domingo, 2 de março de 2008

Foco

Vou fazer um pequeno exercício, e tentar definir quais são os interesses abarcados por este blog.

Originalmente, o Espadachim Cego foi criado para ser um diário meio emo, em que eu ficaria falando de mim mesmo, como eu sofro, como sou diferente e todos me odeiam e como eu odeio eles de volta. Bem, tirando a parte emo (e a de que eu tenho um certo grau de misantropia), é bem verdadeiro o que falei, pois o blog é sobre minha pessoa. Falo também das minhas aventuras, no meu próprio apartamento e no infinito e além dele, como relatos de viagens e aulas e coisas do gênero.

Então, comecei a falar de assuntos que, apesar de se relacionarem a mim em última análise, são muito mais científicos do que egocêntricos. As ciências abordadas são variadas, mas sempre abordo a parte humana delas. Psicologia, Sociologia, Ciências Políticas e Biologia. Portanto, o blog também é sobre Ciências Humanas, e um pouco sobre Ciências Naturais (tratando do lado animal do ser humano, nevertheless). Mas nada impede que eu comece a falar de Engenharia Elétrica um dia desses, considerando que um colega meu é formado nisso e faz mestrado em Informática (que tem tudo a ver com Engenharia Elétrica, apesar de não parecer).

Mas também levantei questões filosóficas, sobre qual seria o caminho correto a seguir, como devemos estudar o mundo e com que meios. Resumindo: falei de Ética, Epistemologia e Lógica. E devo ter falado bastante de Ontologia nos posts quasi-científicos.

Mas além destes assuntos sérios, também falo de bobagens como o Reino das Formigas, que frequentemente organiza raid parties (incursões de ataque, algo bem diferente de rave parties) na minha cozinha e outras bobagens que parecem ter sido digitadas com a bunda por alguém que acabou de tomar bala (ácido ou chumbo, tanto faz). Falo também de Kung Fu, Espiritualidade e Transcendência (que são coisas sérias, a propósito).

Enfim, o foco deste blog tem a mesma amplitude que meus interesses. E é tão aleatório quanto.

O Jogo Geográfico e Econômico da Política

Política é uma coisa engraçada. Engraçada por que, coisas que por si só não tem grande valor, em certas circunstâncias de relevância política, tornam-se importantes também. E coisas que são importantes em um sentido pragmático tornam-se mais importantes ainda devido ao seu simbolismo.

Tomemos como exemplo as prévias para candidato à presidência dos Estados Unidos da América. Nas prévias, os candidatos dos dois principais e mais poderosos partidos, o Republicano e o Democrata, são escolhidos em algo que poderia se chamar de pré-eleições, e que no fim acabam servindo como um termômetro da popularidade dos candidatos escolhidos. Mas a coisa não é lá muito simples, pois há dois processos diferentes de votação nas primárias: as votações primárias em si, em que eleitores sem qualquer filiação política podem votar em qual candidato eles gostariam de ver concorrendo para a vaga na Casa Branca, e os Caucus, que envolvem votações com apenas membros do partido. Mas apesar disso, não são os eleitores quem decidem diretamente quem ganha: são os delegados de partido. Os delegados de partido são obrigados a votar no mesmo candidato que seu estado votou, portanto, se nas prévias 50% dos eleitores votaram no candidato X, 50% dos delegados vão para X. Só que existem os Superdelegados, delegados comuns que exercem cargos executivos importantes no partido, como presidente estadual. Eles podem votar em quem eles quiserem, não importa o que os eleitores do seu estado decidam. Last but not least, cada estado decide quando as prévias e os caucus serão realizados.

Só as informações contidas no parágrafo anterior são suficientes para dar um nó na cabeça de qualquer um, mas são apenas os dados quantitativos das prévias. Os dados qualitativos complicam o entendimento e o decorrer das prévias de maneiras muito piores.

Como disse antes, algumas coisas ganham mais importância do que realmente deveriam. Nesta eleição, as prévias começaram no estado de Iowa - que possui algo em torno de 65 delegados para os dois partidos, o que não é muito expressivo numericamente. Mas, por ser a linha de largada da eleição, ganhar aqui é fundamental. Hillary Clinton, que antes de toda a inana começar era considerada a favorita dos democratas, tomou um tufo em Iowa e terminou em terceiro lugar - começou com o pé esquerdo. No outro lado da moeda, eventos importantes por si só ganham muito mais importância por causa de seu simbolismo. Foi o que aconteceu com a Super-Terça. A terça que virou super foi 5 de fevereiro - o dia que mais de 20 estados decidiram fazer suas prévias eleitorais, colocando em jogo milhares de delegados. No lado democrata, quem levasse a Super-Terça para casa levava a candidatura para a presidência também - ou pelo menos, sairia tão na frente que seria difícil alcançar. E no fim, o que aconteceu foi um empate técnico, que levou os pré-candidatos a terem que encarar uma luta muito mais prolongada. Para Hillary Clinton e seus aliados, isso foi um banho de água fria - e um tempero amargo para os salgadinhos caros que tinham sido comprados para antecipar sua vitória sobre Barack Obama, o azarão deste ano. Já para Obama, isso foi muito vantajoso, pois mostrou para os eleitores indecisos que valia a pena votar nele, pois ele tinha uma chance real de ganhar. E depois da Super-Terça, dos 11 confrontos democrátas, ele levou todos. Foi uma verdadeira surra de pau mole, que deixou Hillary & Friends desmoralizados e desmotivados. Afinal, quem vai votar num pré-candidato que já saiu perdendo?

A última prévia/caucus que aconteceu foi no Hawaii e no Wisconsin, em 19 de fevereiro, este último meu estado de adoção. Em termos práticos, o Wisconsin não é grande coisa no plano político americano: população pequena, majoritariamente de colarinho azul (trabalhadores assalariados da indústria) e de baixo poder aquisitivo. Em outros anos, ninguém daria a mínima para o resultado do Wisconsin, mas neste ano ele foi crucial, pois eleitores de colarinho azul são parte importante da base de votantes de Mrs. Clinton, e perder ali deixaria claro que este setor importante está migrando para Obama. Além disso, ela precisava mostrar que era capaz de ganhar de Obama e que ainda podia lutar pela cadeira da Casa Branca. Tomou outro tufo, e ficou 17% atrás de Obama.

Depois da Batalha do Wisconsin, uma trégua: as próximas prévias seriam apenas em 4 de março, em Ohio, Rhode Island, Texas e Vermont. Apesar de Ohio e Texas serem os mais importantes em números de delegados para os democratas (161 e 228, respectivamente), os estados de Vermont e Rhode Island (23 e 32 delegados, respectivamente) são considerados importantíssimos. Primeiro, por que se Hillary ganhar lá, ela mostra que a luta para ela não está perdida ainda. Mas há mais por trás disso: Rhode Island é tradicionalmente um reduto democrata nas eleições gerais, e principalmente, é um reduto de eleitores do clã Clinton. Perder ali é perder toda a credibilidade para Hillary. Complicando um pouco mais as coisas neste 4 de março, o sistema de pré-eleições no Texas é provavelmente o mais bizarro dos EUA inteiros, por ser uma mistura de prévias com caucus que ninguém entende, exceto, como disse uma colunista do The New York Times, quem tem doutorado em Física Quântica.

As próximas prévias são consideradas a batalha final de Hillary por muitos, ou no máximo, sua última chance de ganhar alguma coisa e mostrar que tem força para concorrer pela presidência.

Outro fenômeno importante que se tornou mais importante ainda é a arrecadação e administração de fundos para a campanha - Obama quebrou recordes de arrecadação e sua campanha é um exemplo de dinheiro bem investido, ao passo que Hillary, que arrecadou bastante mas ainda assim muito menos do que Obama, tem sido extremamente criticada pelas constantes cagadas da coordenação de sua campanha, que chegou a gastar em um mês 1200 dólares em rosquinhas. Além dela sofrer as conseqüências práticas de ter menos dinheiro, ela tem que responder perguntas dos eleitores do tipo "como posso confiar que a senhora vai administrar bem a economia do país se não consegue administrar a própria campanha decentemente?"

A questão do dinheiro arrecadado também traz outros problemas à reboque, como um trato feito entre o candidato quase certo à presidência John McCain e Obama de usarem verbas federais de campanha e limitarem os gastos. Na época, valia a pena para Obama vender uma imagem de político ético, pois tinha pouco dinheiro à disposição. Mas agora que ele tem pelo menos mais de 50 milhões de dólares à sua disposição, parece ser um tiro no pé. McCain, que apesar de popular tem pouco pila vai encher o saco de Obama com certeza se ele não cumprir com sua palavra.

E, indo na direção contrária do fenômeno que descrevi no primeiro parágrafo, eventos importantes pragmática e simbolicamente, dentro de certos contextos deixam de ser tão importantes quando deveriam ou costumavam. Por exemplo, Hillary Clinton levou as prévias de New York, New Hampshire, New Jersey e California - 281, 121, 127 e 441 delegados respectivamente, e que juntos são os estados que mais representam os EUA - tanto dentro do país quanto fora. E o fato dela ter ganho nestes importantes estados perdeu quase toda sua importância, porque Obama ganhou em todos os outros! O coordenador da campanha de Hillary, depois de uma das 11 derrotas que ela sofreu, frequentemente vinha falar ao público que o estado recém-perdido não representava os eleitores dos EUA - fato que virou a piada dos "40 estados que não representam os eleitores dos EUA".

Há muitos outros fatores na política, especialmente nos EUA, que influenciam os eleitores, mas são demais para um post só. Talvez outro dia eu fale mais sobre isso.

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 5)

Como amanhã finalmente começam minhas aulas, acho que agora é uma boa hora para falar das minhas expectativas para com elas. Provavelmente as piores expectativas que tenho serão piores do que espero, e as melhores me decepcionarão. No final do semestre, farei uma análise comparando o que esperava das aulas com o que elas realmente foram.

Terceiro Semestre

Psicopatologia I - Obrigatória
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Esta cadeira vai ter um viés extremista e unilateral bem psicanalítico, e portanto previsível. Aposto que 90% dos meus colegas vão detestar estas aulas, mas 85% vão arranjar uma desculpa outra para este desgostar que não seja "a aula é realmente uma merda e sou sincero o suficiente para admitir". Garanto que vou me estranhar com a professora. E muitos colegas de arrasto também.

Processos Grupais I - Obrigatória
Preview:
Antigamente, esta cadeira se chamava "Dinâmica de Grupo". No currículo novo, mudou de nome, mas manteve o professor e a controversa metodologia. Esta é uma cadeira divisora de águas segundo muitos de nossos veteranos - e ou se ama as aulas com todo o coração ou se odeia até a última fibra do ser. Outra coisa que ouvimos falar muito é que o professor age como se não tivéssemos outra aula para atender que não seja a dele, pois passa relatórios e mais relatórios, um mais fodido que o outro. Além disso, ele é grosso com os alunos, de acordo com alguns veteranos (que provavelmente odiaram a cadeira, e talvez tenham uma visão muito unilateral dos fatos). De um destes veteranos recebi a sagrada tarefa de chinelear sempre que puder as aulas - ele fez isso e, nas próprias palavras, comprou uma nota B, mesmo sabendo que merecia um A. Considerando minhas experiências anteriores com grupos vivenciais, tenho a impressão de que não vou gostar desta aula. Mas veremos.

Processos Institucionais - Obrigatória
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Tirando o fato de que esta era uma cadeira do quarto semestre, e que ela foi transferida para o terceiro semestre por uma cagada de comunicação com o professor de Psicofarmacologia, não tenho maiores detalhes desta disciplina. Se conheço bem minha faculdade, esta cadeira vai ser uma "Psicologia Social III", só que com outro nome, e portanto menos sincera. Aposto que vai ser mais uma aula de pura encebação, cheia de discussões vazias (que contradição) e discursos politicamente corretos e anarquistas (de quintal) sobre as instituições. Bleh.

Estatística Aplicada à Psicologia - Obrigatória
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Matemática. Um pouco de solidez neste mundo de espelhos e fumaça que é a Psicologia. Acho que vou ter que sofrer um pouco, pois sinto que minhas habilidades matemáticas estão meio enferrujadas, mas acredito que, ao contrário da minha turma, vou gostar das aulas.

Seminário de Pesquisa em Psicologia - Obrigatória
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Mais um daqueles seminários integradores. Aqui estou junto com minha turma, e não tenho grandes expectativas de que esta seja uma aula produtiva. Ainda assim, como tivemos uma experiência com seminários bisonhos no ano passado, talvez seja diferente este ano. Em todo caso, vou ter sempre um livro a mão caso a aula seja insuportável demais.

Prática de Pesquisa em Psicologia - Obrigatória
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Na verdade, ninguém se matriculou nesta disciplina, por ordem da COMGRAD, mas vamos ter que participar de um grupo de pesquisa existente no Instituto. De certa forma, é uma cadeira eletiva, já que quem escolhia o grupo eram os alunos - apesar de TEREM QUE escolher. Promete ser um tipo de atividade que nunca fiz antes: fazer uma pesquisa e apresentar o resultado em um congresso. Boas expectativas a respeito dessa.

Teorias da Personalidade - Obrigatória
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Na minha opinião, a obrigatória que mais promete dar certo este semestre, pois seu assunto são as teorias da personalidade, provavelmente mais as que já conhecemos, mas teremos mais teorias de outros ramos que não conhecemos tão bem. Isso é muito bom. Mas a chance de dar errado e ser uma aula de bosta também é grande. Como sempre na Psicologia.

Esquizoanálise - Eletiva
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Lembram-se que eu disse neste mesmo blog que eu não iria fazer esta cadeira? Pois bem, menti. Vou fazer. Ou melhor, vou ouvir. Pretendo dar umas passadas nas aulas presenciais e participar como aluno ouvinte. Desse modo, posso aproveitar o conteúdo se for bom sem me foder com as notas. E se não gostar do assunto, não preciso mais dar as caras.

Psicologia Humanista - Eletiva
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Apesar de eu ter sido o maior campeão para a realização desta cadeira, não espero grande coisa. Primeiro por que entendo do assunto mais do que meus colegas, e segundo por que a Psicologia Humanista é, até onde pude analisar, muito parecida com a Esquizoanálise. Claro, há muitas diferenças gritantes e importantes, mas ambas provêm do mesmo antro de psicólogos afrescalhados que gostam de problematizar as coisas. A chance das aulas caírem em chatíssimas discussões teóricas sobre o sexo dos anjos é grande, apesar do potencial que o assunto tem de ser bacana. Outro problema é que, por abordar muitas linhas de Psicologia Humanista diferentes (entre elas a Psicologia do Ser, yay!), o conteúdo vai ficar meio diluído.

Terapia Cognitivo-Comportamental - Eletiva
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Se os esquizoanalístas e os psicólogos humanistas vêm da Frescolândia, os Terapeutas Cognitivos-Comportamentais vêm do Deserto de Skinner, e são pragmáticos e avessos à frescuras (em sua maioria). Uma cadeira que promete ser mais positiva do que negativa, mas que mesmo assim não me traz grandes expectativas. No início da faculdade, TCC era o assunto que mais me interessava. Ainda me interesso, mas bem menos. Veremos como vai ser.

Bioquímica Aplicada à Psicologia - Eletiva
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No momento, por causa de colisão de horários com Psicologia Humanista, não pretendo cursar esta cadeira. Mas, se PH mudar para um horário à noite como muitos dos interessados pediram, eu faço. Caso contrário, PH é prioridade. Em todo caso, se conseguir cursar Bioquímica, acredito que vai ser uma das aulas mais instigantes e fierosas, por assim dizer, pois tenho muita dificuldade para entender química. Mas gosto de desafios e tenho quem me ajude a entender essa ponhoca.