terça-feira, 27 de maio de 2008

Cuba e minha posição política

Todo bom acadêmico esquerdista brasileiro adora falar bem de Cuba e de Fidel Castro. Não tenho nada contra isto, mas considerando que este tipo de acadêmico é maioria nas universidades públicas, e que frequentemente eles tentam calar vozes dissidentes, sinto-me um pouco indignado quando eles começam a falar de Cuba.

Pode ser impressão minha, mas parece que, para estas pessoas Cuba é o paraíso na terra: elogiam o sistema de saúde, o governo socialista, o sistema de educação, a distribuição de renda. Estes são realmente os pontos fortes do governo cubano. Mas não sei se não são os únicos.

E meus amigos esquerdistas frequentemente esquecem de mencionar que o governo cubano é uma ditadura há quase 50 anos, desde que Fidel Castro e seus compadres tomaram o poder, que pouquíssimos cubanos podem sair do país livremente e que inúmeras balsas abarrotadas de fugitivos saem clandestinamente em direção aos EUA, el gran satan. Já ouvi muitas racionalizações sobre os dois primeiros pontos, mas sobre os fugitivos ninguém que defenda Fidelzito consegue me explicar. Francamente, acho estranho que haja mais pessoas estrangeiras à Cuba defendendo o regime cubano do que cubanos. Ou o mundo sofre de esquizofrenia, ou Cuba não é esse paraíso que tentam me vender.

Quando falo em “esquerda”, “esquerdistas” e termos afins, dou a entender que não sou de esquerda, mas não sou capaz de definir exatamente o que sou. Já me chamaram de “reacionário”, que vem a ser o supra-sumo do direitismo. Mas considerando que todas as vezes que me chamaram assim vieram de arrasto alguns palavrões e ofensas diretas (“arrogante” por exemplo, além de outros que prefiro não mencionar), não dá pra considerar estas definições sobre minhas opiniões políticas como sendo válidas, pois partiram de pessoas raivosas, mais preocupadas em me atingir do que debater.

Certamente, não sou de esquerda. Não acho que eu preencha o quesito número 1 para ser assim definido – não sou acéfalo. Também não acho que eu seja um direitista – por que eu tenho coração. Deleuze disse uma vez que direitista é todo aquele que pensa primeiro em si, na indústria, no governo e depois nos outros, e que esquerdista é quem pensa primeiro nos outros. Nunca levei Deleuze a sério, mas esta afirmação dele é a mais tendenciosa que poderia existir. Se ele não fosse um cara com mestrado, doutorado e não sei mais o quê, se ele fosse uma pessoa sem muita educação ele teria dito “a esquerda é do bem e a direita do mal. Quem não for de esquerda é do mal.” OK, posso estar interpretando erroneamente esta afirmação dele, e que na verdade ele estava tentando definir esquerda-direita pela bondade, e não tentando dicotomizar a política entre certo e errado, mas como já disse, Deleuze falou pouca coisa que presta (e só não digo que não falou nada que presta por que é estatisticamente provável que ele já tenha dito algo útil).

Não acho que não existam diferenças ideológicas e políticas entre esquerda direita, mas acredito que, num panorama mais amplo, estas diferenças tornam-se irrelevantes. Não acho que quem seja de esquerda pense primeiro no bem-estar alheio e que quem seja de direita pense primeiro no bem-estar do dinheiro: os dois pensam no bem maior, mas de maneiras diferentes. Mas daí para antagonismos entre as partes é um salto. O governo Lula é um governo de esquerda e prioriza programas sociais, mas seu maior mérito é ter adotado a política econômica do governo anterior, direitista. Ou pelo menos isso é o que me dizem vários formadores de opinião em política e economia.

Há diferenças entre esquerda e direita? Sim, mas elas são irrelevantes. Não acho que exista um continuum entre estes dois extremos, com o DEM de um lado e o P-Sol do outro. Acho que o que existe é um círculo, onde os extremos se tocam, e onde o antigo PFL e o partido da Heloísa Helena se encontram em seus extremismos.

Não acho que o caminho mais curto para um mundo melhor seja abandonarmos as diferenças – das últimas vezes que tentaram isso não prestou, e até por que seria muito chato se realmente acontecesse. É com as diferenças que crescemos (ô frase tirada de livro de auto-ajuda!), com o atrito gerado por idéias divergentes. Mas acredito que o que devemos deixar de lado é a idéia de que nossas idéias são melhores que as dos outros.

Uma revolução digna de nos inspirar

No meio que vivo, a grande maioria das pessoas adora desancar os Estados Unidos, chamá-los de escroques, imperialistas e gananciosos, enquanto adoram elogiar o Fidel Castro e como ele governou bem Cuba. Tudo isso com um exemplar de “O Capital” do Marx de baixo do braço.

Mas eu sou do contra, realmente. Já pensei de maneira muito parecida com a que estes meus colegas pensam, mas depois de morar seis meses como intercambista nos Estados Unidos (que era na verdade minha segunda opção), revi meus conceitos. Acadêmicos esquerdistas adoram falar na Revolução Cubana, ou nas revoluções do proletariado que ocorreram por todo o mundo, graças à obra de Marx e Engels. Mas acredito que nenhuma dessas teria ocorrido se não fosse pela Revolução Americana de 1776.

Americana, sim, pois todo nosso continente, de norte a sul estremeceu com a audácia das colônias que decidiram tornar-se uma nação. Sem a sua inspiração, nem a Revolução Francesa de 1789, nem nenhum outro levante popular teria encontrado forças para acontecer.

Apesar de a democracia existir desde a Grécia antiga, e de já no século XVIII existirem repúblicas muito antigas, como Veneza e Holanda, o primeiro governo realmente democrático e popular foi o dos Estados Unidos da América. Podem argumentar que a declaração de independência dos EUA e sua Constituição foram escritas por homens brancos, ricos e donos de escravos que queriam manter seus direitos, mesmo que à revelia do direito dos demais. Mas ninguém poderá dizer que, mesmo com todos os preconceitos inerentes a classe deles, os founding fathers não criaram uma nação forte, democrática, buscando sempre uma união mais perfeita. Também não poderão dizer que os EUA tornaram-se independentes apenas pelo desejo de uma minoria abastada – a guerra de independência tomou as trezes colônias, de norte a sul, e todos os cidadãos estavam nela envolvidos de corpo e alma. Bem diferente do que aconteceu 1822 aqui no Brasil.

Não sei se posso dizer que é uma tendência, mas noto que é mais comum xingarmos os EUA por sua ignorância e elogiarmos os países europeus por sua cultura. Francamente, acho que a Europa é um continente deprimente; cheio de história, mas também de preconceitos, em especial contra americanos – não só dos EUA, mas brasileiros, mexicanos e canadenses também. Para eles, não passamos de colonos mal agradecidos, que não souberam se comportar. E mesmo assim, ficamos a paparicar os europeus e seus hábitos superiores.

Prefiro os americanos de todo o continente, mas admiro de especial maneira aqueles que juram fidelidade ao star spangled banner. Eles são cheios de defeitos, são impulsivos, um pouco prepotentes, têm um governo ruim, mas em muitos aspectos são o melhor modelo que temos de democracia. Hoje é a Europa se inspira neles.

Não sou historiador, mas acredito que, quando foi declarada a independência dos Estados Unidos da opressão britânica, acredito que o fizeram por motivos econômicos, religiosos, culturais, mas principalmente por amor-próprio. Eles cansaram de serem tratados como lixo, tal e qual os espanhóis nos trataram nos aeroportos. Se há algo que me inspira nos EUA, é o amor que eles têm por seu país, e a capacidade de autocrítica que eles possuem. Eles são cheios de defeitos e sabem disso, mas tentam de todas as formas de tornarem sua terra um lugar melhor para se viver. Deveríamos esquecer Cuba e seu governo ditatorial, Marx e suas preleções, o arrogante continente europeu, e nos inspirarmos em nossos irmãos do norte. Eles não são uma potência hoje por nada. Por isso peço que Deus abençoe a América: os EUA, o Brasil e todo o continente.