sábado, 18 de outubro de 2008

O Monstro de Sete Cabeças da Política Estudantil

Desde que entrei na UFRGS, minha relação com a política do movimento estudantil foi bastante ambígua. Se, por um lado, eu sempre tive vontade de participar ativamente na construção de uma universidade melhor, por outro fui levado a desconfiar bastante de quem se envolve em órgãos deliberativos estudantis, em especial maneira o Diretório Central dos Estudantes (DCE).

De certa forma, sou um produto típico do meu curso, pois a Psicologia é politicamente estranha e até mesmo alienada, pois ao mesmo tempo que somos conclamados a participarmos de movimentos como a Reforma Psiquiátrica e o boicote à Lei do Ato Médico, ninguém dá a mínima para o que acontece no Campus do Vale, ou até mesmo nas unidades vizinhas à nossa se isto não interfere de forma direta nos nossos próprios interesses. Estou sendo injusto ao dizer que ninguém dá a mínima para o que acontece no resto da Universidade. Mas o que observei ao longo de quase dois anos estudando ali é que são muito poucos os casos de pessoas que fizeram algo concreto nesta direção. Geralmente, as energias de quem se interessa por este assunto são voltadas para nosso próprio Diretório Acadêmico da Psicologia (DAP). Eu próprio me incluo nesta categoria.

O DAP, ao contrário da maioria dos diretórios e centros acadêmicos é uma auto-gestão. Isto significa que não são feitas eleições anuais para decidir qual grupo (geralmente, patrocinado por algum partido político relativamente influente) irá representar os interesses estudantis, mas que não só o estudantes de psicologia da UFRGS, mas TODAS as pessoas que queiram se envolver, integram a sua administração, e têm direito a voz e voto, não importando se eles são membros do PT, do PSOL ou de partido algum, como ocorre em muitos outros lugares. Se todos os indivíduos ligados de alguma forma ao DAP fossem responsáveis e se envolvessem de forma satisfatória, este seria o modelo perfeito de gestão. Mas, como qualquer ser humano com mais de 10 anos e que já fez trabalhos escolares em grupo sabe, as coisas não funcionam assim, e o que quase sempre acontece é que um ou dois infelizes carregam o piano sozinhos, e os demais ficam apontando o que eles fazem de errado. Quem se importa com o que acontece no resto da UFRGS está ocupado demais com os problemas específicos da Psicologia, e quem não se importa não faz nada de qualquer maneira.

A própria ideologia da auto-gestão nos leva a ignorar as instâncias deliberativas mais amplas, principalmente o DCE. Pensamos que nosso modelo é o mais democrático possível e que qualquer outra forma de participação menos direta é perda de tempo. Um dinossauro do DAP falou em uma reunião que nunca se envolveu com o DCE por que não acredita no sistema de voto representativo e por que não queria ser manipulado por nenhum partidão.

Paradoxalmente, todas estas influências me levaram a concluir que devemos, sim, pelo menos uma vez entrar no jogo da eleição do DCE. Por eu ser um destes carregadores de piano, enfrentei as minhas próprias limitações e as de outros cursos, e percebi que não podemos fingir que estamos isolados. Concluí que é covardia usar a podridão do sistema como desculpa para alienar-se dele, e que é inaceitável criticar de braços cruzados quem não adota a mesma postura e vai à luta usando as regras do próprio sistema. Concluí, então, que este ano eu tenho que de algum jeito participar ativamente em alguma chapa concorrente para o DCE, pois esta é a maneira mais simples e direta de fazer aquilo que o Marcelo denominou de Democracia Direta. O momento existencial que vivo agora me faz desejar ser mais do que um observador empolado (coisa que psicólogos fazem com muita freqüência) e fazer as coisas com minhas próprias mãos, mesmo que isto me leve a envolver-me com os partidões e suas sujeiras (acredite, já estou no meio delas antes mesmo de ter feito qualquer coisa especial). E, por fim, é esta imagem que tenho do DCE como um monstro de sete cabeças que me faz querer enfrentá-lo. É o cheiro de desafio que ele emana que me atrai. Eu sempre tive um complexo de herói.Está na hora de encarar alguns dragões.