sexta-feira, 30 de maio de 2008

As Provações da Faculdade XX

Continuo na peleia de fazer o relatório de Processos Grupais. Não me sinto mais intelectualmente desonesto por usar os autores que o professor quer - encaro isso com um treino, que estou exercitando meu intelecto ao utilizá-los como lente teórica para enxergar o mundo. Além do mais, eles não são tão ruins assim. Entretanto, sinto que gasto pólvora em chimango quando cito autores que eu gosto: Maslow e Frankl até o momento, talvez Rogers nesse relatório. Baseado nas teorias destes autores, desenvolvi uma hipótese que considero muito interessante sobre o funcionamento do grupo, e ela tem se sustentado e sido corroborada ao longo das reuniões e relatórios. Sabe o que a monitora que corrige meus relatórios disse sobre essa hipótese? Quase nada. Para não ser injusto e mentiroso, no terceiro relatório, ela me perguntou por que o grupo se comporta desta maneira, mas foi só isso. Aquela história de que somos incentivados a buscar outros autores é pura balela. Continuo usando esses caras para fazer os relatórios, até por que abandonar mnha hipótese central no quarto relatório de um total de cinco seria contraproducente. Mas, sei lá, fico com a impressão de que eu poderia atribuir uma citação existencialista à Skinner, ou o inverso, que nem a monitora, nem o professor notariam problema algum. Isso não chega a ser tão decepcionante, mas é triste pensar que as melhores idéias que tive foram deixadas de lado.

As Provações da Faculdade XIX

Se não fosse a água batendo na bunda e meu inabalável desejo de passar na cadeira de Processos Grupais I ainda neste semestre, eu já estaria na cama.

As Provações da Faculdade XVIII

É transcrever meu relato e pumba na cama.

Layout

Não estou muito satisfeito com o layout do blog. Não sei se isso é coisa do meu PC ou do Blogger em si, mas acho que o espaço de tela está sendo subutilizado, e apesar de estar satisfeito com os serviços prestados por este servidor, estou pensando em mudar para outro por causa dessas questões estéticas. Andei olhando outros blogs por aí, e gostei muito do estilo da Wordpress, que é simples, bonito e funcional. Quanto ao último adjetivo não posso dizer com certeza, mas é o que aparenta o layout. Não sei se o mesmo se aplica para a “administração” do blog, mas, de novo, as inferências a mim possíveis mostram que também nisso a Wordpress é melhor e mais flexível que o Blogger.

Mas, se eu for realmente mudar para a Wordpress, eu vou passar por um bocado de trabalho. Primeiro, por que eu tenho que criar um blog novo. OK, até aí nada de mais, por que qualquer camundongo que saiba pressionar barrinhas consegue fazer isso. Mas eu não iria simplesmente criar um blog novo e afundar o velho com todos os textos que escrevi até agora. Por orgulho, síndrome de esquilo ou desejo de manter meu legado intacto para as gerações futuras, eu me obrigaria a transladar todos os artigos. E isso, meus amigos, daria um trabalho imenso. Quando criei esse blog aqui, selecionei os melhores posts que escrevi para o R&A, copiei e colei para cá, ajustei a data e publiquei. Tudo no braço. Com o perdão da palavra, aquela foi uma transferência de merda por que deu trabalho pra dedéu. Se eu soubesse alguma coisa de programação, seria barbada. Mas acontece que eu não sei nada desse negócio. E até eu aprender, daria para transferir tudo no braço. O que, como já disse, daria trabalho demais pra valer a pena. Eu poderia também simplesmente mudar o layout do Blogger mesmo, mas não me lembro de ter visto nenhum outro tão legal quanto os da Wordpress. Faz tempo, admito, desde a última vez que dei uma olhada nos skins de página do Blogger; eles podem ter colocado alguns novos, ou talvez eu goste de um que não tinha nem sequer dado atenção no passado.

Vou ponderando a respeito enquanto isso. Como o pessoal que lê esse trumbisco começou a comentar um pouquinho, vou me atrever a pedir uns conselhos a respeito dessa idéia minha. Como exemplos de blogs na Wordpress, tem o do Marcelo, o Transmitindo Pensamentos, o Cognitive Therapy Today e o Generacion Y. Do Blogger, tem o Amoladores de Facas, o Vanguarda Filosófica, o Blog do Alon e o próprio Roqueiro & Alcoólatra. Tem outros por aí, mas não conheço tantos blogs assim para ficar colocando todos os exemplos. Em todo caso, eles sempre seguem um “esquemão” básico, igual para todos os blogs do servidor. Baseado nesses links (e em qualquer outra coisa que lhes der na telha) me dêem um conselho legal. Ou não. Não sou mais tão neurótico por causa de blogs como antigamente.

As Provações da Faculdade XVII

Depois de breves e felizes momentos de elevação, volto a pousar meus pés sobre a terra, e ponho-me novamente a escrever os difamados relatórios de Processos Grupais I.

Minha Individuação

Escrevi o post anterior baseado em uma intuição que tive. Como toda intuição, ela é extremamente íntima, e está profundamente ligada à meu ser e minha existência, e sentir ser tão importante escrever sobre ela que deixei de lado até mesmo os trabalhos mais urgentes para a faculdade. Há algum tempo, venho tendo algo que poderia chamar de “visão”. Nela, vejo a mim mesmo escalando um paredão de pedra, pendurado apenas por um braço, parado. Não fazia movimento algum em direção ao topo, apesar de olhar fixamente para o alto. Contudo, recentemente vi o que seria a continuação desta visão, e nela, encontro-me no alto de uma montanha rochosa, olhando para baixo, empunhando uma espada.

Não faz muito tempo, sonhei que o destino do mundo pesava sobre meus ombros, e que precisava sair em jornada para cumprir com minha missão imediatamente, mas protelava minha saída, pois havia uma pessoa a quem desejava beijar uma última vez. As lembranças deste sonho agora estão confusos, e lembro-me apenas de sua mensagem global, tendo os detalhes desaparecido quase que por completo. Porém, de todas as interpretações que posso fazer a respeito desta pessoa de quem desejo despedir-me, seja ela real ou uma alegoria para minha vida atual, o significado do sonho é claro: preciso iniciar a jornada de minha vida. Sinto este chamado já faz algum tempo, mas hoje esta mensagem tornou-se tão clara que ainda agora sinto meu corpo tremer. É hora. Como meu primeiro passo nesta senda, procurarei terapia, de linha Analítica ou Existencial. Tenho estas duas linhas em mente por acreditar que, devido à seu enfoque no desenvolvimento humano superior, possa me beneficiar mais de sua ajuda. O resto do caminho ainda está por decidir.

O Desenvolvimento Humano Superior

Na imaginação popular, o psicólogo é aquele profissional para quem se encaminham os loucos – pessoas desequilibradas em geral – para que ele dê um jeito neles e os faça “normais” novamente. Apesar de historicamente esta função pertencer mais aos psiquiatras do que aos psicólogos, não deixa de ser verdadeiro que, na grande maioria dos casos, as pessoas procuram psicoterapia para se curarem. As Terapias Cognitivo-Comportamentais são consideradas o padrão ouro de terapia justamente por serem as mais eficazes em modificar comportamentos, explícitos ou encobertos, disfuncionais e indesejáveis, e quase todas as técnicas em desenvolvimento tem isto por objetivo. Entretanto, apesar de em muitos casos ser necessário mudar atitudes nocivas, frequentemente esquecemos que este tipo de cura é apenas uma fração da missão da Psicologia, da Psiquiatria, da Filosofia e até mesmo das demais Ciências Humanas e Sociais.

Todos os teóricos da saúde mental que foram capazes de perceber isto compreenderam que a vida do homem (1) é mais do que um processo homeostático, de meramente retornar à um estado saudável depois de uma doença e assim permanecer até a próxima enfermidade, ou de um eterno adaptar-se as condições ambientais. De fato, como puderam constatar, há uma busca por algo além da não-doença, uma busca pela saúde verdadeira. O psicólogo que melhor definiu isto foi Abraham Maslow, com sua Hierarquia de Necessidades. Segundo ele, existem dois tipos distintos de necessidades: as necessidades de deficiência, e as necessidades de crescimento. As necessidades de deficiência são fisiológicas, como fome e sede; de segurança, como precisar de uma casa ou um bom emprego; de amor, como relacionamentos amorosos estáveis; e de estima, ou o reconhecimento de nossas habilidades, pelos outros e por nós mesmos. Este tipo de necessidade caracteriza-se por causar desconforto em nós quando não são supridas, levando-nos a agir de maneira tal que as satisfaçamos, diminuamos a sensação desconfortável e voltemos a um estado psicofísico ótimo. Quando temos fome, procuramos comida, comemos e nos saciamos. O melhor exemplo disto são os fumantes (2), que relatam sentir grande alívio quando fumam depois de um longo tempo em abstinência (3). No outro lado da moeda, as necessidades de crescimento ou de auto-atualização são bem diversas. Primeiro, para que possamos sentir este tipo de necessidade, precisamos que todas as outras necessidades de deficiência estejam pelo menos parcialmente satisfeitas (4). Segundo, elas não podem nunca ser saciadas. Quanto leio e aprendo sobre Psicologia, mais desejo ler e aprender. O céu é o limite. Terceiro, estas necessidades são tão únicas e diversas quanto existem pessoas no mundo. Os alpinistas são o melhor exemplo desta tendência auto-atualizante (5), pois escalam as montanhas por que “elas estão lá”, apesar de serem compreendidos apenas por aqueles que padecem desta mesma necessidade de ir sempre para o alto e avante.

Além disso, se não satisfeitas, o desconforto que estas necessidades nos causam é muito diferente. É extremamente sutil, se comparado com o sono ou a libido, porém é mais profundo e doloroso: é saber que não somos o que deveríamos ser. A este conjunto de sentimentos, Maslow chamou de metapatologias, doenças além das doenças ordinárias, mas já fora chamado pelos teólogos de acídia, e pelos filósofos de vazio existencial. Ao contrário de Maslow, porém, tanto os teólogos quanto os filósofos classificaram este estado não só como doentio, mas como um crime contra si mesmo, e em última análise, contra toda a humanidade.

Quando procuramos um psicoterapeuta para tratarmos de algum transtorno de comportamento que exibimos, buscamos suprir uma necessidade de deficiência, pois sentimos um desconforto e buscamos aliviá-lo. Porém, tanto os leigos quanto muitos iniciados (6) em Psicologia esquecem que as necessidades de deficiência não são o motor de nossa vida, e que mesmo as doenças mais severas estão subordinadas à nossa busca pelas necessidades de crescimento.

Muitos pesquisadores em seus artigos e livros tratam do desenvolvimento humano, mas o maior esforço neste campo volta-se para o desenvolvimento infantil, como o fazem Piaget e Freud. Apesar de considerar esta etapa do crescimento importante, não me interesso muito por ela. Afinal de contas, todos os adultos já foram crianças um dia, e passaram pelos mesmos processos. Mas não são todos os adultos que atingem níveis superiores de crescimento, apesar de todos sermos programados e preparados para isto. Piaget postula em sua Teoria do Desenvolvimento Cognitivo quatro estágios: Sensório-Motor; Pré-Operatório; Operatório Concreto e Operatório Formal. Cada etapa ocorre em algumas idades médias (7), e nelas se adquirem habilidades condizentes. No estágio Operatório Formal, que começa por volta dos 12 anos de idade, adquire-se a capacidade de pensamento lógico abstrato, independente de objetos concretos, e sua evolução ocorre ao longo da adolescência e da idade adulta. Entretanto, apenas metade da população atinge este estágio. Mais do que isso, é razoável supor que em algum momento esta habilidade chegue a um nível máximo, em que não há mais possibilidade de progresso. Mas seria razoável acreditar que o estágio Operatório Formal é o último a ser alcançado? Não, tanto que mesmo alguns alunos de Piaget formularam hipóteses sobre estágios de desenvolvimento e habilidades cognitivas da fase adulta em diante, apesar de não terem chegado a nenhuma idéia nova ou consenso.

Outros teóricos abordaram a dinâmica do progresso pessoal em idades mais avançadas, como a teoria da moral de Kohlberg, e a teoria psicossocial de Erikson, que vai até a chamada terceira idade. Apesar de contribuírem enormemente para a compreensão destas fases, falta algo nestas abordagens. Curiosamente, tanto Kohlberg quanto Erikson especularam também sobre a possibilidade de adicionarem mais um estágio cada à suas teorias. Pessoalmente, acho que o que falta nas duas é abordar o desenvolvimento de seres humanos que excedem em larga margem os limites médios de desenvolvimento pessoal. Em outras palavras, falta estudar o desenvolvimento de pessoas extraordinárias. Apesar de ter sido aparentemente esquecida em tempos recentes, esta área chama a atenção de estudiosos desde tempos muitos antigos. Todas as religiões do mundo têm um modelo de ser humano ideal. Destes, o modelo budista descrito na obra clássica Abhidhamma, o Arahat, é o mais amplamente formulado, sendo sua influência sentida até hoje.

Dos teóricos mais recentes, vários se propuseram a estudar o comportamento e evolução humanos em seus aspectos mais nobres (pelo menos em minha modesta opinião), e focaram-se nas etapas mais avançadas do crescimento. Entre estes autores, cito Rogers, Adler, o próprio Maslow e Jung. Provavelmente há outros, que tenham talvez ido além destes que enumero, mas falo do que conheço. Porém, deste pouco que conheço, quero fazer algumas colocações. Todos estes autores postularam a existência de um processo único a cada ser humano de ir de um nível inferior de complexidade para outro superior, de aprimoramento pessoal e elevação. Adler chamou este processo de luta pela superioridade, Rogers de auto-realização, Maslow de auto-atualização e Jung de individuação (8). Tanto Adler quanto Rogers afirmam que há uma força presente em todos os seres vivos, que os impulsiona para um eterno crescer e tornar-se mais forte. Jung e Maslow, no entanto, em suas teorias afirmam que esta força, apesar de realmente presente em todos os seres humanos, manifesta seu pleno poder em apenas alguns poucos, e que o processo pelo qual ela aparece pode ser comparado com a iluminação espiritual que a maioria das religiões busca.

Apesar dos diferentes nomes e das variações descritivas, todos abordam um mesmo processo, onde um ser humano paulatinamente sai de um nível de consciência limitado, expande-a, torna-se menos centrado em si e mais voltado para o seu ambiente, mais equilibrado, sincero, verdadeiro, criativo e funcional, abandonando pouco a pouco apegos antigos e desnecessários, e tornando-se um indivíduo pleno, único e indivisível, ao mesmo tempo em que uno com o universo. Pessoalmente, acredito que tamanha convergência teórica é prova de que há algo além do estágio que a grande maioria das pessoas se encontra atualmente. Pelas minhas poucas leituras, posso dizer que Maslow e Jung são os que melhor descrevem este processo: o primeiro define os traços de personalidade de um ser individuante, enquanto que o segundo explica o processo em si (9). Em um post futuro, pretendo falar mais a respeito de como as teorias dos dois abordam este assunto e se complementam.

Antes de terminar este texto, gostaria de falar por que acho tão importante estudar o Desenvolvimento Humano Superior. Por muito tempo, a Psicologia ocidental acadêmica buscou compreender o ser humano estudando apenas pessoas doentes, no máximo medianas. Esta postura, apesar de ter permitido grandes progressos na área da psicopatologia e através dela termos conseguido até mesmo curar certos transtornos, é nociva para a humanidade ao longo prazo, por evidenciar o que há de pior em nós como sendo nossa essência mais profunda, e não apenas uma parte dela. Isto desencorajou muitas pessoas de seguirem um caminho mais elevado, simplesmente por fazê-las acreditar que somos intrinsecamente maldosos e cruéis, e que não importa o que façamos, não mudaremos isto, pois mesmo nossos sentimentos mais positivos não passam de mera sublimação de nossa podridão interna. Isto não pode ser verdade. Baseado em tudo que vivi até agora, digo que podemos ser o que quisermos ser, mesmo que dentro de nossos limites. O ambiente nos põe à prova, e nós precisamos responder à altura, e decidir se sucumbiremos ante o que há de pior em nós, ou se buscaremos o bem maior. Moralmente, podemos ser tanto doentes quanto saudáveis, e em grande parte, esta decisão cabe exclusivamente a nós próprios. Entretanto, podemos ajudar os demais a escolher o bem e a virtude, compreendendo, explicando e até mesmo controlando (10) melhor como fazemos para crescer e nos desenvolver nesta direção. Esta é a missão da Psicologia, e minha própria.







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1. Perdoem o machismo, mas neste caso, não acho que um termo assexuado teria sonoridade tão boa quanto “homem”.

2. Maslow não inclui vícios em sua hierarquia, justamente por serem negativos e trazerem prejuízos ao adito. Entretanto, acredito que podemos colocar a adição no nível fisiológico das necessidades, por isso sua grande influência no comportamento humano.

3. Para uma melhor e mais detalhada explicação de como o vício em nicotina age no corpo, leia este artigo. Não é a visão dominante em ciência atualmente, mas é uma teoria promissora.

4. Considero este ponto um tanto quanto controverso, já que muitos prisioneiros de campos de concentração e outros em situações-limite manifestaram tendências auto-atualizantes durante seu período de cárcere.

5. Devo admitir que isto é apenas uma metáfora, já que muitos alpinistas podem ser bem desequilibrados mentalmente, e escalar montanhas por necessidades inferiores.

6. Por iniciados, quero dizer pessoas que entendem mais do assunto, como psicólogos, psiquiatras e demais especialistas em comportamento humano, como neurocientistas e romancistas, e não pessoas que se crêem superiores por terem estudado algo que disseram ser segredo.

7. As etapas e as idades não necessariamente coincidem, pois cada criança desenvolve-se em seu próprio tempo.

8. Já falei do processo de individuação anteriormente, mas de forma breve e superficial, já que o assunto do texto era outro. Clique aqui para ler mais.

9. A Psicologia Positiva fez uma grande contribuição para este campo de pesquisa com a publicação do livro “Character Strengths and Virtues: A Handbook and Classification”, que foi escrito para ser como uma tabela periódica das virtudes e forças pessoais, ou um DSM da saúde mental.

10. Por “controle”, quero dizer manipular o ambiente de forma tal que torne-se mais propício para o processo de individuação. Como Skinner, uso este termo por seu significado ser preciso e direto. O controle pode se dar de várias maneiras, inclusive falando diretamente com a pessoa envolvida. Forçar alguém a individuar-se seria não só contraproducente como contraditório, pois cada pessoa cresce em seu próprio tempo e em sua própria maneira. Ir contra este tempo e esta maneira seria ir contra a própria individuação.