quarta-feira, 21 de maio de 2008

Eternidade

Imortalidade. Eis um tema que desde tempos muito remotos fascina a nós, meros mortais. Foi em sua busca que os egípcios construíram as pirâmides e embalsamaram seus mortos, que os alquimistas buscassem a Pedra Filosofal, e muitos outros casos que sou incapaz de lembrar ou relatar. Pode parecer uma crença infantil, mas ainda hoje alguns cientistas acreditam que, se conseguirmos reverter o envelhecimento das células, poderemos viver para sempre, ou se conseguirmos clonar seres humanos com perfeição, teremos sempre um corpo novo à nossa disposição. Até agora, nada disto foi alcançado, e, pessoalmente, acredito que nosso destino final é a morte, não importa quanto tempo nossas células vivam. Mas isto é apenas vã especulação; o que posso dizer de concreto é que, até o momento, prova-se impossível viver eternamente.

Acho esta questão irrelevante. Realmente, soa tentador nunca morrer, e sempre ter tempo para fazer tudo que quisermos fazer. Mas caso isto se tornasse possível, creio que seria o fim da humanidade, pois tornaríamos todos monstros. Seríamos como os deuses do Olímpo, eternos e eternamente entediados. O motivo de acreditar que o destino final de todo homem e toda mulher é a morte é justamente a beleza de nossa efemeridade: por termos tão pouco tempo, vivemos da melhor e mais intensa forma que pudemos. Podemos não conseguir sempre, mas sempre tentamos. Cada abraço e cada beijo que damos deve ser dado como sendo o último que jamais daremos, pois de fato, ele nunca se repetirá – abraçaremos e beijaremos outras vezes, outras pessoas e em outros lugares, mas aquele primeiro momento nunca voltará: ele está morto e sepultado. Entretanto, sua beleza foi tanta que mesmo morto ele permanece vivo em nossa memória, e isto é o que interessa.

Não vivemos nem viveremos pela eternidade, mas é através de nossas vidas que a eternidade vive. Ser imortal é para pessoas fracas – os fortes vivem cada dia como se fosse seu último, até o dia de sua morte.

Hábitos de estudo

Me perguntem onde eu sento em aula.
Fonte: PhD

Meu Trabalho de Conclusão de Curso Ideal

Sou da primeira turma do novo currículo do curso de graduação em Psicologia da UFRGS. Dentre muitas características de estar em tal situação, há uma que se destaca: ninguém sabe no que esse currículo vai dar. Ao contrário do antigo, onde o curso divide-se em blocos epistemológicos-departamentais (1) (primeiro ano, Desenvolvimento; segundo ano, Psicologia Social; terceiro ano, Psicanálise), desde a primeira semana de aula do primeiro ano vemos todas as três visões. No currículo antigo, como o enfoque final era em Psicanálise, os graduandos acabavam tornando-se psicanalíticos, seja por acabarem desenvolvendo maior afinidade, seja por falta de opção. Isso não acontece conosco.

No currículo novo, pela metade do terceiro ano, temos que decidir em quais ênfases nos formaremos. Cada departamento criou uma ênfase, consoante com sua forma de pensar, agir e fazer pesquisa (por que pesquisa não é pensar nem agir!): há uma ênfase em Desenvolvimento Humano e Personalidade, uma em Psicologia Social e Institucional e uma em Psicanálise e Psicopatologia. Destas, temos que fazer no mínimo duas, mas é possível fazer as três (com um ano a mais de faculdade).

É fácil imaginar como serão as ênfases em Psicologia Social e Institucional e em Psicanálise e Psicopatologia, já que os departamentos responsáveis por estas são epistemologicamente bem homogêneos: é só Deleuze, Guattari, Foucault e Lacan. Os temas também são bem delimitados. No caso de Desenvolvimento Humano e Personalidade, a coisa é bem mais difícil. A começar pelo nome: qualquer coisa em Psicologia encaixa-se, de uma forma ou de outra, em Desenvolvimento e/ou Personalidade, inclusive Psicologia Social e Psicanálise. Além disso, o próprio departamento é um saco de gatos teórico. Nos corredores do Instituto, corre a piada que, se tivéssemos que definir cada departamento com uma única palavra, a de Social seria “subjetividade”, da Psicanálise “Lacan”, e do Desenvolvimento “Verba” (2), por que a única coisa que diferencia este departamento dos demais é o dinheiro abundante, graças
à seus inúmeros projetos de pesquisa e à sua pós-graduação nota 7 pela CAPES. Nele, há desde psicanalistas mais moderados até neuropsicólogos. Orientador para todos os gostos e necessidades filosóficas.

Sexta-feira passada, durante a reunião da Comissão de Estágios, na qual sou representante discente (dos estudantes), descobri como o Desenvolvimento pensa em estruturar teoricamente sua ênfase, lendo uma pequena lista de possíveis “sub-ênfases”. Nesta lista de cinco ou seis itens encontram-se dois de especial interesse para mim: Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia (3). E ler isto foi um grande transtorno para minha participação na reunião, pois passei a divagar sobre a ênfase e meu trabalho de conclusão de curso. Terapia Cognitivo-Comportamental pode soar um assunto bem limitado e circunscrito para quem não a conhece. Entretanto, Aaron Beck, um de seus idealizadores, escreveu um livro intitulado “O Poder Integrador da Terapia Cognitiva”. Não sei do que o livro trata especificamente, mas o título me soa bastante sugestivo e congruente com o que tenho estudado a respeito.

Baseado em meus estudos, posso dizer que esta linha teórica é extremamente flexível, pragmática e ampla, e não poderia pensar em assunto melhor para um trabalho de conclusão de curso. A TCC é ao mesmo tempo uma psicoterapia e uma teoria da personalidade econômica, que se baseia em poucos conceitos teóricos. Isto permite realizar um trabalho sobre Psicoterapia e Personalidade em geral. Sendo mais específico, permite que várias linhas teóricas diferentes da Psicologia sejam abordadas e integradas. Garanto ao meu leitor que, se para um psicanalista lacaniano é teoricamente incoerente ele aplicar técnicas comportamentais em sua terapia (4), o inverso não é verdadeiro para um terapeuta cognitivo-comportamental. De fato, outras teorias como a Psicologia Humanista-Existencial, a Psicologia Analítica, algumas linhas da Psicanálise e do Comportamentalismo não só são congruentes, mas também complementam a Cognitiva-Comportamental. Sentido da vida, arquétipos e individuação, estágios da vida e condicionamento operante não são desvirtuados se adaptados para uso nesta linha oferecida na ênfase. Pelo contrário, enriquecem a teoria. Sinceramente, acho que a Psicologia como ciência encontrou um paradigma unificador na Terapia Cognitivo-Comportamental, que permite uma ampla gama de pesquisas sem que tudo vire um saco de gatos raivosos, e uma teoria unificadora sólida (5).

Fiquei divagando sobre que tema falaria no trabalho de conclusão de curso. Já venho pensando nisso desde muito antes de conhecer estes detalhes da ênfase em Desenvolvimento Humano, e já tive três idéias diversas: fazer um estudo de caso sobre o preconceito racial em Caxias do Sul e na Serra Gaúcha, ensinar fundamentos de psicoterapia e psicodiagnóstico para padres de confessionário e religiosos que lidam diretamente com pessoas e seus problemas, e entrevistar mestres em diversas artes marciais e identificar traços de personalidade presentes. Surgiu agora uma quarta idéia: fazer um ensaio teórico sobre o Desenvolvimento Humano Superior – auto-atualização, auto-realização, individuação: o crescimento biopsicosocioespiritual de pessoas adultas saudáveis. Utilizaria como referência autores como Maslow, Rogers, Allport, Jung, Bandura, Erikson e Bronfenbrenner, e citaria por alto Piaget, Freud, Winnicott e Bowlby. Beck, Ellis e Young seriam obrigatórios. Talvez tenha que citar mais teóricos, mas estes com certeza. Poderia também relacionar tudo isto com conceitos de Neurociências e criar algum teste para medir este sutil desenvolvimento. Assim, eu abordaria toda a Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade, e de lambuja Neurociências. Tudo através da Terapia Cognitivo-Comportamental. Valeu, Aaron Beck!







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1. Preciso escrever um post sobre as diferenças político-teóricas entre os três departamentos, as brigas deles e as conseqüências disto para a graduação.

2. Alternativas possíveis são: “Dispositivo”, “Angústia” e “CNPq”.

3. Tinha outras coisas, como Transtornos do Desenvolvimento, Avaliação Psicológica e algo mais que não lembro agora, mas nenhum realmente tão interessante.

4. É teoricamente incoerente, mas funcionalmente não. Terapia é terapia.

5. Provavelmente os psicanalistas pensam a mesma coisa da Psicanálise. Acharia estranho se não o fizessem.