quinta-feira, 27 de maio de 2010

Minha Irrelevante Opinião - Bastardos Inglórios

Então... seis dias sem atualizações. Acho que agora seria uma boa hora para mudar isto e publicar um textinho, nem que seja só para dizer "hey, tem novidade no meu blog!" ou "eu não sou tão relapso assim!" Talvez uma boa maneira de fazer isto e não deixar transparecer minha intenção seria fazer uma resenha de filme - é um tipo de texto que atrai as pessoas, e que não costumo fazer com muita freqüência. Considerando que andei assistindo um bom número de filmes esta semana (três - uma quantidade fenomenal considerando minha rotina), vou revisar o último: "Bastardos Inglórios", dirigido pelo Quentin Tarantino.

OK, sei que, se tomar a internet como parâmetro, eu estou quase sete meses atrasado para fazer uma resenha dessas, mas como só consegui assistir o filme ontem, acho que estou perdoado. Além disso, penso que toda e qualquer opinião omitida sobre todo e qualquer filme já produzido, filmado e exibido neste planeta tem seu valor, vou publicar aqui a minha. Se vocês discordam de mim, é por que vocês estão errados.

Bem, Tarantino é um daqueles diretores que todo estudante de Cinema da PUCRS diz achar o máximo - prova de sua popularidade é o fato de seu sobrenome (e apenas isto) ser utilizado para rotular seus filmes, da mesma maneira que críticos de arte rotulam uma pintura de acordo com o sobrenome do pintor. Todo aspirante a intelectual cult deve, obrigatoriamente, citar pelo menos dois filmes do Tarantino em uma conversa de boteco como sendo "geniais", para provar que ele é realmente cult e não ser confundido com um desses tipos que gostam de filmes pop, como Star Wars e "Senhor dos Anéis". E, aparentemente, pelo o que vejo na internet, Tarantino é bem quisto também entre críticos profissionais de cinema, caras que são pagos especificamente para ver filmes e escrever o que eles acharam. Então, levando tudo isto em consideração, parecia razoável que eu fosse ver um filme dele, para ver se o que dizem é realidade.

A oportunidade surgiu esta terça-feira, graças à Secretaria de Difusão Cultural da UFRGS, que periodicamente faz exibições gratuitas de filmes no Campus do Vale, onde passo a maior parte do meu tempo este semestre. O filme, como vocês já devem ter adivinhado, era "Bastardos Inglórios" e, apesar do horário ser um tanto quanto ruim, decidi ficar sem almoço para assistí-lo.

Agora, vem a pergunta que não quer calar: o que eu achei de "Bastardos Inglórios"? Bom, eu achei muitas coisas. A primeira que me vem à mente agora é a estética do filme: os cenários são bem construídos, de maneira fidedigna à época em que se passa a história (Segunda Guerra Mundial), e há algumas cenas muito marcantes por causa de sua beleza, especialmente uma do primeiro capítulo (por que Tarantino tem mania de dividir seus filmes em capítulos, como se fossem livros), além de ser filmado quase todo em cores brilhantes (pelo menos é essa a minha impressão). A segunda coisa que me vem à mente é o que eu poderia chamar de o "encadeamento das cenas". Sendo eu um indivíduo que cresceu assistindo blockbusters de Hollywood, e ao mesmo tempo um aspirante à pseudocult intelectual, consigo notar diferenças bastante grandes entre filmes norte-americanos e filmes europeus. "Bastardos Inglórios", apesar de ser um filme "Made in USA", tem uma certa atmosfera de Velho Mundo, não só por tratar do teatro europeu da Segunda Guerra Mundial, mas também na maneira como as cenas são conduzidas e mostradas. Algumas partes que seriam tomadas como "irrelevantes" em um filme tradicionalmente hollywoodiano por serem "lentas demais", como o Coronel Landa sendo servido de leite e bebendo, ganham um certo destaque. Talvez "destaque" seja uma palavra forte demais, mas me parece evidente que elas não são descartadas para deixar o filme mais "dinâmico" e "adrenalínico". Pessoalmente, gostei disso.

Entretanto, um filme não se resume a cenários e cenas: ele deve contar a história de algo ou alguém, e deve ter personagens que a contem ou interpretem. Quanto a isto, eu tenho alguns problemas a resolver com "Bastardos Inglórios". Não é que eu não tenha gostado dos personagens, ou da história que eles contam. Na verdade, há muitas coisas que tornaram a experiência de assistir este filme muito agradável - Brad Pitt como o tenente Aldo Raine está ótimo. Ele fala com um carregado sotaque (artificial) do Tennessee, é irreverente, destemido e um grande fã de violência gratuita. A equipe dele, "Os Bastardos Inglórios", um time composto apenas de soldados judeus infiltrados atrás das linhas inimigas para espalhar o terror entre os nazistas compartilha de seu temperamento e gosto por sangue, e são muito bons em seu trabalho de assustar os alemães. E é aqui que eu começo a ter problemas. Segundo o TVtropes, os Bastardos poderiam ser classificados como Heróicos Sociopatas, por que, apesar de cometerem atos de violência que o adjetivo "horrendo" não é suficiente para descrever, eles os cometem em nome de um bem maior, qual seja, ganhar a guerra de derrubar Hitler. Só que, ao longo de todo o filme, eu não consegui simpatizar mais com eles por isso. Na verdade, eu alternava entre sentir-me neutro em relação a eles e torcer abertamente contra seu sucesso.

Muito diferente foi meu relacionamento com os nazistas. O Coronel Hans Landa é tão ruim ou pior que os Bastardos, só que de uma maneira tão charmosa que eu preferia as cenas onde ele estava presente do que as do Brad Pitt (a não ser quando os dois estavam juntos) - não há como não gostar desse Desgraçado Magnificente! Não chegava a torcer para ele, por que torcer para ele era torcer para Hitler... pelo menos até um certo ponto, mas quase fiz isso em alguns momentos. Outro personagem nazista pelo qual eu nutro mais simpatia do que pelos Bastardos é o One Scene Wonder sargento Rachtman, que, mesmo ameaçado de morte, se nega a entregar seus companheiros e morre como um homem de valor nas mãos de um judeu ensandecido com um taco de basebol na mão. Se fosse resumir "Bastardos Inglórios", eu diria que é o único bom filme que me fez torcer pelos nazistas por causa dessa única cena.

Sim, sim, sim... há também um outro fio de história correndo paralelo aos Bastardos Inglórios tocando o terror no Exército Alemão ocupando a França, que é da dona de um cinema em Paris cujos pais foram mortos por Landa. Um herói de guerra alemão, interpretado por aquele cara de "Adeus Lenin!", se apaixona por ela e oferece, inadvertidamente, uma chance dela se vingar do Terceiro Reich. É, essa parte é legal também, mas da mesma maneira que os trailers de um filme são legais: você os assiste, você gosta dele, mas quando o filme propriamente dito começa, você esquece deles. Não achei essa parte da história tão marcante assim, portanto, não vou escrever mais nada a respeito dela, exceto que ela continha um dos poucos personagens realmente simpáticos do filme, e mesmo ele não se salvou no final de ser um filho da mãe.

Então, em poucas palavras, o que achei de "Bastardos Inglórios"? É um bom filme, mas só recomendo para quem gosta de Tarantino, um diretor que, por mais qualidades que tenha, não me agrada muito.