quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quando o Semestre Acabar...

... Eu vou ter um volume obsceno de tempo livre, e não vou saber o que fazer com ele. Prevendo este problema, aqui vai uma lista das coisas que eu pretendo fazer com meu superávit de coçação de saco:

1) Assistir "Tropa de Elite" e "Cidade de Deus";
2) Fazer uma maratona de "Star Wars" e "Star Trek";
3) Ir para o Encontro Nacional de Estudantes de Enfermagem;
4) Ir para o Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia;
5) Ler "The Once and Future King";
6) Ler mais Jung, Adler e Freud;
7) Ir mais vezes na Redenção;
8) Ir no Gasômetro perder meu tempo;
9) Ir no Fantaspoa;
10) Comer pastel na Venâncio Aires;
11) Treinar Kung Fu com mais calma;
12) Chamar amigos para ver filmes e comer porcarias;
13) Ler mais sobre Desenvolvimento Humano;
14) Assistir "De Volta para o Futuro";

terça-feira, 29 de junho de 2010

Psicopatologia da Vida Cotidiana no RU

Comi no RU hoje. De novo. Nessas alturas do campeonato, isso não é novidade pra mais ninguém, principalmente pra tia do RU, que me avisa qual caixa eu devo me dirigir. Também não é novidade para ninguém o quanto eu gosto do pudim do RU. Todo mundo que lê esse blog sabe que isso que eu chamo de "pudim" na verdade é uma pasta cremosa, colorida, doce e gostosa, e que eu fico muito feliz quando tem isso no cardápio do dia. Agora, uma coisa que pouca gente sabe é que, quando tem pudim no RU, eu também fico paranóico. Basicamente, meu medo é: se eu deixar minha bandeja aqui e for buscar meu suco (ou água, como tem sido bastante freqüente aqui no Campus do Vale), será que alguma dessas pessoas aqui sentadas não vão meter a colher na minha sobremesa? Eu deixo minha bandeja, vou até o lugar onde se pega o suco, mas vou e volto pensando nisso, tanto que inspeciono atentamente a massa açucarada que há na minha bandeja, para ver se não há marcas de colheres alheias, ou uma diminuição no volume total de gostosura.

Outra coisa que me deixa paranóico em dia de pudim: será que eu ganhei menos pudim que os outros? Eu olho atentamente enquanto a funcionária do RU coloca a minha porção do dia, e depois, comparo com o que os outros freqüentadores do estabelecimento ganharam. Geralmente, acho que ganhei a mesma quantidade, fico feliz e esqueço disso. Entretanto, se desconfio que alguém foi mais abençoado que eu, ou a média da população, fico "cabreiro", como diria o bom e velho Boça. Fico pensando em perseguir esta pessoa, descobrir o que há de especial nela, o que ela faz para merecer tamanha graça, enfim, tento responder a pergunta "PORQUE NÃO EU? PORQUE? Ó SUPREMA INJUSTIÇA!"

...


Exceto nos dias em que eu sou agraciado com uma dose levemente maior do que os demais. Nesses dias, eu gosto de imaginar que alguém que passou do meu lado, olhou para a minha bandeja e pensou "esse cara deve ser especial pra ganhar tanto pudim assim".

No ajojo

Vindo morar em Porto Alegre, eu acabei mudando minha maneira de falar. Claro, não cheguei a adotar completamente o sotaque do Bom Fim, que é ali do lado da minha casa, nem abandonei por completo meu sotaque de gringo da Serra, tanto que largo um "poca voya", "brodo", o clássico "porco ziuna" e o inconfundível "pede pra fulano se não é verdade. Aprendi, no entanto, uma série de termos novos, que creio serem utilizados somente aqui, na Capital.

O primeiro termo foi "teto". Para qualquer outro cidadão desse país, teto é aquela parte da casa que fica sobre sua cabeça. Para o portoalegrense, "teto" também é uma divagação mental, uma "viagem". "Bah meu, tava aqui tetiando sobre ir morar no Canadá e me prostituir pra ganhar a vida" é um exemplo do termo utilizado como verbo. "Teto Véio Loco" é uma maneira particularmente engraçada e enfática de dizer que uma divagação é mais fora do normal que... o normal.

Há também a palavra... OK, talvez eu não tenha aprendido tantas palavras novas assim aqui em Porto Alegre, mas eu queria dar uma enrolada antes de falar da gíria "Ajojo". Para ser sincero, não sei se eu já não conhecia essa aberração gramatical antes de vir morar aqui. Porém, sei que só comecei a dar valor para seu uso por aqui, quando percebi que dizer "tô ajojado" é uma maneira bem descritiva de dizer "estou me sentindo ao mesmo tempo cansado, retardado e incapaz de realizar qualquer tarefa mais complicada que bater com a cara na mesa." Além disso, "ajojado" é engraçado como aquelas palavras que seu afiliado de 3 anos fala na ceia de Natal - quando ele diz é bonitinho, quando você diz, é mongo. Eu me divirto com esse tipo de situação. Prefiro que as pessoas pensem que eu tenho algum tipo de déficit cognitivo, e que eu seria incapaz de escrever meu nome sem trocar alguma letra de lugar.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sociologia da Copa do Mundo

Neste exato momento, eu deveria estar borrando minhas calças de preocupação por  causa do meu trabalho de Introdução à Sociologia, que apresento hoje à noite e ainda não está totalmente pronto. Entretanto, como eu sou um indivíduo bastante tranqüilo, e como o trabalho vai bem, obrigado, decidi falar de Sociologia em outra área: Copa do Mundo.

Copa do Mundo é um prato cheio pra chamar o brasileiro de alienado, por que é só nessa época que ele se mostra patriota para alguma coisa, e ignora todas as notícias que não contenham a palavra "futebol". O Kibe Loco postou um comentário da notícia que o Judiciário está tentando passar um reajuste de salário para seus funcionários que de tão alto é inconstitucional. Eu poderia falar sobre isso, e sobre milhares de outras coisas que estão acontecendo de ruim no Brasil, mas prefiro falar sobre o esporte mesmo.

Este ano, não estou dando muita bola para a Copa, pelo menos se comparado com as copas anteriores. Em 1994, eu era pequeno demais para entender que diabos estava acontecendo, mas acompanhei os jogos mesmo assim por que todo mundo estava, inclusive as professoras da minha creche, que arranjaram uma TV e nos botaram para torcer pelo Brasil contra a Suécia (o que foi bem confuso, para ser sincero, por que o Brasil estava com o uniforme reserva, que é azul, e a Suécia estava com um uniforme amarelo - o que é demais para a cabeça de um menino de 5 anos compreender). Devo ter visto a final contra a Itália, porém não lembro nada a respeito dela.

Em 1998, a coisa foi bem diferente. Com dez anos, os neurônios responsáveis por jogar futebol já tinham atingido o zênite de seu desenvolvimento e eu era um perna de pau consumado. Ainda assim, acompanhei a Copa na França com paixão, assistindo todos os jogos do Brasil, preenchendo as tabelas de resultado num encarte da Veja e sendo 100% brasileiro em época de copa. Lembro até hoje que foi o Brasil quem abriu o evento, numa partida meio xexelenta contra a Escócia, que teve gol contra e frescurite generalizada. Eu fiquei esperando os escoceses entrassem em campo com os rostos pintados de azul, levantassem seus kilts e mostrassem suas partes púbicas para a torcida canarinho, e ganhassem a partida só na base da humilhação moral. Infelizmente, isto não aconteceu.

Ele deveria ter sido técnico da Escócia.

Lembro-me também da deprimente final contra a França, quando o time brasileiro tomou 3 gols de uma seleção que parecia ganhar os jogos só por que estava em casa (mas aposto que se eles tivessem encarado a Alemanha, teriam perdido por W.O.), do Ronaldo Fenômeno, ainda no auge da forma física, ficar fazendo merda em campo e todas as discussões que eu tive com a professora de português sobre como os resultados para a França ganhar serem tudo "cartas marcadas". Outra coisa que eu nunca esqueci foi a humilhação de ter que aguentar os franceses poderem tirar com a nossa cara por causa do 3X0, e desde então, sempre fiquei muito feliz quando a seleção da França perdia qualquer coisa, mesmo que fosse campeonato de cuspe à distância, e ficava ainda mais feliz quando eram derrotados por uma diferença de 3 ou mais pontos (múltiplos de 3 contam).

Em 2002, a coisa foi mais complicada. Não me lembro de ter assistido todos os jogos, por causa do fuso horário infeliz - afinal de contas, a Copa estava sendo realizada no Japão e na Coréia do Sul, que ficam do outro lado do mundo. Em algum momento, contudo, eu fiz parte da infame "Torcida Coruja" da RBS, e fiquei acordado até às 3 da manhã, empoleirado do lado da TV assistindo qualquer jogo que fosse. O mais marcante dessa copa foi o sentimento de que já tínhamos perdido, antes mesmo dela começar.

O Brasil só se classificou à muito custo, enquanto a Argentina tinha detonado nas Classificatórias, e por isso, tudo referente à nossa seleção era alvo de críticas, principalmente as escolhas do técnico Felipão, que se recusara a chamar Romário para compor a equipe. Já nessa época eu comecei a desenvolver um certo asco daqueles quadros da Globo onde um repórter vai para a rua perguntar qual seria a seleção perfeita, e ver um monte de Zé Ninguém falar como se soubesse mais do assunto do que quem está envolvido com a preparação técnica dos jogadores. Ainda assim, esta foi uma copa muito, muito feliz. Depois de um começo duvidoso, enfrentando times de pouco brilho como China, Turquia e Costa Rica, o Brasil foi avançando, ganhando partidas e confiança, até chegar na final e ter sua vez de entufar uma seleção européia. Infelizmente, não foi a França, e sim a Alemanha, que naquela copa tinha o melhor goleiro de todos, Oliver Kahn.



Kahn, se me lembro bem, só tinha levado 1 gol, em toda a copa, e chegou a dizer que, "jogador boml é aquele que marca quando ELE está na goleira". Tubarão morre pela boca, e a Alemanha perdeu a final de 2002 por 2 a zero. Foi lindo, e tudo ficou mais lindo por que a França, que começou a Copa já se achando campeã, foi desclassificada ainda na primeira fase. Me senti vingado. BRASIL-SIL-SIL! Uma última coisa sobre a Copa do Japão e Coréia. Apesar da Turquia ser um time pouco representativo no futebol mundial, sua seleção jogou muito naquele ano. Na primeira fase, os turcos perderam para os brasileiros por questão de detalhe - aquele tipo de detalhe que vai parar na justiça esportiva por aqui. Porém, como bons inimigos valorosos que os turcos são, eles também se classificaram para as oitavas de final, e nos confrontaram outra vez nas semifinais. Eles foram com sangue nas ventas, querendo vingança pela injusta derrota sofrida. Perderam de novo, mas desta vez não houve dúvida: o Brasil mereceu ganhar.

Enfim, 2002 foi um ótimo ano para ser patriota: Brasil pentacampeão, derrotamos a Alemanha e a França tomou na bunda. 2006 na Alemanha ia ser lindo também, não é? Bem, não foi. Desta vez, foi o Brasil quem entrou de salto alto em campo, e fomos desclassificados nas quartas de final. E, injúria das injúrias, contra os franceses, outra vez! Lembro que tinha recém voltado dos EUA, e estava um pouco indiferente à copa, mas acompanhei pelo menos o jogo contra a França, e, quando ela ganhou, eu torci contra ela pelo resto do mundial. Só fiquei um pouco em dúvida em torcer contra ela na final contra a Itália por que, se a Itália ganhasse, ela seria tetracampeã, e ficaria mais próxima do Brasil em termos de conquistas. Felizmente, Zidane e Materazzi me fizeram esquecer esses detalhes, e nos deram este lindo meme da Cabeçada no Plexo Solar, e eu pude esquecer os detalhes irrelevantes como, quem ganhou a copa.

K.O.!

A derrota em 1998 foi triste, mas não vergonhosa. O mesmo não pode ser dito de 2006. Os jogadores do Brasil se portaram mal durante a copa, jogaram de salto alto e pareciam não se importar em terem perdido ou não. Parreira, então o técnico, que começou a copa com a bola toda, terminou demitido e desmoralizado. Aliás, todo mundo que integrou a seleção em 2006 saiu assim, e não sei de ninguém que conseguiu sair dessa fossa depois.

Exceto o Ronaldo.

OK, falei de todas as minhas copas. Falta a de agora. Bem, é a primeira copa do mundo que ocorre na África, e é a primeira que eu não vi um jogo sequer do Brasil. Sim, eu escutei as vuvuzelas (que pra mim nunca deixarão de ser cornetas), os foguetes, as comemorações dos vizinhos, as pessoas torcendo no Bar do Antônio por algum time obscuro, mas até agora, em nenhum momento eu me prestei a ligar a televisão e ver como a Esquadra Canarinho está se saíndo. O que eu me dei o trabalho de fazer, no entanto, foi o de olhar de tempos em tempos a tabela de resultados no Google. Estou muito feliz com os resultados, por que:

1) França foi desclassificada na primeira fase. De novo.
2) A Itália foi desclassificada na primeira fase. Também.
3) Muitos times sul-americanos se classificaram para as oitavas de final.
4) Muitos times que nunca ganharam copas do mundo se classificaram, como Portugal e Espanha.
5) França foi desclassificada na primeira fase. De novo.
6) Brasil se classificou antecipadamente para a próxima fase.
7) Dunga está mostrando para a Rede Globo quem é que manda. Ele vai se ferrar, mas o que conta é a intenção.
8) Já falei que a França foi desclassificada na primeira fase de novo?

A Alemanha se classificou, e pode ganhar outra copa do mundo e voltar a se igualar à Itália (que foi desclassificada, também, como a França), mas penso que nesta copa teremos resultados diferentes. Gostaria de ver uma seleção diferente ganhar a Copa, e parece que este ano temos uma alta probabilidade disto acontecer.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Só para constar

Eu sei que tem gente por aqui que não gosta quando eu começo a falar de números, por que números são chatos e quando eu falo de números eu sou chato. Ainda assim, eu gostaria de informar-lhes que hoje o "Espadachim Cego" atingiu a marca de 5000 visitas. Fiquei um pouco impressionado com isto. 5000 não é um número tão alto assim para um blog, mas não deixa de ser para mim, que mal e parcamente divulgo isso aqui, e gostaria de comemorar de alguma maneira. Obrigado a todos que lêem isso aqui e deixam seus comentários de vez em quando. É bom poder trocar idéias com vocês. E por hoje é isso.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dando a Cara à Tapa

Hoje teve o primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo. Na verdade, foi ontem, considerando que já são duas da manhã do dia 16, mas isso não importa. O jogo foi contra a Coréia do Norte. Considerando que este país está longe de ser uma potência do futebol como o nosso Brasilzão, era de se esperar que nós ganhássemos o jogo de hoje. De fato, nós ganhamos. Entretanto, por ser a Coréia um time ruim, deveríamos ter ganho de lavada. 4 a 0. 5 a 0. 6 a 0! Só que não foi assim, e o jogo terminou 2 a 1 - dois para o Brasil, um para a Coréia.

Não foi um resultado bom. Aliás, para muitos brasileiros, foi um resultado horrível. "Onde já se viu ganhar só de 2 a 1 da Coréia do Norte?" muitas vozes por todo o país perguntam, inconformadas. Estas vozes querem saber como a nação pentacampeã possa ter tido tantas dificuldades para vencer um time tão ruim, tão fraco, tão sem história e tradição. Elas querem saber tudo isto, mas estão mais preocupadas com uma coisa: chamar o Dunga de retardado.

Dunga, o técnico de nossa seleção, tem uma missão simples, porém importante: fazer o Brasil hexacampeão mundial de futebol. Para tanto, ele precisa escolher os jogadores e as táticas utilizadas durante as partidas, e comandar o time rumo à vitória. E, ao seu dispor, ele tem a nata do futebol internacional, os melhores jogadores, os que mais fazem gol - os brasileiros. Tendo isso à mão, ele deveria ganhar um joguinho contra um time de nada como a Coréia do Norte como o Michael Schumacher ganhava na Fórmula 1. Assim sendo, 2 a 1 é um resultado ridículo, e o fato do Brasil ter ganho desta maneira da Coréia do Norte sob a tutela de Dunga é prova irrefutável de seu retardo mental. E, para deixar ainda mais claro quão incapaz é Dunga de comandar a Esquadra Canarinho, os repórteres da Globo vão entrevistar quem realmente entende de futebol, quem sabe do assunto e que, se fosse técnico da seleção brasileira, certamente traria o caneco para casa: o torcedor mediano. Ninguém acompanhou mais copas que ele, ninguém analisou mais tabelas de campeonatos que ele, e ninguém conhece o estilo dos muitos e muitos times e jogadores do que ele.

Com base neste vasto e impecável conhecimento, ele destrincha com facilidade o assunto da copa, e através do microfone da TV do Plim-Plim, destila pequenas gotas de sabedoria boleira para Dunga, o Retardado: quem ele deveria escalar, qual esquema tático utilizar, como se preparar para a próxima partida e, é claro, quão imbecil ele (Dunga) realmente é, por não ter convocado Neymar e Ganso para irem para a África do Sul. O torcedor mediano deixa claro como cristal que, fosse ele o técnico, a Coréia teria tomado uma tunda, e que ele sairia carregado pela torcida por ser um indivíduo tão genial e visionário.

E é aqui que eu começo a ficar com raiva.

Talvez Dunga seja retardado, talvez tenha sido um erro não convocar Neymar e Ganso, e talvez colocar quem ele colocou no ataque fosse a pior coisa que ele poderia ter feito. Talvez. O que nenhuma dessas pessoas entrevistadas pela Globo, que escrevem nos seus blogs e nos seus twitters sobre a incompetência do nosso técnico percebem é que elas não estão lá na África do Sul, tentando levar o Brasil à vitória. Quem está fazendo isso é o Dunga. Eu preciso dizer o óbvio aqui, por que talvez isso não seja tão óbvio assim, mas isto quer dizer que ninguém pode entender de fato o que está acontecendo com a seleção brasileira nesta copa, a não ser o próprio Dunga.

Sim, caio em mais um talvez: talvez ele não seja o cara mais preparado para desempenhar esta função, e talvez haja alguém mais capacitado para isto. Lembro-me de ter visto, pouco tempo depois da copa de 2006, alguma previsão do professor Jucelino da Luz, que dizia que o Brasil perderia a Copa do Mundo para a Alemanha se o técnico não fosse o Felipão. Não sei onde vi isso, nem quero saber, por que não importa. Uma vez mais, talvez Felipão devesse ser o comandante em chefe este ano. Entretanto, ele não é, por que esta missão coube a Dunga levar a bom termo.

Depois de despejar sua sabedoria no mundo, o torcedor mediano volta para a sua rotina, esquece do grande drama por trás da não-convocação daquele cara com apelido de bicho e só volta a se incomodar com a Copa do Mundo no próximo jogo, quando ele mais uma vez fica indignado com o desempenho da seleção. Dunga não pode ser dar esse luxo. Cada minuto de seu dia é devotado a resolver um só problema: como ganhar o próximo jogo. E não só ele deve resolver este problema, como ele deve fazer isto enquanto se justifica para todo o Brasil - explicando por que fez isso em vez daquilo, assim em vez de assado - através de um bando de repórteres ansiosos por um erro seu.

Contudo, a maior diferença entre Dunga e aqueles que reclamam dele reside no fato que, independente do Brasil vencer ou não a Copa, quem reclamou continuará vivendo como sempre viveu (além de poder continuar reclamando de Dunga muito tempo depois da Copa ter acabado). Dunga não: toda sua vida futura depende do seu desempenho na África do Sul. Se o Brasil perder, ele será para sempre lembrado como "aquele técnico meia-boca que perdeu em 2010". Não haverá justificativas, paliativos ou argumentos que modificarão isso. Entretanto, se nós ganharmos, ele será para sempre lembrado como alguém glorioso, visionário e obstinado, e que sem sua liderança, a seleção seria incapaz de ganhar qualquer partida que fosse.

Quem entre os críticos, os difamadores e comentaristas possui a coragem de dar tamanho salto no escuro, e de apostar toda sua vida em um fugídio momento de glória? Nenhum, eu diria, por que criticar é fácil, seguro, conveniente. Depois de chamar Dunga de retardado em cinco línguas, eles podem voltar a viver como sempre viveram, tranquilamente. Porém, eles não criaram nada de novo, nada de bom, por que se mantiveram naquela zona cinza de conforto onde se encontram os pobres de espírito, que nunca fracassaram por que nunca tentaram nada glorioso. Pode ser que o futebol não seja realmente importante, e que Dunga esteja perdendo seu tempo dirigindo um bando de homens para correr atrás de uma bola de couro. Ainda assim, ele aceitou enfrentar uma tarefa grandiosa. Sim, ele pode terminar esta copa completamente desgraçado, sendo desclassificado ainda na primeira etapa. Ainda assim, eu o consideraria mais digno de respeito que todos aqueles que levantaram sua voz para chamá-lo de incompetente, por que ele escolheu correr todos os riscos, e mesmo a sua mais retumbante derrota será mais gloriosa que todas as críticas reunidas.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Barreiras

A única coisa que me impede
De derrubar estas paredes
São estas grades de papel
Que eu mesmo construí

domingo, 13 de junho de 2010

Sobre a Concentração

"No Koyogunkan, um homem pergunta:
-Quando enfrento o inimigo, sinto-me como se tivesse entrado na escuridão. Por causa disso, acabo me ferindo. Apesar de já ter enfrentado muitos homens famosos, você nunca se feriu. Por quê?
E o outro responde:
-Quando eu enfrentava o inimigo, obviamente também era como estar no escuro. Mas, se na hora eu acalmasse minha mente, a escuridão se tornava uma noite iluminada pelo pálido luar. Se eu atacasse nesse momento, sentia que não seria ferido.
Essa é a situação no momento da verdade."

(Adaptado de "Hagakure", páginas 196-197 - Editora Conrad)

Sobre a Dedicação

Estou lendo "Hagakure - O Livro do Samurai". Baseado nas preleções de um velho samurai chamado Yamaoto Tsunemoto, que viveu no Japão do século XVIII, o livro é uma pequena coleção de gotas de sabedoria e anedotas sobre o Bushido, o Caminho do Guerreiro, que se fossem proferidas hoje, seriam consideradas profundamente ridículas ou profundamente ofensivas. Entretanto, para um livro de notas breves ser publicado e lido nos nossos dias, ele deve ser mais do que uma piada histórica. E de fato, nas páginas de "Hagakure", encontrei esta pequena história, que, para mim, é uma parábola sobre dedicação total à uma tarefa:

"Quando o sacerdote Daiyu, de Sanshu, foi fazer uma visita a um doente em um determinado local, disseram a ele:
-O homem acabou de morrer.
-Isso não deveria ter acontecido neste momento. Será que foi falta de tratamento? Que pena - exclamou Daiyu.
O médico estava presente naquele exato instante, e escutou o que foi dito do outro lado da porta de papel.
-Escutei Vossa Reverência dizer que este homem morreu por falta de tratamento - disse, extremamente irritado. -Como sou um péssimo médico, isso provavelmente é verdade. Ouvi dizer que um sacerdote budista encar o poder das Leis de Buda. Então, traga este homem de volta à vida. Sem uma prova como essa, o budismo é inútil.
Daiyu ficou aborrecido, mas achou que era imperdoável para um sacerdote deixar que o budismo fosse difamado, então disse:
-Então eu vou lhe mostrar como trazer alguém de volta à vida com orações. Por favor, espere um momento. Eu preciso me preparar - e voltou ao templo.
Logo ele voltou, sentou-se e começou a meditar junto ao corpo. Pouco depois, o homem morto começou a respirar e depois reviveu por completo. Dizem que viveu por mais seis meses. Como esse fato foi relatado diretamente pelo sacerdote Tannen, não paira dúvidas sobre ele.
Quando perguntado a respeito da oração que utilizou, Daiyu disse:
-Essa prática não é comum em nosso culto, portanto, eu não conhecia nenhuma oração específica. Eu simplesmente foquei meu coração nas Leis de Buda, voltei ao templo, afiei uma espada curta, que tinha sido dada ao templo como oferta, e a escondi em minha roupa. Então encarei o homem morto e orei: 'Se existe força nas Leis de Buda, volte à vida imediatamente". Eu estava comprometido de tal forma que, se ele não tivesse voltado à vida, eu certamente iria cortar minha barriga e morrer abraçado ao corpo."

(Adaptado de "Hagakure", página 194-195 - Editora Conrad)

sábado, 12 de junho de 2010

Meu Dia em Imagens

Hoje, sábado, 12 de junho, é Dia dos Namorados. Neste exato momento, pelo menos cinco casais apaixonados se beijaram em Gramado, três trocaram presentes e quatro fizeram sexo em lugares públicos. Eu, por estar solteiro, não fiz nenhuma dessas coisas, por que eu estou no meu estágio, esperando os pacientes da tarde chegarem. Pois é, comecei a trabalhar no sábado de tarde também. Como vocês podem perceber, este é um assunto transbordando de drama, e, como vocês bem sabem, eu poderia escrever páginas e páginas de imbecilidades sobre este drama inócuo, mas hoje decidi adotar uma abordagem diferente. Ao invés de descrever detalhadamente tudo o que penso ser ridículo na situação de hoje, eu vou postar uma foto que, na minha opinião, resume tudo:


Feliz Dia dos Namorados para quem tem um(a). Para quem não tem, espero que vocês tenham algo melhor que livros, bergamotas e twitters para se entreter.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Desenhos da Minha Vida - Samurai X

Na minha época de Ensino Médio, dos 14 aos 17 anos, eu ainda assistia televisão. Estudava de manhã e passava a tarde inteira sozinho em casa - ou eu estudava ou via TV. Como bom adolescente que era, escolhia quase sempre a segunda opção. Naquele tempo, o Cartoon Network, emissora cuja programação consistia inteiramente em desenhos animados, exibia no final da tarde um bloco chamado "Toonami", que, como o nome deveria sugerir, consistia inteiramente de animes, desenhos animados criados no Japão. Como os shows que passavam nesse horário eram muito do meu agrado, eu assistia do princípio ao fim (exceto "Super Campeões", por que um anime sobre bons jogadores de futebol japoneses me parece mais irrealista que Dragon Ball Z), e, nos dias em que eu ia treinar Kung Fu, programava o vídeo cassete para gravar (sim, gente, em 2004 não existiam gravadores de DVD) e assistia quando voltava para casa.

Um dia, coloquei uma fita para gravar e fui treinar, imaginando que aquele seria um dia como qualquer outro, mas eu estava enganado. Quando voltei do treino, rebobinei a fita (quanto tempo eu não usava esse verbo!) e comecei a assistir, esperando ver mais um episódio de "InuYasha". Para meu espanto, não foi o que aconteceu. Ao invés da musiquinha de abertura desse programa, o que apareceu foi outro desenho, com cores menos brilhantes e um estilo completamente diferente, mostrando um mapa do Japão, enquanto uma voz feminina falava sobre um samurai que vivera e lutara durante a turbulenta guerra civil do final da Era Tokugawa. Senti um ímpeto de apertar o botão de "fast forward", e assistir o anime que viesse a seguir na programação. Decidi, entretanto, não fazer isso. "Talvez não seja tão ruim assim" pensei, e me permiti assistir ao primeiro episódio daquele programa que não sabia nem sequer o nome. Eu nunca me arrependi.

A voz continuou a falar sobre este espadachim, conhecido como Battousai, o Retalhador, que lutara em nome do Imperador, e que, sozinho com sua espada, assassinou muitos inimigos, e abriu o caminho para a Nova Era Meiji. Entretanto, quando os conflitos cessaram e a vitória estava garantida, Battousai desapareceu, e seus feitos viraram lenda. A história então avança dez anos, e nós encontramos Kenshin Himura, um andarilho com cara de tonto, vagando pela cidade de Edo com uma espada de lâmina invertida, onde é abordado pela jovem mestra de Kendô Kaoru, que o toma por um perigoso assassino. Mal ela sabe que, apesar de ser um excelente espadachim, Kenshin fez um voto solene de nunca mais matar, e de pagar pelos crimes que cometera no passado...

E assim, começa a saga de "Samurai X" ("Rurouni Kenshin" no original em japonês). Lançado originalmente como um mangá (revista em quadrinhos japonesa) e depois adaptado para anime, é, na minha opinião, uma das melhores histórias já escritas em todos os tempos. Não vou ficar falando do que se passa nela, mas falar do que ela significa para mim. Durante meu segundo ano, era esse desenho que fazia minhas segundas-feiras valerem à pena, por que eu sabia que um novo episódio de "Samurai X" seria exibido. Depois de ter visto todos os episódios, e da série ter sido substituída por algum outro desenho, eu comprei toda a coleção de mangás e li a história novamente, tamanho o impacto que ela causara em mim.

Em um texto que li recentemente, encontrei a seguinte frase: "minha idéia de herói é alguém que deveria ser admirado não tanto pelo o que ele conseguiu realizar em sua vida, mas pelo o que ele conseguiu realizar na minha - pelo o que ele me inspirou a crescer e mudar, e a ser mais do que eu fora criado para ser." Ao ler isto, percebi por que eu queria escrever este post sobre "Samurai X": por que seus personagens são meus heróis. Numa época de minha vida em que me sentia perdido e só, encontrei neles exemplos a seguir, amigos para imitar. E não é apenas com o personagem principal, Kenshin, o gentil porém poderoso andarilho que busca redenção por seus crimes, que fez isto. Ao lembrar das pessoas que apareceram ao longo da história, lembro daquilo que mais me marcou nelas. Yahiko, o aprendiz de Kaoru, que apesar de ser fraco, nunca fugiu de uma luta, e sempre treinou ao máximo para tornar-se um mestre; Saitou, o cínico e sarcástico rival de Kenshin, me marcou com seu profundo senso de dever para com sua filosofia de vida, tanto que por um tempo adotei como minha própria; De Sanosuke, eu busquei copiar a incansável persistência; e, por fim, eu adotei Seijuro Hiko, o mestre de Kenshin, como o modelo de guerreiro que alcançou a perfeição.

Eu poderia continuar listando o que cada personagem fez ao longo da história e que me inspirou profundamente, mas isso levaria tempo demais. Além disso, estragaria a chance de vocês, meus leitores, conhecerem a história por si e também se inspirarem neles. Por isso, gostaria de terminar este post recomendando que vocês também conheçam a saga de "Samurai X", por que duvido que vocês também não saiam transformados depois dela.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Cemitério de Sonhos

Hoje me bateu uma tristeza. Quando eu entrei naquela sala, tão cheia de lembranças, tão prenhe de sonhos, tão contaminada de ideais, e vi tudo aquilo que morrera, percebi que uma parte de mim morreu também. Aquela sala não era só uma sala - era um ser vivo, dotado de vontade própria, que também sonhava e sentia, e que, de alguma maneira bizarra, servia como exemplo para todos nós. Que restou daquilo tudo? Onde antes havia uma anarquia criativa, hoje só resta um caos nihilista, egocêntrico, preocupado com o próprio umbigo. Por que tanta beleza tinha que morrer? Enquanto seco as lágrimas que não chorei, espero: espero pelo dia em que tudo se resolva, as flores nasçam outra vez e aquela sala deixe de ser um vaso de contemplação inútil e se encha de esperança de novo, como costumava ser. Mas antes que este dia chegue, deixo que a tristeza me consuma, e me limpe de toda essa sujeira que me rodeia nessa sala, nessa sala que já foi tudo, e que hoje não é nada. Que a tristeza me limpe e me transforme, e eu seja capaz de passar por isso sem sofrer novamente.


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Texto ruim talvez, incompreensível com certeza. Publico ele mesmo assim, por que me parece ser necessário, considerando o que eu vi hoje. Alguns aqui talvez entendam e compartilhem essa dor.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Post nada a ver - Cachecol

Esse inverno eu comecei a usar cachecol. Nunca usara antes por que achava desnecessário, uma frescura até. Esse ano, porém, decidi experimentar, mais ou menos como uma pessoa qualquer decidiria experimentar crack, com a diferença que usar cachecol não é usar crack. Ainda assim, vicia.

Decidi começar a usar depois que eu voltei da Bolívia. Lá, eu comprei roupas e acessórios que normalmente eu não usaria, como uma camiseta laranja, uma calça roxa, um poncho de lã de alpaca e um gorro andino - resumindo, todas aquelas peças de vestuário que só gente metida usa no Brasil, pra mostrar que viajou pra fora do país e se "mesclou" com a população nativa (quando na verdade elas só mostram que gastaram dinheiro para dar a impressão de que se misturaram com a população nativa, mas isso não é o assunto do post de hoje). Eventualmente, eu uso alguma dessas coisas, porém está sendo um pouco difícil, por que, convenhamos, ir de poncho ou de toquinha boliviana para o estágio não pega bem. O cachecol, por outro lado, não é tão mal visto. Pelo contrário, chega até a ser elegante. Enquanto eu enrolo meu cachecol envolta do meu pescoço, fico me imaginando em Torres, do lado do farol, olhando em direção ao mar com uma expressão desafiadora, enquanto o vento furiosa e inutilmente sopra meu cachecol cinzento para trás como uma bandeira.

Claro, depois que eu termino de enrolar ele, percebo que nada disso está acontecendo, mas pelo menos minha garganta está aquecida e eu estou mais apresentável.