sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Dias de Paz, Dias de Luta

Terça-feira fui de manhã para a faculdade para conversar com a professora de Psicologia Humanista, por causa de todos os perrengues burocráticos que tive que enfrentar para cursar uma eletiva. Chegando lá, entrei na sala onde a aula estava acontecendo, e descobri que, ao contrário do que imaginara, um número considerável de pessoas, alguns deles meus colegas, haviam se matriculado nela. Eu achava que ninguém iria se interessar pelo assunto. Mas se interessaram. A professora olhou para mim e disse "olha só, teu esforço deu frutos". Lembrei-me então que fizera grande esforço para que esta eletiva saísse. Senti um certo orgulho por isso, por ter feito algo bom para meus colegas.

Pensando nisto, lembrei de outras coisas que posso fazer e que são meu dever. Até semestre passado, eu era um participante ativo do Diretório Acadêmico, o DAP, mas por muitos motivos, acabei me desiludindo e deixando ele de lado. Mas eu ainda estou envolvido com ele, com o Psiu e com a comissão de estágios. Lembrei como, apesar de frustrantes, estas duas atividades com as quais me envolvi são importantes, não para mim, mas para todos os estudantes de Psicologia da UFRGS. Isso me deu um ânimo novo para continuar lutando por elas.

Numerologia

E hoje é dia 08/08/08! Sabem o que significa? Nada*. Mas é bonito para um obsessivo como eu.




*Talvez Jung discordasse de mim, dizendo que hoje é um dia especialmente simbólico, por ter um número pleno como o 8 repetido três vezes, significando que hoje seja um dia de especial poder, mas deixa para lá.

Algumas impressões do semestre letivo e da faculdade como um todo

Este semestre, por ser mais calmo que os anteriores, dá muita margem para reflexão despreocupada (além de vadiagem e delírios bizarros). Somos a primeira turma do currículo novo de Psicologia da UFRGS, e portanto, nosso destino está largamente indeterminado, pelo menos se comparado com nossos veteranos. Segundo eles, o currículo antigo é um lixo, com um excesso de carga horária e extremamente cansativo, além de ser extremamente influenciado pela politicagem interdepartamentos, que representam mais do que divisões burocráticas do Instituto, mas epistemologias e visões de mundo radicalmente diferentes e até mesmo antagônicas. Já falei um pouco a respeito deste assunto em um post anterior. No primeiro ano, as aulas eram todas dadas pelo departamento 01, mais cientificista, ao passo que o segundo e terceiro anos eram dados pelos departamento 02 e 03, respectivamente, ditos mais "humanistas" e respeitadores da subjetividade humana. Não vou entrar em detalhes aqui sobre este assunto, por ser complexo demais. Basta dizer que, quem gosta de ciência sofria bastante com este currículo.

Nosso currículo, ao contrário, não é divido em blocos, pois temos disciplinas de todos os departamentos ao mesmo tempo, e somos expostos simultaneamente a todas as linhas teóricas presentes no Instituto de Psicologia. Ao contrário de nossos veteranos, não somos conduzidos de forma tão determinista a seguir as ideologias dos departamentos 02 e 03, pois podemos julgar todas elas ao mesmo tempo, e decidir por nós mesmos o que mais nos agrada. De certa forma, é mais honesto. Contudo, não posso afirmar com certeza que será sempre assim. Somos a primeira turma, e portanto somos um caso atípico. Não será possível generalizar nossa experiência para as turmas ainda por vir. O mesmo vale para a turma dos nossos bixos, pois o currículo levará pelo menos mais três anos para se consolidar (às nossas custas, diga-se de passagem).

Quero, ainda assim, fazer uma análise global da nossa experiência na faculdade. É possível notar um padrão de desânimo em nós todo santo semestre, com a exceção do primeiro, quando ainda não conhecíamos nada da UFRGS e da Psicologia. Não sei se isto se deve mais às características de nossa turma do que do curso em si, mas a principal diferenciação que fazemos entre os semestres é o cansaço que nos causam. O primeiro semestre foi cansativo por sermos novos, o segundo semestre foi mais tranqüilo e o terceiro foi extremamente exaustivo. Mas todas as disciplinas obrigatórias a partir do segundo semestre foram muito criticadas por nós. Provavelmente estou exagerando e peço para que o eventual colega que ler isto aqui me corrija, mas ao reler por cima o que escrevi sobre os semestres anteriores, ficou claro que os elogios eram escassos. Por outro lado, as disciplinas eletivas foram extramente bem aproveitadas e elogiadas, pelo menos as que eu fiz. Claro, as eletivas são qualitativamente diferentes das obrigatórias por poderem ser escolhidas por nós mesmos, e terem um gostinho de liberdade.

Este semestre não está sendo muito diferente: as aulas obrigatórias são chatas, apesar de leves, e as eletivas salvam o dia (especialmente no meu caso, que tive a felicidade de escolher as três mais fantásticas). Mais uma vez, digo que não sei se isto é uma característica do currículo, da nossa turma, do Instituto ou da Psicologia como um todo. Mas fico pensando se não seria melhor não ter currículo nenhum e deixar inteiramente por nossa conta as escolhas das disciplinas.

Minhas Aulas na Faculdade (Parte 10)

E finalmente, acabou minha primeira semana de aula! Como não tenho absolutamente aula nenhuma na sexta-feira, tenho um dia inteiro para ler os textos recomendados, treinar Kung Fu e escrever abobrinhas para o blog. Como prometido, farei um exercício de previsão do futuro, e dizer, baseado nas minhas impressões iniciais, o que acho que vai ser das disciplinas que estou cursando.

Quarto Semestre

Avaliação Psicológica - Obrigatória
Review:
Não teremos tantas aulas assim com o professor da prova de 10 anos atrás, já que outra professora titular e uma doutoranda irão dar aulas também. Minhas expectativas continuam baixas, e repito o que disse no outro post: o assunto é interessante, mas eu provavelmente não vou aprender muita coisa nas aulas, e sim nas minhas leituras.

Ética - Obrigatória
Review:
Não foi um bom começo. Parece que vamos ter mais um semestre de Psicologia Social II, apenas com um nome diferente. Mas preciso ser justo, os trabalhos propostos pela professora parecem ser interessantes.

Psicopatologia II - Obrigatória
Review:
Meus colegas entraram em desespero quando perceberam, pelos slides e pelo o que a professora falava, que teríamos outra cadeira repetida - Psicopatologia I. Eu, estóico que sou, não me mixei, e continuei a escrever letrinhas sem fim com a mão esquerda (e conversar com ela quando cansava, mas isso não vem ao caso). Pelo o que a professora falou, teremos, mais uma vez dois trabalhos, o primeiro sobre perversão, e o segundo sobre neurose e, como semestre passado, teremos liberdade para escolher tanto o assunto quanto a orientação teórica que nos agrade. Isso muito me agrada. Outra coisa que me agrada é que, apesar de ser uma cadeira de quatro créditos, temos apenas dois créditos de aula presencial. Os outros dois são para leitura. Em termos práticos, isto significa que ao invés de termos aula até às 17 horas, temos aula só até às 15h!

Psicologia e Educação - Obrigatória
Review:
Educação é um assunto interessante, mas nunca me cativou realmente. Ainda assim, apesar da minha indiferença inicial, acredito que esta será uma disciplina interessante, pois a professora é democrática e interessada no nosso aprendizado. Além disso, ela cobra presença, o que me obriga a gostar mais das aulas dela.

Neuropsicologia - Eletiva
Review:
Na primeira aula, descobri que, como a professora não esperava que muitas pessoas se matriculassem, ela decidiu que serviria como um fórum para seu grupo de pesquisa se reunir e discutir assuntos relacionados à suas pesquisas (as deles, não as suas, leitor), no momento mais focadas sobre memória. Mas como 16 pessoas decidiram cursar esta disciplina, e como quase nenhuma destas 16 entende tanto assim de Neuropsicologia, a professora decidiu dar uma geralzona na matéria antes de se aprofundar em memória. Ao longo da disciplina, vamos realizar uma pesquisa sobre memória (dã!) em idosos, e todos vão ser envolvidos na coleta de dados e, provavelmente, na interpretação deles. Acredito que venha a ser uma excelente experiência fazer isto, apesar de provavelmente cansativo.

Neuropsicologia dos Transtornos Psiquiátricos - Eletiva
Review:
A professora, uma mestranda orientada pela mesma regente de Neuropsicologia, trabalha na clínica de atendimento neuropsicológico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o único serviço público da cidade deste caráter, e entende bastante do assunto. As aulas serão em formato de seminário: leremos muitos artigos em casa sobre algumas doenças específicas e discutiremos em aula (a primeira aula deste tipo será sobre esquizofrenia). Já estou com os artigos em mãos, e devo confessar que não consegui nem ao menos entender o título de alguns deles. Contudo, gosto de um desafio, coisa que esta cadeira parece ser.

Genética Aplicada à Psicologia - Eletiva
Review:
Candidata à melhor disciplina do semestre, e talvez do curso inteiro. Apesar de eu ter xingado ostensivamente quase todas as disciplinas que tive até o momento, isto não tira nenhum dos méritos de Genética. Primeiro, as aulas são no Campus do Vale, e eu adoro o Vale por ser um lugar distante do feudo intelectual do Instituto de Psicologia, e muito mais diversificado que este. Segundo, ao contrário do que o nome indica, as aulas não serão apenas sobre genética, mas sobre Neurociências em geral - eu tenho procurado uma disciplina deste tipo há algum tempo. E, terceiro, o professor Renato Flores é o cara. Ele sabe o que fala, e apesar de discordar de muitas de suas opiniões, simpatizei com ele por sua sinceridade e entusiasmo ao dar aula. Comecei a gostar dele logo nos primeiros minutos de aula, quando ele disse que não fazia chamada, pois "se tu ficares lendo 4 horas em casa, tu aprendes muito mais do que aprenderia em uma aula". Passar nesta cadeira não vai ser bolinho, pois além da prova, teremos que acompanhar um caso clínico de um paciente com algum tipo de doença genética (preferencialmente sem transtorno mental). O professor nos deixou livres para escolhermos algum paciente de estágio ou conhecido nosso, e, caso não conhecessemos ninguém que se enquadre nestes parâmetros, ele escolheria um dos pacientes do ambulatório dele. E, como ele mesmo disse, se ele tiver que escolher, vai ser do "horrível ao muito complicado", desde crianças em estado terminal, passando por deformações corporais tenebrosas até casos tantalizantemente insolúveis. E nós não vamos só ficar descrevendo o caso, mas vamos ter participação ativa na anamnese, diagnóstico e até tratamento! Como disse meu colega João "tô vendo que ele vai escolher uma criancinha terminal pra eu acompanhar, e eu vou ficar chorando pelos cantos por isso". Em suma, a disciplina de Genética vai ser a coisa mais próxima de um episódio de "House M.D." que vamos viver, por que, além de tudo isso, o Flores é médico, é pirado ("precisa de um exame neurológico? A gente consegue!") e tem uma deformidade corporal que chama a atenção, no caso, paralisia de metade da face. Em suma, a cadeira mais desafiadora e estimulante que tive até agora. Vou me dedicar de corpo e alma para tirar um A.