quinta-feira, 26 de junho de 2008

Panelas sentientes

A coisa não tá muito longe disso aqui em casa...
Como diria um colega meu "é só um pote sujo cheio de micróbios, mas eles já têm um sistema político mais avançado que o nosso e só estão esperando o consentimento do Parlamento para conquistar o resto do mundo."

Deveres

Não sei como funciona nas outras universidades, nem mesmo nas outras unidades orgânicas, mas aqui no Instituto de Psicologia da UFRGS, os estudantes têm direito a uma vaga nas reuniões deliberativas, como comissões, núcleos e departamentos, com voz e voto, de forma que possamos garantir que as coisas que os professores decidirem não seja absurdo demais (e isso é bem difícil de se conseguir). Chamamos os nobres colegas que se metem nestas furadas de Representantes Discentes, ou simplesmente RDs. Eu sou um desses.

Represento os estudantes na Comissão de Estágios, que foi criada ano passado com o intuito de discutir e definir o regulamento e os padrões dos estágios do novo currículo, que todas as novas turmas de Psicologia da UFRGS estudarão. Esta comissão é uma das mais críticas, pois estamos discutindo os estágios básicos - estágios com menor carga horária, que servirão para "naturalizar" os estudantes verdes como nós no "mundo real" das pessoas que trabalham de verdade. Eramos para ter o Estágio Básico I no próximo semestre, mas por que a comissão se enrolou demais, só vamos ter no ano que vem. Não que eu ache isso ruim, por que se esse estágio realmente saísse próximo semestre seria feito completamente nas coxas, já que não há nenhuma proposta definitiva do que é um estágio básico. Além disso, teremos só 4 disciplinas obrigatórias em 2008/2, o que significa mais tempo livre e disciplinas eletivas.

Algum tempo atrás, expressei meu desejo de largar esta bosta de comissão semestre que vem e deixar outra pessoa tomar meu lugar. Mas acho que não vai dar. Mandei um e-mail para a chefe da comissão, perguntando quando será a próxima reunião. Não há data definida. Exatamente como foi o semestre passado. E foi justamente isso que fez com que perdessemos o Estágio Básico I. Queria largar, mas o dever me impede - tenho que tocar o terror e fazer esta comissão funcionar, e não sei se outra pessoa seria capaz de fazer isto. Mais um semestre de incomodação.

Aço ao Vento

Quem me conhece sabe que não sou muito dado a explosões de afeto, muito menos de ficar falando sobre meus sentimentos. Dei uma lida no DSM hoje para um trabalho, e quando se faz isso é impossível não pensar que aquele livro cinza gigantesco não é a "Coletânea Capricho de Testes" e ficar vendo em quais critérios dos transtornos tu te enquadra. Não cheguei a completar o diagnóstico, mas um número considerável de critérios para Transtorno Obsessivo-Compulsivo de Personalidade (TOCP) se aplicam à mim. Ah, olhei também o Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade e está confirmado: eu tenho esta bosta. Queria ter olhado para Tourette, mas não dispunha de tanto tempo assim.

Em todo caso, não quero ficar falando dos meus transtornos de comportamento. Lembrei-me deste meu quasi-diagnóstico de TOCP por que, em uma dessas aulas chatas tomadas de apresentações, falaram que o TOCP encontra-se no extremo oposto ao Transtorno Histriônico de Personalidade, que é dado a explosões de afeto e a ataques histéricos, sendo mais introspectivo e contido emocionalmente. Pois é, me identifico com esta definição. Não sei por que sou assim - genética, condicionamento operante, volições pretensamente literárias, a conjunção de Urano com Krypton - e também pouco importa saber. Sou assim e é isto que conta.

Contudo, tenho que dizer que o verbo ser fora conjugado em um tempo verbal um tanto quanto impreciso. Ao invés de "sou assim", deveria ter escrito "estou assim", por que tudo muda, inclusive a personalidade. Posso ainda não ser um Amaury Jr. de extroversão, nem ter alcançado o nível de emotividade de uma personagem de novela mexicana, mas não consigo mais me esconder atrás da minha antes poderosa armadura intelectual quando falo de relacionamentos afetivos. Não dá mais para evitar pensar no assunto, pois o próprio assunto tornou-se inevitável! Nem tão antigamente assim, meus mecanismos de defesa nunca me deixavam na mão, mas parece que as engrenagens deles enferrujaram ou foram sabotadas, pois estão cada vez mais defeituosos. E quem fica jogando areia neles sou eu, por que cansei de ficar me escondendo da vida. Cansei da droga da armadura, e estou jogando cada pedaço que arranco da minha pele abismo abaixo.

Eu era um cara durão, que achava que emoção é coisa de mulher e de fresco, pior que o próprio Descartes. Acho que parte de mim ainda é, considerando o tamanho do conflito interior que enfrento quase todos os dias. Tem um psicólogo, o Jeffrey Young, que desenvolveu um modelo de Terapia Cognitivo-Comportamental de longo prazo, chamada Terapia Focada no Esquema, ou Esquematerapia. Segundo este modelo, os nossos Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) são ativados toda vez que temos que confrontar uma situação afetivamente semelhante a nossos traumas, nossa mente é inundada de pensamentos automáticos negativos, nosso corpo começa a emitir respostas autonômicas de luta ou fuga e nos comportamos de forma a evitar mais estresse, e frequentemente fugimos ou fazemos merda, reforçando nossos EIDs e aumentando a possibilidade de na próxima vez fazer a mesma merda e alimentar o círculo vicioso. Sinto isso acontecendo na minha pele. Sei que minha experiência pessoal não é cientificamente relevante, e que esta não foi a descrição teórica mais precisa que poderia ter escrito, mas foda-se a ciência! Desta vez a Psicologia é secundária!

Eu realmente era um cara durão, que achava que relacionamentos são para fracos, e que se por algum acaso eu caísse em um eu continuaria sendo durão. Mas como já disse um amigo meu "o Fulano achava a mesma coisa, e hoje tá aí, lambendo o asfalto se a guria dele manda!". Eis um cara sábio falando. A gente amolece. Olhem só pra mim, escrevendo sobre minhas dúvidas existenciais mais vergonhosas num blog! Se eu publicar isto, vai estar mais do que provado que eu me tornei um fresco sem esperança de cura. Mas talvez a doença que eu tanto evitei seja hoje a cura e minha redenção.

E toda esta alquimia interior começou por causa de algo que não é senão uma promessa, uma possibilidade de relacionamento. É instável, e tem pelo menos uns 40km de distância para me atrapalhar. Tem tudo para dar errado mas eu quero que desta vez dê certo. Dizem que o passado não volta. Isso é mentira. Passamos quase toda nossa vida remoendo e reencenando ele, de forma que quase não vivemos o presente. Somos quase todos neuróticos. Mas cansei do passado, de fugir por ser mais cômodo, menos cansativo e menos humilhante. Eu quero conhecer meu presente e meu futuro, sejam eles o que forem. Se algum dia um demônio se esgueirar na minha mais solitária solidão, e me dissesse que teria que reviver esta minha vida ainda uma vez e ainda inúmeras vezes e que nela nada haverá de novo, quero poder responder que nada me daria maior prazer, por que tive coragem de ser o que quero ser, de fazer o que quero fazer. Agora é a hora de agarrar o touro pelas aspas. Aqui. Agora. Sempre é aqui e agora. Qualquer um que já leu alguma coisa de filosofia existencialista sabe dizer isto, mas são poucos que sabem fazer de verdade e ser existencialmente verdadeiro. Não sei como é ser existencialmente verdadeiro, até por que não tem nenhum manual ou passo-a-passo que explique como, mas farei o que puder, e simplesmente serei verdadeiro comigo mesmo.

Este é o texto mais vergonhoso que eu poderia ter escrito, pois não poderia ter criado nada que pudesse gerar tanta ansiedade em mim para apertar o botão de "Publicar". Vou publicar do mesmo jeito. Foda-se. Foda-se também a boa educação. Não precisa ninguém me dizer que não é vergonhoso gostar de alguém, por que cansei de ouvir isto. E lá vai outro pedaço da minha armadura abismo abaixo.

Sorte Orkutiana do Dia (Parte 3)

Sorte de hoje: Uma imaginação bem canalizada é fonte de grandes proezas.

Considerando que eu tenho que realizar proezas todos os dias, não é grande novidade.