sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Níveis de Neuroticidade

Hoje, vi o trote, tanto dos nosos bixos de Psicologia quanto os de Fonoaudiologia ir por terra graças à nossa falta de tato burocrático e excessiva ênfase em porcarias. Só consegui falar com uma professora responsável pela Comissão de Graduação e o máximo que ela pode nos conseguir de tarde é liberar os bixos mais cedo das aulas. Fodeu tudo. E sabe qual é minha maior preocupação? Com que mão coçar meu saco. Larguei de mão me estressar por micharia. Meus níveis de neuroticidade neste momento devem estar no dedão do pé.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Imagem sem Sentido



Por que seriedade demais cansa.

Espírito e Religião - O lado Bom das Igrejas Neopentecoistais

Alguns dias atrás, Huginn fez um post sobre igrejas evangélicas. Mais especificamente, ele fala de um pastor mexicano, que provavelmente mora nos Estados Unidos, e sobre suas pregações obscurantistas, que falam sobre satanismo, sacrifícios humanos e como grandes empresas de entretenimento querem levar as pessoas para Satan. Até aqui, nada tenho para comentar. Mas no final do dito post, Huginn escreve que "é por isso que eu abomino as instituições da igreja."

Por causa de minha personalidade que sempre vai contra o que os outros dizem, fiquei um tanto quanto indignado com essa última afirmação. Primeiro, por que é baseada em uma falácia argumentativa, que parte do pressuposto que o pastor Josué Yrion representa todas as igrejas evangélicas neopentecostais do mundo - tomar a parte pelo todo. Segundo, por que é uma atitude muito comum entre os círculos de "livres pensadores" - homens e mulheres, geralmente ateístas, que desprezam e debocham de religiões e suas instituições. Não quero que tais pessoas deixem de dizer o que pensam, mas que o façam baseados em argumentos racionais precisos.

É lugar comum criticar religiões. Ultimamente, as neopentecostais se tornaram o alvo preferenciam dos racionalistas, mas as mais tradicionais Igrejas Protestantes como a Luterana, a Batista e a Calvinista, e a mais tradicional ainda Igreja Católica Apostólica Romana, para ficar só no Cristianismo, são criticadas há muito tempo. Apesar de não ser tão forte no Brasil, o Islamismo também é bastante atacado. Os principais argumentos contra estas instituições é que elas pregam um estilo de vida irracional, uma fé fanática, de visão estreita e frequentemente preconceituosa, e que enganam seus seguidores.

Não me atrevo, e nem desejo, defender as falhas destas instituições - são muitas, e são verdadeiras. Não vou enumerá-las aqui pois são muitas e pretendo não me extender muito. Além do mais, quem estiver interessado em um "Dossiê Crivela de Merdas das Neopentecostais" não precisa procurar muito: revistas como a Veja, Época e Istoé já publicaram muitas notícias cabeludas sobre os crimes que os pastores e bispos das referidas instituições já cometeram em nome da fé. Quando tanta gente critica e acusa uma pessoa ou organização, algo deve ter de verdadeiro.

Mas, utilizar todas estas acusações e críticas como justificativa para abominar estas instituições é um sofisma - pois toma sua parte ruim como sendo sua totalidade. O Huginn não expressou nenhum desejo ou crença de que o Brasil e o mundo estariam melhor sem as igrejas, ou as religiões em geral, mas muitos indivíduos bem-instruídos e supostamente bem pensantes já defenderam a tese de que é imperativo acabar com a ilusão de Deus, e levar para o hoi polloi (o povão) a Verdade Materialista, de que não há vida após a morte nem um homem de barba branca orquestrando tudo do alto de uma nuvem no céu. Eu mesmo questiono esta visão de mundo, mas não me arvoro o direito de dizer o que é certo e o que é errado para ninguém - coisa que a Universal faz com freqüência, um argumentador astuto diria, como toda a razão. Minha resposta seria que a Universal também faz isso, mas não detém monopólio desta prática.

A fé foi utilizada como leitmotiv (motivo inicial) para muitas coisas ruins: as cruzadas, 11 de setembro, espancamento de homossexuais, jihads, guerras civis. De um ponto de vista externo e pragmático, isto seria motivo o suficiente para decretar que a religião não trás nada de bom para o ser humano, que estaria melhor sem ela. Mas esta é uma opinião superficial. Sempre se parte do pressuposto que "o padre mandou fazer" (ou pastor, rabino, aiatolá ou sacerdote), e raramente de que aqueles que participaram eram mau-intencionados por si só (o que é diferente de ser intrinsecamente maldoso, devo ressaltar), que todas suas ordens são más, e que o único beneficiado nessa história toda é a igreja, o papa, enfim, a organização religiosa. O homem religioso em si, que obedeceu seus diretores espirituais, só se ferra.

Mas tal como muitos argumentos pentecostais, católicos ou muçulmanos, este é um ataque unilateral, pois ignora deliberadamente o que a religião pode trazer de bom para todos. E estou incluíndo aqui o que a Universal pode trazer de bom para seus fiéis.

Mais uma vez, utilizo a grande mídia como base para meus argumentos. Se você, caro leitor deste blog, entra em sites de fofocas de vez em quando, já viu alguma subcelebridade que ouviu o chamado de Cristo e entrou para igreja evangélica. O último destes foi o ator pornô Alexandre Frota. Os críticos devem ter sido rápidos em acusar sua conversão em "golpe de marketing", e que não é sincero, mas se analisarmos o padrão de comportamento destas subcelebridades neopentecostais, vamos perceber que todas elas tem em comum que, antes da vida religiosa, elas viviam num meio de drogas, promiscuidade sexual e emocional, e em última análise, sem sentido (meaningless). Aposto que muitos de nós acham que a vida de um ator pornô como Frota é a vida que pedimos a Deus, mas deve ser o justo oposto. Quem gostaria de ser lembrado todos os dias por sua participação num filme cujo estúdio, por causa das cenas de sexo anal, ficou todo cheio de merda? Outra destas filhas de Cristo é Monique Evans, que também vivia na esbórnia. Deste ponto de vista, acho que não é só compreensível estas conversões, mas louvável, por levar estas pessoas para um estilo de vida mais saudável.

Mas a mídia não perdoa, e faz parecer que estas conversões são frescuras de um subfamoso que quer chamar atenção. Por exemplo, o site Ego (cuja credibilidade começa pelo nome) publicou uma matéria sobre a filha de Baby do Brasil, Sarah Sheeva. O título da reportagem é "Sarah Sheeva abdica do sexo e vira missionária evangélica". Este título foi escrito de maneira a gerar espanto nas pessoas, e escárnio, pois quem em sã consciência deixaria de trepar pra ficar falando de Jesus?!?! O Portal Ego não pára por aí. Sarah Sheeva conta o motivo de sua mudança de uma vida ninfomaníaca para uma religiosa: “Aconteceu uma coisa muito louca, sobrenatural. Comecei a rezar, a falar com Deus. Na minha ignorância, dentro do meu quarto, de repente, senti uma presença forte, que era Deus. Cai no chão, me prostei e ali me converti”. Mais uma vez, quem lê imediatamente pensa que ou é golpe de mídia, ou ela teve um ataque epilético. Abraham W. Maslow, pai da Psicologia Humanista, fala em seu livro "Introdução à Psicologia do Ser" sobre as "experiências culminantes" (peak experiences no original) - vivências maravilhosas, que não raro mudam o rumo das pessoas que as vivenciam, e para melhor! Para quem estudou com atenção a obra de Maslow, é óbvio que Sarah Sheeva teve uma experiência culminante. Mesmo assim, o portal Ego, com sua linguagem moderninha-superficial faz parecer que foi apenas uma puta babaquice (ou uma babaquice de puta, que seja).

Na lista de "religiões criticáveis" não citei uma, muito importante no panorama mundial atualmente: o budismo. Ao contrário dos outros sistemas religiosos, o budismo raramente é criticado. Pelo contrário, é quase sempre muito elogiado por sua história e práticas pacíficas. Claro, se eu fuçar um pouco na Wikipédia eu vou encontrar uma guerra cujo leitmotiv foi o budismo, mas vai ser a exceção ao padrão (não me atrevo a dizer "regra"). Um materialista radical e pragmático provavelmente diria: "se temos o budismo, que apesar de ser uma religião, é pacífica e até que é racional, por que essas celebridades viram evangélicas?" Um argumento sonoro, mas profundo como um pires. O primeiro motivo para isto não acontecer é a disponibilidade - afinal, quantos templos budistas temos no Brasil, em comparação com templos evangélicos? Consigo citar mais nomes de igrejas neopentecostais inteiras do que templos budistas no Brasil. É mais fácil eu ir para a Universal do que para o mosteiro de budismo tibetano em Três Coroas. E quando alguém sente um vazio existencial, ela irá procurar apoio em um local próximo - e as pentecostais fazem isso muito bem.

O segundo motivo para que o Neopentecostalismo seja mais popular que o Budismo é a atitude de seus sacerdotes. Enquanto o pastor da Sara Nossa Terra ativamente chama para si as almas perdidas, o monge budista apenas recebe de coração aberto aqueles que procuram conforto em Buda. Quem está desesperado buscando um sentido vai no lugar que mais lhe chama atenção - e é inegável que os cultos da Universal são beeeem chamativos.

O terceiro e mais importante motivo é a motivação e (em parte) o nível intelectual das pessoas. As pessoas que vão para uma evangélica buscam salvação para sua alma, redenção de seus pecados. Querem ser acolhidas por alguém. Só. E mais uma vez, as neopentecostais fazem isso com excelência. Não importa se elas pedem dinheiro, elas acolhem qualquer um. Aquele que busca Buda é muito mais inquieto, pois ser apenas salvo não lhe atrai. Há nele um desejo, muitas vezes inconsciente, de algo maior do que isto, de ser compassivo e amoroso. Se nos dois casos se busca um sentido para a vida, há uma diferença espiritual muito grande. O nível intelectual também influencia esta escolha, pois os textos e práticas budistas são muito mais complexos do que os cultos e orações evangélicas. Talvez seja um erro utilizar o conceito de inteligência, ou de preparo intelectual, como argumento que diferencia budistas de evangélicos: há muitos fiéis da Universal com ensino superior completo, provavelmente muitos com pós-graduações avançadas, como doutorado ou pós-doutorado. E poucos aldeões tibetanos devem ter tudo isto. Talvez o termo mais correto fosse "preparo espiritual", mas prefiro evitar discussões metafísicas no momento. De qualquer forma, há uma diferença mental entre os dois tipos de religiosos que cito. Aqueles que buscam e ficam, por assim dizer, "satisfeitos" em freqüentar os cultos da da Igreja Renascer, estão preparados para receber e entender aquilo que seus pastores têm para oferecer, ao passo que aquele que busca Buda, se fosse parar na mesma Renascer, sentiria-se ainda insatisfeito, pois ele busca algo maior, e sentiria a satisfação do evangélico com coisas mais complexas. Da mesma maneira, um fiel de uma pentecostal não teria o preparo para entender textos como o "Livro Tibetano dos Mortos". Capacidade, talvez. Preparo, não.

Enfim, o que quero dizer é que, apesar de todos os seus defeitos, as igrejas evangélicas, tanto as mais antigas quanto as mais recentes têm o poder de dar aos seus fiéis sentido para a vida, através de uma mensagem que eles podem entender. O fenômeno das igrejas voltadas para setores específicos da sociedade, como metaleiros ou soldados do BOPE (que são mostradas na reportagem da revista Galileu do mês de fevereiro de 2008), mostra isso com clareza cristalina. As pessoas buscam algo que preencha o vazio que sentem; buscam serem aceitas como são, por pessoas que a entendam. As religiões como um todo fazem isso. Mas as pessoas são diferentes umas das outras, e buscam coisas diferentes - seja isto por causa de temperamento, genética, cultura, intelecto ou algo além disso tudo - e por isso existem tantas religiões e cultos diferentes. "Muitas lanternas, uma só luz". E nessa conta devemos incluir as Neopentecostais, com todos os seus defeitos e vícios. Alguns pastores (talvez não sejam só alguns) podem manchar a reputação delas, mas não podemos tomá-los como exemplos do que é ser evangélico.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Meu auto-depoimento para o Orkut

Comportamentalista... e Existencialista ao mesmo tempo. É possível isto?

Antigamente, eu costumava colocar alguma citação de uma figura importante na história nesta seção do meu perfil. Não que os discursos e palavras que aqui coloquei não me inspirem mais. Pelo contrário. Mas acho que chegou a hora de escrever algo por mim mesmo, fazer um grande depoimento para a pessoa que mais amo no mundo: eu mesmo.

Quem sou eu, afinal? A melhor resposta que possar dar é que sou fruto de um processo ainda em andamento. Digo isto por que levei muito tempo para decidir escrever um "quem sou eu" tão sincero. Lembro-me da primeira (e única) vez que deixei minhas próprias palavras aqui para descrever a mim mesmo: cheio de clichês, com erros de português intencionais, como se fosse um pecado neste mundo virtual ter algum domínio da gramática portuguesa, timidamente, com medo de me destacar. Até tentei escrever algo sincero outras vezes, mas na hora de atualizar a página, o Orkut negava-me a rosquinha (no bom sentido). Não estava preparado, penso eu.

Depois, como disse anteriormente, comecei a colocar citações aqui. Theodore Roosevelt, Sêneca, Luis Fernando Verissimo. Curiosamente, todos eles falavam de coragem, audácia e destemor. Lia seus discursos e me inspirava, mas no fundo da minha mente ecoava uma voz autoritária dizendo "tu não és nada disto e nunca vais ser". E eu concordava.

Olhando para o fundo de minha alma, revendo toda minha história, sempre admirei homens e mulheres audazes, de coragem e fibra. Pessoas que não se contentavam em apenas contemplar e escrever a história, mas agiam e faziam a história, seja do mundo ou a sua própria, que não temiam atirar-se perigosamente contra o inimigo, por sua vida em risco, tudo por um Bem Maior. Garibaldi, Churchill, Gandhi, Martin Luther King, Roosevelt e, por que não?, Clark Kent (prefiro a história de Smallville, gente, apesar dos pesares), Batman, Kenshin, Luke Skywalker! Homens que não tolheram seus espíritos, que deixaram o fogo de suas almas queimar alto, mesmo sabendo que só cinzas restariam no final. Admirava-os por isso, mas, outra vez, aquela voz autoritária dentro de mim dizia “tu não és um deles. tu és um covarde qualquer”. E eu aceitava seu veredicto.

Digo tudo isto para deixar claro porque sou fruto de um processo ainda em andamento. Desde a primeira vez que escrevi no “quem sou eu”, quando a foto do meu perfil ainda era um Barney decapitado (quanta vergonha da própria cara), até o presente momento eu vivi muito. Tive experiências mil, vivi meus sonhos, chorei e sorri. Mudei muito. Hoje, avaliando meu passado, consigo ouvir outra voz além daquela autoritária. Era uma voz fraquinha, mas que foi ganhando força e vigor com o tempo, que me dizia “Tu és corajoso! Tu és capaz! Larga de frescura e corre atrás dos teus sonhos!” Esta voz sempre esteve lá, a voz do meu guia interno, mas só depois de muito tempo aprendi a escutá-lo.

Levei muito tempo para perceber algo muito simples, que estava de baixo de meu nariz este tempo todo, e só hoje, ao escrever este auto-depoimento, fui capaz de verbalizar uma das minhas maiores qualidades: eu sou um homem de ação. Algo tão simples de dizer, tão difícil de notar. Descobri que sou o que sempre desejei ser, e que não devo nada à meus heróis (sou tão pró-ativo que escrevo meus próprios depoimentos, já que ninguém faz isso por mim. Acho que até vou criar uma pá de fakes e ficar me escrevendo depoimentos todos os dias pra inflar meu ego).

Quanto às duas vozes, devo dizer que ambas continuam competindo por atenção em minha mente (ou comportamento encoberto, como preferem os behavioristas). Às vezes, e meu guia interior quem fala mais alto. Outras vezes, aquela voz autoritária é quem manda, se bem que isto tem se tornado cada vez menos freqüente. Mas aquela humildade doentia acho que eu deixei em algum lugar que eu não lembro direito. E como disse uma muito querida amiga minha: “deixa ela pra lá e te diverte sem ela”. É o que planejo fazer.
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Este é atualmente meu perfil do Orkut, e estou postando-o aqui pois pretendo, em breve, mudá-lo. Por que mudar é preciso, mas preservar as boas coisas do passado também.

Momentos de Crise (Parte II)

Tenho mais informações do que aconteceu longe do nosso acampamento este final de semana. A mãe do menino que se acidentou, como disse no outro post sobre este assunto, ficou indignada conosco, e ligou para todos os pais que pode e falou-lhes do que tínhamos feito com o seu filhinho. Até aqui, nada de novo.

Bem, o que fiquei sabendo hoje através de um amigo que acampara conosco, e que ligou algumas vezes para o hospital e para a mãe do guri, é que às 18 horas do sábado, a situação já tinha sido estabilizada, e o guri no hospital já estava acordado e conversando normalmente. Mas a mãe dele continuou dizendo, para quem quer que ela ligasse, que o filho dela ainda não tinha acordado. Não tenho motivos para duvidar da fonte da informação, e com posse dela, só posso concluir duas coisas: ou a mulher estava em um estado agudo de Histeria (não tenho termo melhor para descrever este comportamento), ou ela queria consciente e deliberadamente ferrar a gente.

Meu amigo teoriza que o motivo de tantos telefonemas foi para tumultuar nosso acampamento, pois segundo ele, ela estava irritada com o fato de que não tinhamos ido embora depois do acidente. Ele concordaria com minha segunda hipótese, mas prefiro acreditar que ela não conseguiu aguentar a pressão de ter o filho no hospital por causa de um acidente, entrou em um estado neurótico histérico e passou a nos culpar pelo acontecido.

A linha entre estas duas hipóteses é tênue, pois nas duas há o desejo de acabar com nosso acampamento e nos deixar em maus lençois com nossos pais. A diferença estaria no nível de consciência dos atos. Na primeira hipótese, ela fez tudo o que fez movida pela dor, e sem pensar que iria nos deixar em má situação, enquanto na segunda tudo o que ela fez foi feito e calculado para tanto.

Talvez eu tenha que formular uma terceira hipótese, misto da primeira com a segunda, de que ela, movida pela dor, conscientemente agiu para nos ferrar, mas com a idéia de que estava fazendo justiça. Em qualquer uma das três, o despreparo emocional é claro e evidente.

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 4)

Não importa qual curso, não importa qual campus, não importa quais matérias você cursa na UFRGS, pois de qualquer maneira quando você se formar vai ter conhecimento suficiente para um mestrado profissional em Burocracia e suas Burlagens.

Continuo com problemas na minha matrícula. Já faz uma semana isso. Desde o primeiro dia de encomenda da matrícula até agora, no ajuste da encomenda, estamos correndo atrás da máquina. Tudo começou quando percebemos que estávamos na etapa 2, e não na 3 como deveríamos. Não parecia ser nada de mais. Depois, quando começamos as matrículas, vimos que entre as possibilidades de disciplinas a serem cursadas, estava Desenvolvimento Humano I, que cursamos no longínquo primeiro semestre, e que a desejada disciplina de Psicologia Humanista, sob o nome de Tópicos em Psicologia I, não estava disponível. Tudo isso era muito estranho, mas mesmo assim, parecia que eram apenas cagadas isoladas.

Mas na verdade, como na ilha de Lost, tudo estava conectado.

Para resolver esse problema, fui direto para a COMGRAD (Comissão de Graduação) da Psicologia, e conversei com a coordenadora, que explicou o que possivelmente teria acontecido. Segundo ela, devido a algum erro no DECORDI (Departamento de Controle e Registro Discente), os códigos das cadeiras cursadas pela turma de 2007 foram trocados, e segundo o nosso histórico escolar, nós não cursamos Desenvolvimento Humano I, mas Tópicos em Psicologia I, nos colocando na etapa 2 e impossibilitando que cursassemos Psicologia Humanista. Depois de muito torrar o saco, arrumaram o problema e Tópicos em Psicologia I tornou-se disponível para a turma de 2007. Menos eu. Calma que eu explico.

Como faltavam poucas horas para o período de encomenda de matrícula, decidi tocar ficha e me matricular no que dava. Peguei todas as obrigatórias e as eletivas que mais me agradavam (e que estavam realmente disponíveis): Terapia Cognitiva Comportamental e Bioquímica aplicada à Psicologia. Como a de Psicologia Humanista ainda não estava disponível, mandei para as cucuias e decidi matricular-me nela no período de ajuste da encomenda.

Mas, as aulas de Bioquímica são terças e quintas de manhã, e as aulas de Psicologia Humanista são, de acordo com o site, terças de manhã, e apesar dos alunos interessados e da professora terem entrado em acordo para que as aulas sejam terça de tarde, não tenho como me matricular! Bom, decidi que vou aparecer nas aulas normalmente, e tocar um ofício por escrito para a COMGRAD pedindo matrícula para esta cadeira.




Lendo este post antes de postar, percebi que não poderia ter escolhido assunto mais chato para escrever (exceto escrever sobre escrever). Mas isso é só uma prova de que a Federal não é exatamente um paraíso como os professores de cursinho pintam.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Momentos de Crise

Tive a oportunidade de ver este final de semana uma crise social em pequena escala. Não foi nada prazeiroso, já que sua causa fora um acidente. Ainda assim, foi um fenômeno sociológico muito interessante.

Este sábado, dia 23 de fevereiro, estava eu e alguns amigos do tempo da tropa sênior acampando por nossa própria conta e risco (coisa que sentimos na pele mais tarde aquele dia) em uma chácara emprestada por um colaborador do meu antigo grupo escoteiro. Um de nós levou sua bicicleta, equipada com suspensão à ar nas duas rodas (o que custou pelo menos dois mil reais), e que ele usa em competições de rally de bicicletas ou coisa parecida. Para que a brincadeira ficasse mais divertida, montamos uma rampa de saltos, e ficamos saltando de bicicleta e vendo quem ia mais longe, mais alto ou caia da forma mais engraçada (fiquei em segundo lugar nessa categoria). Foi com essa porcaria que começou toda pendenga.

Como quase todos tinham feito seus pulinhos, começamos a incentivar quem não tinha pulado ainda. Os saltos naquela rampa eram de simples execução, mas era necessário prestar atenção à alguns fatores: a velocidade devia ser alta para não cair de boca no chão, e deveria se tomar cuidado para saltar no meio da rampa, pois nas laterais o risco de acidentes era maior. Eu ignorei estas variáveis e tomei um belo tombo por cima de uma plantinha protegida por um cano de PVC, o que me rendeu algumas escoriações bem bonitas. Mas não fui o único nem o último a tombar naquela joça, e não havia motivos para acreditar que isto iria nos causar transtornos.

Mas causou.

Um de nós caiu de lado, e (presume-se que) bateu a cabeça. Na hora foi só riso e deboche, pois ele se levantou e conversou novamente - dois comportamentos que indicam que tudo está bem. Ele também cortou a perna na correira da bicicleta, mas não parecia ser motivo para preocupação. Mas depois de algumas horas, esse companheiro começou a reclamar de dores de barriga, o que foi, sim, considerado um motivo bom o suficiente para uma parada no hospital. Mas no caminho, ele apresentou outros sintomas muito piores que só reforçaram a idéia de levá-lo: vômitos, tontura, desorientação, perda da coordenação motora e dos sentidos (visão e audição, principalmente).

Identificamos um problema, e o levamos para o hospital rapidamente. Os pais do guri (ele é menor de idade) não teriam do que reclamar de nossa amizade, certo? Quem dera. Quando foi explicado o acontecido, a mãe pensou que tivéssemos embebedado ele e o obrigado a andar na bicicleta, fazendo com que ele sofresse fatal acidente. Mas não parou por aí, pois ela ligou para os pais e mães de todos que ela soubesse que estavam lá acampando.

Começou um período de tensão, pois a qualquer momento a mãe de alguém poderia ligar, querendo saber o que estava acontecendo. Normalmente isso não é problema: basta mentir. Mas desta vez, por causa de uma burrada nossa, um guri poderia ficar com seqüelas cerebrais e nunca mais ser o mesmo.

Naturalmente, alguns estavam mais apavorados que os outros. A primeira coisa que foi feita depois de ficarmos sabendo que o guri estava no hospital e a mãe dele estava sedenta por nosso sangue foi desmontar a rampa. Enquanto eu e um amigo meu, também estudante de Psicologia, tentávamos chegar a um diagnóstico, os outros ou faziam piadas ou discutiam e se desesperavam. Por mais de mau-gosto que as piadas podiam ser (e eram) elas mantinham o nível de tensão mais baixo.

O dono da bicicleta era, de longe, o mais desesperado. Primeiro, porque ele trouxe a bicicleta para o acampamento apesar das repreensões da mãe, que disse que ele só levaria aquela porcaria para fazer baderna. Segundo, porque a relação entre os dois (mãe-filho) já estava um tanto abalada por causa das festinhas que ele ia de noite, e fizeram a mãe perder quase toda a confiança nele, e ele sabia. Estava com medo de perder o que ainda restava.

Por causa desse medo, ele agiu de forma impulsiva e irracional, e falou bobagens sobre o guri no hospital que, apesar de ditas com veemência, eram insinceras. Mesmo assim, ele irritou outro de nós, que chegou a soqueá-lo pelo que disse. Ele estava tão aterrorizado com a possibilidade de sua mãe ligar para ele e dizer que ele teria que voltar para casa imediatamente que, quando dois amigos nossos lhe telefonaram para saber onde era a chácara em que estávamos acampados, ele foi incapaz de identificar suas vozes.

Mantive a cabeça fria, e enquanto observava o desenrolar dos fatos como um etólogo observaria um animal, tentei acalmar os ânimos de quem estava lá, especialmente do dono da bicicleta. Tive um sucesso limitado, graças ao pensamento racional e ao sangue-frio que exibi, além da (acredito eu) empatia que transmiti para os outros. Um sucesso limitado ainda é um sucesso, e todos ficaram mais calmos e até capazes de fazer troça da situação. Não falarei que tipo de piadas fazíamos, pois quem não vivenciou tal situação seria incapaz de compreender por que tamanho mau-gosto, mas digo mais uma vez que elas foram a válvula de escape da tensão acumulada em nós.

Próximo das 9 da noite, recebemos notícia de que o guri no hospital apresentava melhora, e já era capaz de se comunicar. Isso deixou todos ainda mais aliviados, e em condições de fazer um pouco de farra (isso foi um puta eufemismo, mas deixa assim).

Notas sobre o acontecido:
Uma situação como essa traz à tona esquemas de comportamento das quais, em condições normais de estresse, nunca tomaríamos conhecimento. O acidente e principalmente a possibilidade de seqüela em um de nós, apesar de ter-se provado falsa até o momento, mostrou o despreparo emocional de muitos de nós para lidar com situações carregadas de emoções fortes e riscos, pois era visível a desunião que reinaria, se não fosse o esforço de alguns poucos para acalmar a todos e pensar de forma coerente. Acho improvável, mas se eu e/ou Grillo (o outro protopsicólogo, que deu o diagnóstico mais acurado possível naquela situação) não tivéssemos ido para o acampamento, talvez ele tivesse acabado muito mais cedo do que o esperado.

Pelo que pude observar, o desespero da maioria não tinha origem na possibilidade de seqüela, como antes disse, mas na culpa e no medo das conseqüências que isto teria para eles próprios. Não estou dizendo que ninguém estava preocupado com o guri no hospital, mas que esta era uma preocupação secundária. O dono da bicicleta é o melhor exemplo disso. Com certeza ele estava preocupado, e pensando com apreensão se o acidente deixaria o nosso amigo permanentemente com problemas mentais, mas sua maior preocupação era, de fato, como sua mãe iria reagir diante disso e o que aconteceria com ele e sua bicicleta. Questiono a honestidade do indivíduo que socou o dono da bicicleta, que disse estar indignado com a atitude dele perante uma vida humana, que acredito, estava tão mais preocupado com o próprio destino do que com o de quem estava no hospital, apesar de afirmar o contrário.

Pesquisas em Psicologia Comportamental e em Logoterapia demonstraram que pacientes em risco ou estado terminal frequentemente utilizavam-se do humor como estratégia de enfrentamento (coping strategies), e que tal atitude deve ser encorajada, por aliviar a tensão e o medo destes. Isto foi mais uma vez comprovado pelo nosso acampamento. O humor negro, escrachado e de extremo mau-gosto, tornou-se a estratégia de enfrentamento de muitos de nós, que não podíamos fazer nada a não ser esperar. Aqueles que faziam piada da situação mantiveram-se calmos e não agiram impulsivamente, ao passo que expressavam preocupação e mantinham-se sérios (babacas...) ficaram apavorados, e agiram impusiva e irracionalmente.

Está tudo bem agora, pois o guri que sofreu o acidente já está em casa e bem, o suficiente para entrar no MSN e colocar uma mensagem pessoal que dava exatamente estas informações. Baseado em minhas observações, concluo que o acidente e a internação no hospital não foram os motivos que levaram muitos de nós ao ponto do desespero, mas a histeria coletiva da maioria de nossas mães, que trocaram telefonemas apocalípticos e acusações (disseram que tínhamos um "arsenal de bebida" conosco) contra nós e nosso acampamento. Se a mãe do acidentado não tivesse começado sua campanha de terror, nenhum de nós teria ficado muito nervoso.

A grande maioria de nós está despreparado de forma preocupante para enfrentar situações estressantes. E quando digo "nós", não me refiro apenas aos que estavam lá no acampamento, mas também aos pais e as mães que deixaram desespero falar mais alto. É claro que é difícil para uma mãe ver seu filho numa cama de hospital, incapaz de falar uma frase que faça sentido e vomitando todos os fluídos corporais possíveis, mas devemos ter em mente que espalhar o próprio terror para os outros em redor não torna a situação mais fácil de enfrentar - oh ho ho, bem pelo contrário, é só arranjar sarna para se coçar. Quando as acusações contra nós começaram a aparecer, as defesas e justificativas vieram logo em seguida. Felizmente, alguns de nós pensaram de forma racional, mantiveram o auto-controle e ajudaram os que não conseguiram fazer o mesmo a recuperar a calma perdida.

Este acidente foi uma crise social em miniatura, e posso dizer que foi mais um treino para situações de risco do que uma situação de risco propriamente dita. Mas as reações das pessoas demonstrou que a necessidade um melhor prepararo emocional é urgente.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Sai uma dúvida, entra outra

Decidi que não vou fazer a cadeira de Esquizoanálise. Não sei se irão oferecer esta disciplina em outros anos. Se oferecerem, talvez eu faça. Se não, paciência.

Agora estou em dúvida quanto a que disciplina fazer no lugar desta: Bioquímica aplicada à Psicologia ou Alemão Instrumental II.

Vou pensando nisso durante o almoço.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Mais uma dúvida a me consumir

Como dei a entender em um post anterior hoje, estou às voltas com o meu processo de matrícula da faculdade - processo este, que como bem definiu um colega meu, é uma putaria, graças à incrível baderna que impera e que nos leva a trocar e-mails desesperados através de nossa lista de discussão. O que isso tem a ver com a dúvida que me consome? Nada. Escrevi esse primeiro parágrafo a título de introdução, e para mostrar que a Federal não é o paraíso em terra - é só de graça.

Mas de certa forma, o primeiro parágrafo tem um pouco a ver com minha dúvida (adoro me contradizer), pois se refere à matrícula em uma disciplina eletiva, que ora penso em fazer, ora penso em ficar bem longe. A disciplina a que me refiro é Introdução à Esquizoanálise.

Admito que os contras desta cadeira superam seus prós, e com larga vantagem: é de noite, é provável que eu vá detestar o assunto com todas as fibras do meu ser, e não gosto da didática das duas professoras que darão as aulas, sendo que uma delas é a professora que mais me ferrou individualmente nos último ano, por motivos que apenas desconfio (ela não deve gostar de mim).

Ainda assim, apesar de todos estes argumentos perfeitamente racionais, ainda resta em mim um desejo irracional, porém muito forte, de cursar essa disciplina. Talvez seja curiosidade: apesar de muita gente que conheço abominar Esquizoanálise, muitos veteranos vibraram com a possibilidade de cursar uma cadeira com tal assunto. Intriga-me esta ambivalência. Sei que, se me matricular, corro o risco de passar um semestre inteiro indo para uma tortura auto-infligida - pois fui eu quem escolhi fazer, sem pressão externa alguma. Também corro o risco de gostar da coisa via lavagem cerebral, que é mais comum nos meios universitários do que se imagina, e começar a escrever e (não) pensar feito um legítimo Psicólogo Social (prolixo ao extremo).

O coração tem razões que a razão desconhece, já disse Pascal. Talvez, no fundo, busco um desafio, o de encarar uma cadeira horrível, entender o assunto e, portanto, poder criticá-lo e refutá-lo com base em conhecimento e fatos concretos, e não apenas na base do "me disseram que". Das alegrias que me movem, a alegria do desafio vencido, o fiero, é a mais forte.

Expressões do Italiano que deveriam ser criadas para o Português

Minha professora de Análise Experimental do Comportamento sempre cita o exemplo da avó dela quando fala de emoções e sentimentos. Segundo ela, sua querida avózinha sempre dizia que "eu nunca senti stress antes de inventarem essa palavra". Para expandir seu exemplo, ela também diz que americanos não sentem saudade, pois este termo é exclusivo da língua portuguesa. No lugar disso, eles sentem falta (to miss).

É uma explicação interessante, mas incompleta: só porque não temos um termo específico para um tipo de sentimento, não quer dizer que não o sintamos, apenas não sabemos expressá-lo. Diogo Mainardi, em sua coluna semanal na revista Veja, certa vez falou que seus amigos italianos muitas vezes lhe perguntavam se ele não sentia saudade - e usaram exatamente essa palavra, que devem ter aprendido com o próprio Mainardi, e que é muito mais específica do que sentir falta (não sei como seria em italiano).

E falando em italiano, esta língua tem uma palavra que faríamos muito bem em encampar ou traduzir de forma exata: fiero. Em italiano, essa palavra é utilizada para descrever a felicidade que sentimos ao enfrentar um desafio. Acho que todas as pessoas sadias do planeta já sentiram esta emoção, apesar de não serem capazes de expressá-la em uma só palavra ou frase.

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 3)

Não, não vou falar das minhas expectativas para o terceiro semestre, agora tão próximo. Vou só reclamar que, justo a cadeira que mais quero fazer, Psicologia Humanista, não foi incluída na lista de possibilidades de matrícula, provavelmente por descuido de algum estagiário. Bosta.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Eu e a Biologia

Como quase todo ser da minha geração, tive contato com a Biologia cedo na vida. Não cedo demais, nem muito tarde: na oitava série do Ensino Fundamental. Na época, eu ignorava a existência de assim chamada disciplina científica, pois tudo que tínhamos era a aula de Ciências Físicas e Biológicas (e estas duas últimas palavras eram devidamente ignoradas por nós, estudantes). No seu lugar, existia a parte da aula de Ciências que estudávamos os bichos e as plantas.

Só comecei a estudar Biologia com este nome no Ensino Médio, e como tudo que esta era negra de minha vida tocou, meu interesse pela fauna e flora transformou-se em franca aversão, graças aos constantes e cruéis talagaços que levava em aula, seja nas notas, na dificuldade de decorar tudo que iria cair na prova, o tom semi-morto que a professora dava aula, ou seja pelo péssimo relacionamento que tínhamos com ela. Talvez nem fosse tão ruim, mas as paixões adolescentes exageram em tudo - amor e ódio, e era difícil copiar qualquer coisa numa aula em que o conteúdo era mais vomitado do que escrito no quadro negro.

No cursinho, apesar de toda aquela pressão injusta e inútil de ter que acertar tantos por cento na prova, tive a chance de ter verdadeiras aulas de Biologia e me interessar pelo assunto. Não chegava a ser um interesse incondicional, total pela matéria, mas era muito mais do que tivera sentido nos anos passados. Na época, o que mais gostava em Biologia era a Botânica, pelo simples fato do professor ter feito piada a respeito dela ("semana que vem, a gente começa um novo assunto: Bostânica!"). Acertei 17 de 25 na prova, o que indica que não fora tão ruim quanto imaginava.

Paradoxalmente, foi na faculdade, estudando uma ciência que costuma reunir as pessoas mais avessas possíveis às Ciências Naturais, que passei a me interessar novamente pela Biologia. Não por ela como um todo, mas na parte que tange o ser humano: Genética, Bioquímica, Farmacologia, Etologia, Anatomia e Fisiologia Humanas. Talvez tenha esquecido algo, mas o que importa realmente foi listado. Quem acompanhou meu primeiro ano na Psicologia sabe que não foi uma tomada de interesse súbito, aliás, demorou bastante para tirar o ranço que sobrara do Ensino Médio dessa disciplina.

Um dos marcos desse caminho foi um curso de extensão sobre Psicologia Evolucionista que fiz. Inscrevi-me mais por saber que ganharia um certificado de participação de 15 horas/aula, e mercenário como agia, isso era tudo que importava. Mas o assunto, uma mistura de Psicologia Cognitiva com Neodarwinismo, era fascinante demais para ser ignorado. E para a grata felicidade de nós, filhos pródigos da Psicologia por buscarmos Darwin, dividimos a sala com estudantes de Biologia. The real stuff, e não só psicólogos com vocação para biólogos, que costuma ser o máximo que encontramos. Como todo e qualquer evento público que reúne um número considerável de pessoas, poucos dos presentes na sala se pronunciavam. Mas os que o faziam, tanto do Instituto de Biociências quanto do Instituto de Psicologia, não davam motivos para repreensões. Sobre o pessoal da Bio, posso dizer que eles eram realmente bem informados, e com freqüência faziam observações muito bem colocadas sobre o assunto em discussão. Não sei se posso dizer que nós, o pessoal da Psico, desempenhamos nosso papel de maneira tão satisfatória, mas fizemos o possível fazer o mesmo que eles com os assuntos que entedemos mais, como Filosofia e Comportamento Humano. Posso dizer com orgulho que foi uma troca proveitosa, e que aprendemos bastante com ela.

O curso não foi exatamente um turning point na minha vida acadêmica que me fez querer mais do que nunca estudar Biologia, mas deixou uma impressão tanto em mim quanto em meus colegas que deveríamos ter um contato mais próximo com aqueles leitores de revistas como a "Nature" e a "Scientific American", que realmente estudam Biologia.

Foi um processo longo e lento, mas certo e decidido que me levou a ter interesse nessa área. Uma professora nossa recomendou a cadeira de Bioquímica, pois nos facilitaria na hora de estudar Psicofarmacologia, além de ser fascinante por si só. A professora é suspeita, pois ela própria se considera algo muito próximo de uma Analista do Comportamento (criaturas que consideram a Consciência apenas um efeito colateral do funcionamento cerebral). Duas amigas minhas muito elogiaram a eletiva que estavam fazendo de Neuropsicologia, apesar da dificuldade da matéria. Outra vez, elas são suspeitas, pois as duas são bolsistas de iniciação científica com a professora da dita disciplina. A mais chocante de todas as indicações de que eu tinha que estudar assuntos biológicos veio de uma amiga minha que estuda justamente Biologia. Ela disse que adorava Bioquímica, e que eu iria adorar também se algum dia viesse a cursar tal disciplina. Não levei muito a sério esta afirmação, pois lembrei-me de todo o Ensino Médio oprimido pelo medo de rodar em Biologia - está bem, concedo que minha memória não é tão boa assim para lembrar todos os momentos que tive medo de me foder em uma prova sobre Botânica ou Fisiologia animal, mas uma compilação com os melhores piores momentos sou capaz de rodar em minha memória. Mas o que é passado é passado, e ele nunca se repete. Além do mais, eu não acreditaria se me dissessem dez anos atrás que eu iria diligentemente comer salada em quase todas as refeições. O mundo muda, não? E não fico triste com isso.

Já fazia algum tempo que meu interesse pelas Neurociências estava em estágio embrionário. Estava lá, mas em negação, pois toda vez que pensava "nossa, que assunto legal", imediatamente depois pensava "mas esse assunto é difícil pra caralho. Nunca vou gostar de estudar isso". São pensamentos assim que tornam estudantes promissores em profissionais medíocres, pois os levam a estudar só o que gostam e o que querem, deixando de lado o que não gostam e o que devem. Alguém me dizer que eu iria gostar de estudar um assunto que considero importante, porém cacete e complicadíssmo, era como um raio de luz que quebra a escuridão da noite. Se minha amiga gosta de Bioquímica, por que eu não haveria de gostar também?

"Condicionamento!" Escuto um colega meu com tendências à Analista do Comportamento dizer no fundo de minha mente como resposta a minha pergunta. Verdade. Eu poderia simplesmente deixar que meus condicionamentos me levassem aonde tenho sempre ido, e esquecer essa bobagem de estudar Neurociências e Biologia. Mas isso seria como viver com as potencialidades mutiladas. Os analistas do comportamento deliberadamente ignoram a parte mais importante e bela da existência humana, inexplicável para nossa Ciência, mas que qualquer poeta de qualquer época pode entender e fazer-se entender: nossa capacidade de transcendermos a nós mesmos e a nossos condicionamentos. Podem refutar meus argumentos baseados na minha falta de clareza ou na falta de evidências em tais afirmações, mas o batido ditado que diz que o pior cego é o que se nega a ver é muito verdadeiro para eles. Fui condicionado pela minha professora de Biologia a achar que o assunto que ela me ensinava era enfadonho, complicado demais e inútil. Mas dizer desta maneira, que minha professora me condicionou para tanto, é negar minha própria responsabilidade sobre meus atos e motivos.

Mas o que mais me marcou, apesar de na época ter parecido apenas belo, foi uma afirmação que nossa professora de Fisiologia fez durante uma aula sobre o sono e os sonhos. Ela disse que se dependesse de neurologistas ou de bioquímicos desvendar o verdadeiro sentido e significado dos sonhos, jamais chegaríamos perto da realidade, pois tudo seria tomado como reações bioquímicas ou funcionamento neuronal apenas. Está nas mãos de nós, psicólogos, encontrar esta resposta. Não deve ter soado como um desafio para muitos, mas para mim, era um desafio que deveria ser enfrentado e vencido. Em seu livro "Introdução à Psicologia do Ser", Abraham Maslow diz que a Psicologia tem um objeto de estudo que é exclusivamente seu e que a torna uma ciência em seu pleno direito, mas partes suas são objeto de estudo também da Sociologia e da Biologia. No presente contexto, fica claro que, se quisermos realmente compreender o ser humano, essa criatura parte animal, parte humana e parte divina, devemos estudar estas três disciplinas maiores de forma integrada e abrangente, e não nos contentarmos em virarmos especialistas de visão estreita, ao contrário do que faz a maior parte da viciada sociedade de estudantes de Psicologia do Brasil (ou pelo menos do Rio Grande do Sul), que prefere proibir pesquisas ditas "biologizantes" do que abrir seu pensamento para coisas novas e de outras áreas que não a sua, onde sentem-se seguros e confiantes, mas também permanecem limitados, ineficazes e incapazes de crescer.

Se realmente queremos crescer, e entender a nós mesmos, devemos evitar a segurança e o perigo de ficarmos acorrentados em nossas confortáveis prisões pessoais, no alto de nossas torres de marfim. E estudar Biologia é apenas um passo para tanto.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Letras de Música (Parte 2)

Bad Day
Artist: R.E.M.

A public service announcement followed me home the other day.
I paid it nevermind. Go Away.
Shits so thick you could stir it with a stick-free Teflon whitewashed
presidency.
We're sick of being jerked around.
Wear that on your sleeve.

Broadcast me a joyful noise unto the times, lord,
Count your blessings.
We're sick of being jerked around.
We all fall down.

Have you ever seen the televised St. vitus subcommittee prize
Investigation dance? Those ants in pants glances.
Well,look behind the eyes.
It's a hallowed hollow anesthetized"save my own ass, screw these guys"
smoke and mirror lock down.

Broadcast me a joyful noise unto the times, lord,
Count your blessings.
The Papers wouldn't lie!
I sigh, Not one more.

It's been a bad day.
Please don't take a picture.I
t's been a bad day.
Please.

We're dug in deep the price is steep.
The auctioneer is such a creep.
The lights went out, the oil ran dry
We blamed it on the other guy
Sure, all men are created equal.
Heres the church, heres the steeple
Please stay tuned-we cut to sequelashes, ashes, we all fall down.

Broadcast me a joyful noise unto the times, lord,
Count your blessings.
Ignore the lower fear
Ugh, this means war.

It's been a bad day.
Please don't take a picture.
It's been a bad day.
Please.

Broadcast me a joyful noise unto the times, lord,
Count your blessings.
We're sick of being jerked around.
We all fall down.
It's been a bad day...
----

Uma música de indignação, com uma batida boa e letra legal. Não sei por que, mas acho que vale a pena colocá-la aqui.

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 2)

Segundo Semestre

Constituição do Sujeito Psíquico - Obrigatória
Overview:

Nome imponente, não? Pois é, o conteúdo também. E quando digo "imponente", eu quero dizer "incompreensível e humilhante". Textos extremamente complexos e (acredito) sem nenhuma fundamentação empírica - tudo tirado da cachola de um guruzão e tomado como verdade absoluta. Vários colegas meus gostaram das aulas, que por mais complicada que fossem, foram dadas com boa didática e com dedicação por parte da professora. Respeito isso, mas o conteúdo... podia ter colocado outra coisa no lugar. Meus colegas que gostaram defenderiam que, como não tivemos nenhuma introdução decente ao assunto (Psicanálise de Freud), ficou impossível que entendessemos as aulas desta disciplina (sobre Psicanálise de Lacan).


Método de Avaliação:
Dois trabalhos dissertativos menores, e um trabalho final - apresentação e relatório. Sobre os dois primeiros trabalhos, não tenho do que reclamar do método de avaliação, pois a professora leu e corrigiu todos os trabalhos entregues, e deu notas justas. A avaliação do trabalho final seguiu a mesma lógica, mas as notas pareceram muito mais sorteadas do que dadas justamente (alguns tiraram A enquanto que a maioria tirou B - sem justificativas).

Desenvolvimento Humano II - Obrigatória
Overview:
Como indica o nome, esta disciplina seria a continuação dos estudos do Desenvolvimento Humano sob a ótica da Psicologia. Enquanto no primeiro semestre aprendemos sobre o desenvolvimento cognitivo infantil segundo a Epistemologia Genética (teoria de Piaget) e a teoria de Vigotski, neste semestre aprenderíamos sobre o desenvolvimento emocional infantil, de acordo com as teorias de Winnicott, Bowlby, Erikson e outros autores, em sua maioria psicanalíticos (mas nem por isso ruins).

Como é de praxe, tivemos três professoras diferentes - sendo cada uma responsável por uma etapa da disciplina. A primeira etapa teve assuntos interessantes, com convidados em uma e outra aula. A professora foi diligente e raras vezes deixou de comparecer na hora marcada. Entretanto, a didática era fraca, sendo que considerei mais proveitoso ler os textos recomendados ao invés de ir assistir a apresentação dos mesmos no Power Point (mas que para tirar dúvidas eram excelentes).

A segunda etapa começou, mas a segunda professora veio muito poucas vezes pessoalmente nos dar aula. Geralmente, ela simplesmente mandava uma mestranda ou doutoranda falar sobre suas linhas de atuação e pesquisa. Estas aulas eram bem interessantes, pois nos era apresentada a perspectiva de profissionais que trabalham fora do meio acadêmico (isso é raro), mas os assuntos eram em sua maioria desconexos do assunto principal da disciplina.

A terceira etapa foi, de longe, a mais polêmica (e por isso divertida) de todas. A professora encarregada dessa etapa era uma doutoranda. Doutorandas, mestrandos e outros tipos de bolsista que dão aula são considerados os estagiários do Instituto: alguns são bons, mas a maioria... são estagiários. Na sua primeira aula, nos pareceu que ela pertencia ao seleto grupo dos bolsistas que sabem o que fazem. A segunda aula estuprou, matou, esquartejou e estuprou de novo a primeira impressão, e jogou os seus restos mortais em um parquinho infantil. É, deixou uma impressão ruinzinha, pra ficar nos eufemismos. Nessa aula que ficou conhecida como "A Aula Mágica", ela falou sobre o PET scan tirar "fotos da mente", da ciência psicanalítica, e o supra sumo da bizarrice: dos soldadinhos da libido para explicar a teoria libidinal de Freud. Depois dessa aula, nossa diversão principal na disciplina era procurar inconsistências nos artigos escritos pela professora e no conteúdo de aula (não era difícil). Admito que fomos influenciados pela má imagem formada pela professora na segunda aula, e que talvez tenhamos visto problemas de mais. Mas vimos vários problemas. Eu nem fui um inquisidor: percebi durante a Aula Mágica que não ia gostar daquilo e entrei em estado catatônico - só fiquei sabendo dos rolos por causa de meus indignados colegas. Enfim, uma aula deveras caceteada.

Método de Avaliação:
Tivemos um trabalho e uma prova dissertativa na primeira e na segunda etapas. Todos foram justos e bem avaliados. O trabalho final ficou por conta da terceira professora, que nos mandou fazer uma análise psicodinâmica de um caso clínico. "Análise psicodinâmica" implica que tenhamos uma trajetória consistente em Psicanálise. No segundo semestre de faculdade. "Caso clínico" implica que tenhamos pacientes. No segundo semestre de faculdade. "Análise psicodinâmica de caso clínico no segundo semestre de faculdade" implica que alguém comeu cocô quando decidiu dar esse trabalho. Mas vou ser justo: ela avaliou os trabalhos conforme nossa capacidade, e foi extremamente construtivo entrevistar alguém e avaliar seu desenvolvimento emocional (no caso, eu entrevistei o Huginn).


Fisiologia Geral Aplicada à Psicologia - Obrigatória
Overview:
Herdeira da disciplina de "Neuroanatomia Funcional", dada pela terceira professora da mesma. Tomei menos na bunda nessa cadeira, e posso até dizer que entendi alguma coisa. O método de ensino foi o mesmo do semestre passado, e acho que estavamos melhor preparados para o Discurso Socrático.

Método de Avaliação:
Uma prova com consulta - difícil, mas não impossível. Era só saber um pouco da matéria e onde procurar nos polígrafos e livros. A segunda prova foi tantas vezes adiada, para que pudéssemos ver todo o conteúdo programático e para que não ficasse nenhuma lacuna (aqui devo agradecer a professora, que priorizou nosso aprendizado à tranqüilidade de não ter que corrigir trabalhos no final de semana), acabou virando um trabalho por internet: a professora mandava um caso clínico, ou três questões sobre um assunto, e teríamos que responder com nossos conhecimentos e Google-Fu. Fui bem nessa prova.



História da Psicologia - Obrigatória
Overview:
Outra herdeira direta, só que da disciplina de Filosofia e Psicologia. O professor era o mesmo, mas neste semestre, ele preferiu mostrar porque ele é famoso por não dar aula nenhuma para os alunos de graduação, e mandou dois doutorandos fazerem o trabalho sujo. A primeira doutoranda chamaremos de "Ursinho Carinhoso", e o segundo doutorando de "Coração Gelado", para contrastar as capacidades sociais e emocionais de cada um. As aulas da Ursinho foram interessantes, divertidas até. O assunto não era tão interessante quanto gostaria, mas a didática dela era boa. Já do Coração Gelado não posso falar o mesmo. Para começo de conversa, o apelido dele remonta ao remoto primeiro semestre, quando ele nos deu algumas auls de Filosofia, e sua incrível capacidade de manter-se apático e não expressar emoção alguma espantava quase todos os estudantes da sala, e nos que lá ficavam, sono. Coração Gelado é apenas o apelido que sintetiza toda essa morte interna dele. Bem, não posso dizer que ele não se esforçava, e devo dizer que os textos selecionados eram em sua maioria muito bons. Ele até sorriu algumas vezes. A turma até fez um movimento para não deixar a sala despovoada na aula dele (depois de uma primeira aula completamente esvaziada), mas não durou muito tempo. Pobre Coração Gelado! No fundo ele é só um garoto tímido com emoções reprimidas. Mas ele que vá curar suas frescuras no terapêuta, e não com a gente.


Método de Avaliação:
Uma prova com a Ursinho, uma prova e um trabalho (apresentação e relatório) para o Coração Gelado. A prova da Ursinho foi complexa, exigente, mas como eu sabia o conteúdo não foi nem um pouco impossível (apesar de ter choramingado um pouco). O trabalho do Coração Gelado funcionou da seguinte maneira: só aparecia nas aulas a tropa de choque (os que sempre vão na aula) e quem tinha que apresentar trabalho. No dia da minha apresentação, entrei na sala e quase berrei "CADÊ O MONSTRO DO CORAÇÃO GELADO?", mas meu sexto sentido me avisou para ficar quieto. Ainda bem, pois lá estava ele, espreitando na sombra por sua presa, no caso, nós e nossos slides. Mas ele foi justo na avaliação. A prova dele foi mais complicada. Parecia para nós, perenes gazeadores, que ele tinha escrito aquelas questões só pra ferrar a gente. Algumas pessoas reclamaram que correção fora enviesada e injusta, mas esse não foi o caso comigo. Tinha errado só uma parte de uma questão, mas tinha errado mesmo, e confio que o Coração Gelado foi, novamente, justo. De fato, ele é um cara bacana, só espero nunca mais ter aula com ele.



Pesquisa em Psicologia
Overview:
Uma das melhores e uma das piores cadeiras do semestre ao mesmo tempo. Dividida em duas partes como tantas outras de nossas disciplinas, sua primeira parte foi dada por uma doutoranda do professor titular da cadeira. Como o assunto era interessante (Filosofia da Ciência) e a doutoranda era uma das poucas bolsistas que sabem o que fazem, além de bonita, a aula foi estimulante (viva o duplo sentido). A segunda parte foi dada pelo professor titular, e focava-se nos aspectos práticos da pesquisa em Psicologia. Interessante de fazer, chato de ouvir. A chamada era a parte mais interessante da aula, pois o professor chamava e dava falta em menos de 5 segundos se não fossemos rápidos o suficiente (nunca ganhei falta por lentidão). Não que ele cobrasse presença, aliás, ele até preferia que quem não estivesse interessado fosse embora ("o dia tá bonito, vão lá fora, vão pro bar, vão passear, vão pro motel, mas não fiquem aqui enchendo o saco de quem quer aprender!"). A didática dele é baseada na repetição: ele falava sobre a mesma coisa duas ou três vezes, para ter certeza de que tinhamos entendido. Chato para quem é rápido, maravilhoso para quem é lento. Provavelmente isso é um reflexo da dificuldade do próprio professor se concentrar (aposto que ele tem Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade - TDA/H). Mas não dava para reclamar de falta de explicação, pois se não tivessemos entendido em aula, ele explicaria depois, e deixou a nossa disposição os textos originais em inglês do polígrafo (horrívelmente) traduzido que utilizava como base teórica. Geralmente ele chegava atrasado, e repreendia quem fazia isso depois dele (deveríamos pegar uma foto dele com cara de mau, escrever em baixo "Tu tá atrasado!" e fazer uma camiseta). Isso era divertido também.


Método de Avaliação:
Tivemos uma prova com a primeira professora, e um trabalho e uma prova com o segundo professor. O trabalho serviu mais como fator de desempate, caso alguém tivesse ficado entre uma nota e outra (no limbo entre B e A, especialmente). Quanto às provas, o professor sempre disse que não estava ali para nos ferrar, e que nós iríamos tirar tudo A, e que isso não significava muita coisa. Para estudarmos para a prova, eles sempre nos mandavam com antecedência todas as questões que podiam cair na prova (através de sorteio), para que tivéssemos tempo e algum guia de leituras. Bom para a gente e excelente maneira de estudar (pelo menos para quem respondesse todas as questões).




Psicologia e Políticas Públicas - Obrigatória
Overview:
Esta foi a segunda aula que tive com a professora de Psicologia Social I. Admito que esta disciplina tinha um dos conteúdos mais atraentes de todos, as políticas públicas no Brasil e no Rio Grande do Sul, sob a visão da Psicologia. Mas essa Psicologia viria a ser a Psicologia Social e Institucional, os enroladores mestres. Não faltei muito suas aulas, mas não fazia questão de ir. Nenhum pouco, aliás. Mas admito que, se a cadeira começou tediosa ao extremo, terminou com debates e palestras de professores convidados impressionantes. Ainda assim, essa era uma disciplina que eu não me importaria de não ter cursado.


Método de Avaliação:
Ah, a cereja do bolo! Se eu fosse dar um prêmio de "Avaliações Mais Porcamente Feitas", daria para a professora de Políticas Públicas. Com honra ao mérito. Ela fez dois trabalhos, um menor e um maior (o final). O trabalho menor acabei entregando atrasado por falha minha, mas entreguei em mãos para a professora. E ela teve a capacidade de perdê-lo. Tudo bem, ela ia fazer uma avaliação terrível de qualquer forma, mas isso mostra a consideração que ela tem por seus alunos, e atrevo-me a dizer, por minha pessoa, a quem ela chamou de "vagabundo" quando ela fez a chamada uma vez e eu não estava presente. Mas a chamada eu falarei mais adiante.


O trabalho final foi realmente estimulante de fazer, exceto em uma coisa: era em grupo, e eu caí no grupo mais infeliz de todos, pois era o único disposto a trabalhar. Nossa tarefa era simples: fazer um estudo de caso de um conselho de políticas públicas, como o Conselho Municipal de Saúde, o Conselho Estadual de Saúde, e outros não relacionados diretamente à área da saúde, cujos nomes não lembro no momento. Isso seria uma barbada para mim, pois já sou um aventureiro desses conselhos brutos faz algum tempo, me sentiria à vontade. O problema é que fui o único do meu grupo a ir na reunião do conselho que tínhamos nos proposto a ir. Depois eles tentaram fazer remendos, avaliando um vídeo de um congresso disponível na internet, ou entrevistando uma usuária do SUS. O trabalho estava fadado a ser um lixo, mas eu fiz a pior escolha que podia ter feito: resolvi fazer só minha parte e confiar nos outros.


Sabe o que a Tia Fifi dizia no maternal, para confiar nos outros? Esqueça. Não confie em ninguém que não tenha lhe dado motivos para tanto. Não foi o caso do meu grupo. Nosso trabalho foi o pior avaliado de todos, a única nota C. Se eu tivesse feito a maior parte do trabalho sozinho, talvez tivéssemos uma fighting chance (chance de combate), mas minha apatia falou mais alto. Mas uma coisa me consola: minha parte do trabalho estava bem feita. Eu conferi, e pedi para que um colega, da minha mais alta confiança, a corrigisse. E ele disse que estava bom (olha que o cara é exigente!). E minha parte do trabalho foi tão ou mais caceteada que o resto, que estava horrível. Não sei, mas acho que a professora não gosta nem um pouco de mim.


Falarei rapidamente da chamada. Trocando em miúdos, ela só fazia a chamada quando tinha pouca gente em sala de aula, pois desse modo ficava mais fácil de contar. Ela não seguia padrão algum: ora fazia a chamada no início, ora no fim. Geralmente, fazia no fim, e ferrava quem tinha que pegar ônibus mais cedo. Chamou uma colega minha de "inexistente" e me chamou de "vagabundo", além de ter insultado mais alguém.


O pior é que, apesar de tudo, eu não consigo detestar ela. Ainda considero a possibilidade de fazer uma eletiva com ela. Eu me odeio.




Psicologia Social II - Obrigatória
Overview:
A exceção à regra que I é diferente de II, pois o que vimos em Social I foi igual ao que vimos em Social II. No começo, a professora e sua mestranda até tentaram cobrar chamada, pois segundo elas, era importante ficar em sala de aula ouvindo seus intermináveis e maçantes monólogos sobre a Dobra e debater sobre a matéria, igualmente chata. Mas depois de um tempo, quando ela percebeu que o pessoal só pegava a chamada e ia embora logo em seguida (eu incluso), parou de fazer questão de nossa presença. Sempre que entrava na sala, tinha a impressão de já ter ouvido o que ela estava falando ad nauseam. "O que é a Psicologia Social? Não seria a Psicologia como um todo Social?" e outras sandices semelhantes. Sempre tento ver o lado positivo das aulas, encontrar algo nelas original e bom, que em nenhuma outra aula foi dito. Não encontrei quase nada de bom em Psicologia Social II, e o que encontrei, encontrei dito de forma melhor em outros lugares e disciplinas.

Método de Avaliação:
Duas palavras: barbada pura. Teve gente que não apareceu em uma única aula e tirou B, que é uma nota sólida. Como sempre digo, qualquer macaco bem amestrado tira A na Psicologia da UFRGS, mas esta cadeira é uma exceção: qualquer macaco abobado tiraria A nessa cadeira. Tivemos dois trabalhos para fazer: um era tirar fotos de qualquer coisa que achássemos interessante, e fizessemos uma relação com algum conceito apresentado em aula. Na época achei isso um abuso e uma perda de tempo, pois estávamos atolados de trabalho por fazer, mas hoje sou obrigado a admitir que é uma idéia criativa e inovadora, pelo menos na parte do tirar fotos. No segundo e mais importante trabalho, tínhamos que falar de... desculpem, não lembro. Coisas vagas são difíceis de manter na memória. Mas era sobre algo, e o que quer que escrevéssemos sobre esse algo iria ser publicado num site do departamento. Mais uma vez, algo criativo, e ainda por cima ecológico, pois não precisamos gastar papel algum. Mas a avaliação foi tão frouxa que se eu tivesse simplesmente copiado a Desciclopédia e colado no meu trabalho, teria tirado A igual. E isso realmente aconteceu, só que a fonte da cópia foi a Wikipédia (eu teria me divertido horrores se realmente tivessem copiado a Desciclopédia). Quando a professora foi informada desse fato pelo nosso colega responsável pelo site, ela preferiu lavar as mãos e nem ficar sabendo quem foi, para não ter que tirar nota. Depois o Brasil tá cheio de psicólogo que não consegue emprego nem como frentista de posto, porque é um imbecil diplomado.


Análise Experimental do Comportamento - Eletiva
Overview:
Outra cadeira que descrevo como sendo uma das melhores e uma das piores ao mesmo tempo. A aula foi toda em forma de mesas redondas, com todos participando e discutindo o assunto, muito interessante e exasperante por sinal. As melhores aulas aconteciam quando todos tinham lido os textos indicados, e todos tinham algo diferente para colocar, e as piores aulas aconteciam quando ninguém ou quase ninguém tinha lido, o que deixava a professora na monótona posição de ter que ler parágrafo por parágrafo o texto e pedir o que estávamos achando, coisa que deveríamos ter feito em casa e não em aula. No mais, me diverti horrores tentando derrubar a teoria behaviorista radical (sem sucesso, mas a guerra continua), chamando os livros indicados de "religiosos e acientíficos" e defendendo uma teoria mais humanizada na Psicologia. Tudo isso com a benevolência da professora, que poderia ter me dado um C de "Cala essa boca".

Método de Avaliação:
Como a turma era pequena e não tínhamos tido aulas formais, não tinha porquê ter avaliações formais. As notas foram dadas de acordo com a participação dos alunos nas discussões. Como eu participei bastante (mesmo que só enchendo o saco), tirei A.


Alemão Instrumental I - Eletiva
Overview:
A cadeira mais interessante do semestre, do ponto de vista sociológico, além do lingüístico. Ao contrário das demais disciplinas que cursei, que aconteciam no Campus Saúde, esta disciplina acontecia no Campus do Vale, conhecido também como "Fim do Mundo", "A Selva" e "Point dos Maconheiros". Logo no meu primeiro dia por lá eu descobri onde ficava o infame fumódromo (eu fui comer minha maçã por lá). Mas devo dizer, por Grande Justiça, que o Vale é, de longe, o lugar mais cheio de vida de toda a UFRGS, pois estudantes de muitos cursos diferentes lá convivem e até estudam juntos (como é o caso de cadeiras em comum para vários cursos, como Cálculo, para as Engenharias, Física, Matemática e Agronomia). Isso se refletiu nas nossa aula de alemão também, pois tínhamos estudantes de Filosofia, Psicologia, Biblioteconomia, Letras e Ciências Sociais. As aulas eram interessantes por si só, pois gosto de línguas, e a professora, que morou na Alemanha por vários anos tornava-as ainda melhores com suas impressões da sociedade germânica (culinária principalmente). Mas alemão é bucha, e depois de um tempo eu comecei a cansar das aulas, tanto por causa dos muitos compromissos que tive que assumir em outras aulas e lugares, quanto por causa da dificuldade da matéria. Mas posso dizer que aprendi muita coisa nessa aula.

Método de Avaliação:
Justo e eficaz. A professora nos deu nota de participação, notas por trabalhos e nota pela prova final. Quem se esforçasse passava, mas quem fizesse corpo mole, nem a pau. Os trabalhos eram difíceis, mas passáveis. A prova foi um pouco mais complicada, mas ainda assim era passável.


O próximo post dessa série vai ser sobre minhas expectativas em relação às disciplinas do terceiro semestre.

Vida Dura (Parte 8)

Em meu post anterior, falei das microcivilizações de bactérias e micróbios a quem dou terreno fértil para desenvolverem-se. Pensei em criar uma enciclopédia inteira dedicada à suas características antropológicas, sociológicas e psicológicas, além de tecnológicas e besteirológicas. Mas isso fica para outro dia, provavelmente um dia em que eu esteja bêbado de ar e drogado com chocolate (ou Benflogin). Neste post, quero falar de outra microcivilização, que apesar de se desenvolver às custas de minhas cagadas, não foi por mim criada, e pela qual tenho grande respeito: as formigas.

Tenho um pote de mel que deixo guardado no armário da cozinha. Quando fui para Caxias, ele estava pela metade; quando voltei, só um terço do que tinha deixado ainda estava lá. Prefiro pensar que meu colega de apartamento comeu bastante pão com mel (por não ter coisa melhor), pois a outra alternativa, que as formigas comeram, é muito mais pavorosa, pois não é impossível que elas me devorem durante meu sono.

Já matei muitas formigas, tanto aqui em Porto Alegre em meu apartamento, quanto em outros lugares. Essas pequenas criaturas estão por toda parte. Várias vezes deixei um copo sujo de suco em cima da pia, com a intenção de buscá-lo mais tarde para tomar mais suco. Mas sempre que voltava, elas estavam lá, colhendo os espólios de sua guerra contra minha cozinha. Me dá pena ver estas valorosas guerreiras morrerem afogadas quando vou lavar a louça, mas ou elas ou a higiene. Para reconfortar-me, penso que elas ressurgem e ressucitam como filhas do povo de Blebleberg (os que infestam o ralo da pia). Seriam elas zumbis? Não sei.

A questão é que sempre admirei estas bichinhas. Gostava de jogar Coca-Cola em seus caminhos bem ordenados para vê-las depois em volta da mancha de pura glicose negra pegando o que pudessem levar para seu reino, o formigueiro (palavra essa, aliás, que me causava confusão, pois formigueiro não é quem cria formigas?). Também gostava de deixá-las desnorteadas colocando folhas em suas trilhas de hormônios e vê-las apavoradas, mas faz muito tempo que não faço isso, pois respeito-as demais para tanto.

Também tenho grande respeito pelos cupins que neste exato momento dilaceram a porta do banheiro aqui de casa, pelas abelhas de quem roubo mel e especialmente das vespas e marimbondos que me apavoram, por suas estruturas sociais tão organizadas e complexas. Não sei, mas acho estes insetos sociais as criaturas mais interessantes do reino animal, por serem tão parecidos com os gregos antigos e suas Pólis, ou as cidades-estado da Idade Média como Veneza, que enriqueciam através do comércio e da guerra. Digo que as vespas e os marimbondos me causam maior interesse porque, além de dispor de menos informações à seu respeito, eles são como os espartanos dos insetos sociais: idênticos em quase tudo, só que muito mais guerreiros (e com um mel muito pior, mas isso não vem ao caso).

Todas essas sociedades tem uma realeza: geralmente só uma rainha, mas as térmitas (cupins brancos) também tem um rei. As abelhas têm os zangões, que seriam os concubinos da rainha. Não vou cair na tentação de antropomorfizar estas espécies, mas as semelhanças com os seres humanos são impressionantes.

Talvez valha a pena para um futuro psicólogo como eu estudar a sociologia destes bichos. Não só para minha vida profissional, mas também pra deixar minha cozinha um lugar mais seguro.

Vida Dura (Parte 7)

Tarefas domésticas realmente não são meu forte. Como li em algum blog por aí, "faxina é o trabalho dos bravos e aguerridos". Concordo plenamente. Não é qualquer um que consegue manter a higiene caseira e a sanidade mental sem muito esforço.

Digo isso por que é impressionante como as coisas ficam sujas. O ralo do chuveiro é um excelente exemplo: três dias de banho e ele já enche de cabelos, pêlos pubianos e qualquer sujeira grande o suficiente para ficar por ali também. No começo dá para ignorar, mas depois, quando a água passa a demorar demais para encontrar seu caminho até o Grande Dilúvio (ou Grande Tega, em Caxias), é hora de meter a mão na massa de pentelhos e crinas e limpar o ralo. Como diria meu colega Luiz Alexandre "tua adolescência se vai e tu te torna um homem depois que tu limpou um ralo". Interessante notar que nós dois chegamos a mesma conclusão, sem termos falado a respeito disso, em tempos completamente diferentes: depois de termos saído da casa dos pais. Aliás, o ralo da casa dos meus pais está sempre limpo. Gostaria de saber que tipo de tecnologia faz isso. Faz falta por aqui.

Lixo doméstico é outra questão problemática. Tanto o seletivo quanto o orgânico incomodam. O seletivo nem tanto, pois por mais que se empilhem caixas de pasta de papelão vazias, elas nunca darão um estorvo maior que ocupar espaço. No meu caso, ele pode, sim, dar um estorvo maior. Como atulho o lixo seletivo na área de serviço, que é aberta, em dias de vento forte, fica tudo espalhado. Mesmo assim, não é grande transtorno, pois eu só tenho que chutar as caixinhas de suco para os lados enquanto caminho por lá. O lixo orgânico é bem diferente. Primeiro porque ele é orgânico, portanto ele se decompõe, ou seja: apodrece. Como ele apodrece, ele fica fedendo, e impregna a cozinha inteira com um odor de morte celular. Além, muitos restos orgânicos quando entram em decomposição liberam uma aguazinha nojenta, que geralmente vaza do saco de supermercado que uso como saco de lixo para dentro da lixeira em si, fazendo tudo muito mais nojento. Para completar esta cena escatológica, essa aguazinha é uma Fonte da Vida para criaturas igualmente nojentas, moscas em especial. Certa vez, deixei o lixo orgânico dentro da lixeira por um final de semana inteiro, e quando levantei sua tampa para ver a situação (ou melhor dizendo, cheirar a situação), quatro ou cinco mosquinhas que não estavam lá quando fui embora, saíram voando em direção à liberdade. A partir daquele momento, deixei de lado o que a Biologia diria e passei a acreditar na Abiogênese, a geração espontânea de vida. Pasteur nunca morou sozinho para refutar esta importante teoria.

A última coisa que falarei neste post que me incomoda (mas não a última coisa que me incomoda) são os prazos de validade e requisitos de conservação de diversos produtos, alimentos principalmente. É comum para um universitário recém saído de casa, solteiro e estudando feito japonês do Flemming* abrir um pacote de comida, pegar o que quer e esquecer em algum canto. Se fosse só isso, não teria nenhum problema. O problema de fato é que, tudo que é esquecido um dia é reencontrado. No caso, é reencontrado por causa do mau cheiro, das moscas voando em volta de um ponto ignorado ou por causa da fome, que leva o indivíduo a ir atrás de suas fontes de nutrientes habituais, a geladeira e a despensa. A mais linda história real que tenho para exemplificar esse problema é a vez que, tendo nós aqui em casa decidido se livrar das coisas intragáveis que estavam na cozinha (vejam que não estou nem falando em "fora do prazo de validade"), peguei uma caixinha de creme de leite, aberta por pelo menos dois meses, e decidi olhar o que (ou quem, se fosse o caso de uma outra microcivilização superavançada) tinha ali dentro. Má idéia. Era uma massa verde disforme e fedorenta, que ninguém no mundo diria ter sido um dia creme de leite (os membros da microcivilização chamariam-na de "Berço de Mungdah", seu deus criador, pai da linhagem imperial e nome de sua capital). Também tem o caso da vez que fomos para a casa de praia de um colega, e percebemos que quase todas as coisas dentro da geladeira estavam em situação igualmente deplorável, mas por motivos diversos dos meus (desejo de poupar tudo e não jogar nada fora, ao invés de descuido e preguiça). No momento, tenho um pote de mumu dentro da geladeira que ficou mais de 15 dias fora desta, no armário, contrariando o que diz em sua embalagem. Estou com medo de abrir a sua tampa. Outra vez.

Obsessões - Part Trois

Tem uma outra coisa que detesto: deixar o blog sem atualizações. Sinto-me relapso. Geralmente é por que tenho outras coisas por fazer, mas deixar a peteca cair é algo que não gosto em absoluto. E deixei esse blog sem atualizações por 4 dias. É uma eternidade. Essa minha obsessão-compulsão me torna uma máquina de escrever, catar imagens e notícias na internet e de ter idéias. Mas também me torna um chato de galochas que enche o saco de todo e qualquer outro postador que não seja pelo menos 50% produtivo. Como os 50% de produtividade são em comparação à minha produtividade, e eu tenho acesso quase ilimitado à internet quase que o tempo inteiro, é um padrão bem alto e difícil de alcançar. O que me deixa irritado por ninguém trabalhar tanto quanto eu, e deixa os outros irritados por eu ficar incomodando por um motivo não vital (não direi que não é importante). Outro ponto negativo desse meu transtorno é que quando posto em quantidade, perco muito em qualidade. E, last but not least, fico extremamente focado em números e fico falando disso ad nauseam. Ainda não fiz isso por aqui, apesar do meu gosto de ver o Capacitor de Fluxo aumentar seu dígitos.

Escrever em um blog solo é um bom remédio para essa chatice minha: não achaco ninguém, pois o único responsável por esse negócio sou eu, e por esse mesmo motivo, controlo melhor o que publico. Por paradoxal que seja, escrevo mais e melhor por não me policiar a respeito de números e médias.

Textos

Tenho o péssimo hábito de cinco ou seis minutos depois de começar um texto para o blog parar de escrever e abandonar o rascunho para o Deus-dará. Depois de criar e começar a publicar no Espadachim Cego, tomei a decisão tácita de não deixar nenhum texto começado arquivado ad infinitum na página de rascunhos do Blogger: ou o terminaria de forma satisfatória ou o excluiria.
No R&A, tenho, sozinho, pelo menos 30 artigos inacabados. Bem coisa de quem tem TDA/H. Isso me exaspera um pouco. Não demais para se tornar uma obsessão, nem de menos para ser ignorado. Fico entre a cruz e a espada, agoniado.

Aqui no Espadachim, tenho, no momento, apenas 5 rascunhos. Pretendo publicar todos.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Nem só de pão...

Adivinhem qual é a pilha dos livros que ainda tenho que ler.

Minhas Aulas na Faculdade

Inspirado em um veterano meu, que fez uma avaliação em seu blog sobre como foi o desenrolar das suas muitas disciplinas no ano de 2007. Legitima viadagem de psicólogo, portanto, vou fazer o mesmo aqui no Espadachim. Vou dividir esta tarefa em 3 partes: avaliação das aulas do primeiro semestre, avaliação das aulas do segundo semestre e expectativas para as aulas do terceiro semestre.

Moving on...

Primeiro Semestre:

Psicopatologia e Cultura - Obrigatória
Overview:
Uma cadeira promissora, que segundo nossos veteranos, foi incluída no nosso currículo para servir como uma "provocação", que nos levasse a pensar de maneira crítica. Não foi bem assim que aconteceu. Pra começo de conversa, tivemos três professores diferentes. Todos doutores formados por universidades bem conceituadas, mas isso não impede que as suas aulas sejam chatas ou os torna imediatamente capazes de interligar conteúdos, como seria necessário nessa disciplina.

Esta disciplina é responsabilidade do Departamento de Psicanálise e Psicopatologia e, portanto, puxaria para a Psicanálise. Admito que isso já me deixou com o pé atrás com as aulas, mas mesmo assim devo admitir que a primeira parte do semestre, dada pela primeira professora, foi bem interessante (uma doutoranda da Psiquiatria nos deu uma aula de história da Psiquiatria, Psicologia e Psicanálise, bem por alto, mas foi bom para nos integrar um pouco com essa baderna que é nosso curso).

Com a segunda professora, entramos em uma outra fase, e num conteúdo que não tinha nada a ver com o que tinhamos visto na primeira parte. Ela falava de cinema, subjetividade, psicanálise, dava uns textos que ela escreveu para umas revistas tipo "Marie Claire" e "Nova" (nada contra elas. As vezes elas publicam artigos de divulgação científica muito interessantes), e outras coisas desconexas do gênero. O ponto alto deste ciclo foi o nosso debate (que tava mais para "bate") com a professora sobre a seriedade e validade da Psicanálise. Deixamos a mulher a beira das lágrimas, com a quantidade e qualidade das perguntas feitas. Vale dizer que a réplica mais contundente que tivemos foi "com o tempo eu sei que vocês vão mudar de idéia".

O terceiro professor chegou, mas eu não estava lá para ver sua primeira aula (esqueci de mencionar que Psicopatologia e Cultura era nossa única aula no turno da manhã, e que naquele dia em especial eu tinha me passado no sono). Uma pena, pois elogiaram bastante o homem e a aula em si. Tenho minhas suspeitas se foi tudo isso que disseram, mas as explicarei em outra ocasião. Fui na segunda aula dele, onde assistimos e discutimos o filme cult do momento no círculo intelectualóide de esquerda, "Estamira". É um filme muito bom, recomendo para quem puder assistir (e, mais uma vez, explicarei em outra ocasião por que digo que classifiquei-o como filme cult do momento). Mas como já tinha assistido antes, não foi grande coisa. Depois dessa aula, nunca mais vi o eminente professor nas nossas aulas, pois ele preferiu mandar os seus capachos mestrandos para fazer o trabalho sujo de passar o conteúdo. Coisa que não fizeram, ou se fizeram, foi de forma muito esquizofrênica.

Na quarta e última parte, a primeira professora voltou e deu aulas que estavam em sintonia com as suas primeiras aulas. Ela foi diligente e não faltou uma vez sequer, e organizou as aulas de maneira eficiente. Quanto ao conteúdo, não cabe aqui dizer que eu matei algumas várias aulas para ler outras coisas por que achava tudo bobagem.

Métodos de Avaliação:
Da mesma forma que o conteúdo, os métodos de avaliação foram quebrados e sem muita lógica. Tivemos que entregar um trabalhinho na segunda parte da disciplina, e um outro ainda mais bobo sobre "Estamira" no terceiro, que eu aposto que não valeu para nada. Tivemos uma prova dissertativa no final do semestre, onde teríamos que dizer "quais foram as contribuições da Psicanálise no campo da Psicopatologia e Cultura". Tomamos no cu. Como poderíamos falar qual a contribuição da Psicanálise para a Psicopatologia e Cultura se não sabíamos nem o que era uma nem o que era a outra? O jeito foi improvisar e escrever o que dava como dava. A maioria do pessoal escreveu à Psicologia Social (explico isso ainda nesse post), enquanto que eu escrevi como um verdadeiro Existencialista, disfarçado de Psicanalista. Deve ser por isso que eu fui mal na prova.


Psicologia Social I - Obrigatória
Overview:
Essa foi a disciplina que incorpora tudo que abomino na Psicologia, e que nos ensinou a sermos politicamente corretos, subjetivantes, problematizadores, em suma, prolixos e evasivos. Esse é o estilo Psicologia Social de escrever. A professora chegava sempre de 15 a 30 minutos atrasada, e emanava uma aura de "amiguinha da turma", e não parava de nos elogiar. Sempre desconfiei de professores estilo "eu quero ser amigo de vocês, gente", e ela não foi excessão. Apesar disso, a grande maioria da turma adorava ela. Pessoalmente, achava suas aulas um excelente remédio contra a insônia, a fome e as unhas compridas, pois ou eu dormia, ou saía para comer ou cortar minhas unhas.

Métodos de avaliação:
Tivemos dois trabalhos. No primeiro, tivemos que fazer uma análise crítica de um capítulo de livro (daquele cara que não gosta de amoladores de facas), e no segundo, falar sobre temas sociais atuais ou coisa assim (era vago assim mesmo). No primeiro trabalho eu me ferrei, pois segundo a professora eu não fiz uma análise crítica, mas um "resuminho" da história. No segundo, tiramos nota máxima. Como os atentos devem ter notado, o primeiro trabalho foi individual, e o segundo foi em grupo. No primeiro trabalho, fui eu quem escrevi tudo, enquanto que no segundo trabalho uma colega minha fez a maior parte do trabalho. na época não achei isso evidência de nada, mas falarei disso mais a frente.

Processos Psicológicos Básicos I - Obrigatória
Overview:
Aulas pontuais, assuntos interessantes, didática excelente, e apesar de duas professoras dividirem a cadeira, o conteúdo era tão integrado quanto o possível. A maior parte dos meus colegas detestou o conteúdo, mas amolador que sou, gostei, pois foi como uma introdução à Psicologia Experimental e ao método científico. Apesar disso tudo, o tempo era curto, e frequentemente as professoras tinham que passar o conteúdo a toque de caixa, e não vimos metade do que costumava ser visto nas antigas aulas de Psicologia Experimental I, II e III que nossos veteranos cursaram.

Métodos de Avaliação:
Lamento dizer isso, mas por melhores que nossas professoras sejam em seus respectivos campos, elas são péssimas em matemática. Nossa primeira prova foi um misto de questões objetivas e dissertativas. OK, nada muito errado nessa parte, pois apenas uma questão que eu me lembre foi anulada por ser impossível de responder corretamente (responder errado ainda dava). Já a correção foi um deus-nos-acuda, pois teve gente que tinha acertado quase todas e tirado nota 7, e gente que tinha errado mais da metade e tirado 9. Os primeiros foram reclamar e os últimos ficaram bem quietos. Infelizmente, fiquei num terceiro grupo, o menor de todos: o dos que estavam indignados com a própria nota, achavam-na injusta, mas que as professoras tinham calculado direito.

A segunda avaliação foi muito mais empolgante, pois tivemos que criar, desenvolver e aplicar nosso próprio projeto de pesquisa, dentro dos assuntos estudados em aula, e depois apresentar em forma de cartaz, como se fosse um Salão de Iniciação Científica, onde seríamos avaliados por outros professores e estudantes de pós-graduação (e por nossa monitora). A folha de avaliação era bem abrangente, indo desde se os conceitos estavam corretos até nosso conhecimento do assunto. O primeiro professor a nos avaliar foi o marido de uma de nossas professoras, e devo dizer que ele nos deu o melhor feedback de todos, apontando todas as nossas falhas de maneira construtiva e ainda nos dando notas altas (conhecimento do assunto tiramos nota máxima com ele). A segunda pessoa que nos avaliou foi legal com a gente também, apesar de não tanto. Já a terceira... bem, a coisa é mais complicada com ela. Ela chegou, começamos a explicar nosso trabalho, ela disse que achou L-I-N-D-O e foi preencher a folha de avaliação. Longe dos nossos olhos. Estávamos esperando um A e tiramos um C. Aposto que ela ferrou a gente por trás depois de inflar nosso ego ao ponto de explosão. E aqui, mais uma vez, a capacidade de confundir as notas das professoras se mostrou na sua melhor forma, pois dentro do nosso próprio grupo, teve gente que tirou C, e teve gente que tirou A. Eu tirei C, para variar, mas fiquei quieto, pois poderia complicar a vida dos outros.


Desenvolvimento Humano I - Obrigatória
Overview:
Aula melhor avaliada por todos. A professora foi pontual (até demais), metódica e o assunto é interessante. A didática as vezes ficava chata, e a professora era meio formal demais em aula, mas isso irrelevante no conjunto da obra.

Método de Avaliação:
Se me lembro bem, tivemos uma prova e um trabalho de campo. A prova foi um pouco difícil, mas não era impossível, e o trabalho foi um dos pontos altos do semestre inteiro. Nele, tivemos que entrevistar crianças pequenas, utilizando o método clínico de Jean Piaget. Fazer e apresentar o próprio trabalho, além de assistir os trabalhos dos outros, foi muito divertido, pois uma de nossas tarefas era apontar nossos próprios erros - e como teve erros. Sabíamos que estavamos indo bem quando a professora estava rindo (pra nossa sorte, ela riu horrores da nossa cara). Parece meio injusto falar tão pouco da melhor disciplina do semestre, mas seria só elogios.


Psicologia e Filosofia - Obrigatória
Overview:
Um assunto fundamental, para qualquer estudante de Psicologia, além de muito interessante, apesar de muitas vezes negligenciado. A qualidade das aulas variou bastante, conforme o humor e a capacidade do professor se concentrar. Cito "capacidade de se concentrar" como separado do humor por que o professor conseguia sair de uma discussão sobre Kant e a Psicologia e ir para Engenharia Elétrica, e depois para História da Psicologia no Brasil, e depois para outro assunto igualmente desconexo. Isso confunde os estudantes, sendo que muitos ficam com a impressão de não estarem entendendo nada por serem burros, quando na verdade o professor é enrolado por si só. As suas melhores aulas foram aquelas que deixamos de lado o Power Point e utilizamos o Discurso Socrático como método de aula.

Método de Avaliação:
As provas deste professor são infames por sua dificuldade, mas poucos na turma tiraram notas muito abaixo de dez. Foi uma prova dissertativa bem longa, mas como já disse, foi tranqüila. Tivemos que apresentar e entregar um relatório sobre o nosso filósofo favorito. Apesar de ter ido um pouco mal nesta parte, considero que os métodos de avaliação utilizados foram justos e coerentes.


Neuroanatomia Funcional aplicada à Psicologia - Obrigatória
Overview:
Disciplina do primeiro semestre que mais me fodeu. O assunto é extremamente interessante, mas eu não pensava assim na época. Como em Psicopatologia e Cultura, tivemos também três professores diferentes, mas talvez por serem de outra unidade orgânica (do Instituto de Ciências Básicas da Saúde) eles foram mais coesos e organizados.

O primeiro professor falou de histologia e essas porcarias com células e neurotransmissores e neurorreceptores. Aulas boas, mas meio bagunçadas.

As aulas do segundo professor começaram com uma grande dose de expectativa, pois logo na primeira semana tomamos um esporro dele por chegarmos 20 minutos atrasados para a aula por causa do trote, e praticamente todos os nossos veteranos chamaram-no de "diabo encarnado" ou coisas semelhantes. Ao contrário do que esperávamos, ele foi um professor extremamente receptivo, que explicava seu assunto, a neuroanatomia em si, de maneira completa e abrangente.
A terceira professora, ao contrário, foi extremamente elogiada por todos os veteranos, mas suas aulas não foram tão boas quanto esperávamos. Ela usa extensivamente o Discurso Socrático em aula, algo muito bom, mas que só funciona quando as pessoas tem um mínimo conhecimento do que está sendo discutido.

Método de Avaliação:
Tivemos três provas, uma com cada professor. A primeira prova foi bem elaborada apesar de fácil. A segunda prova foi uma cravação sem tamanho, pois o professor deve ter pego uma prova da Medicina e tocado pra gente fazer. Por pena, ele nos deu dois pontos por participação ativa na aula prática com os corpos. Essa foi a prova que eu mais me ferrei em todo meu tempo de faculdade até agora. A terceira e última prova foi com consulta: difícil, mas eu dominava o assunto suficientemente para tirar meu pé da lama. Foi a nota C mais comemorada em todo meu tempo de faculdade.


Seminário de Introdução à Psicologia - Obrigatória
Overview:
Uma palavra define esta disciplina: inútil. A idéia original era que ela servisse de ponto central no curso, e integrasse as diversas correntes que estávamos vendo e as discutíssemos, e que a partir disso pudéssemos expandir nossa compreensão da Psicologia. Não foi bem assim que aconteceu, pois frequentemente as discussões caiam em lugares-comuns, ou em bate-bocas imbecis, ou o professor puxava a brasa para o assado dele (orientação de carreira). Ele bem que se esforçou em fazer seu trote bem feito (falei que ele estava em estágio probatório, e que ele vai continuar assim esse ano?), mas era muita areia para o caminhão dele. Tivemos pontos altos, especialmente quando tivemos que entrevistar nossos professores e profissionais de outros lugares e linhas teóricas, mas ficou por isso mesmo.

Método de Avaliação:
Um trabalhinho escrito sobre como foi o meu semestre, no mesmo estilo "como foram minhas férias". Nada de mais, nada de menos, nada surpreendente ou desafiador.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Inspiração

Nos últimos dias, tenho tido problemas em atualizar o blog. Não tinha idéias boas o suficiente para postar, e as idéias boas o suficiente deixavam de assim o ser quando começava a transpô-las da minha mente para o computador. Comecei a me preocupar, e a monitorar cada idéia que aparecia, passava-a pelo crivo e analisava se era boa o suficiente para ir para o blog. Nenhuma passou. Então, eis que estou lendo um livro chamado "A Presença Ignorada de Deus", pelo psiquiátra vienense Viktor Emil Frankl, criador da Logoterapia, a Terceira Escola de Psicoterapia de Viena (a primeira é a Psicanálise de Freud, e a segunda é a Psicologia Individual de Alfred Adler), em que ele discute o inconsciente espiritual, presente em todos nós junto com o inconsciente instintual, e como ele age e nos afeta. Chego no seguinte parágrafo sobre criatividade:

"Em seu trabalho criativo, o artista depende de fontes e recursos que derivam do inconsciente espiritual. A intuição não-racional da consciência tem seu paralelo na inspiração do artista. Criação artística emerge de recônditos que jamais poderão ser plenamente elucidados. No exercício prático da clínica temos tido várias oportunidadesde observar que a reflexão excessiva sobre o processo criativo acaba sendo prejudicial. Auto-observação forçada pode ser um sério obstáculo para a criatividade do artista. A tentativa de produzir a nivel consciente precisa brotar de profundezas inconscientes; a tentativa de manipular o processo criativo primal através da reflexão sobre o mesmo está fadada ao fracasso. A reflexão entra em cena apenas mais tarde."

Foi só ler isso que eu senti-me livre, e idéias geniais começaram a pipocar na minha cabeça. Alguém já disse (e acho que já citei esse alguém) que escrever é 10% inspiração e 90% transpiração. Mas disse também que sem os 10% a coisa fica muito mais complicada. Minha vida de blogueiro ficou muito mais fácil agora.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Formas de aprimorar o currículo de Psicologia da UFRGS

Em um excelente artigo, Lobo da Estepe faz uma lista de assuntos que ele gostaria de ver mais e de assuntos que ele gostaria de ver menos nas nossas aulas no Instituto de Psicologia. Pegando carona na idéia dele, vou fazer a minha lista de Vô/Não Vô coisas que eu gostaria de ver mais e gostaria de ver menos no nosso currículo:

Processos Psicológicos Básicos II - A cadeira de PPB I é boa e divertida, mas com conteúdo muito corrido e fragmentado. Poderia ser oferecida uma disciplina eletiva para os interessados em aprofundar-se nos conteúdos dados e aprender o que não pôde ser dado graças ao pouco tempo disponível.

Análise Experimental do Comportamento - Já tem uma eletiva disso, que eu fiz, gostei e aprendi muito. Entretanto, ficaram faltando algumas coisas, como prática em laboratório, e talvez um pouco mais de teoria, tanto skinneriana quanto de outros autores comportamentais.

Psicologia Cognitiva Comportamental - É atualmente o campo mais promissor da Psicologia, e por estudarmos em uma faculdade que tem um departamento inteiro dedicado à Psicanálise, nossas possibilidades de aprender sobre ela é bastante tolhido. Tal como Análise Experimental do Comportamento, há uma eletiva sobre o assunto, mas é da mesma forma insuficiente.

Psicologia Humanista e Existencial - Se algum colega meu ler isso, a primeira coisa que vai pensar é "mas esse merda não cansou de encher o saco dos professores até conseguir essa cadeira?" A resposta para esta pergunta é: não, não cansei. O que conseguimos com os professores foi uma disciplina introdutória, bastante superficial, apesar de abordar assuntos muito interessantes. Minha idéia é, a partir desta disciplina, conseguir outras mais específicas, de Abordagem Centrada-na-Pessoa, Fenomenologia, Psicologia do Ser, Daseinanálise, Logoterapia e Gestalt-Terapia, e talvez alguma disciplina como "Teorias Menores no Paradigma Humanistico-Existencial", que cubra outras linhas teóricas que não as maiores.

Psicologias Orientais - Pode parecer estranho pedir uma coisa dessas, mas o Ocidente ignora muitas técnicas e teorias desenvolvidas na China, Japão e Índia que podem ser consideradas como "Psicologia". Um bom exemplo é a Terapia de Morita e Naikan, além das técnicas de meditação zen budistas.

Etologia - Procurei essa disciplina na Biologia da UFRGS, e mesmo assim não encontrei. Considero de extrema importância esse assunto, pois nos ajuda a aprimorarmos nossas capacidades de observação (além de ficar procurando chistes e atos falhos).

Neurociências Cognitivas e do Comportamento e Informática - Esse é o campo mais promissor das ciências humanas e naturais. Primeiro porque é multidisciplinar, envolvendo desde psicólogos até lingüistas e técnicos de Informática. Segundo porque nunca antes na história deste país mundo tivemos uma tecnologia tão avançada para estudar o cérebro durante os comportamentos (encobertos ou não). Terceiro porque é do caralho, e quarto porque a psicanalistada não gosta. E não seria difícil conseguir umas disciplinas eletivas sobre esse assunto, considerando que temos neuropsicólogos no departamento de desenvolvimento e um programa de pós-graduação inteiro no Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) dedicado a esse assunto.

Ciências Sociais - Pelo mesmo motivo do Lobo. E por que tô de saco cheio da Psicologia Social e Institucional.

Outras teorias em Psicanálise - Acabo de xingar psicanalistas e agora peço por mais Psicanálise? Qual é! Pode parecer contraditório, mas não considero esta linha tão aversiva assim. O que me enche o saco lá no Instituto é que só estudamos a Escola Francesa e os textos pré-históricos do Freud. Quem sabe ver algumas coisas diferentes não tornasse o departamento de psicanálise menos dogmático? Seriam eletivas

Psiquiatria - A Famed (Faculdade de Medicina) fica a no máximo 500 metros do nosso instituto, e mesmo assim não temos nenhuma aula com psiquiátras ou sobre psiquiatria. Isso já é uma idiotice por si só, se considerarmos que, junto com eles, dividimos a tarefa da psicoterapia, mais ainda se levarmos em conta que grande parte dos autores que lemos em psicoterapia são psiquiátras.

Teorias de Discípulos Rebeldes do Freud - Quem sabe não tenha algo de interessante na Psicologia Individual do Adler ou na Psicologia Analítica do Jung? Eletivas dedicadas a cada uma dessas teorias enriqueceria nosso currículo.

Mais Filosofia - A Psicologia está intimamente ligada com a Filosofia, e só temos três disciplinas filosóficas (Filosofia e Psicologia, História da Psicologia e Pesquisa em Psicologia). Umas eletivas a mais vinham a calhar.

Mais tempo de biblioteca - Por que eu quero pesquisar sobre outros assuntos, pô!

Mais tempo de DAP - Por que não gostamos de matar aula para ficar coçando no DAP. Seria bom não ter aquela sensação de quase culpa quando saio da aula e vou me jogar no bom e velho sofá azul.

E o que poderia ter menos:

Freud - Os motivos do Lobo são bons, mas tenho outros argumentos. Enquanto Freud é provavelmente o autor mais influente na história da Psicologia e da Psiquiatria, ele está ultrapassado em muitos aspectos. Não é necessário estudar tanto a obra do cara.

Lacan - Pelos mesmos motivos do Lobo e mais alguns, que prefiro não mencionar.

Guattarices - Guattari é um dos autores preferidos do Departamento de psicologia social e um dos mais enrolados e prolixos. É a perfeita imagem da Psicologia Social no Brasil: enroladora, alienada e descomprometida com a questão social verdadeira. Chega desse cara na faculdade, por favor, ou me mostrem um livro bom dele (eu espero sentado).

Menos tempo de aula - Por que eu quero pesquisar sobre outros assuntos, pô!(2) E porque eu quero mais tempo para treinar.

Bem, acho que era isso. Para os que acharam esta lista tendenciosa, por acaso vocês achavam que eu ia lamber o saco do Guattari*?

*Sim, eu iria. Quero fazer uma eletiva de Esquizoanálise não sei porque.