quarta-feira, 16 de abril de 2008

As Provações da Faculdade VI

Acabei de terminar o relatório de Processos Grupais. Isso quer dizer que por uma semana não terei que me preocupar com escrever relatórios. Ah sim, a próxima observação de grupo é amanhã.

Fiquei satisfeito com o trabalho que fiz, de um modo geral. Entretanto, fico com a sensação de que algo está faltando, que deveria ter posto mais alguma coisa. Como sempre tenho essa sensação, mesmo antes de publicar alguma coisa aqui no blog, geralmente ignoro-a.

Como já disse, fiquei satisfeito com o relatório. Consegui, partindo dos fragmentos que anotei durante a observação, tecer uma trama coerente, e identifiquei padrões grupais observando apenas indivíduos. Não pretendo falar muito aqui sobre o grupo que observo, pois prometi o mais absoluto sigilo sobre as reuniões (fora do relatório, não posso dizer nada do que aconteceu lá. Não, não estou observando maçons e não, ninguém comeu a minha bunda). Entretanto, sinto-me receoso de não ser tão bem avaliado neste trabalho por que eu não me ative aos autores preferidos do professor.

Pelo o que entendi das aulas, e pelo o que os meus veteranos que já fizeram essa cadeira dizem, o professor quer que nos pautemos nas observações pelos autores dele (Lacolla, Lapassade, Bion, Pichon-Riviere), e, caso consigamos, podemos encaixar alguma coisa de um outro teórico que nos agrade, mas de preferência isso deve ser secundário.

O fato pelo qual meu relatório me agradou foi por ter sido coerente, tanto internamente quanto em relação a mim. Usei Lacolla e Bion como referência, além de um texto escrito pelo próprio professor, mas pautei-me principalmente por teóricos existencialistas, como Frankl e Maslow. Além disso, utilizei-me da filosofia e um pouco de teologia, citando epicuristas, filosofia budista e fazendo uma certa comparação de uma situação do encontro com a parábola do filho pródigo. Estas teorias que utilizei tem uma coisa em comum: são individualistas, ou em palavras mais exatas, focam-se mais em comportamentos individuais do que grupais. Consegui transformar os retalhos individuais em um trançado coerente do ponto de vista do grupo, e pessoalmente, achei isso bem legal. Mas não sei se o professor e os monitores irão gostar disso.

Um veterano meu disse que, em um relatório, ele fez uma análise dos fatos através da teoria de Foucault. Segundo ele ficou bem bacana. Mas o máximo que o monitor corrigindo fez foi notar que ele usou um teórico diferente. Como se apontasse um detalhe no bolso do meu casaco (como uma sujeira). De preferência, temos que usar aqueles autores, e quanto menos usarmos outros, melhor.

Uma outra veterana, incapaz ou pouco disposta a usar Lacolla para analisar por que Fulano coçou o nariz na hora que coçou, preferiu fazer uma análise behaviorista dos fatos. Tomou um D como nota final e repetiu. Devo admitir que corro o mesmo risco.

Fazer isso é o equivalente a uma castração intelectual - e por mais que os lacanianos ressaltem a importância da castração pelo pai da relação mãe e filho, ser obrigado a pensar como meu professor pensa não é nem produtivo, e nem muito menos bom. Claro, pode ter alguém que goste das teorias utilizadas (os monitores pelegos, por exemplo), mas isso não é válido para todos (minha veterana com certeza, e eu talvez). Tomar a atitude que o professor toma nessa aula equivale a dizer "vocês podem seguir qualquer teoria, desde que seja a mesma que a minha". Mas não deixa de ser hilário que são justamente os professores que mais criticam Henry Ford os que mais o imitam.


E eu não vou nem entrar no mérito do tempo que eu perco fazendo relatórios em que eu poderia estar lendo.

As Provações da Faculdade V

Quase acabando. Falta só fazer a síntese do relatório (a parte que o professor lê. O resto ele deixa pros monitores pelegos). Até já consegui encaixar uma citação "teacher-friendly"!