segunda-feira, 30 de junho de 2008

Aloprando em Curitiba

AVISO: Este post é grande, e não é grande coisa. Só postei por descargo de consciência. Você pode muito bem viver feliz e satisfeito se não lê-lo. Não sei se dá pra dizer o mesmo do contrário.

Este post estava arquivado na pasta de rascunhos do blog faz um bom tempo (desde oito de fevereiro). Basicamente, eu copiei e colei juntos os posts que fiz sobre o XX ENEP para o Roqueiro & Alcoólatra. Nunca cheguei a terminar a série "Aloprando em Curitiba" por vários motivos, o mais importante deles a falta de motivação. Vocês sabem, eu gosto de escrever, e escrever bastante, mas na época o Huginn inventou uma frescura que "post tem que ser curto", e encheu meu saco para escrever em doses homeopáticas. Cheguei a fazer isto, mas o tempo que levava para escrever e os intervalos entre um post e outro simplesmente dobraram. E lá se ia minha memória enquanto isso...

Como o XXI ENEP está chegando, achei que seria uma boa hora de completar o texto, da forma mais porca que seja, para contextualizar algumas coisas que possivelmente direi num novo post sobre o ENEP. Não há nada de muito novo aqui - ampliei o último parágrafo com algumas informações. Foi mal feito, e admito que isto é injusto com o assunto que abordei. Escrevi também a parte "Dia IV, V e VI", sobre os últimos dois dias em Curitiba e a viagem de volta. Vai ser bem mais sintético que os outros, e com muito menos detalhes. Acho que outro motivo para eu não ter terminado esta série foi a falta de naturalidade com que escrevi estes posts - tentei escrever sobre todas as moscas que passaram na minha frente, e talvez tenha deixado coisas mais simples e subjetivas de fora. Não sei. Enjoy.

Dia 0
Pessoal, voltei ontem de Curitiba, onde estava acontecendo o XX ENEP - Encontro Nacional dos Estudantes de Psicologia. Foi uma semana como a do vestibular: cheia de pretextos sérios para fazer festa. Por isso, e por não postar com a freqüencia que costumava (ou desejava), escreverei uma nova série de posts sobre minhas aloprações na capital paranaense ao longo dessa semana.


Aguardem,
Beijomeliga.



Dia I: A Viagem (de ônibus) de Ida
ENEP: Encontro Nacional dos Estudantes de Psicologia. Muito ouvi os bisavóteranos (veteranos dos veteranos dos nossos veteranos) falarem desse encontro. Tanto ouvi que decidi ir também.

O encontro originalmente duraria 7 dias, comeriamos no RU e ficariamos alojados em salas da Universidade Federal do Paraná, a UFPR, universidade que não tem uma pronúncia tão divertida quanto o URGS da UFRGS , mas é bem bacana também. Eu disse que "originalmente" seriam 7 dias, certo? Pois bem, não foi sem motivo, pois por causa da greve dos funcionários da universidade e pela falta de planejamento dos psicos da UFPR (que apoiam a greve), perdemos o rango e teríamos que ficar alojados em algum outro lugar em Curitiba. Para coroar tudo isso, o encontro acabou encurtando para 5 dias. Apesar dos pesares, ninguém desistiu por causa disso (já por outros motivos... bem, não vale a pena comentar).

O credenciamento no evento seria terça-feira de manhã, e como a viagem até lá dura mais ou menos 12 horas, sairíamos de Porto Alegre, da frente do nosso amado Instituto de Psicologia, na segunda-feira de noite, para chegar lá pelas 8 da manhã. No nosso ônibus, além do pessoal da UFRGS, iriam 3 pessoas da PUCRS, 2 da Unisinos e uma guerreira da Universidade de Passo Fundo (UPF).

Viagem de ônibus de ida é sempre uma farra. Ninguém dorme: todo mundo fica cantando, gritando ou falando merda quase que o tempo inteiro. Sem falar que compraram 3 garrafões de vinho para a ida. Não preciso dizer que os buracos da estrada e o porre da gurizada contribuíram para que as poltronas fossem tingidas de roxo. Fiquei bastante tempo conversando também, mas como ninguém é de ferro, dormi também. Incrível como ouvir música, qualquer uma, qualquer tipo, tem um efeito sonífero nessas horas. Eu não queria dormir, mas acabava de qualquer jeito, só para acordar meia hora mais tarde e ver que já tinham se passado 20 faixas. O único acontecimento digno de nota, além do fato que eu não me manchei de vinho barato (lembrem-se crianças, quanto mais vagabundo o vinho mais fodida é a mancha na camisa do bebum), foi nossa parada para lanchar em Torres. O paradouro estava cheio de uruguaios, e era um espetáculo interessante ver meu colega Gabriel xingando o futebol deles em um portunhol pra lá de gaiato.

Chegamos um pouco antes do que o previsto em Curitiba, e descobrimos onde os eventos ocorreriam. Era num colégio municipal na periferia da cidade, o Cecília Meirelles. Entrei na fila (por que não podia faltar uma fila num evento desses) e fiquei conversando com uma guria da Universidade Federal de Goiás, que não vi mais depois disso. No cadastro, colocaram uma pulseirinha amarela no meu pulso, para identificação e permitir que eu entrasse nos alojamentos e festas sem muitas complicações. Estava escrito na pulseirinha o de praxe "ENEP Curitiba PR". OK, normal. O que me preocupou foi que vinha escrito depois "grita LUXO!!!". A primeira coisa que pensei foi "Isso deve ser o que a gente deve gritar quando ver nosso alojamento". Dito e feito. Ficamos no colégio Algacyr Maeder, o mais ginete de todos. Tão ginete que ficou conhecido com "Aljazira" (eu sei, a Al Jazeera é a TV, e a Al Quaeda é a rede terrorista, mas para fins humorísticos dá tudo na mesma). Lá, quem mandou foi Murphy e sua lei, pois tudo que poderia ter dado errado deu errado, e da pior forma possível.

A primeira coisa que deu errado foi a comida. A organização do evento tinha feito uma parceria com um restaurante que mandaria quentinhas para a sede dos eventos, e para que pudessemos nos deliciar com suas iguarias, tinhamos que comprar tickets de café da manhã, almoço e janta. Tudo à preço de custo. Como nos falaram que não havia nenhum restaurante, bar, bodega ou buraco pra gente comer torrada (misto quente, perdão), nos obrigamos a comprar os tais tickets, para quarta, sexta e sábado (um churrascão tinha sido programado para quinta-feira). Lograr o pessoal da organização era uma barbada. Aliás, não era necessário nem se esforçar, por que todo mundo da excursão de Porto Alegre que comprou os benditos tickets ganhou vááários a mais. Devolvemos o que não pagamos, claro, mas já ali dava pra prever que a coisa não daria certo.

Fomos para o alojamento. Pegamos uma sala de aula que, apesar de meio isolada, era bem confortável, pelo menos para nossos padrões chinelões. O problema é que ela estava cheia de cadeiras e mesas, que comiam metade do nosso espaço útil. Como aparecia gente de tudo que era lugar para dormir ali no Algacyr, precisavamos fabricar espaço. Empilhamos as porcarias no corredor. Ficou uma obra de arte, digna de Picasso, tão linda que me obriguei a tirar uma foto daquela montanha de pau e ferro. Agora, fico pensando nos funcionários daquela escola, que vão ter que desempilhar e colocar tudo no lugar. Fico com pena. Mas na hora eu só me preocupava como e onde eu dormiria. Dessa vez não fui tapado como no último encontro que fui (levei uma coberta. E só), e trazia comigo meu saco de dormir, o isolante térmico e um colchonete pra não ficar no chão duro. Também tinha uma barraca iglu, mas o espaço era pouco e não precisava montar nada.

Depois que estava tudo organizado (amontoado na sala), começamos a sonhar com comida. E para variar, tinha um restaurante ali perto, o Tempero Verde. Bifê livre, com direito a uma carne e suco liberado, tudo por 5 pila. Pensando logicamente, se havia um restaurante barato assim por perto, com certeza encontrariamos outros, o que significa que não precisavamos ter comprado tantos tickets com a organização do evento. Se não foi traição, foi burrada da organização, que nem ao menos se dignou em procurar lugares próximos para rangar. Posso dizer que os estabelecimentos próximos do evento num raio de 2 km tiveram muito lucro com a gente, especialmente se vendessem cerveja.

Para ir de um alojamento ao outro, não podiamos contar com nosso ônibus, pois o translado não estava incluído no pacote: era pegar busão de linha ou ir a pé até o Aljazira. Como eu não nego a minha criação na Gringolândia, sempre que possível ia de expresso canelinha, mas a primeira vez que me desloquei do alojamento até a sede me dispus a pagar R$ 1,90 de passagem. Aproveitando para conhecer o local também, comprei uma latinha de Nestea de tangerina, sabor que nunca vi, nem em Caxias, nem em Porto Alegre.

Ocorreria à noite uma plenária inicial, que determinaria algumas regras, como o regimento interno de todas as plenárias que ocorreriam durante o encontro, e, a parte mais importante, quantos eventos os participantes teriam que participar para terem direito de votar nas plenárias e ganhar o certificado de participação. Depois desta plenária, ocorreria a mesa-redonda inaugural, e, pra finalizar, um luau no Algacyr. A bebida era por conta de cada um, inclusive os "litros de sensualidade" (teve gente que realmente esbanjou os seus litros, mas isso não vem ao caso no momento). Um pouco antes de entrarmos para a tal plenária, descobrimos que a naba dos tickets era ainda maior do que poderíamos imaginar. Como eles eram feitos de forma bem... digamos, artesanal (xerocado e cortado com tesoura), era muito fácil fazer algumas versões piratas. E um grupo de malandros fez isso, e tirou xerox de várias páginas de tickets. O único anteparo de segurança que os caras da UFPR tinham pensado, um carimbo atrás de cada ticket, se provou inútil, pois pegaram o carimbo emprestado. Então, como forma de conter o prejuízo, (des)organizaram uma lista com os nomes de quem havia pago suas refeições. Claro, isso não impediria os falsificadores de aparecerem com a maior cara-de-pau do mundo e colocarem seus nomes na lista, mas pelo menos o problema de pirataria estava resolvido.

A plenária foi uma gigantesca piada. Só consigo achar graça daquele negócio mal ajambrado. Qualquer um poderia entrar a qualquer hora e votar, mesmo sem ter ouvido todas as propostas na íntegra, ou mesmo sem ter ouvido porra nenhuma. Por causa disso, aprovaram, por contraste visual, que não era necessário participar de nenhum evento do encontro para ganhar o certificado. Como alguém disse de arreganho depois, era ganhar um certificado de 50 horas de festa. Levando-se em conta que, nos currículos mais recentes dos cursos de graduação em Psicologia do Brasil, atividades extracurriculares como congressos, encontros e cursos valem como créditos complementares, foi um baita presente para os vagabundos de plantão. Outra parte engraçada foram as gurias que sentaram atrás de nós na tenda onde a plenária estava ocorrendo. O jeito como elas falavam ("Democracia demais sempre dá em merda, meu querido!"), se vestiam e gesticulavam simplesmente gritavam "PATRICINHA NO PEDAÇO!" O Marcelo, meu veterano, me cutucou e falou "Aposta quanto que elas são de uma particular?". Bem, elas eram da Universidade Federal de Santa Maria. Foi um belo chute, em todo caso. Lá pelas 7 horas, foi posto em votação se a plenária deveria ser interrompida para a janta ou se deveriamos seguir adiante com ela. Transcrevo, da maneira mais exata possível, a votação:

Mesa - Quem é a favor de que a plenária seja interrompida por 30 minutos para janta

*Poucos levantam o braço*

Mesa - Quem é a favor de que a plenária siga sem interrupções?

*Grande maioria levanta o braço*

Mesa - A plenária seguirá sem interrupções. Porém, a mesa está com dificuldades técnicas e pede um intervalo de 30 minutos para resolvê-los.

Quem precisa de humoristas com gente assim por perto? Fomos jantar mesmo, e como a organização não nos garantia alimentação no primeiro dia, tinhamos que nos virar na janta também. Descobrimos outro barzinho, perto do Cecília Meirelles (a sede, lembram?), o Alecrim, mas conhecido como Bar do Alemão. O xis dele é bem gostoso, e vale os três reais investidos, apesar do tamanho diminuto para os padrões caxienses. Aprovei o suco que ele faz lá também.

Depois do final da plenária, ocorreu, com atraso, a mesa-redonda de abertura. Para variar, cheguei atrasado. Mas não faz muita diferença, por que não lembro de quase nada do que o convidado falou. Só lembro que ele a-d-o-r-a Michel Foucalt. Não é uma grife de roupas, mas um escritor francês. No fim das contas dá no mesmo.

A plenária terminou meio que aos pontapés, já que a escola tinha que fechar às 22:30. Antes de sairmos em direção ao Algacyr para chegar a tempo no luau, demos uma espiada nos eventos do dia seguinte, e, para nossa felicidade, descobrimos que nossa heroína maior, Suely Rolnik, iria participar de uma mesa-redonda. Foi uma hemorragia de prazer descobrir isso.

Fomos a pé mesmo. Junto com nós da UFRGS, havia todo um pessoal de outras universidades que iria para o luau. Eles foram direto para o alojamento, enquanto nós ficamos dando voltas pelo bairro, procurando botecos abertos e clamando "Cerveja! Cerveja! Cerveja!". Encontramos uma padaria aberta. Aproveitei e comprei uma torta e (mais) um suco. De lá, fomos para um outro bareco, que vendia vinho e cerveja. Lá, ficamos assistindo os vídeos do acidente da TAM, que havia recém acontecido.

Demoramos bastante para chegarmos no alojamento. Não que estivessemos perdidos (perdido em fico em Porto Alegre sozinho, não em Curitiba junto de uma galera), mas iamos parando de bar em bar, procurando por bebida. Chegando no Aljazira, já dava para ver que o luau estava foda. Não tinhamos dado 10 passos dentro da escola e já tinha um japa chamando o hugo no gramadinho, e logo atrás dele, um bando de marmanjos gritando "Eu quero passar mal!". Devem ter enchido a cara com Keep Cooler e Smirnoff Ice as moças, mas enfim! Fomos para nosso quarto, onde uma animada roda de violão acontecia. Eu estava meio cansado, e queria me deitar. O Chico perguntou se eu não queria me deitar no colchão dele, pois ele iria dar uma saída. O Chico é um cara injustiçado: dizem que ele é chato, mas no fim ele é um paizão. Bem, eu tinha meu próprio colchonete, recusei e agradeci. Pois é, este foi um dos meus atos que mais influenciou o rumo das coisas.

Lembram que eu falei que algumas pessoas esbanjaram seus litros de sensualidade? Pois é, alguns minutos depois do Chico ter saído, um casal indistindo, na maior agarração, aparece na sala, e se joga em uma cama localizada no canto. É gente, era a cama do Chico. Todos ficaram olhando aquela cena, sem entender muito além de que era uma baita putaria. De repente, alguém puxa uma musiquinha "Chico, cadê você? Estão transando, na sua cama". Foi o delírio da torcida. Cada vez aparecia mais gente para cantar junto, até que o Chico, invocado, aparece e arranca as cobertas que cobriam os pombinhos (bêbados, por sinal). Fico pensando agora: se eu tivesse me deitado na cama do Chico, teriam transado na minha cama? Ou em cima de mim mesmo? Nunca saberemos, e isso é muito bom.

Ainda essa semana posto o Dia II, mas acho que vai demorar mais do que este post pra sair (a memória não colabora).



Dia II: O Começo pra Valer
Depois da tempestade, vem a calmaria. Depois de toda festa, vem a porquice. Não precisem nem ao menos sair do saco de dormir para descobrir que o resto do alojamento estava uma imundície perfeita. Mas tive o prazer de ver a merda com meus próprios olhos, pois precisava tomar tirar água do joelho e tomar banho. Fui para o banheiro masculino. Olhei para o mictório, cheio de mijo até a boca, e pensei: já sou grande, posso segurar até achar um banheiro limpo. Tinha medo de transbordar no meu pé. Dei uma conferida nos chuveiros. O chão estava coberto com uma camada (que espero ser) de barro. Não queria arriscar pegar gonorréia ou coisa parecida pelos pés, e resolvi procurar outro lugar para tomar banho. Havia o infame banheiro unissex, no mesmo corredor de nossa sala. A pia de lá estava toda vomitada, mas era um lugar bem mais agradável para se tomar banho porque, afinal, era possível sair limpo de lá. Estava deveras preocupado com a minha pulseirinha amarela "Grita LUXO!!!", pois ela era de papel, e era a única coisa que me permitia entrar e sair do alojamento e dos eventos do encontro sem problema algum. E não dava para passar 5 dias sem banho só por causa da pulseirinha. Mas ela agüentou, até mais do que eu (FATO: as pulseirinhas só cairam do meu pulso dia 1 de agosto, depois de eu ter passado a faca nelas).

Uma ducha depois, já estava pronto para o começo oficial das atividades do encontro. Havia muitas modalidades de eventos. De manhã, ocorreriam apenas as mesas-redondas, que contavam com algum convidado (mais ou menos) ilustre, que faria uma breve palestra, e depois responderia à algumas perguntas. De tarde ocorreriam os GDV's - Grupos de Discussão e Vivência - onde ocorreriam debates sobre questões relativas à psicologia no Brasil, como reforma curricular, os NV's - Núcleos de Vivência - que seriam mais voltados para a prática de alguma atividade, seguida de um debate, e as oficinas, que seriam atividades mais lúdicas, como Tai Chi Chuan e Massoterapia. À noite, ocorreriam os ELO's - Espaços de Livre Organização - que eram organizados espontaneamente, por qualquer participante do encontro, para discutir qualquer assunto de interesse. Pessoalmente, considero os ELOs a parte mais legal do ENEP, por permitirem uma flexibilidade muito grande para os estudantes se articularem.

Chegando no Cecília, fui pegar meu café da manhã: maçã, suco de caixinha e um sanduíche. Basicamente, o que como em casa de manhã. Bom o bastante, mas restava saber se o almoço valeria o seu preço.

Para tristeza minha e do Daniel, Suely Rolnik não apareceu para sua mesa-redonda, por causa dos problemas que ocorriam no aeroporto de Congonhas. O jeito foi improvisar e procurar outra mesa-redonda que fosse tão interessante quanto a dela. Entrei na mesma que alguns colegas meus entraram, sobre o ensino de Psicologia no Brasil. Empolgante como corrida de lesma. Tanto eu quanto meus colegas aguentamos bravamente 5 minutos daquela conversa, antes de sair da sala e voltar a viver. Depois de 30 segundos para recuperar a atividade cerebral, fomos para outra mesa-redonda, muito mais interessante, onde um jornalista falava a respeito da Comuna de Oaxaca.

Lembro de ter feito também uma oficina de Tai Chi Chuan, mas não lembro muito bem o horário. Se não me engano, foi logo depois desta mesa-redonda. Foi bem divertido, mas acabou meio cedo. Deu tempo ainda de descobrir que os outros Urguenses estavam numa oficina de líquidos, onde eles brincavam de fazer suco com as combinações mais bizarras possíveis (como alface, laranja e tomate). Divertido.

Chegou a hora do almoço, e de ver se os 3,50 que gastem foram investidos de maneira adequada. Sinceramente, já comi coisa muito melhor por muito menos (viva o RU!). A bóia do dia era uma quentinha com bife (frio), massa (sem molho e sem sal), feijão com arroz e salada. Para variar, tinha esquecido os talheres no alojamento, e nem a pau que eu caminharia 20 minutos pra pegar um garfo (por que faca é algo desnecessário). Decidi comprar os talheres que estavam vendendo ali mesmo. Conveniente, não? Pelo menos era barato: a dobradinha "Garfo-Faca" era 50 centavos. Diziam que eram de qualidade, mas eram só uns pedaços de plástico mal cortado. Servia pra pegar a massa e o feijão.

Como as mesas estavam todas ocupadas, tivemos que comer no chão mesmo. Foi um momento Túnel do Tempo, e voltei a ser escoteiro por meia hora, comendo mal, sentado no chão de um lugar muito, mas muito longe de qualquer rastro de civilização. Mas este terno momento durou só até eu lembrar que também tinha deixado minha escova de dentes no alojamento. Sorte minha, estavamos do lado de um supermercado. Escolhi com muito carinho uma escova de qualidade, de cerdas macias, com cabo acolchoado... e que fosse barata o suficiente para jogar fora quando voltasse para Porto Alegre. Ou para o alojamento, dependendo do caso. Finalmente, depois de 5 minutos de procura, cai de amores por uma escova de R$ 1,10. Ela assegurou a minha higiene bucal, juntamente com o dentrifício emprestado de alguém.

Depois do almoço, começariam os GDVs. Já tinha pensado em participar de uns dois ou três. Mas quando fui ver, estavam todos, TODOS!, lotados. Esquizodrama? Lotado. Sexo, Drogas e Rock n' Roll? Idem. O Legado e Importância de Silvia Saint para a Psicologia? Infelizmente, esse GVD não chegou a existir, mas se tivesse, com certeza estaria lotado. Só me restava, então, achar um NV legal. Descobrimos um tal de Jogo das Cidades, que era como um War gigantesco, só que sem aqueles disquinhos de plástico. Nele, tinhamos que administrar os recursos naturais e tecnológicos de nosso país (o nome do jogo é enganoso, eu sei) para ganharmos mais dinheiro que os outros e ganhar. Os recursos naturais eram representados por folhas coloridas, e os tecnológicos eram materiais escolares, como réguas, compassos e lápis. Para "industrializarmos" nossos recursos precisávamos cortar determinadas formas trigonométricas, e depois vendê-las para o Banco Mundial (BM, ou Brigada Militar para os íntimos). Ficamos com a Bolívia. Nossa tecnologia consistia de um lápis com a ponta quebrada, mas tinhamos muitos recursos naturais.

E em tempo recorde também começou a trapaça no jogo. Um dos dois apontadores de lápis dos EUA (que tinha dois) sumiu, e ninguém sabia onde ele havia parado. Pouco tempo depois deste ocorrido, o governo cubano (ou era o iraquiano?) aparecia com uma proposta muito indecorosa de transferência de tecnologia. Eu, como Ministro de Porra Nenhuma, fui contra tamanho descalabro moral, dizendo que era um absurdo fazer tal... descalabro contra a... democracia, e coisa e tal! Acabamos fazendo uma troca muito bem sucedida com os EUA, conseguindo um esquadro e uma tesoura, em troca de alguns recursos naturais. Contando com a tecnologia da "gambiarra", apontamos o lápis com a tesoura e começamos a produção. Em tempo recorde, já tinhamos descoberto a melhor maneira de processar o material bruto, que vinha a ser a forma mais chata de todas, pois precisávamos cortar 40 triangulos pequenos de uma folha.

Foi interessante ver as negociações que rolaram (de forma legal e transparente). Cuba, Iraque, Inglaterra e EUA dialogaram de maneira cordial e fizeram trocas. A Bolívia se tornava uma potência econômica. Os EUA não atacavam ninguém e perdiam terreno para nós. Era surreal.

Mas, no fim, como só tinha psicólogo lá, e psicólogo é tudo fresco, todos os países do jogo entraram em acordo, e dividiram os recursos tecnológicos e naturais de forma justa, para que empatássemos. A professora que supervisionava o jogo ficou impressionada com isto, apesar de na hora de avaliar a qualidade dos produtos ela sacanear todo o mundo (bem, é literalmente). Depois que tinhamos entregue nossas mercadorias no BM, começamos a discutir sobre o que o jogo representa, e blahblahblah. Dormi (que constante!).

Saímos a tempo de pegar a janta, que era a mesma porcaria do almoço. Aproveitei o tempo livre antes de voltar para o alojamento e dei uma passada numa lan house ali por perto para checar os e-meios e agradar papai mandando umas notícias. Por causa dessas porcarias de grupos de e-mails, tinha 10 mensagens novas, número que, considerando meu zelo em manter a organização do meu Gmail, é bem alto. Mas estava certo de que o volume de porcarias que receberia seria pequeno, pois o pessoal com o dedo mais nervoso para mandar porcaria para estes grupos estava lá em Curitiba, e não teria tempo sequer de pensar em computadores.

De volta para o alojamento, senti-me tremendamente feliz por ter tomado banho de manhã, pois a caixa d'água estava fechada por causa do uso excessivo dos companheiros ali acantonados. Banho, só no outro dia. Como diria uma amiga minha: fudeu, fudeu, fudeu, fudeu. Mas é a vida, gente. A festa do dia (ou devo dizer "noite"?) seria no outro alojamento, no Maria-alguma-coisa, chamado apenas de Maria. Era o alojamento chique, que, ao contrário do Aljazera, tinha água e era limpo. Além de ter espaço, como fomos descobrir ao chegar lá.

Nós de Porto Alegre e redondezas não dispunhamos do nosso ônibus para fazer os translados entre alojamentos e eventos, o que nos deixava dependentes de caronas nos ônibus das outras delegações, e, por causa deles, de taxinhas de transporte. Cada viagem no ônibus dos outros era sempre 2 reais. Como qualquer táxi que pegássemos não cobraria menos que 20 reais para ir do Aljazera até o Maria, era uma barbada. Nós, e todos que iriam para a festa (praticamente todos no alojamento) ficamos esperando pelo ônibus de uma delegação do lado de fora do colégio. Enquanto ele não chegava, a gauchada não negou a raça e o bairrismo, e depois de termos cantado "Amigo Punk" pelo alojamento inteiro, puxamos as clássicas que pelo menos 75% da população gaúcha já teve que fazer uma apresentação dançante na escola com elas ao fundo: "Eu sou do Sul" e o insuperável "Canto Alegretense", além de outras menos conhecidas ou merecedoras de terem seu nome citado neste augusto blog.

*ahem*

Ficou claro para nós que, se quiséssemos colocar todos que ali estavam dentro do ônibus para ir para a festa, teríamos que quebrar umas 4 ou 5 leis da física, sem falar nas leis do trânsito. Eramos a segunda leva para a festa, e como o motorista estava faturando uma bela grana por fora, tivemos que nos empilhar dentro daquela lata velha. Eu tive sorte, e consegui sentar espremido no último banco, junto com meu veterano Marcelo. Enquanto eu relembrava todas as indiadas veiculares semelhantes que havia me metido anteriormente, especialmente uma envolvendo uma fiorino cheia de tralhas e machos molhados (fato conhecido como a "Sauna Gay Móvel"), a gauchada mais para a frente continuava a puxar os hits mais-mais baladinhas de verão. Pena que não consegui ouvir, quanto mais cantar junto.

Quando chegamos no Maria, fizeram um censo de quantas pessoas se espremeram juntas no ônibus. 121 pessoas. 121 pessoas de pé, esmagadas umas contra as outras, obrigadas a cheirarem o bódum alheio. Tudo por uma festa. Quando chegamos a festa estava bombando, mas 5 minutos depois, a Polícia Militar atacou e desligou o som. Mas que bom, hein, Andarilho! Festa sem música!

Tudo bem. Por uns 15 minutos ficar dançando ao som de músicas foi divertido o suficiente, pois não estava sozinho, mas depois encheu o saco. Fiquei tão de saco cheio que me dispus a ir numa reunião (REUNIÃO NO MEIO DE UMA FESTA!) onde uma baiana ficou reclamando sobre um PM ter feito baculejo em duas meninas. A primeira coisa que eu pensei que "baculejo" significasse era surra seguida de estupro seguido de outra surra, mas depois que perguntaram que merda era um baculejo, ela explicou. Nada de mais, é revista íntima. Só que o PM mandou as gurias levantarem as blusas, passou a mão, e a delegação baiana queria que a organização do evento tomasse providências à respeito. Os caras da organização que tinham quase ido pra cadeia por causa do som alto da festa teriam muito poder e influência sobre a Polícia Militar do Paraná. O-ho-ho. Eu tava realmente cagado pra ir numa reunião destas bem no meio de uma festa. Chata pra caralho, mas festa igual.

Depois que meu estoque de paciência tinha se esgotado por completo, sai daquela reunião. Era hora de ir dormir. O pessoal estava me procurando desesperadamente, pois precisavam de mais uma pessoa para rachar o táxi. Foi providencial.

Depois de perdermos um táxi por descuido nosso (e por causa de um motorista filho da puta), fomos, nós 5, de volta para o alojamento. Para variar, fiquei no meio do assento traseiro. Justamente eu. Bem, era mais confortável do que o ônibus. O taxista estava meio perdido naquele bairro, por que, bem, o bairro onde nosso alojamento estava era um lugar perdido no mapa, e tivemos que dar as direções. Nada de mais. A corrida foi 15 pila.

Bem, até dá para falar um pouco mais da enrolação antes de dormir, mas tirando a minha odisséia atrás de água para escovar os dentes, nada de muito interessante aconteceu.

Até a próxima gente! Beijomeliga!



Dia III: Saindo do Armário
Mais um dia por Curitiba, mais uma manhã sem tomar banho... pois a caixa d'água ainda estava enchendo. A organização do evento dizia que ao meio-dia poderiamos tomar usar a água normalmente. Mas meio-dia era uma previsão otimista demais, e não demorou muito para mudarem o prazo para às 13 horas. Que depois deve ter sido mudado de novo para bem mais tarde, mas não fiquei muito tempo por lá para descobrir. Já tinha passado da hora do café da manhã no Cecília Meirelles, mas convenientemente o bar da escola onde estavamos alojados resolveu fazer "hora extra", vendendo pão com margarina, banana e café. Conveniente e prático. E o pão francês não era dormido como eu me acostumei a comer em Porto Alegre (já que é mais fácil comprar um pacote de pão de sanduíche e comer até ele mofar).

Como deve ter dado para perceber, acordei tarde, pelo menos tarde demais para as mesas-redondas e atividades da manhã. Não me preocupei muito com isso na hora. O banho diário era mais importante. Separei minhas roupas e minha toalha, e pedi para o meu colega Daniel , grande conhecedor das estátuas do Instituto de Artes da UFRGS, guardar na mochila pequena dele, para levar e tomar banho na sede mesmo.

Não me lembro muito bem dos detalhes desta parte do dia. Lembro que eu e o Daniel fomos a pé do Aljazira até o Cecília, e almoçamos no Alemão, pois já era quinta-feira, e não tinhamos comprado tickets de alimentação para o dia, coisa que deveriamos ter feito para o resto da semana. O boteco onde comemos tinha bifê livre por R$ 5,50, ou coisa assim, mas o dono era gente boa, e fez uma promoçãozinha, e por 7 pila ganhavamos um suquinho. Tá, foram só 50 centavos de desconto, mas ainda assim era mais dinheiro para gastar em alguma outra porcaria.

E não levou muito tempo até eu achar alguma coisa para gastar. Desesperado que estava para comer alguma coisa temperada decentemente, peguei macarrão ao alho e óleo. Uns chicletes eram obrigatórios naquela altura do campeonato.

Mas os chicletes não adiantaram pra muita coisa, pois fiquei arrotando alho por mais um bom tempo (que finésse esse começo de post!). Mas almoçado eu já tinha. Precisava me concentar em outra necessidade básica: minha higiene. Para variar, esqueci o xampu e o condicionador no alojamento. Não iria comprar merda nenhuma, então peguei emprestado. Precisava de uma sacola plástica para colocar minha toalha molhada depois do banho, afinal de contas ela iria ficar na mochila de outra pessoa por pelo menos 4 horas, e a não ser que eu quisesse ser ingrato e criar uma colônia de fungos nas coisas do Daniel, um certo isolamento material era necessário.

Passei no mercado, procurando alguma coisa para comprar e ganhar uma sacola plástica de presente. Achei numa geladeira mais para o fundo do estabelecimento um estoque de latinhas de Lipton Ice Tea, e geladas! Mataria dois coelhos com uma caixa d'agua só (até por que a do alojamento ainda deveria estar pela metade), e consegueria uma sacola e um chá gelado depois do almoço. Cheguei no caixa, paguei e fiquei esperando pela sacola. Fiquei olhando para a cara da caixa, e quando eu percebi que a sacolinha não iria criar-se espontaneamente no ar, pedi por uma. Meus problemas estavam resolvidos, pelo menos por enquanto.

Hora do banho! O chuveiro do Cecília era infinitamente mais asseado do que o do Aljazera. Dava até pra sair limpo de lá! Como é de praxe neste tipo de evento, havia 2 chuveiros no banheiro, mas só um esquentava a água. E como quase todo mundo quer banhinho quente, tinha fila para este chuveiro. O Santiago, o paulistano mais paulistano de toda a São Paulo, já disse que ele era o primeiro da fila para o banho quente. Usando a lógica, resolvi tomar banho frio mesmo, pois era muito difícil que alguém mais estivesse disposto a fazer isso, além de ser mais rápido (por motivos óbvios).

Enfim, a higiene se fazia presente em minha vida, e poderia finalmente mexer no meu cabelo sem ficar com a mão engordurada. Poderia então cumprir minha missão. "Missão?!?! Que porra que ele tá falando?" vocês devem estar se perguntando. Sim, tinha me oferecido como voluntário para participar do GDV mais casca-grossa de todos: o de estatuto do CONEP (Coordenação Nacional dos Estudantes de Psicologia). Em condições naturais de pressão, temperatura e retardo mental, eu nunca participaria de uma coisa dessas. Aliás, quando vi o GDV de estatuto na programação a primeira coisa que pensei "nesse daí, nem a pau, Juvenal". Mas é, eu fui. E como voluntário. Tive bons motivos para isso, contudo. Rolavam boatos que havia aparecido uma proposta completamente nova de estatuto, que mudaria tudo. Geralmente, quando uma coisa assim aparece, é algum partido ou movimento político, geralmente de extrema esquerda, tentando fazer com que um movimento estudantil trabalhe para sua causa. O P-Sol, o PSTU, o PCO e a Conlute (Coordenação Nacional da Luta Estudantil) já fizeram dessas, como propor que a Conep se declaresse contra a guerra no Iraque porque, claro, se o Bush soubesse que os estudantes de Psicologia brasileiros são contra a guerra no Iraque ele iria se sentir tão culpado que ele iria tirar todas os seus soldados de lá imediatamente.

Mas, se a proposta era completamente nova, com certeza não seria tão simples (e estúpida) como o exemplo citado. Seria necessário um guardião implacável, aguerrido, corajoso para impedir que tal infâmia se abatesse sobre o estatuto. Mas quem seria este bravo? Um gaúcho, centauro dos pampas, claro! E quem melhor do que eu, Andarilho, calouro, perdido como peido em bombacha, para desempenhar tão importante missão?

Pois é. Já deve ter dado pra notar que tinha me metido em furada. O GDV começaria lá pelas 14:30, 15 horas. Tinha impressão de que a coisa iria longe e que a discussão seria brutalmente chata. Já estava arrependido de ter me oferecido como voluntário, mas era tarde. Não iria refugar.

Três tipos de pessoas vão nestes grupos de discussão: voluntários como eu, desavisados que não sabem o que têm pela frente como meu colega Álvaro (que não aguentou 30 minutos) e os que gostam de debater estatuto. Tenham medo, muito medo deste tipo de gente. Eles eram maioria naquela salinha do canto do Cecília. Não lembro de todos eles, mas dos mais falantes é impossível esquecer. Darei uma breve descrição de do histórico e personalidade de quem eu lembrar. Pensem nisto como sendo o Street Fighter, e os participantes dos GDVs como os personagens. Ei-los:

Santiago - O paulistano mais paulistano de toda São Paulo. Cara gente boa mas com péssimo gosto para hobbies. Da mesma forma que eu, está envolvido neste tipo de indiada desde o primeiro semestre de faculdade. É debochado ao extremo, mais do que eu, e não vê nenhum problema em descer a lenha em ninguém. Pensem nele como sendo o E. Honda do Street Fighter II, só que com uma suissa maior e com cabelo curto. Estuda na Universidade de São Paulo (USP) e vai dessa para melhor este ano (se forma, quero dizer).

Leo - Esse cara estava na organização do ENEP inteiro, fez parte de umas 2 mesas-redondas, e quando precisava de um porta-voz, era ele quem dava as caras. Devia ter falado nele em posts anteriores, mas memórias encobridoras me impediram, por causa de sua voz extremamente irritante. Não que a voz dele realmente seja irritante, mas tive que ouvi-la tantas vezes por tanto tempo que fico nervoso só de pensar nela. É educado, tem fala macia (e chata), e é metido em politicagens até o pescoço. Parece o Dhalsim, só sem aquelas pinturas no cucuruto. Estuda na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

Minerim - Não lembro o nome dele, infelizmente, pois é um cara legal, apesar de gostar de falar de estatutos. Como um bom mineiro, é bencalmim e fala "trem". Comparando com personagens do Street Fighter, ele é quase um Zangief, só que mais cabeludo, mais barbudo e menos musculoso (e mais simpático). Estuda na Pontíficia Universidade Católica (PUC), só não me pergunte qual, por que o ônibus que veio de Minas Gerais trazia estudantes de 4 PUCs diferentes.

Carioca Chata do PT light - O apelido diz tudo: carioca, chata e petista. Nada contra petistas. Não gosto da oposição também. Tem uma voz verdadeiramente irritante. Eu pensei em dizer que ela é parecida com o Blanka, mas como me sinto generoso, digamos que ela parece a Sakura (do Street Fighter, não a Card Captor!). Vocês decidem o que vocês preferem. Estuda na PUC do Rio de Janeiro (PUCRJ).

Peguete da Carioca Chata - Entrou mudo, saiu calado. Ou pelo menos, não disse muita coisa. Nem me dou ao trabalho de procurar algum personagem para representá-lo. Acho que estuda na PUC de São Paulo (PUCSP).

Amanda - Garota muito legal. É engajada em política a ponto de ser a organizadora do GDV de Estatuto. Parece a Shun Li com roupas de gente. Estuda na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Andarilho (eu) - Esquizóide, paranóide e debilóide por ter entrado numa furada dessas. Não gosta de gente prolixa, que por incrível que pareça eram os mais numerosos neste GDV. Gosta de cookies. Parece com o Ken (não o namorado da Barbie). Estuda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ao contrário do que parece no capítulo anterior, esse GDV não foi nada empolgante. Aposto que mesmo o Narrador da Seção da Tarde seria incapaz de narrar esta porcaria de forma positiva (Essa galerinha do barulho vai passar por altas discussões para decidir um alto estatuto da pesada). Foi tão chato que, se desse para pedir reembolso de tempo perdido, pediria 6 horas da minha vida de volta.

No começo da discussão, a Amanda fez uma dinâmica de grupo (por que psicólogo a-d-o-r-a dinâmica de grupo), com umas frases no quadro, onde tinhamos que identificar quais faziam parte do estatuto da CONEP. A única coisa que prestou desta dinâmica foram os comentários do Santiago, que escreveu o estatuto, como "Esse parágrafo é um frankenstein, meu!" ou "de onde cê tirou essa daí, da proposta que a Conlute queria nos empurrar goela abaixo?". Depois, começamos a ler o estatuto de cabo a rabo. Para variar, um ou outro idiota ignorava que estavamos apenas lendo, e ficava reclamando do inciso 7 do parágrafo 4 da seção III. Daí, foi um pulo para um discussão sobre o status do Movimento Estudantil no Brasil. Era interessante, mas fugia do assunto de uma maneira indecente. Mesmo assim, valeu a pena pra ver o Santiago falar do DCE de misses e playboys que foi eleito na USP por ter feito uma proposta de gestão de 1 página onde a palavra "festa" aparecia 7 vezes e chamar alguns antigamente opositores da UNE de "UNE-boys" e ver a Carioca Chata ficar louca da vida, reclamando que "Não era assim que se fazia movimento estudantil, cara!". O Minerim falando dos anarquistas da universidade dele avacalhando com o DCE também foi legal. Meu colega Álvaro estava lá também, não aguentou e foi embora. Claro, ele podia. Depois disso, voltamos a ler, mais uma vez desde o início, mas fazendo destaques do que achávamos importante. Foi mais ou menos assim: a Amanda lia "Seção II", o Leo levantava a mão e pedia "Destaque". Praticamente todo o estatuto foi destacado por ele. Considerando que avaliaríamos apenas os destaques, seria uma loooonga tarde. Acredito que todos fizeram algum tipo de destaque, inclusive eu (estava duvidando de que o ENEP sairia anualmente). Foi aí que começou a merda toda.

Discutiríamos os destaques. Todos teriam direito a voz e voto. Se quisesse falar, teria que se inscrever, e quando chegasse sua vez, poderia falar até dois minutos. Repito: ATÉ dois minutos. Acho que só eu segui essa regra. Esta parte foi tão chata que vou resumir o máximo possível. Basicamente, passamos uma hora e meia discutindo os dois primeiros destaques, que eram os mais mixurucas. Me indignei com a falta de objetividade do povo e abri a boca. Andamos mais um pouco. O Leo e a Carioca Chata se puxaram para serem murrinhas. Ela especialmente. Houve um momento que eu cansei, simplesmente não SUPORTAVA MAIS simplesmente OUVIR a voz horrorosa dela. Eu pensava "Já deve ter passado dos dois minutos há muito tempo". Foi quando ela finalmente tomou cortaço, pois ficou falando por 5 minutos. Mais duas horas depois, reclamei de novo, pedindo por respeito ao regimento da discussão, pois, se não éramos capazes nem ao menos de respeitá-lo que dirá de um estatuto. Aliás, o regimento interno foi jogado fora. Tinhamos estipulado um prazo de terminar a discussão até às 18:00. Ficamos lá, cozinhando em água fria, até às 19:30. Deadlines are for sissies. Prazos são para frescos. Claro que reclamei da falta de respeito pelo horário. Again.

Falando assim, parece que eu era o mais reclamento. Pelo contrário, eu era o segundo mais quieto da sala (atrás só do Peguete da Carioca Chata). Talvez se tivesse falado mais aquela merda tivesse acabado mais cedo, mas não sentia que tinha nada para contribuir com a discussão. O que falei de relevante foi ignorado pelos outros. Bem, dane-se, fiz minha parte e falei o que achava.

Já eram 19:30, e estávamos ficando com fome. Decidimos continuar a discussão na manhã seguinte. Fiquei estupendamente feliz quando eu perguntei "acabou?" e responderam que sim. Não fiz a menor cerimônia de sair correndo da sala para jantar. Foi um prazer hedonista tremendo. Sabia que teria que sofrer de novo no dia seguinte, perder a chance de fazer uma atividade bacana para ficar ouvindo lero-lero de politiquentos. Mas naquele momento, naquela hora, eu podia comer. E eu ia. Comer um xis no Alemão, era tudo que eu queria.

Mas enfim! Saí correndo para comer alguma coisa e, sonhando com um xis, queria ir direto para o Alemão. Mas resolvi ser cordial e passar na sala do GDV do pessoal lá da UFRGS, sobre Reforma Curricular, comandado pelo Chico (auto-proclamado dono do motel mais barato de Curitiba) e Cris, a amável metaleira do quarto ano que me convenceu (quase à tapas) a ir pro GDV de Estatuto. Queria ter participado da discussão, considerando que eu sou aluno do novo currículo da Psicologia da UFRGS, mas o dever falou mais alto. Pena. Deu para perceber que a discussão foi muito boa só pelo "escrotidão" escrito no cartaz feito pelos participantes (e pelo Chico xingando um mala de Minas Gerais).

Depois que limparam a sala onde o GDV ocorreu, ficamos fazendo hora no corredor. Enquanto desempenhavamos esta importante tarefa, a Cris veio me pedir qual era proposta que o pessoal da UFMS tinha feito para modificar completamente o estatuto e o que tinha sido discutido a respeito. Respondi que o Leo só fez destaques pontuais. Quase o tempo todo, verdade. Mas mesmo assim, não eram mudanças tão radicais. Foi só eu dizer isso que a Cris me falou algo que me deixou louco da vida: logo depois que saí da sala do GDV de estatuto, os caras da UFMS distribuiram a proposta deles. Senti-me traído. Mas eu teria mais uma oportunidade de encarar este problema. Outro problema muito mais importante me incomodava no momento: a fome. Alguns de meus colegas já tinham se bandeado para o Alemão para jantar, então fomos nos juntar a eles.

A arquitetura do Alecrim é muito simples: uma área com mesas externa, duas portas grandes daquelas que se fecham com portão de ferro, uma área com mesas internas e o balcão. Meus colegas estavam sentados atrás da parede entre as portas, de modo que não conseguia enxergá-los da rua. Por isso, só sabia que eles estavam lá por causa de suas vozes. E a voz que mais me irritou durante o dia inteiro estava lá: Leo. Claro que ele estava falando pelos cotovelos. Não posso negar, porém, que foi uma boa oportunidade de confrontá-lo a respeito daquelas propostas de estatuto que eles começaram a distribuir. Como a parte racional da minha mente desconfiava, eles não esperaram eu sair para começar a distribuir a proposta. Foi apenas uma infeliz coincidência, se é que isso existe. E as propostas distribuidas foram as mesmas que ele propôs. Mas enfim, ninguém deve mais agüentar ler a respeito do Leo e seu estatuto, e nem eu agüento mais escrever sobre ele. Ainda bem que ele foi embora logo e me deixou jantar em paz.

Terminei de jantar feliz da vida, sem aquele mala do Leo falando sem parar. Voltei para o alojamento de ônibus com o Chico, e lá chegando, comecei a me preparar para a festa daqula noite: o Trans ENEP. O Trans ENEP é uma festa onde mulheres se vestem de homens e os homens de mulheres. Qualquer foto tirada num ambiente como esse é prato feito para paparazzi e sacanagens futuras. Foi uma festa divertida, pelo menos até um ponto. Às três da manhã já queria ir embora.

Dias IV, V e VI
Como faz muito tempo desde que comecei este texto, vou resumir os dias restantes em uma seção só. Nos últimos dois dias, ocorreria a plenária final, onde o estatuto debatido por este quem vos escreve, e as propostas geradas nos GDVs e ELOs. De manhã, o ELO para terminar de afiar o estatuto aconteceu e eu fui lá me foder de novo. Sim, foi chato pra caralho, mas pelo menos já estava acostumado. . À tarde começaria a tal da plenária, mas, com certo peso na consciência, decidi que iria fazer turismo com meus colegas Álvaro e Daniel pela cidade de Curitiba. Pensando bem agora, não tenho certeza do dia em que aconteceu esse ELO, pois lembro-me claramente de nem ter aparecido no Cecília de manhã, ter ido lá pelas 10 da manhã para o centro e até mesmo almoçado um pastel por lá. Mas o tempo não importa mais. E em todo caso, o ELO ainda foi chato.

Curitiba é uma cidade bonita, realmente bonita. Não vou ficar falando sobre todos os lugares que fomos, por que não lembro mais com muitos detalhes e por que seria chato. Foi uma experiência interessante. Já conhecia bem o Daniel, mas com o Álvaro nunca tinha conversado muito. Tanto eu quanto o Daniel meio que saímos do colégio e entramos direto para a Psicologia, enquanto que o Álvaro passeara em dois ou três cursos antes de se formar em Jornalismo e daí então fazer Psicologia. Uma coisa caracterizou bem nosso turismo: os ônibus. Curitiba tem uma linha especial para turistas conhecerem os cartões postais da cidade - é bem prático. Basta pegar um e comprar um vale para até 5 paradas (algo assim). Se quiserem saber que lugares conhecemos, é só pegar o mapa dessa linha. Claro que há mais lugares para se ver do que paradas pagas, então discutimos arbitrariamente muito bem onde iríamos.

Disse que os ônibus foram o aspecto mais marcante de nossa passagem pela parte turística de Curitiba por que foi enquanto esperávamos ou andávamos nele que mais conversávamos. Era no ônibus e nas paradas que conhecíamos as pessoas: estudantes de Letras do Encontro Nacional deles, um casal visitando a cidade, mãe e filha turistas. Por algum motivo, começavamos a conversar e não parávamos mais. Até combinamos os locais onde iríamos juntos. Chegamos a trocar e-mails com algumas destas pessoas, mas nunca nos correspondemos - talvez seja uma regra da irmandade dos turistas: o que acontece em Curitiba, fica em Curitiba. As últimas duas paradas foram as mais demoradas, pois o trânsito curitibano estava em sua pior forma, os ônibus mais lotados e os turistas mais desesperados. Foi ali do lado do Tanguá e do Memorial Ucraniano que mais conversamos. Já considerava o Daniel meu camarada, mas a partir dali, passei a considerá-lo mais ainda, e o Álvaro também. É estranho como funcionam as pessoas: se colocares um monte delas juntas no mesmo lugar ao mesmo tempo, elas ficam amigas. Claro, o oposto também pode ocorrer, o que também é muito curioso. Poderia ter passado a odiar o Daniel e o Álvaro, mas não foi o que aconteceu. Mas, deixando minhas superficiais divagações psicológicas, pegamos um ônibus lotadíssimo (fiquei me equilibrando nos degraus da entrada, cuidando para não ser derrubado pelo movimento do carro nem ser acertado pela porta quando ela abria), paramos em um terminal e voltamos para a sede. Não lembro o que fiz depois disso. Acho que teve uma festa, a tal de Psico Rainbow, que não fui por parecer gay demais. E realmente era gay.

No outro dia, tomei vergonha na cara e fui na plenária. Fiquei todo pimpão comigo mesmo. "Olha só! Eu sou um menino grande e responsável que vai em plenárias!" pensava. Logo, logo esse meu ânimo inicial virou arrependimento, por que não há coisa mais chata que plenárias. Talvez as reuniões da comissão de estágios, mas nenhuma delas nunca dura mais de 12 horas seguidas. A coisa simplesmente não saía do chão. Eu estava mal, saí e voltei várias vezes do barracão onde a plenária acontecia, mas eu estava bem, se comparado com o Marcelo. Uma hora ele não agüentou mais e surtou. É fácil identificar quando ele surta: é só ver se ele está com os dentes arreganhados e com as mãos crispadas como se quisesse estrangular alguém. Além do olhar doentio de maníaco. Uma hora ele chegou para o Daniel e perguntou "e aí? Decidiram o quê?". "Sangrar um porco", respondeu meu colega, na esperança de que réplica tão absurda acalmaria o espírito do Marcelo. Mas a tréplica foi "Com os dentes?". Daí foi o Daniel quem ficou sem palavras. Depois o Marcelo veio me falar "a gente tem que sangrar um porco com os dentes" e eu fiquei boiando.

É. A plenária começou às 15 horas, e terminou às 4 da manhã, mas eu saí muito antes disso (sabia que era hora de parar quando comecei a considerar seriamente a possibilidade de me esconder atrás do toldo do retroprojetor e ficar brincando de peak-a-boo). Fui pra última festa do evento, que estava igualmente esmerdeada. Provavelmente algum colega que estava lá comigo vai dizer que estou reclamando de boca cheia e que pelo menos eu me diverti, mas é mentira.

Nem dormi aquela noite. De manhã pegaríamos o ônibus e voltaríamos para Porto Alegre. Arrumei minhas coisas e fiquei esperando os outros. Decidi ir comprar um café da manhã e umas porcarias para a viagem. O meu sumiço (junto com outros que tiveram a mesma idéia) deixou a organizadora do ônibus, a eterna Cris Black, puta da cara. "Vão tomar no cu que não avisam, porra!" ela deve ter dito.

A viagem foi quase sem percalços. A única coisa de interessante que aconteceu foi a destruição completa e total de um dos pneus do ônibus. Chegando em Porto Alegre, não satisfeito com 12 horas de viagem, fui até a rodoviária e viajei mais duas horas até Caxias do Sul. Nunca mais faço isso.

Enfim, e assim termina meu relato sobre minha ida à Curitiba e participação no XX ENEP. Talvez eu escreva algo sobre o XXI ENEP, mas não sei. Nem escrevi nada do EREP.