domingo, 16 de maio de 2010

Comendo na UFRGS - Um guia para os Restaurantes Universitários

Esta semana, eu realizei um antigo sonho meu. Depois de anos tentando realizá-lo, eu finalmente consegui: eu comi em todos os RUs da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Não só eu comi em todos, como eu já comi todas as refeições possíveis (exceto lanche da tarde, se ignorarmos o fato da janta ser das 17h30 às 19 horas). E o que isto mudou em minha vida? Absolutamente nada! Ainda assim, é algo muito legal, conhecer todos os restaurantes universitários e poder falar com propriedade de como é a comida em cada um deles. Assim sendo, vou aproveitar o embalo e fazer algo que quero fazer já faz algum tempo, e escrever mais um texto falando da experiência de comer no RU, só que desta vez comparando os 5 restaurantes atualmente em funcionamento na UFRGS e seus aspectos menos gastronômicos.

Vou começar pelo RU da Saúde, que, por ter sido o primeiro RU onde eu almocei e jantei, e por ficar aqui do lado de casa e do Instituto de Psicologia, é o restaurante que melhor conheço. Muitos estudantes da UFRGS dizem que este é o melhor restaurante de todos, por ser o mais bonito (sendo chamado de McRU por alguns - eu, inclusive), o mais organizado e ter a comida mais gostosa. Bonito ele realmente é, tanto que é possível comer ali e nem perceber que você está num bandejão, isto é, até você perceber que está de pé, no meio de um monte de gente, segurando uma bandeja de metal cheia de feijão com arroz procurando um lugar para sentar, por que ou todos os assentos estão ocupados, ou foram reservados por algum indivíduo sem a menor consideração pelas regras da casa. Isso, o fato das cadeiras serem desconfortáveis para quem tem perna comprida (em outras palavras, a maioria dos homens). A organização do espaço é notavelmente ergonômica, tanto que é possível pagar no caixa, pegar toda a comida (eu explico depois por que "toda") e o suco antes de ir bater em uma loira oxigenada da Odontologia para pegar o lugar que ela reservou com a bolsa da Daslu sem ter que fazer nenhum desvio. Acreditem em mim, isso é realmente importante. Quanto a comida, eu tenho as minhas ressalvas. Vejam bem, de um ponto de vista científico, é bem fácil de comparar a comida de um RU com a do outro, por que é sempre a mesma coisa para todos: feijão com arroz! Claro, algumas coisas variam conforme o dia e o local, especialmente a sobremesa e o extra (que não sei por que eu chamo de "guarnição"), porém o resto é todo igual. Então, se você almoçou no Centro, e jantou no Vale, saberá explicar com grande precisão qual foi a melhor refeição, por que só vai precisar dizer qual feijão com arroz era melhor. Por isso, digo que não gosto muito da comida do RU da Saúde por que lá é o lugar onde eu mais frequentemente como arroz cru. Não sei se as estagiárias de Nutrição fazem isso de propósito para fortalecer nossa dentição, mas eu não sou exatamente fã. Além disso, as tias do RU da Saúde são as mais mal humoradas. Não gaste seu lindo sorriso com elas, por que elas não vão te dar uma porção a mais de pudim de doce de leite por sua simpatia.

Depois, temos o RU do Centro. Na minha opinião, este RU não é lá muito relevante. Entretanto, a Reitoria deve discordar da minha muito validada opinião, por que frequentemente durante as férias este é o único RU que abre para satisfazer a fome dos estudantes. É o RU que mais tem história, considerando que fica do lado do campus mais antigo, bem na avenida João Pessoa, junto ao DCE e à Casa do Estudante, e até onde eu sei é o único RU que serve café, almoço e janta. Se eu reclamei de maneira velada a respeito da sobrelotação do RU da Saúde, aqui eu vou chorar as pitangas, por que o espaço aqui é uma piada de tão apertado. Entretanto, se por um lado isso é desagradável, por outro é um importante fator de socialização, por que você é forçado a comer lado a lado de pessoas que você nunca viu na vida (e que provavelmente são bem estranhas, considerando que estamos na UFRGS), e pode ter conversas bem interessantes. Além disso, recentemente (a quase dois anos), este RU foi reformado, e ficou um pouquinho mais espaçoso. O que a reforma não resolveu foi a marcada confusão que é comer ali - na minha opinião, só piorou. Você, muito intuitivamente, entra por uma porta lateral, se serve, daí volta até a porta (não a que você entrou, a outra!), pega o suco e daí você vai se espremer entre os caras da engenharia elétrica. Faz algum tempo desde a última vez que eu comi feijão com arroz lá (minha última refeição no Centro foi pão com manteiga e geléia de gosto aleatório), mas, se me lembro de maneira adequada, não era ruim. Ou, se era ruim, o arroz não era tão cru quanto o da Saúde.

Agora crianças, peguem seus cartões TRI, suas merendeiras, seus facões, seu estoque de maconha e se preparem para ficar um bom tempo em um ônibus por que nós vamos para o Campus do Vale! Eeeeeeeeeeeeeeeee! OK, exageros à parte, eu realmente gosto do Campus do Vale. Atualmente, é o lugar onde eu mais tenho passado meu tempo, por causa do estágio e da cadeira de Antropologia que eu peguei ali, e é o campus da UFRGS com o melhor RU de todos. Para quem estuda na mesma universidade que eu, isto vai soar estranho, por que o RU do Vale é o mais criticado de todos, tanto que é o único a ter uma comunidade no Orkut especialmente devotada a criticar os alimentos ali servidos. Isso, e o Campus do Vale é o único entre todos os campi da UFRGS a ter uma comunidade dedicada a dizer que ele fede, mas isso não vem ao caso agora. O que importa dizer agora é que o RU do Vale é polêmico. Eu vou defender ele, por que, apesar da ergonomia do lugar parecer algo tirado da Idade Média (aliás, quando você come lá, se sente como se tivesse entrado em buraco no tempo), todo o lugar ser bastante escuro e mal iluminado, a paisagem é boa e a comida é ótima. Sim, o feijão com arroz deles é o melhor de toda a universidade, e sempre que eu como lá eu sou agradavelmente surpreendido.

Falemos agora do RU da Agronomia. Tenho a impressão de que, para os demais estudantes da UFRGS, este RU é algo como o continente da Oceania: todo mundo sabe onde fica, mas ninguém vai lá por que é longe demais. E, de fato, ir até a Agronomia para quem não faz, bem, Agronomia é bastante complicado. Porém, sendo eu o idiota que eu sou, já fui até lá. À pé, desde o Campus do Vale, o que dá em torno de 30 minutos pela avenida Bento Gonçalves. Reza a lenda que há um atalho de 15 minutos pelo meio do mato entre a Agronomia e o Vale, só que eu nunca descobri onde fica isso, e tenho medo de tentar fazer sozinho (ou sóbrio). Em todo caso, a idéia de ir à pé até a Agronomia foi ruim, mas comer lá, nem tanto. Este RU, ao contrário dos que descrevi anteriormente, não tem o objetivo de servir muita gente, pois, na realidade, só quem cursa Agronomia come lá (SURPRESA!). Portanto, a sensação que se tem ao comer lá é bem diferente da de comer no Campus do Vale ou mesmo na Saúde. Há poucas mesas, e o problema de organização é irrelevante, pois se pode ir do bufê à mesa e da mesa ao balcão do suco sem esbarrar em trinta pessoas diferentes no caminho. As janelas altas e largas deixam o ambiente bem iluminado e aconchegante e a comida... bem, a comida é OK. De maneira similar ao RU da Saúde, o Agronomia é conhecido entre a massa dos estudantes como sendo muito bom, justamente por ser pequeno e servir poucas refeições. Contudo, eu acho que essa fama só existe por que ninguém nunca come lá, com as notáveis exceções dos futuros agrônomos e idiotas presentes (suspeito que estes dois grupos não sejam lá tão distintos). Não que a comida seja ruim, mas não é tão boa quanto a do Vale.

O mesmo eu posso dizer do RU da ESEF. Este foi o último dos restaurantes universitários a ser construído, e o último onde eu consegui comer. Eu o descreveria como sendo mais parecido com um restaurante de família do interior do que um RU, por que... sério, não parece em nada com os demais: ele é pequeno, com mesas bonitinhas e pouca gente. Para ser sincero, ele é o RU mais parecido que há com o da Agronomia, com a diferença que este último ainda me faz lembrar que estou na UFRGS. De novo, organização é uma coisa irrelevante para um restaurante tão pequeno, e a comida é OK. Entratanto, gostaria de reclamar do RU da ESEF por que eu tenho a séria impressão de ter comido feijão feito com carne ou salame, e por não terem avisado que a sopa da guarnição tinha frango.

Creio que era isto tudo o que eu tinha para dizer sobre os restaurantes universitários da UFRGS. Claro, eu poderia começar uma série de posts falando sobre os outros RUs, de outras universidades, onde já comi, mas considerando quão ridículo é ficar fazendo análises críticas de refeições que custam R$ 1,30, eu vou parando por aqui. Todavia, se eu ainda estiver na UFRGS quando o RU da Computação for inaugurado, esperem um comentário meu sobre como é comer lá. Por que eu não tenho mais nada de útil para fazer.

Limpando a casa

Pois é. Mais de um mês sem atualizações. Se este blog fosse uma casa de verdade, os móveis estariam cheios de pó e a comida na geladeira toda estragada (o que me lembra do meu primeiro ano de faculdade). Ainda assim, voltei para arrumar as coisas um pouco, como aquelas donas-de-casa obsessivas fazem de tempos em tempos com suas residências na praia.

Tenho uma hipótese para explicar por que tenho escrito tão pouco ultimamente. Segundo esta minha hipótese, todos nós temos uma quantidade pré-determinada de energia criativa que, se não for investida de alguma maneira para criar algo, é perdida, e quando isto acontece,  ficamos insatisfeitos, por que somos dominados por uma vaga e penetrante sensação de que algo se perdeu. Por outro lado, se utilizamos toda ou quase toda nossa energia para um fim que sentimos nos completar, os outros meios de liberação de energia são esquecidos ou deixados para o segundo plano.

Meus colegas de Psicologia perceberão que eu acabei de reeditar a teoria da sublimação do Freud, mas acho que, até certo ponto, ele estava certo. Se observarmos com atenção, perceberemos que a época em que mais escrevi aqui no blog foi durante meu segundo ano de faculdade, indiscutivelmente o mais inútil de todos até agora. Porém, no terceiro ano, quando começaram meus estágios, minha atividade literária diminuiu bastante, por que estava investindo minha libido em outras atividades, que considero muito satisfatórias. Este ano, que tenho escrito ainda menos, eu tenho tido experiências ainda mais positivas nos meus estágios, e, apesar de ainda ter muitas idéias para textos e ensaios, eu acabo esquecendo deles, sem sentir a "falta" que sentia quando isso acontecia no meu segundo ano. Dito de outra forma, eu estou criando outras coisas este ano: relações com pessoas, conceituações teóricas e principalmente uma identidade mais forte. Pessoalmente, considero impressionante que eu consiga fazer tudo isto.

Porém, penso que isto não se manterá assim para sempre. Gosto muito de escrever, e não quero abandonar meu lado literário, que hoje é representado pelo EC. Entretanto, não posso prometer muitos textos para este ano, a não ser que alguma coisa mude no meu "equilíbrio dinâmico": a satisfação diminuir ou a energia aumentar. Esperemos que a última coisa se realize.