quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sócrates Modernos

Muitos fatores influenciam na escolha de uma profissão. Desejo de prestígio e poder, interesse, curiosidade, vontade de sentido, fatores culturais e até mesmo genéticos. Quando decidi que queria fazer Psicologia, não tinha muito claro por que o queria, mas sabia que não fazia minha escolha de forma mercenária ou por meramente não ter melhor opção. Tinha claro, contudo, que é uma profissão nobre. Hoje, mais do que antigamente, tenho certeza disto.

Sei que há muitas atribuições tecnológicas ao psicólogo, como avaliação psicológica, psicoterapia, aconselhamento e outras tantas que nos são ensinadas nas salas de aula, mas é nossa função filosófica, que aprendemos em toda nossa experiência estudantil, tanto antes quanto depois da graduação, como nossa mais importante missão.

Herdamos da Filosofia, e especialmente de Sócrates e Kierkegaard, a missão de questionarmos a vida em si mesma, tirá-la de sua redoma de óbvia naturalidade e mostrá-la de formas nunca antes vistas. Talvez mais do que outros cientistas humanos e sociais, é nosso papel desconstruir as verdades absolutas que nos cercam, e mostrar que há outras alternativas para elas. Mas ao contrário dos pós-estruturalistas, que meramente destroem tudo que lhes agrada, devemos ir além de desmontar tijolo por tijolo os frágeis prédios de nossas certezas; devemos reconstruí-los, maiores e mais firmes que antes, para então, quando se provar necessário, recomeçar tudo do início.

Não podemos nos arrogar o posto de senhores da razão, estáticos em nossa sabedoria. Antes de tudo, devemos sempre manter-nos humildes e em constante mudança. Não podemos nos permitir que crenças e esquemas se cristalizem em nós mesmos, ou caso contrário nos tornaremos aquilo que deveríamos combater - fontes de preconceito e estagnação. Devemos, isto sim, nunca nos darmos por satisfeitos, e continuarmos a nos formar, tanto como pessoas quanto como profissionais. Não há uma única maneira certa e clara de fazermos isto, pois se existisse, já teria sido descoberta. Cada um encontra a sua própria, enquanto tenta desvendar seu enigma. Não digo com tudo isto que os psicólogos são os mais importantes de todos os profissionais. Certamente seríamos bastante inúteis sem a ajuda de médicos, engenheiros, faxineiros, pedagogos, nutricionistas e sabe-se lá mais que outras profissões eu poderia citar aqui! O que desejo demonstrar é que temos uma importância igual as demais, só que deveras singular se comparada com elas.

Realmente não sabia o que esperar da Psicologia quando entrei na faculdade, e sou incapaz de recordar com precisão o que realmente imaginava que estava por vir. Talvez eu acreditasse que veria coisas mais "técnicas" e "objetivas", ou que a coisa mais importante seriam minhas leituras. Só agora começo a vislumbrar que o que realmente importa é o que nos tornamos com tudo o que vemos e vivemos, Sócrates modernos, tentando conhecer a si mesmos, para ajudar os outros a fazer o mesmo.