segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Filmes de Herói

Acabo de assistir o filme Batman Begins, depois de ter assistido quase em seqüência toda a trilogia cinematográfica Spider-Man. Filmes de herói são repetitivos, especialmente os feitos em Hollywood, mas talvez seja justamente algo que se repita neles que os tornam tão numinosos para mim. Um colega meu disse que filmes são como livros, e que depois de um tempo nos tornamos mais seletivos quanto ao que assistimos. Esse meu amigo, ao contrário de mim, acha filmes de herói uma pura perda de tempo.

Não sei ao certo por que fico tão fascinado por que fico tão fascinado por estas babaquices infantis. Os behavioristas diriam que meu comportamento de gostar de histórias de pessoas usando capas e máscaras foi reforçado de maneira consistente, e portanto se mantêm até hoje. É uma explicação bastante racional e plausível. Mas não é o bastante justamente por não ter um coração. Talvez o grande motivo para este tipo de filme fazer tanto sucesso apesar de usar uma fórmula tão gasta seja que sua mensagem faça eco no fundo de nossas almas, não só a minha, mas como a de milhares de outros que gastam seu suado dinheiro para ver filmes como Dark Knight no cinema. Batman e Spider-Man nos atraem e nos emocionam (eu chorei em muito filme de herói) e nos inspiram por serem modelos do que aspiramos nos tornar. Com a possível exceção do Batman, todos os super-heróis são caricaturas da realidade que, dotados de poderes além da imaginação humana, decidem por uma vida dedicada ao combate à injustiça e à busca pela verdade. Não é uma vida fácil - por ela, Peter Parker precisa renunciar ao amor de Mary Jane, aos estudos, ao trabalho remunerado, e Bruce Wayne, pelo menos o encarnado por Christian Bale, é levado a vestir a persona de um playboy irresponsável e decadente, para que ninguém desconfie de suas atividades como morcego. Existem heróis em nosso mundo, certamente menos exuberantes e poderosos, mas por isso mesmo muito mais impressionantes e inspiradores. Mohandas Gandhi, cuja vida foi levada às telas em 1982. Uma das cenas mais impressionantes que já vi em um filme foi a jornada até o mar, que Gandhi liderou para boicotar o sal vendido pelos britânicos e demonstrar que a independência da Índia não era sonho, mas fato consumado. Em cada cidade que ele passava, mais e mais pessoas se uniam a ele. Poder nenhum além da verdadeira vontade poderia ter feito isto.

Mas não importa quantos blockbusters cheios de efeitos especiais, heróis e mensagens bonitas saiam todos os anos dos estúdios de Los Angeles, a grande maioria das pessoas que vão assistí-los, seja no cinema ou em casa, não vão ir além do espanto mais superficial: a violência do filme, os gráficos, os carros usados no filme. Alguns, especialmente crianças, vão sentir-se inspiradas, e vão desejar ser o Batman, mas isso não vai durar, seja por que vão se encher o saco com o tempo ou por que os pais ou os amigos disseram que é pura fantasia. A parte grosseira, violenta e material sim, é apenas uma forma fantasiosa que a história tomou. Mas parece que a mensagem verdadeira e mais profunda (pelo menos na minha opinião) se perdeu entre a fumaça e os espelhos dos efeitos especiais: a de que não existem heróis da ação, apenas da renúncia. A força de Batman não reside no seu tanque de guerra, ou a do Homem-Aranha em suas teias, mas no fato de terem aberto mão de seu conforto para combater o crime. A ação é secundária.

Talvez algumas pessoas sejam capazes de ver esta mensagem, mas ficam apenas no plano cognitivo. Consideram-se virtuosas e heróicas, mas nada fazem de verdade. Elas podem até ter um enorme potencial para fazer o bem, mas como bem disseram em Batman Begins, "não é o que sou por dentro, mas o que faço que me define". Não adianta ser um grande guerreiro apenas em pensamento - é necessário agir no mundo real, ou coletivo, em que vivemos.

E, talvez, haja quem não fique apenas no plano cognitivo, e que vão além de ficar sentado olhando outro ser nobre. Para ser sincero, cada vez mais acho que existem cada vez menos este tipo de pessoa. E espero do fundo do meu coração ser uma delas.