quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Relativismo e Verdade

Qualquer um que tenha entrado em um debate de qualquer nível já deve ter se deparado com o argumento relativista - minha opinião merece tanto respeito quanto a tua, portanto, não pode ser refutada. Na Filosofia da Ciência, isto é conhecido como "Tudo Vale", princípio idealizado por Paul Feyerabend. Segundo ele, todas as teorias científicas têm o mesmo valor, e pois todas sustentam-se sobre pressupostos radicalmente diferentes umas das outras. Em outras palavras, são incomensuráveis e por isso não podem ser comparadas. Como exemplo, ele citava a Mecânica Newtoniana e a Mecânica Copernicana.

Isto não é um argumento, mas uma defesa detestável, utilizada apenas para defender o próprio ego de ser humilhado por estar errado. É covarde. Há, na história das ciências e da filosofia, pelo menos dois exemplos de "movimentos" relativistas: os sofistas da Grégia Antiga e os pós-modernos atuais. Segundo eles, não existe uma Verdade absoluta, apenas verdades relativas, que podem ser verdadeiras em um lugar, mas falsas em outro. Não sei se existe uma Verdade absoluta - como eu poderia deter a solução para uma pergunta que há séculos atormenta a humanidade? Contudo, acredito que é nossa missão buscá-la sempre, mesmo que ela não exista. No debate na TVCOM entre o Renato Flores e a representante do Conselho Regional de Psicologia (CRP), a doutoranda Martha Narvaz, o que mais me deixou indignado não foram as idéias (estapafúrdias, diga-se de passagem) que ela expressou, mas a atitude relativista politicista dela. Para ela, basicamente, não existe uma verdade absoluta, e sendo assim, ela pode definir qual verdade é melhor, no caso, a que ela gosta mais. Ela não busca uma verdade absoluta, mas uma verdade "estratégica", que sirva aos seus próprios propósitos, ao invés de servir toda a humanidade.

Ainda assim, apesar do relativismo ser abominado pela maior parte dos cientistas, e talvez das pessoas no mundo, ele ainda assim é indispensável. Não este relativismo absurdo, mas um relativismo tolerante: saber que tudo que se acredita pode estar errado, e ao mesmo tempo saber que tudo o que o outro sabe também pode estar errado. Tente viver em qualquer lugar do mundo, com qualquer tipo de pessoa, sempre partindo do pressuposto que você está sempre certo. Se você não for exilado, preso ou linchado será um grande sucesso. É preciso ser relativista, mas de uma forma humilde, que assume o próprio erro, e não arrogantemente considerando-se acima de erros.

Mas é preciso ir além. Tanto na vida cotidiana quanto na ciência, é preciso saber que sua verdade é relativa, imperfeita e limitada, da mesma forma como a verdade das pessoas ao seu redor, mas usá-las, falhas como são, como ponto de partida para buscar uma Verdade maior, mais perfeita e ilimitada. Outro filósofo da ciência, Karl Popper, dizia que precisamos buscar falsear nossos conhecimentos - testá-los de todas as formas possíveis, buscando provar não que são verdadeiros, mas falsos, e, caso eles "sobrevivam", possam ser considerados verdadeiros, até que um conhecimento melhor seja encontrado. Obviamente, não somos capazes de fazer isto o tempo todo, pelos mais diversos motivos, sendo o principal deles que nos apegamos demais à nossa visão de mundo para buscar sua refutação. Mesmo assim, só por que é um ideal não devemos abandoná-lo.