, mas deixei elas um pouco de lado depois de perceber que, mais uma vez, eu não sei a diferença entre verde e maduro. Quando compro frutas, tento comê-las o mais rápido possível, para que não apodreçam, mas isso já me custou muito gosto ruim na boca por ingeri-las antes do ideal (indigestão, contudo, não tenho tido, pois me acostumei com essa vida dura).

Minha última “descoberta” (na verdade, dica do Marcelo, outro morto de fome sovina) foram as bananas: elas vêm em quantidade, são baratas, versáteis e fáceis de descascar – verdadeiros coringas em dias de fome. O inconveniente delas é o apodrecimento veloz. Comprei uma penca no início desta semana, e acabei com elas agora há pouco. Como vou para Caxias esta tarde, decidi comer todas, para que não fossem fora. Havia três sobrando, o que me fez pensar “por que não as amasso e como com açúcar e toddy?” Minha mãe fazia isso direto pra mim quando era pequeno – e eu gostava. Por que não iria gostar agora? Além disso, não devia ter nenhum segredo em pegar um garfo e ficar pressionando as bananas até elas virarem pasta.

Essa minha ilusão de ser uma barbada foi por água abaixo quando comecei a amassá-las. Credo, como pode uma fruta tão mole oferecer tanta resistência? Estava sozinho na cozinha, mas se tivesse alguém por perto, ele certamente riria dos meus achaques histéricos perante o prato empapado de fruta. Por fim, depois de muita briga, peguei o jeito, e logo as bananas estavam tão amassadas que um desdentado poderia ingeri-las sem problemas. Peguei o açúcar, o Toddy, uma colher e comecei a espalhar pelo prato. O açúcar eu misturei com a pasta, mas o Toddy eu deixei por cima. Por causa de um telefonema, deixei o prato parado por alguns minutos, e o achocolatado foi absorvido pela banana, criando uma mistura entre amarelo-banana e marrom-chocolate até que bonito. Pena que não durou o suficiente pra tirar uma foto.

O meu problema em comprar frutas é a falta de hábito: sei que me faz bem, mas se não faço um esforço consciente, quando vou ao mercado dificilmente as compro. Acho que estou revertendo isto, pois está mais fácil ir ao Zaffari e sair com duas maçãs (tudo devidamente pago, claro). Vou comprar bananas com mais freqüência daqui em diante, provavelmente tentando alternar com maçãs. Gradativamente, vou comprando mais tipos de fruta diferentes, como pêras, mangas, laranjas, bergamotas e talvez até mesmo limões.

Argonautas do Asfalto - Parte IV

Antes de começar o relato propriamente dito, gostaria de abrir um parênteses, e dizer que, talvez não tenha sido a melhor das escolhas falar sobre o ENEP cronologicamente, pois, de certa forma, ele está além do tempo. O Marcelo bem disse que cada um viveu seu próprio ENEP. Eu acrescentaria que cada um o viveu em seu próprio tempo.

O quinto e último dia oficial de encontro chegou, e com ele, um ar cheio de alegria e tristeza. Alegria pelo o que vivemos, e tristeza pela despedida, precoce na opinião da grande maioria dos participantes. A plenária final tomou lugar no centro do alojamento. Bem diferente da do ano anterior, foi apenas um círculo informal, sem frescuras burocráticas para falar ou votar: bastava chegar ali e dar sua opinião. Apesar deste clima mais livre, evitei tanto quanto pude participar dela: não estava lá para aquilo.

Nossa sociedade se dividia e dissipava pelo Brasil: Karol ficaria em Campo Grande, para ir num show; Lucas e Natanael decidiram ir para Belo Horizonte com o pessoal de Minas Gerais que estava por ali; Roger voltaria mais cedo de avião, enquanto que eu, Marcelo, Chico, Dani e William pegaríamos o primeiro ônibus que pudéssemos; os porto-alegrenses voltariam para Porto Alegre, e o William voltaria para aquela cidade dele cujo nome não me recordo. Mas é uma cidade amável, tenho certeza.

Para nossa insatisfação, não conseguimos passagem alguma para aquele dia, e teríamos que ficar mais uma noite no alojamento, quando o evento já tivesse acabado e os seguranças ido embora. Mas nossa insatisfação não foi tão grande, pois ninguém estava tão interessado assim em encarar mais 20 e tantas horas de viagem para voltar a fazer o que sempre fazemos em casa.

As despedidas tomaram conta do ENEP – tínhamos que dar adeus não só as pessoas que conhecemos ou reencontramos, mas do alojamento, das capivaras, de Campo Grande e de toda a experiência transformadora que foi este encontro. Para onde quer que olhássemos, víamos aspirantes à psicólogos fazendo isso. Dei meu adeus para tudo aos poucos: primeiro dos amigos, depois do alojamento e, por fim, da cidade. Da menina do vestido amarelo, despedi-me pelo menos quatro vezes. Não me despedi, porém, do próprio ENEP, pois ele continua a acontecer dentro de mim, pois as marcas que em mim deixou são indeléveis.

Pouco a pouco, aquele espaço vibrante e cheio de vida que era o Moreninho foi esvaindo-se, esvaziando-se, e onde havia anteriormente um grande acampamento colorido foi transformando-se novamente em um grande piso de madeira, frio e vazio. Pouco a pouco, as pessoas foram indo embora, mergulhando aquele ginásio cada vez mais no silêncio. Houve, contudo, um movimento de resistência contra isto – nos unimos e cantamos juntos, por uma última vez em Campo Grande, todas as besteiras que aprendemos nesse tempo de faculdade, fizemos aquelas dancinhas ridículas e humilhantes e afastamos, ainda que por um breve instante, o pensamento que logo iríamos embora, e por um breve instante, vivemos uma vez mais o ENEP em toda sua força.

Esse instante acabou, e cada um foi para seu lugar. Tentei ir dormir mais cedo, mas acabei indo parar no churrasquinho atrás do ginásio, e conversando com um colega de artes marciais de Porto Velho, RO. Após a conversa acabar, esbocei uma tentativa de leitura, mas ela soçobrou diante meu sono.

Na manhã que se seguiu a última noite de festa, fomos de carona para a rodoviária. Eram nossos últimos momentos na capital do Mato Grosso do Sul. Nos despedimos de William, que iria em outro ônibus, e embarcamos para nossa viagem de volta. Nas trinta horas que se seguiram, em todas as paradas e durante o caminho, o silêncio foi nosso mais constante companheiro. Mas este silêncio já não era o mesmo da ida, pois nós também não éramos os mesmos. Não havia constrangimento ou vergonha no fato de permanecermos quietos – talvez o cansaço tenha contribuído para esta situação, mas havia algo maior por trás de tudo. Este silêncio era fruto e símbolo da profunda amizade que brotou entre nós, argonautas do asfalto, que decidimos, juntos, buscar a riqueza, a aventura e a loucura em Campo Grande, no Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia. Nós tivemos a coragem e o desapego para viajarmos mil quilômetros, e sofremos e sorrimos juntos. Se tivéssemos viajado em um grande grupo, nossa jornada não teria o mesmo significado que teve e tem até agora. Nenhum de nós é o mesmo agora.

E assim, concluo minha breve narrativa sobre o ENEP. Ano que vem tem mais: EREP Maringá e ENEP Belo Horizonte. Até lá, quando desbravaremos mais rodovias do Brasil.

O Direito de Sonhar e o Dever para Realizar

É fácil sonhar. É fácil imaginar como as coisas seriam se pudéssemos morar em outra cidade, estudar em outra faculdade, arranjar um trabalho e ganhar nosso próprio dinheiro. É realmente fácil. Todos temos o direito de sonhar, mas junto com este direito, vem o dever de fazermos tudo ao nosso alcance para torná-los algo mais que doce quimera. E onde o direito vira dever que as coisas começam a tornarem-se difíceis. Quando sonhamos, viajamos em nossa própria mente para um mundo ideal, onde as coisas acontecem como queremos, mas no mundo real, tudo permanece igual. Mas quando buscamos mudar isto, fazer realidade de nossos sonhos, nada é fácil.

Realizar um sonho é sempre uma tarefa solitária. Podemos contar com a ajuda de pais, amigos e parentes, mas no final das contas, está tudo sobre nossos ombros. E o caminho para realizarmos o que buscamos é árduo, longo e envolto na névoa misteriosa do futuro, que tudo promete, mas tudo esconde e muito nos engana. O futuro é sempre promissor, mas nunca certo. E, diante desta incerteza, desta solidão, já vi muitos amigos e conhecidos meus desistirem, e meramente aferrarem-se ao seguro e conhecido, por mais desagradável e indesejável que ele seja, e por mais brilhantes que suas esperanças fossem. Frequentemente, alegam que “o mundo” não permitiu que realizassem seus sonhos. Asneira! O mundo não está aí para nos dar respostas ou coisas prontas, mas para ser um desafio para nosso caráter e força de vontade! Nele, estão todas as ferramentas que precisamos para transformar sonho em realidade, e todo o material para construirmos nosso castelo nas nuvens. Devemos, contudo, não nos acomodarmos com o que é confortável, nem nos desanimarmos com as oportunidades que perdemos. Para cada porta que se fecha, outras três se abrem para nós. É preciso, entretanto, estar atento para elas.

Estamos aqui para nos tornarmos tudo que podemos ser, e há poucas coisas que considero tão tristes quanto alguém que poderia ser grande, um símbolo de coragem e perseverança para toda a humanidade, mas prefere ser um pouco mais do que nada, por ter medo do que terá de enfrentar. Choro por todos os sonhos que morreram antes de nascerem! Como seres humanos, somos frágeis e finitos, mas através de nossa coragem para realizarmos nossos sonhos, nos tornamos imortais, mesmo que no fim nada dê certo. “É melhor que alguém cumpra sua própria tarefa como puder, mesmo falhando, que assumir deveres dos outros, embora pareçam bons” diz o Bhagavad Gita. Talvez o que os outros desejam para nós seja mais belo ou mais grandioso, mas somos nós quem devemos decidir qual é a verdade de nossa vida. De certa forma, sermos nós mesmos da forma mais autêntica e profunda é atingir a imortalidade, e qualquer ato contra esta auto-realização de quem quer que seja é o maior crime que pode ser cometido por um homem ou uma mulher.

Por isso te peço, ó desconhecido que lê estas palavras, que não desista do teu sonho, por mais distante que ele pareça. Não quero fazer coro com as vozes do desânimo, e dizer-te que nada podes fazer, e encher-te o coração de desespero. Já há pessoas demais fazendo isto! Prefiro ser aquela voz distante, porém segura, que te encoraja a fazer o impossível. Vai, contra todas as probabilidades, te lança no desconhecido e conquista teu destino! Torna-te eterno através da tua audácia e da tua sinceridade, mesmo que por um segundo apenas. Vai, e faz aquilo que ninguém antes conseguiu. Quem sabe tu não consigas? Vai, e mostra para este mundo cruel, pessimista, materialista e cego que a força do teu espírito é a maior de todas as forças.

Argonautas do Asfalto - Parte III

Mais uma vez, poucas lembranças vêm a minha mente sobre o quarto dia de ENEP. Posso dizer que foi um dia agradável, que passei bem aninhado nos braços da menina de saia amarela, mas com poucos acontecimentos marcantes. Porém, os poucos eventos de que me recordo foram verdadeiramente extraordinários.

Uma hora da noite, resolvi sair e caminhar pelo campus, isolar-me um pouco dos demais e refletir sobre o que estava vivendo ali. Sentei-me do lado da piscina olímpica, onde um aglomerado de capivaras pastava. Pensei sobre o ENEP, sobre tudo que aconteceu antes dele e o que seria de mim depois dele. Não seria o mesmo, já sabia. No caminho de volta, encontro mais uma vez William e outro ser, desta vez carioca, indo até o Atacadão. Como Will já tinha uma bermuda (apertada) e chinelos, desta vez iriam comprar bebidas. Mais uma vez, aceitei o convite de ir junto com eles até lá, e mais uma vez, pus-me a imaginar por que fiz isto. O motivo da caminhada já evidenciava que me sentiria outra vez como um peixe fora d’água com os assuntos da conversa. Lembrei de Jung. Em sua autobiografia “Memórias, Sonhos e Reflexões”, ele fala que, por causa de seus interesses em filosofia, teologia e ciência, sentiu-se muitas vezes solitário e sem nenhum semelhante com quem poderia agir de igual para igual. Muitas vezes me senti assim, talvez por arrogância, talvez não, e lamentei a falta de um amigo para conversar verdadeiramente, e não repetir o que todos repetem.

No alojamento, aconteceria uma festa. Minha atitude perante ela não foi muito diferente das demais – ler era mais interessante. Porém, mais uma vez o destino guiou-me para outros lugares e conversas, ao invés de me deixar só com meus livros. Chico, deitado e com apenas a cabeça para fora de sua barraca, pediu uma opinião sincera, minha e de Roger, o oitavo gaúcho do ENEP, e nono membro de nossa sociedade, sobre questões de movimento estudantil, trabalho e motivação. Para ser sincero, nada poderia acrescentar de extraordinário à conversa. Por isso, fiquei apenas escutando. Nesse ínterim, Marcelo se aproximou, sentou e fez o mesmo que eu, escutou. Tenho a impressão que o Chico apenas queria alguém para conversar e expor o que pensava, pois foi o que mais falou, apesar de ter pedido opinião alheia. Foi Roger quem fechou com chave de ouro a pequena assembléia. Citando o Bhagavad Gita, livro sagrado do hinduísmo, disse “é melhor fazer mal os próprios deveres do que realizar bem os deveres dos outros”. Naquele momento, achei a frase bonita, mas ela pouco ocupou minha mente consciente. Minha mente inconsciente, percebo agora, foi muito afetada.

Finda a conversa, preparava-me para cair de cabeça no mundo da leitura e do esquecimento, quando o Marcelo se aproxima de mim e pergunta “Qual a tua opinião sobre a Astrologia?”. Foi uma pergunta inusitada, vinda do meu veterano, positivista até os ossos. Antigamente, para ele coisas como Astrologia eram simplesmente pseudocientíficas, e portanto descartáveis. Mas, ao longo do ENEP, ele dera sinais de que algo mudara. A Biodança o atingira de forma muito mais profunda do que poderia então supor. Elaborei a melhor resposta que podia dar, a mais adequada teoricamente e a mais sincera e congruente possível. A conversa que se seguiu foi uma das mais inspiradoras, desafiadoras e instigantes que tive desde que entrei para a faculdade. Não lembro de tudo o que foi discutido, nem cabe aqui relatar. Digo apenas que foi uma longa e produtiva conversa, e que, depois dela, nem eu, nem o Marcelo éramos os mesmos.

Não lembro em que dia ocorreu a segunda oficina de Biodança. Pouco importa também. Participei dela, e pude constatar o que causara tamanha comoção em meu veterano. É uma experiência para poucos, pois exige muito desprendimento emocional. Lembro de ter visto pelo menos duas pessoas chorando ao final da oficina, graças a grande carga afetiva produzida pelos participantes. Como disse o próprio Marcelo, não dá para explicar: só vivenciando para entender.

Tão breve quanto possível, publicarei a quarta e última parte parte desta série.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Meus empréstimos bibliotecários


5 livros, 3 bibliotecas diferentes. Eu posso até dizer que detesto bibliotecas, mas eu passo bastante tempo nelas =)

A Conquista da Biblioteca Central

Fiz mais uma incursão em biblioteca desconhecida. Desta vez, fui direto para a capital bibliográfica da UFRGS: a Biblioteca Central, ou simplesmente BC, sediada na própria reitoria. Fui procurar dois livros do Tolstoi. Como o nome já diz, essa biblioteca não é a provinciana biblioteca da Psicologia, mas o centro de todas as bibliotecas da universidade, o supra-sumo de livros, e, consequentemente, de numerozinhos e letrinhas confusas do Dewey Decimal System, meu eterno inimigo. Quando entrei na BC, já me senti desesperado pelo tamanho e quantidade de prateleiras, sem falar a arquitetura opressiva, o teto baixo e as paredes claustrofobicamente próximas, resultados da improvisação do espaço (por que, sem dúvida, aquela sala não foi projetada para ser uma biblioteca).

Não sou mais pego com as calças na mão. Verifiquei duas vezes se os códigos que anotara estavam corretos. Até esbocei uma tentativa de procurar os livros por conta própria, mas como estava distante demais dos números desejados (pelo menos umas cinco centenas), resolvi pedir arrego para a bibliotecária logo de uma vez. Depois de uma rápida consulta ao sistema (o Big Brother Biblioteca), ela me apontou a direção e disse "esses livros estão no corredor 8". Para meu desespero, há três corredores 8 diferentes. Quase comecei a chorar. E quando li as plaquinhas na frente das estantes, e vi que 882 (prefixo dos livros que buscava) não estava lá, quase cometi suicídio ritual. OK, isso é exagero, mas dei uma das minhas ceninhas de desespero imbecil em bibliotecas. Para piorar toda minha situação, aquele lugar fede, por causa do acúmulo de poeira centenária nos livros. O(s) corredor(es) 8 era provavelmente o mais cheio de poeira e mofo dos séculos, pois lá que ficam os livros da Coleção Eichenberg, com livros datados desde o século XVI. A sensação de respirar história vem, nesse caso, com a sensação de pegar uma renite de brinde. Ou de alcançar um estado alterado de consciência. O que vier primeiro.

Fui até o final do corredor 8 que escolhera a esmo para ficar olhando, e descobri que, na outra ponta, também havia plaquinhas com números. E lá estava o código 882 - literatura russa! Depois disso, foi uma tetéia de achar os dois livros que buscava. Eles estavam juntos, lado a lado. São velhos, e suas páginas já não estão mais amarelas, mas marrons por causa do tempo. Senti grande reverência por Tolstoi - ainda hoje ele vive. E fiquei agoniado, quando, na hora de retirar os livros e desmagnetizá-los, a bibliotecária ficou esfregando eles contra uma placa preta. Uma verdadeira falta de respeito com o passado! Isso e as unhas dela, pintadas de amarelo berrante, mas isso não vem ao caso.

Enfim, fui em mais uma biblioteca, mais uma vez sofri por causa do velho Dewey, mas novamente trago os livros para casa. Sobrevivi mais uma batalha para poder contar a história. Uma vitória dos povos livres do Ocidente! Eu acho.

Melhores Músicas da História VI

Seven Nation Army
Composição: Jack White

I'm gonna fight em' off.
A seven nation army couldn't hold me back.
They're gonna rip it off.
Takin' their time right behind my back.
And I'm talkin to myself at night, bcause I cant forget.
Back and forth through my mind behind a cigarette

And a message comin' from my eyes, says leave it alone.

Dont wanna hear about it.
Every single ones got a story to tell.
Everyone knows about it.
From the Queen of England to the hounds of hell.
And if I catch you comin back my way, I'm gonna serve it to you.
And that aiin't what you want to hear, but thats what I'll do.

And a feelin' comin' from my bones, says find a home.

Im goin' to Witchitaw.
Far from this opera forever more.
Im gonna work the straw (?).
Make the sweat drip out of every pore.
And I'm bleedin' and I'm bleedin' and Im bleedin' right before my lord.
All the words are gonna bleed from me, and I will sing no more.

And the stains comin from my blood, tell me go back home.
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Depois de algum tempo, decidi que estava na hora de postar um vídeo de música por aqui. Essa particularmente se tornou um hino para mim, especialmente a estrofe "a Seven Nation Army couldn't hold me back" (na verdade, eu fui impedido por bem menos que um exército de sete nações, mas isso não vem ao caso).

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Avaliação de Aulas

Descobri agora a pouco que o Classe a Limpo está online novamente. Pra você, desavisado que não estuda na UFRGS e não sabe o que vem a ser essa porcaria, eu explico. No Portal do Aluno, temos uma opção de avaliar os professores e as disciplinas. Só que o questionário utilizado é, na melhor das hipóteses, tosco. Para contornar esta situação, alguns alunos e ex-alunos da universidade criaram uma página na internet onde poderíamos dar notas para os professores, da mesma maneira que eles nos dão nota. Em contrapartida, os professores poderiam responder às críticas e, assim, o processo de aprendizado-ensino se aprimoraria com o tempo. Bem, isso no plano das idéias. Na prática, o pessoal usou o site como válvula de escape, saiu xingando professor a torto e a direto, o que acabou atraíndo a fúria de alguns docentes (e uns processos de arrasto). Por isso, o site acabou fechado, para meu desgosto, pois o modelo do site, que informa todos os dados qualitativos das avaliações discentes, é muito legal. Mas agora ele está de volta, e eu tenho novamente um lugar para ficar reclamando da faculdade.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Fenomenologia do Porre

Estou bêbado. Na verdade, o mais exato seria dizer que estava bêbado cinco minutos atrás, se bem que ainda sinto os efeitos da bebida no meu corpo. Mas isso não importa.

Acabo de voltar de uma pequena confraternização com meus colegas, onde rolou uma pequena janta de sushi. Enquanto a comida não ficava pronta, passava de mão em mão um copo improvisado de caipirinha, feita pelo sr. Fábio Culau. Caipirinha, para os desavisados que moram no exterior ou em uma caverna no Brasil, é um drinque preparado com cachaça ou vodka, açúcar, gelo e limão. É docinha, portanto. Não estou acostumado a ingerir bebidas alcoólicas, o que significa que preciso de muito pouco para ficar alegre. Eu gosto de bebidas doces, caipirinha é doce, bebi caipirinha, fiquei bêbado. Foi um processo simples, rápido e indolor - nem notei quando fiquei alegre. Devido ao caráter extraordinário do meu porre, decidi fazer uma análise fenomenológica da situação, e descrever as sensações internas causadas pela "marvada".

O corpo foi o primeiro a sentir os efeitos do álcool. Sóbrio, tenho um senso espacial e de equilíbrio acima da média populacional, bem abaixo dos mestres, mas ainda acima da média. Isso foi perdido em parte depois de quatro ou cinco goles de caipirinha. Ao fazer a famosa pose de 4 (manter-se em pé sobre apenas uma perna, enquanto a outra fica cruzada na altura do joelho), meus pés se moviam e se deslocavam no chão para melhor me sustentar. Se estivesse sóbrio, ficaria completamente parado, imóvel. Buscando testar ainda mais meus limites, tentei efetuar um chute de Wushu um pouco mais complexo, e só consegui fazê-lo depois da terceira tentativa frustrada: a perna escapava do lugar, me desequilibrava quando voltava à base inicial. Quando caminhava, sentia o chão um tanto quanto distante, como se houvesse uma camada de ar entre meus pés e o piso. Na verdade há uma camada de ar entre meus pés e o piso, por fina que seja, mas a sensação que tinha era que flutuava levemente acima do chão. Apesar da minha coordenação geral ter sido prejudicada, aparentemente minha coordenação motora fina foi beneficiada pelo álcool, pois pela primeira vez em minha vida consegui segurar os palitinhos de comer sushi e pegar comida com eles ao mesmo tempo. É questionável se consegui fazer isso por causa da bebida ou apesar dela, mas não vou entrar em detalhes.

Os efeitos do trago na minha mente foram mais elusivos. Como bom bebum, fiquei mais expansivo e loquaz, além de mais propenso a falar bobagens e rir de coisas sem graça. Contudo, percebi uma notável dissociação mental - ao passo que uma parte de mim ria e fazia besteiras, outra parte de mim ficava acima de tudo, apenas observando, intervindo em meus comportamentos apenas quando necessário. Esta mente superior estava no controle de tudo, e não parecia ser afetada em nada pelo álcool. De fato, foi ela quem teve a idéia de escrever um post para o blog falando da minha experiência alcoólista e, aparentemente, é ela quem está movendo meus dedos pelo teclado, pois não estou cometendo mais erros de digitação do que de costume. Dizer que há duas mentes distintas agindo ao mesmo tempo sobre o mesmo corpo é inexato e até mesmo contraproducente em termos científicos, apesar de prático para fins de comunicação. Uma metáfora melhor para o que estou experienciando seria, talvez, de uma empresa dividida em departamentos: é a mesma empresa, parte do mesmo corpo, mas enquanto um departamento sai de férias, o outro continua trabalhando e sustentando a firma. Ainda é uma metáfora ruim, mas agora eu posso, pela primeira vez na minha vida, por a culpa na bebida.

Sinto também uma leve desorientação espacial, a "tonturinha". Não gosto muito pensar que se precisar correr ou brigar eu começarei em desvantagem, mas é uma sensação bem agradável, e entendo por que tanta gente goste tanto de beber. O álcool solta a língua e o corpo, e, até um certo ponto, nos torna mais verdadeiros e honestos, com o mundo e com nós mesmos, e pode até ajudar-nos a atingir níveis mais elevados de consciência se bem utilizado. Contudo, o risco de perder este objetivo a longo prazo pelo prazer imediato da desorientação e do esquecimento momentâneo do pudor e dos problemas, e tornar a pessoa ainda mais inconsciente e perdida no abismo que é este mundo. Na primeira vez que fiquei "alegre" deste jeito, em um Psico 8 e 1/2 do ano passado, decidi que seria espontâneo e verdadeiro como um bêbado, mesmo que sóbrio. Obviamente, isto não é possível de ser posto em prática logo de cara, sendo mais um ideal a ser buscado do que uma meta propriamente dita. Este ideal foi renovado hoje, mas com a ressalva de não cair ainda mais profundamente na inconsciência.

Se eu ficar de ressaca, talvez escreva alguma coisa para reclamar da dor de cabeça. Ou simplesmente fique tomando água e café pra passar.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 8)

Como não tenho absolutamente nada melhor para fazer neste momento, decidi que vou escrever sobre minhas expectativas relativas às disciplinas do próximo semestre. Diferente dos três que o procederam, o quarto semestre terá apenas quatro disciplinas obrigatórias, o que nos dará muito tempo livre para cursar eletivas - meu sonho de consumo. Não era para ser assim, mas como o estágio básico I que deveríamos ter foi cancelado na última hora, acabou ficando assim. Bem, aqui vai:

Quarto Semestre

Avaliação Psicológica I - Obrigatória
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Como eu não fazia a menor idéia do que escrever aqui, resolvi simplesmente copiar a súmula disponível na página de nosso currículo na UFRGS: A disciplina aborda temas referentes ao contexto histórico e atual da avaliação psicológica (AP); introduz os fundamentos básicos da medida em Psicologia assim como questões éticas relativas aos processos de AP. São introduzidos, também, os conceitos de avaliação da inteligência e da personalidade, do ponto de vista teórico. Cheguei à conclusão que essa súmula não diz merda nenhuma sobre a cadeira, por que não explica o que é Avaliação Psicológica. OK, uma pessoa inteligente como eu pode deduzir logicamente o que seria AP, mas estou com preguiça no momento. Deve ser alguma coisa com testes psicométricos, o que acho legal. Contudo, essa cadeira "pertence" historicamente ao mesmo professor que não apareceu para nos aplicar a prova de Teorias da Personalidade, e reza a lenda que ele utiliza as mesmas questões para a prova de AP fazem 10 anos. Minhas expectativas são realmente baixas quanto à essa disciplina. Acho que o assunto pode ser bastante interessante, mas que provavelmente só vou aprender com o que eu ler por interesse próprio.

Ética - Obrigatória
Preview:
A única coisa que tenho para dizer sobre Ética é que, a partir do próximo semestre, não vou mais poder torturar ratinhos e pessoas em nome da ciência, por que vou estar aprendendo ética. O que é uma merda. Em todo caso, meu veterano Marcelo tem falado bem desta disciplina (dentro dos limites apropriados para o Marcelo falar bem de qualquer coisa), e que fez um trabalho final muito interessante. Mas ele também reclamou das discussões de senso comum que rolaram nas aulas. Talvez seja uma disciplina legal, talvez seja uma bela bosta. Veremos.

Psicologia e Educação - Obrigatória
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Antigamente conhecida como "Psicologia Escolar", e dividida em três cadeiras, Psicologia e Educação é o imã de más expectativas coletivas para o próximo semestre (não teremos nenhum seminário). Além de muita gente já falar mal da antiga "Escolar", "Educação" não pertence ao quarto semestre, mas ao quinto. Ela só foi adiantada por que já tivemos Processos Institucionais no terceiro semestre, e por que não poderemos ter Psicofarmacologia este semestre. De novo. Para ser franco, não espero nada de bom desta disciplina, mas não sou criativo o suficiente para criar uma lista de coisas ruins que podem acontecer. Deixo o tempo definir isto.

Psicopatologia II - Obrigatória
Preview:
O nome já diz tudo - vai ser a continuação da cadeira de Psicopatologia que tive este semestre, só que, ao invés de estudarmos as psicoses, estudaremos as neuroses, e toda moderna etiologia e nosologia psicanalíticas. Como teremos aula com a mesma professora, imagino que será o mesmo esquema do terceiro semestre: tempo livre de sobra, um trabalho pequeno no começo, e um trabalho grandão de livre escolha no final. Se for assim, vai ser bem legal, pois poderei fazer um trabalho sobre alguma coisa que me interesse. Como Metapatologias. Veremos no que vai dar.

Neuropsicologia - Eletiva
Preview:
Quero fazer esta cadeira desde o segundo semestre, mas só agora ela está disponível para matrícula. Basicamente, é uma disciplina neurocientífica, coisa que sinto falta na faculdade. Minhas colegas que fizeram falaram muito bem das aulas. Elas só não gostaram de uma coisa: a disciplina foi oferecida tanto para o curso de graduação quanto para o de pós-graduação, e muitos doutorandos a cursaram, o que foi bastante intimidador na hora de apresentar os trabalhos. Como considero um esporte pessoal enfrentar professores, doutorandos, mestrandos e qualquer outro que esteja hierarquicamente acima de mim nos estudos, acho que isto é um ponto muito positivo. Ah, esta disciplina também será oferecida para as alunas (e dois alunos) do curso de Fonoaudiologia. É sempre divertido ter gente diferente na sala de aula.

Neuropsicologia dos Transtornos Psiquiátricos - Eletiva
Preview:
Minhas colegas que cursaram Neuropsicologia falavam há algum tempo na possibilidade de uma mestranda oferecer uma cadeira sobre "Neuropsicopatologia", ou como diz o próprio nome, a base neuropsicológica dos transtornos psiquiátricos. É um assunto deveras interessante, e raramente se fala disso. É uma chance única. Além disso, talvez seja legal fazer a dobradinha "Neuro".

Genética Aplicada à Psicologia - Eletiva
Preview:
Cheguei a me matricular nesta cadeira no segundo semestre, mas amarelei e cancelei na última hora. Uma bela cagada, por que além de foder meu ordenamento (não que importe tanto, mas pode atrapalhar) eu deixei de ter aula com o lendário Renato Flores. Esse semestre eu curso essa cadeira de qualquer jeito. Falam muito bem dela, apesar de muita gente odiar o Flores por causa do posicionamento teórico e político dele (acho que não preciso refrescar a memória de vocês sobre uma certa pesquisa neurocientífica que deu o maior bafafá aqui no sul). Também dizem que o cidadão é bastante exigente, o que não vejo como algo negativo.


Introdução ao Pensamento Filosófico - Eletiva Incerta
Preview:
Como vou ter bastante tempo livre este semestre, estou pensando em pegar quatro eletivas. Contudo, não tenho certeza quanto à quarta. Como acho que vou ter um semestre por demais amolador fazendo só Neuro e Genética, pensei em pegar alguma coisa de Ciências Humanas. Considerei originalmente Introdução à Sociologia, antiga cadeira obrigatória que virou eletiva, e que foi bastante elogiada por veteranos meus, mas como ocorre conflito de horários, deixei ela de lado. Pensei também em "Filosofia da Cultura", mas também dá conflito de horários. Sobrou Introdução ao Pensamento Filosófico, que tem um horário legal (tá, não é um horário legal, mas pelo menos disponível). Mas eu já tive uma disciplina de Filosofia no primeiro semestre, e estudei filosofia por conta própria de maneira profunda o suficiente para acreditar que uma introdução ao pensamento filosófico talvez seja superficial demais para mim. Posso estar enganado, é claro, mas não sou o único a pensar desta maneira. Não me decidi ainda se faço essa cadeira ou não. Se fizer, ela pode ser legal mas básica demais, ou pode ser um sifão de energia e tempo que só vai me atrapalhar. Não tenho como saber isso de antemão.

Psicologia do Esporte - Eletiva que não vou fazer
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Psicologia do Esporte é um assunto que me interessa. Além disso, as aulas seriam no Campus Olímpico, ou ESEF, o único campus que não conheço ainda. Só que já sei que não vou me matricular nesta cadeira por um simples motivo: a aula é sexta-feira, às sete e meia da manhã. No fucking way. Não tô com tanta vontade de aprender sobre Psicologia do Esporte assim.