segunda-feira, 19 de maio de 2008

Observação Irrelevante #49

Eu sou muito mais produtivo de madrugada. Talvez isto seja assim por que meus controles racionais e conscientes do que penso fiquem enfraquecidos pelo cansaço. Eu estou lendo Freud demais.

As Provações da Faculdade XV

Lá se vão os gnomos com seus potes de ouro. E com eles se vai minha honestidade intelectual.

As Provações da Faculdade XIV

As palavras que digito em meu relatório cada vez mais parecem-se com o que meu professor de Processos Grupais diria, e menos com o que eu diria. Fico satisfeito com a velocidade com que tenho absorvido o conteúdo da aula, mas fico igualmente triste com o fato de estar perdendo um pedaço de mim, ou na melhor das hipóteses, ignorando-a para escrever o relatório. E estou mal no terceiro relatório.

As Provações da Faculdade XIII



Adivinhem em que ponto deste ciclo eu me encontro, às quase 3 horas da manhã.

Tirado daqui: PhD.

Obsessões - Part Quatre

Freud dizia que todas as pessoas bem ajustadas e adaptadas à sociedade são, em maior ou menor grau, neuróticas. Discordo desta afirmação, e que acredito que existam pessoas sem nenhum tipo de distúrbio, mas que não posso me incluir neste grupo.

Tenho uma neurose bem particular. Na verdade, o termo neurose é bem antiquado, pois há um nome mais específico para o que tenho: chama-se Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Se não me engano, eu não atinjo todos os pré-requisitos diagnósticos para ser considerado um TOC verdadeiro, e mesmo que atingisse, o transtorno não me impede de funcionar normalmente – vou para a faculdade, tenho uma vida social, não deixo minhas obsessões dominarem minha vida. Entretanto, elas me deixam um tanto quanto mais infeliz.

Tenho uma certa compulsão por números, especialmente de posts para este blog. Acho muito bonito ver o contador do Capacitor de Fluxo com números cada vez maiores, e isto torna o ato de publicar textos novos um prazer por si só. Todo mês, tento fazer pelo menos uma atualização por dia, 30 ou 31 dependendo do mês. Até agora não deixei a peteca cair, e tenho feito mais atualizações mensais do que isto, portanto não sei como agiria o momento que não o fizesse. Entretanto, sei como agirei se deixar as obsessões tomarem conta de minha vida.

Em janeiro, ainda no Roqueiro & Alcoólatra, prometi a mim mesmo que todos os dias teriam no mínimo três atualizações diferentes: imagens, vídeos e textos legais. A sensação de ter que cumprir esta promessa me fazia constantemente pensar na próxima coisa para postar no blog, qual imagem, ou qual vídeo catar por aí. Mais importante ainda, sobre que assunto versar. Escrever sempre fora um ponto de honra para mim – desde o dia que comecei a escrever redações, escrevo bem. Claro, escrevo melhor hoje do que na 2ª ou 3ª séries, mas desde aquela época sou bastante elogiado pelo meu estilo. As imagens e os vídeos que pegava por aí, postava no blog para dar maior diversidade, m as ainda considerava a arte de escrever meu forte. Ironicamente, por causa desta “demanda” por posts e textos bem escritos sobre assuntos bacanas, fiquei bloqueado. Tudo que conseguia pensar quando lembrava-me do blog (estava de férias, então tinha bastante tempo livre para ficar lembrando de muitas coisas, especialmente do R&A) era algo como “precisoatualizaroblogmasnãotenhoassuntosobreoqueescreveraimeudeusoquevaiserdoblogsemumtextolegal”.

Não sei se dá para dizer se pensamentos são compridos, mas este pensamento em especial era grande, e ocupava todo e qualquer espaço para idéias legais. Alguém no R&A fez um comentário sobre a podridão das últimas atualizações (em termos muito mais gentis), e eu entrei em modo meditativo. Ponderei que, apesar de estar atualizando com constância nunca antes vista, não estava agradando os leitores. Tinha abandonado a qualidade em nome da quantidade. Decidi então abandonar essa frescura de três posts por dia, e criei o Espadachim Cego, onde eu faria atualizações da melhor forma que posso: textos, textos e mais textos, algumas figuras que acho que valem a pena colocar na web, um vídeo aqui e acolá, e deu. Se fizesse um post ou três por dia, tanto faz. Estranhamente, foi justamente isso que abriu as comportas que antes barravam meu inconsciente criativo, e passei a escrever mais do que nunca (o Capacitor de Fluxo aqui do lado não me deixa mentir).

Também tenho uma outra neurose, bem menor, quase insignificante, mas que pode me dar trabalho um dia: tenho adoração por escrever textos longos e ficar olhando para eles no blog, e um certo desprezo por tiradas curtas. Sinto-me um pouco trapaceiro quando faço atualizações como os sobre as provações que encaro na faculdade: “porra, isso aqui é um blog, não é o teu floguxo pra ficar escrevendo frasezinhas telegráficas como se fosse alguma coisa decente!” penso eu. Nada contra quem tenha floguxo e faça isso: sou chato comigo mesmo e não com os outros, e espero muito mais de mim do que dos outros, correlacionalmente (por que não dá para estabelecer a direção causal neste caso: sou chato comigo mesmo por que sou exigente, ou sou exigente por que sou chato?).

E falando das minhas neuroses escrevo um texto bem grandinho. Ai ai.

Encontros ao acaso em um ônibus para Porto Alegre

A linha intermunicipal entre Caxias do Sul e Porto Alegre, da empresa Caxiense, tem me rendido encontros com antigos amigos e conhecidos, que agora, da mesma forma que eu, estudam na capital e voltam para o lar no interior de vez em quando. Na viagem desta noite, trombei com dois colegas do tempo do Ensino Médio.

O Ensino Médio foi uma época sombria de minha vida – a solidão era a única a sempre me acompanhar pelos longos e escuros corredores do antigo colégio, e de tanto andar comigo tornou-se minha melhor amiga. Sentia-me só mesmo quando junto de outros. Cada vez que encontro alguém daquela época, toda a torrente de memórias, especialmente as ruins, vêm à tona. Entretanto, é com alegria que encontro a grande maioria de meus ex-colegas. Hoje não foi exceção.

Foram eles que me viram primeiro; estava por demais enredado em minhas próprias divagações para perceber o que acontecia ao meu redor (exceto se o ônibus abria), e acordei um tanto quanto bruscamente deste sonho acordado ao ouvir meu nome gritado de algum canto da rodoviária. Cumprimentei-os, já que fazia um bom tempo que não os via, e pus-me a falar de coisas comuns: faculdade, vida em Porto Alegre, problemas do curso. Este tipo de conversa miúda é um problema para mim, mas tenho adquirido um certo grau de habilidade para encontros sociais fortuitos e de média duração, onde “Oi! Tudo bem?” não é suficiente, e criei algo como um arquivo de assuntos para falar quando necessário. Não é um arquivo grande, como podem perceber, mas segura as pontas.

Talvez por querer desafiar a mim mesmo, talvez por que alguma parte do meu ser sente falta daquela época tenebrosa, sentei-me perto deles, de forma que ficava fácil de conversarmos os três. Foi durante as duas horas que separam Porto Alegre de Caxias do Sul que notei que a distância entre eu e meus agora ex-colegas permanece grande. Os assuntos que lhes agradavam eram os mesmos de três anos atrás: festas, bebida, mulher. Claro, há também os tópicos sobre faculdade (os dois fazem cursos das Ciências Exatas) e sobre morar na capital, mas o repertório não aumentou muita coisa. Internamente, enquanto eles falavam daquilo que mais lhe dizia respeito, ria de como hoje reflito sobre liberdade, angústia, ciência e individuação, enquanto eles davam roupagens novas para assuntos velhos. Fiquei calado ou falei pouco durante a viagem, se comparado com eles. Igualzinho como era na escola. De certa forma, posso dizer que minha vida deu uma guinada de 360 graus – voltei para o mesmo lugar de antes, só que completamente transformado. A diferença entre o Eu do Ensino Médio e o Eu da Faculdade é a mesma que existe entre o Baixo e o Alto Nirvanas: os atos são os mesmos, mas os significados são outros. Pelo menos para mim.

Não quero dar a entender que antigamente era inferior a todos os outros e superior hoje, ou que meus colegas estão estagnados em seu processo de desenvolvimento pessoal, ou até mesmo que este processo pelo qual estou passando é positivo. Quero apenas fazer um relato pessoal do que percebi em uma de minhas viagens de Caxias do Sul para Porto Alegre, e de um encontro ao acaso que tive com dois ex-colegas meus, pois nada posso falar com certeza dos outros ou dos mistérios que cercam o crescimento pessoal; como eu, cada leitor deste blog é livre para interpretar o que relato da forma que bem lhe aprouver – só posso dizer que sinto-me muito melhor hoje do que antigamente. Meus companheiros de viagem, não sei. Mas duvido.

As Provações da Faculdade XII

E começa mais uma maratona noturna de confecção de relatório para Processos Grupais!