terça-feira, 30 de setembro de 2008

Resoluções de Intervalo de Aula

Hoje eu decidi que, um dia, terei uma banda de hard rock. E ela vai se chamar Apocalipse Mescalina.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As Provações da Faculdade XXXIX

Minha programação para esta noite: dois textos sobre avaliação neuropsicológica e um trabalho de psicopatologia. Pelo menos nenhum deles envolve Dinâmica de Grupo e Pichon-Riviere.

:)

Metaética

Meu post sobre os estágios rendeu uma discussão interessante com o Marcelo esses dias na faculdade. Meu texto lhe fez pensar no paradoxo da Metaética – a prática de moldar a própria ética futura, escolhendo as experiências que vivemos e como as vivenciamos, tomando por base nossa ética atual. Em outras palavras, a metaética é a resposta prática para a pergunta “quem eu quero ser no futuro?”.

Para ficar no mesmo tema do outro post: que personalidade quero ter? Se eu fizer apenas aquilo que o currículo manda, eu vou ser um tipo de psicólogo, provavelmente acomodado e preguiçoso; se eu participar das comissões do DAP, fizer extensão e ajudar em grupo de pesquisa, serei um psicólogo mais versátil e, espero, eficiente; mas eu posso escolher desde o primeiro semestre estudar apenas Neuropsicologia, e fazer todas as minhas atividades, desde as extracurriculares até os estágios, e me tornar um grande, porem limitado, especialista. Qual dos muitos caminhos disponíveis é preferível? É aqui que reside o paradoxo: não há como saber, baseado na minha conduta ética atual, quais as “escolhas ótimas” que devo fazer em ordem de melhor formar minha ética futura. Posso achar que a decisão que tomo agora é a melhor de todas, mas futuramente eu conclua que deveria ter tomado outro curso de ação – ou pode ser até que eu seja confrontado com uma situação muito semelhante e aja de forma muito diferente.

No fim, como disse o Marcelo, a Metaética é um paradoxo justamente por que não existe: ela é uma tentativa da própria ética de mudar a si mesma, e nunca será completamente satisfatória, por que, ao se basear na maneira como pensamos atualmente, sempre deixamos de lado muitas variáveis que interferirão no nosso comportamento futuro. Um exemplo bem representativo é o que acontecia com muita freqüência com os estudantes de Psicologia do currículo antigo da UFRGS: no primeiro semestre, eles eram bombardeados de tal maneira com a parte científica da psicologia que eram levados a odiar a psicanálise, mas, no final do curso, depois de muitas horas lendo Lacan e assistindo as aulas “fantásticas” de alguns professores de psicanálise, quase todos tornam-se psicanalistas de carteirinha. Mas ninguém no primeiro semestre poderia prever com segurança que isto aconteceria – da mesma forma que meus veteranos não podem prever o que vai acontecer conosco, já que estamos no currículo novo, que é muito diferente (não que eles não tentem, apenas não conseguem).

As mudanças em nosso código de conduta muitas vezes são tão profundas quanto esta, o que torna a prática da metaética um tanto complicada, mas não inócua. Podemos não saber o que vai acontecer no futuro, nem como iremos reagir, mas podemos tentar nos fortalecer e nos tornarmos o melhor que pudermos ser, sendo o melhor que podemos aqui e agora. Acredito que esta é a melhor maneira que temos de moldar o que seremos.

A Arte de Fazer Indiadas

Eu sou um cara aventureiro. Desde o primeiro ano da faculdade, e muito tempo antes de entrar para a UFRGS, me meto em jornadas e viagens cujos níveis de conforto estão aquém do agradável, tanto que tornou-se sinônimo para mim "aventurar-me" com "ferrar-me". Ou como disse o velho Bonifácio, durante um acampamento especialmente chuvoso e complicado: "vocês se espreguiçam ao sol na praia! Isso aqui é um acampamento!" Quando ele falou isto, eu fiquei levemente irritado, já que ele tinha recém chegado ao local onde estávamos dormindo, e suas bandeirantes não tomaram um pingo de chuva em seus cabelos alisados com chapinha, mas hoje vejo a sabedoria de suas palavras. Moleza? Eu tenho isso em casa! Tô aqui pra sofrer, me desafiar e ter uma história para contar!

Contudo, esta minha vontade de ir além e viver uma vida significativa me fez desenvolver outro traço de personalidade: um certo desprezo por hedonistas. Para ser mais preciso, fiquei meio elitista. Sinto isso bastante quando vou correr no Parque dos Macaquinhos em dias de sol, e tenho que ficar desviando dos tiozões e demais preguiçosos que só saíram de casa por que seria fácil. Prefiro correr em dias de chuva ou muito frios por que, se tenho que desviar de alguém, é de alguém que escolheu sair de casa no pior dos climas e transcendeu a si mesmo. Merece meu respeito. OK, algum chato poderia escrever um comentário dizendo que eu devo respeitar todas as pessoas, sejam elas preguiçosas ou não. Minha resposta para isto é: eu respeito. Mas isto não significa que eu deva tratar todos como se fossem farinha do mesmo saco. Admiro muito mais as pessoas auto-transcendentes e disciplinadas pois sei como é difícil ser assim.

Tenho outro exemplo mais recente, que aconteceu faz uma semana ou menos. Nosso Diretório Acadêmico está organizando uma viagem para um congresso que ocorrerá em Buenos Aires em dezembro. A procura para ir neste evento está tão grande que já fechamos dois ônibus inteiros de 40 lugares e ainda há pessoas na lista de espera. Fomos ano passado neste mesmo congresso, mas com muito menos pessoas. E no ENEP foram só 7 estudantes de Porto Alegre. E uma veterana minha, que vai este ano pela primeira vez para um congresso com o pessoal, perguntou se no albergue em que ficaríamos havia banheiros em cada quarto. CACETE! QUER BANHEIRO NO QUARTO FICA EM CASA! OK, ela tem a opção de pagar um pouco mais e ficar em um hotel com banheiro individual, e isso é problema dela, mas fico indignado mesmo assim de querer viajar e não querer pagar o preço. Fazendo uma pequena comparação, sou como aquele cara que deixa de ser fã de uma banda quando ela deixa de ser underground e vai para o mainstream, como se o que me fazia admirar as músicas se perdesse com a fama. Congresso de Direitos Humanos e Saúde Mental em Buenos Aires? Bleh. Muito popular.

Mas minha indignação é, mais uma vez, sem sentido. Cada um escolhe ser o que bem entende. Se a maioria dos meus veteranos querem ser "pirralhos de carpete", isso não é da minha conta. Pois eu prefiro pegar um ônibus capenga para qualquer lugar distante, viver tanto quanto puder e tornar-me maior do que era.

domingo, 28 de setembro de 2008

Coisas que não quero para minha vida.

Clique na imagem para ampliá-la.

Fonte: Subnormality.

Eu e a Psicanálise

É bem comum, entre pessoas leigas, confundir Psicologia com Psicanálise. A primeira é a ciência ampla que estuda todo o espectro de fenômenos humanos, e a segunda uma abordagem teórica-clínica que, apesar de ser uma parte muito importante da Psicologia, não é sua totalidade. Ainda assim posso garantir, com possibilidade máxima de erro em 1%, que todos os estudantes de Psicologia do Brasil, estejam formados ou não, ao falarem de seu campo de atuação para alguém que acabaram de conhecer (num barzinho, por exemplo), já tiveram que responder a comentários sobre análise e Freud (os mais comuns sendo “tu está me analisando?” e “o que Freud diria sobre meu hábito de [insira bizarrice aqui]?"). E posso garantir também que todos foram capazes de responder de forma mais ou menos satisfatória, sendo fãs de Freud and buddies ou não.

Creio que seja necessário um pouco de história para explicar por que isto acontece. Como vocês podem imaginar, o mundo era um lugar muito diferente em 1895 do que é hoje. A diferença que acredito ser mais significativa para este texto é na Psicologia, tanto como ciência quanto como fenômeno.

No final do século XIX e início do XX, a ciência dominava porções cada vez mais amplas da natureza, através da adoção de metodologias mais rigorosas, que consistiam em estudar essencialmente apenas aquilo que podia ser visto e quantificado de alguma maneira. Reinava o pensamento no mundo ocidental que, através da ciência e da racionalidade, nada seria impossível. E é neste ambiente que nasce a Psicologia. Tomando como modelo as ciências mais velhas, os psicólogos da época buscam estudar a consciência e descobrir suas partes utilizando a mesma metodologia que fizeram o sucesso da Física e da Biologia. Mas como estudar um objeto tão complicado como o ser humano desta maneira? Por causa disto, a Psicologia tornou-se uma ciência humana um tanto quanto distante dos seres humanos que se propunha a estudar. Esta fé na racionalidade não se restringia apenas à ciência, e estendia-se a praticamente toda a sociedade ocidental. Falava-se muito em virtudes, e escondia-se todo o tipo de pecado e sujeira, especialmente a sexualidade, que era reprimida de forma muito dura.

E, no meio de tudo isto, longe da academia e cuidando de sua clínica particular, se encontrava o jovem neurologista Sigmund Freud. Ele estudara junto com alguns dos mais renomados psicopatologistas e psiquiatras da época, especialmente Josef Breuer, com quem escreveu o agora clássico “Estudos sobre a Histeria”. Com base neste livro, Freud desenvolveu uma teoria revolucionária do comportamento humano: não somos criaturas completamente racionais, nem virtuosas. Somos, na maioria dos casos, determinados por variáveis inconscientes e pouco louváveis, e que somos criaturas essencialmente sexuais. Se dissermos isto hoje em alguma palestra por aí, poderemos causar certo mal-estar entre os presentes, mas nada digno de nota, pois isto se tornou parte do senso comum. Na hipócrita sociedade do começo do século XX, onde todos os homens de respeito tinham uma amante e falavam de castidade, isto foi um verdadeiro choque. Freud iniciara uma verdadeira revolução paradigmática, injetando sangue novo na Psicologia e na Psiquiatria, e até hoje seus escritos cheios de insights inspirados causam polêmica, e é impossível estudar Psicologia sem ler nenhum de seus textos.

Se ela ler este texto aqui, minha professora de História da Psicologia vai ter uma crise de consciência por ter me dado aula, pois resumi grosseiramente mais de um século de muitas reviravoltas, mas isto explica porque todos os estudantes de Psicologia são capazes de falar de Freud. Além de impossível, é indesejável para qualquer estudante de Psicologia não ler nenhuma de suas obras. Curiosamente, entre os psicanalistas que me dão aula não há nenhum freudiano. Nosso amigo Sigmund era um homem muito inteligente, e atraiu muitos discípulos, mas ele também era dogmático e tirânico, proibindo seus seguidores de alterarem sua teoria. Isto gerou muitas quebras de relacionamento e novas teorias psicanalíticas, que por sua vez também geraram muitas quebras de relacionamento e novas teorias psicanalíticas, tornando a psicanálise muito fragmentada. No nosso Instituto de Psicologia, os psicanalistas seguem os ensinamentos de Jacques Lacan, que pregou um “Retorno à Freud”, e reinterpretou toda a teoria psicanalítica original de forma muito... original. E é entre os lacanianos que devo situar minha relação com a psicanálise.

Já entrei na faculdade detestando a psicanálise. Meu pai, já formado em Psicologia, muito criticou os psicanalistas, e até me mostrou um livro absolutamente incompreensível (original, portanto) escrito por um. Era, no primeiro semestre, um ferrenho defensor das Terapias Cognitivo-Comportamentais e de sua adoção. Mas eu era bem dogmático também, e sem muitos argumentos. As conversas com meus colegas, as leituras e as aulas me levaram a um gradual afrouxamento de minhas convicções. Tive várias fases: a cognitiva, a comportamental, a humanista e também a psicanalítica. A cada leitura, a firmeza de minha fé era abalada, pois era levado a considerar todos estes pontos de vista, por absurdos que possam ter soado aos meus ouvidos, poderiam estar corretos. Tive a obrigatória crise existencial teórica pela qual todo bom estudante de Psicologia passa um dia. Convenci-me da veracidade de muitos deles, inclusive de muitos psicanalistas. Porém, por mais tolerante que me tornara, nunca ficara completamente satisfeito com a psicanálise que me é ensinada. Sim, eles podem estar certos apesar de serem incompreensíveis, herméticos e empolados, e posso no futuro tornar-me um lacaniano. Só que duvido muito.

Contudo, muito recentemente, cheguei à definitiva conclusão de que nunca serei um psicanalista. Em nome da diversidade teórica, inscrevi-me em dois cursos de extensão diferentes: o primeiro, era sobre “A Interpretação de Sonhos” de Freud, e foi dada por um dos maiores expoentes brasileiros em psicanálise lacaniana; o segundo, apesar de intitulado “Os Conceitos Fundamentais da Psicanálise Freudiana” também é dado por uma seguidora de Lacan. No minicurso sobre sonhos, o professor falou que a força de vontade é importante e nos trouxe muitos progressos, mas que no fim, somos sujeitos do desejo – ele manda em nós. E na última aula de “Conceitos Fundamentais...”, a professora falou que o amor não existe. Ele é uma mera ilusão, mas que podemos encontrar uma boa parceria e viver uma vida relativamente confortável. É a filosofia do status quo: vivemos nossa vida miserável fingindo que estamos no melhor dos mundos, pagamos o analista para ele ficar nos escutando e confirmando nossa mentira diária, mantemos tudo como está por que não há esperança e todos ficam felizes com isto. Nenhuma discussão epistemológica, nenhum texto absurdo falando sobre as gônadas das pombas e nenhum professor profundamente prepotente me convenceram de forma tão contundente que a psicanálise lacaniana é um absurdo e uma perda de tempo quanto estas duas afirmações, ditas de forma tão sóbria e com ares de tamanha sabedoria. Foi assim que descobri que não quero ser mais um destes acomodados.

É interessante notar que, pelo menos na UFRGS, existe uma dicotomia que meus bixos muito apropriadamente chamaram de “A Psicanálise versus o Resto do Mundo”. Neste conflito, a psicanálise coloca-se como defensora de toda subjetividade e liberdade humanas, contra todas as outras forças positivistas da ciência, que busca esmagar a tudo e a todos com sua objetividade controladora. Ó, a ironia!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A Força Desafiadora do Espírito

Acho que um dos maiores problemas da humanidade é a apatia, aquele estado de ânimo que nos faz encararmos as paredes de casa o dia ou dormindo o dia inteiro, nos deixando levemente deprimidos, mas ao mesmo tempo sem vontade de fazer nada, criando um círculo vicioso que nos leva a ter cada vez menos vontade de fazer qualquer coisa. E isto vai lentamente se ampliando, tomando proporções mais globais, até que conseguimos instalar um episódio depressivo maior, com direito a dignóstico e tudo.

Falo por experiência própria. Hoje, depois do almoço, entrei nesta espiral de sono e não fiz nada do que queria fazer. Dormi pelo menos umas três ou quatro horas. E, mesmo quando estava acordado, não sentia o menor desejo de fazer nada - seja escrever, ler ou assistir TV. Voltava a dormir, para acordar alguns minutos mais tarde e ter a sensação de estar perdendo o dia, e pensar que não adianta mais tentar salvá-lo.

A única maneira que conheço de vencer a apatia é deliberadamente fazendo qualquer coisa ativa. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não dá para ficar esperando que uma força mágica chamada motivação venha e encha nossos corpos. Se fosse assim, ninguém nunca iria para o trabalho de manhã ou faria qualquer esforço sobre-humano. A ação precede a motivação, e a torna realidade. Quando decidi escrever este texto, foi para sacudir a poeira do meu próprio corpo e animar-me novamente.

É uma coisa simples de ser feita, mas muito difícil ao mesmo tempo. Já estamos disfóricos e tudo parece um esforço gigantesco demais ou muito pouco prazeroso para valer a pena. Pessoas muito deprimidas não conseguem nem sair da cama para ir no banheiro! Deste ponto de vista, é bem compreensível que esperemos pela fada motivadora nos fortalecer. Entendo isto como sendo parte de uma questão mais ampla: o auto-domínio e a auto-transcendência.

Mais uma vez, falo por mim mesmo. Tenho problemas sérios de disciplina, ou, pelo menos, acho que são sérios. Preciso ler muitos textos para a faculdade, mas não consigo ler todos; quero acordar cedo, mas a "síndrome ds 5 minutinhos" quase sempre leva a melhor sobre mim; quero treinar mais, mas o "cansaço" é uma desculpa para não fazê-lo; tenho trabalhos para fazer, mas prefiro ficar vendo babaquices na internet por que é mais fácil. A apatia está por trás de tudo isto, e minha falta de auto-domínio permite que as coisas continuem como estão. Sinto-me muitas vezes desanimado, e até mesmo desesperado: como eu vou viver desta maneira? Parece que sempre será assim! Mas, se eu for honesto comigo mesmo, vejo que as coisas podem ser diferentes. Há dois anos, decidi que não iria mais ligar o chuveiro e tomar banho gelado todos os dias. E, pouco tempo antes, decidira parar de tomar refrigerantes. Foram dias e semanas lutando para entrar no chuveiro, resistindo ativamente à tentação de parar em qualquer lugar por aí e comprar uma garrafa 600ml de Coca-Cola, e muitas vezes não conseguindo. Mas hoje, eu estou no controle, e eu decido quando tomarei banho quente ou um gole de refrigerante. A tentação continua aí, mas é quase desprezível.

Estas minhas duas conquistas são pequenas, mas absolutamente verdadeiras, e me animam a não desistir. E mesmo minhas aparentes derrotas até o momento não são destituídas de valor. Não leio tanto quanto quero, mas ainda consigo ler mais do que quase todos os meus colegas; as poucas vezes que me determinei a manter-me acordado, eu consegui; meus treinos na academia são cumpridos religiosamente; e, até hoje, só atrasei um trabalho da faculdade (qualquer estudante de psicologia da UFRGS pode dizer que isto é um verdadeiro feito, levando-se em conta a cultura procrastinadora que lá existe). Mas quem disse que seria fácil? Eu vou tropeçar muitas vezes ainda, mas um dia eu vou poder dizer, da mesma forma que posso sobre os refrigerantes e os banhos, que tenho pleno domínio sobre meus hábitos de estudo e treino. E esta capacidade humana de buscar ser cada vez melhor é o que o psiquiatra vienense Viktor Frankl (um dos mais citados por aqui) chama de auto-transcendência, a força de nosso espírito que desafia o próprio e destino.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

One down, twelve to go...

Tenho uma memória um tanto quanto fraca. Para a faculdade, tenho que fazer muitos trabalhos, ler muitos textos e participar de muitos outros compromissos além das aulas. Estas duas variáveis unidas me obrigam a manter uma lista de coisas por fazer, para que eu não esqueça nada que deveria lembrar. Minha "agenda", por assim dizer, precisa ser visível e chamativa, ou caso contrário será inútil. O modo mais espalhafatoso que já inventei para isto foi escrever com sabonete na janela do meu quarto, mas como sai fácil e dependendo da hora do dia fica meio difícil de enxergar, optei por simplesmente colar uma folha listando meus trabalhos e provas. Depois de entregar uma prova ou fazer um trabalho, no melhor espírito "mission accomplished", risco o respectivo item da lista. Hoje, risquei a primeira prova de Avaliação Psicológica. E tive o desprazer de perceber que falta todo o resto da lista. Oh the humanity. E o título deste post se refere a proporção do que resta fazer.

Resourcefulness

E eu acabo de desentupir o vaso sanitário com água fervendo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Traumdeutung

Entre psicólogos clínicos, é bastante popular a prática de interpretar os sonhos de seus clientes para obter um quadro mais amplo e preciso de suas personalidades e de como modificar de forma positiva e relevante seus comportamentos. Uma pessoa com bom senso sabe que não dá para interpretar um sonho à moda TodaTeen, sem nenhum conhecimento mais profundo da vida do "sonhador": seu ambiente, seus sonhos, sua personalidade. Se saímos dando os famosos interpretaços, fazendo generalizações grosseiras como "se você sonhou com bananas significa que você é gay" só atrapalhamos - sejamos psicólogos ou não (apesar de achar que os psicólogos têm maior responsabilidade no assunto).

Com certa freqüência, sonho que enfrento monstros terríveis e os derroto. Noite passada, por exemplo, sonhei que estava em um lugar infestado por sombras maléficas disfarçadas, e que somente eu conseguia as identificar e destruir (a socos, bem machão). Mas, tempos atrás, sonhei que fugia de um dinossauro de plástico. Talvez eu esteja descontextualizando os dois sonhos e comparando-os de forma indevida, mas identifico um padrão aí: eu enfrento os grandes desafios de minha vida, mas fujo dos pequenos medos que me afligem. É paradoxal.

Lembrei-me destes dois sonhos depois de ver a minha sorte do Orkut de hoje (bobagem de senso-comum que de tempos em tempos chama minha atenção de forma significativa): "Você nunca vacila ao enfrentar os problemas mais difíceis". Perguntei para mim mesmo - enfrento mesmo? Quais são os problemas mais difíceis?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

De volta dos mortos

Eu sei, camaradas, quatro dias sem atualizar por aqui é coisa estranha. Mas calma que já, já eu posto coisas novas por aqui.

domingo, 14 de setembro de 2008

Educação e Capitalismo

Em questões políticas, eu divirjo bastante da média dos estudantes de Psicologia, e de estudantes universitários como um todo. Por exemplo, tenho convulsões faciais graves toda vez que escuto alguém falar do capitalismo como o mal do mundo. Na verdade, eu viro meus olhos em horror toda vez que escuto a palavra capitalismo ou o nome de Marx, por que duvido muito que algo de bom possa vir depois delas (isso foi comprovado empiricamente por mim mesmo em muitos encontros estudantis).

Uma coisa que nunca entendi verdadeiramente é a gana que o pessoal do DCE e do movimento estudantil de universidades públicas contra o ProUni, programa do governo que distribui bolsas de estudo em universidades particulares para alunos que em outras condições não poderiam pagar a matrícula. Eles dizem que valeria mais a pena criar mais vagas nas universidades federais atuais, investindo em sua (geralmente) decrépita infraestrutura, e que o ProUni é só uma jogada do FMI para manter as universidades particulares às custas do governo, ocupando suas vagas ociosas. Sempre fui da opinião de que é melhor aproveitar o que já tem pronto do que sair comprando ou criando a mais - e ainda acho que isto é válido para uma porção de coisas, mas nem tanto para o ensino superior.

Para quem não sabe, meu pai é psicólogo também, e dá aulas em uma faculdade particular em Caxias do Sul (não vou dizer qual). Na próxima aula, ocorrerá um seminário sobre relacionamento terapêutico, um assunto que considero muito interessante. Por isso, perguntei se poderia participar. Ele assentiu, mas falou que o coordenador do curso poderia ficar sabendo. Acostumado que estou com a personalidade medrosa e cumpridora da lei dele, achei que fosse exagero. Mas ele justificou-se, dizendo que uma aluna da pós-graduação pedira anteriormente para assistir uma aula dele (vou repetir para enfatizar: UMA aula), mas o coordenador do curso não permitiu - pois para assistir aula tem que pagar. Vamos analisar a situação com mais atenção. Não era uma pessoa de fora pedindo para assistir uma aula, nem uma aluna de algum outro curso pedindo para assistir todas as aulas de graça. Era uma aluna da própria instituição pedindo para assistir uma única aula, visando aprender mais para ser uma melhor profissional. Mas isto, como ficou claro, é secundário para esta faculdade. O que importa é ganhar dinheiro, e dane-se se quem estuda ali não seja capaz de exercer suas funções profissionais, por que isso é problema dele e não da instituição de ensino.

Eu estou mal acostumado na UFRGS, muito mal acostumado mesmo. Eu posso achar as aulas dos meus professores absurdamente chatas (and have no doubt: they are!), mas não posso negar que, para muitos deles, se não a maioria, a prioridade é nos dar aula e nos auxiliar para que nos tornemos bons profissionais. Isto se deve, em parte, ao fato dos alunos não pagarem para estudar, e da fonte de verba não residir nas matrículas. Nunca que a coordenadora do nosso curso se oporia à alguém assistir uma aula, ou mesmo uma disciplina por um semestre inteiro, mesmo sem matrícula.

Não quero dizer com este post que os professores de universidades federais não são dinheiristas - se não fossem, não ficariam publicando artigo em cima de artigo pra ganhar pontos com a CAPES. Também não quero dizer que em todas as particulares só se quer ganhar dinheiro, e acho que meu pai é um exemplo de professor devotado ao ensino (ele vai ficar com o ego inflado ao ler isso aqui). Também não acho que o ProUni deva ser extinto. Mas estaríamos em maus lençóis se todo o ensino superior do Brasil estivesse nas mãos dos capitalistas.

Sorte Orkutiana do Dia (Parte 6)

Sorte de hoje: Por trás de um grande homem sempre há outros grandes homens... ou uma mulher.

Só resta esperar que seja mulher, e que ela não tenha um pênis. Ou, na pior das hipóteses, que seja só um homem.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Trabalhos

Trago boas notícias da aula de Psicopatologia de hoje. Como falei em um post anterior, estava interessado em fazer meu trabalho no campo das neuroses sobre Metapatologias. De forma muito resumida e superficial, metapatologia é o nome que Abraham Maslow deu para a classe de psicopatologias que acometem indivíduos auto-atualizantes que, por um motivo ou outro, são incapazes de satisfazer suas necessidades pessoais de auto-atualização, como justiça, beleza, pureza e sentido. Contudo, tinha um certo receio de que a professora não fosse gostar da proposta e me "sugerisse" fazer sobre alguma outra coisa. Não só ela se empolgou, como vai me enviar referências bibliográficas das obras de Donald Winnicott, que, para meu espanto, abordou um assunto muito parecido em sua psicanálise de adultos. Além disso, terei a companhia do meu bom amigo Borat, que apesar de desiludido com o curso, gostou da idéia também.

Pretendo fazer um trabalho realmente bom. Numa dessas conversas de RU que tive esta semana, ouvi meu colega Bruno dizer que nenhum dos trabalhos que fez para as disciplinas obrigatórias é digno de ser publicado em revista especializada alguma. Sou obrigado a dizer o mesmo. Talvez meu trabalho de Psicopatologia I, do semestre passado, pudesse ser publicado depois de algumas revisões e expansões, mas muito talvez. Isto se deve à minha anterior inexperiência com artigos, mas também à minha preguiça. Pretendo retificar isto, e fazer um trabalho digno de aparecer numa revista como a "Psicologia: Reflexão e Crítica". Ou, pelo menos, poder dizer que meu trabalho é melhor que muito artigo ali publicado (não é lá tão difícil).

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Wierdos are us

Hoje, mais uma vez, confirmei minha antiga crença de que sou um cara esquisito. Esses tempos, peguei um panfleto de divulgação do Congresso Nacional de Estudantes da Área da Saúde (CONEAS), cheio de fotos com gente bonita fazendo festa. Achei a maior panaquice e perda de tempo.

Agora a pouco, recebi um e-mail da lista de discussões do Coletivo Regional de Estudantes de Psicologia (COREPSUL). Este sábado acontecerá, em Curitiba, uma reunião com os entusiastas corepistas, e o pessoal está se mobilizando para ir. Basicamente, este e-mail era de um cara que chegará na capital paranaense sábado às 7 da manhã, pedindo se teria alguém para pegar ele na rodoviária neste horário. Senti uma inveja tremenda deste desgraçado.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Minha Universidade em Fotos (Parte 2)

Detalhe da escadaria da reitoria da UFRGS, em preto e branco, antes de tratamento no Photoshop.

Mesma foto de cima, só que depois de ser recolorido no Photoshop.

Não ficou grande coisa, admito, mas como deu algum trabalho e por ser meu primeiro "photoshoop", achei que merecia ser publicado aqui. Acho que, futuramente, postarei mais fotos destas, se me dignar a instalar o Photoshop e me aplicar em descobrir ferramentas mais avançadas, que mudem mais do que a cor.

Uma Teoria da Educação

Pensando sobre a formação em Psicologia, concluí que há uma característica necessária, mas talvez não suficiente, para a boa aprendizagem: a ampla variedade de estímulos.

Acho que para qualquer um que tenha pego um livro do Skinner na mão estou chovendo no molhado ao dizer isto, mas acredito que não é algo tão óbvio ou intuitivo assim para todas as pessoas que trabalham com Educação. Tomemos por exemplo o nosso sistema educacional geral, desde a primeira série do ensino fundamental, passando pelo terceiro ano do ensino médio, até os cursos de ensino superior. Qual é o cerne comum a todas estas etapas? A obrigatoriedade de presença em sala de aula, para ficar ouvindo e copiando o que o professor repete de um livro-texto que também é a repetição do que um pesquisador graúdo disse (e que talvez também nem seja tão original assim). Pela lógica do senso comum, é assim que aprendemos. Mas se é assim, por que é que eu lembro tão pouco da Química e da Biologia que me ensinaram no terceiro ano? Se ignorarmos o fato que ficar lendo um livro relativamente grande para decorar o que está escrito nele é uma experiência frequentemente traumática, fica um tanto quanto óbvio que não é uma atividade estimulante. Igualmente desestimulante é ficar sentado, junto com mais vinte ou trinta pessoas, por quase duas horas inteiras, ouvindo o que a professora tem para dizer sobre funcionamento cerebral e comportamento animal. E, veja bem, não são assuntos que considero desinteressantes - bem pelo contrário, é justamente o que estudo na faculdade! E isso era basicamente como eu "aprendia" no Ensino Médio. Acho impressionante que eu lembre de qualquer conteúdo que tenha sido passado para mim naquela época.

Já naquela época, gostava de trabalhos um pouco mais desafiadores, e que envolvessem mais coisas do que a sala de aula, o professor e o quadro-negro. No segundo ano do ensino médio no meu antigo colégio, por exemplo, temos aulas de Química no laboratório. Faz parte do currículo. Foram as aulas mais estimulantes e divertidas que tive de Química até hoje, e foi graças à nota do laboratório que passei de ano (já que nas provas eu sempre apanhava). Este semestre na faculdade, não posso exatamente reclamar de não ter oportunidades estimulantes, pois quatro das sete disciplinas que curso atualmente têm trabalhos que envolvem mais do que pegar um livro na biblioteca e escrever um relatório: terei que entrevistar pessoas, conhecer serviços e fazer diagnósticos e atuar como um psicólogo hospitalar, e talvez eu venha a aplicar testes e coisas afins. Em poucas palavras, uma grande quantidade de estímulos diferentes, além das aulas presenciais.

Agora, pergunto: por que não poderia ser assim sempre? Por que o modelo clássico de dar aula tem que prevalecer? Não gosto muito deste funcionamento onde o professor apenas ensina e os alunos apenas aprendem. Isto não funciona tão bem quanto poderia. Não estou dizendo que deveríamos extingüir as aulas presenciais, demitir os professores e deixar na mão dos estudantes o que eles querem fazer. Na verdade, minha proposta é muito menos destrutiva, e muito mais construtiva, apesar de ser iconoclasta. Por que não diminuir o número de horas de aulas presenciais, dar mais tempo de leitura e mais trabalhos de campo? Por exemplo, a disciplina de Processos Grupais, por mais... mais... complicada que tenha sido, proporcionou uma excelente oportunidade de ver a dinâmica de um grupo externo à faculdade, e apesar de ter dado uma BAITA trabalheira, foi muito interessante. Por que não temos um maior contato com a prática psicológica, não só de pesquisa como também aplicada?

Sei que há muitos impedimentos políticos contra esta abordagem, mas certamente seria muito interessante estudar desta maneira.

Até logo, e obrigado pelos certificados!

Continuando o assunto da minha formação em Psicologia...

Como disse antes, não comecei a fazer nenhum estágio curricular ainda. Com sorte, começarei no início do próximo ano. Em outras palavras, em quase dois anos estudando Psicologia na UFRGS, o currículo do meu curso apenas me proporciou aulas presenciais. Não quero dizer com isto que passei todo esse tempo apenas ouvindo o que um cidadão com PhD a quem é convencional chamarmos de "professor" tem para dizer sobre Foucault, Bowlby ou Freud, mas, de forma grosseira, que é só isso que a faculdade propriamente dita tem para oferecer ao seus estudantes. Francamente, é humanamente impossível apenas assistir aulas para ser um bom estagiário, quanto mais um bom profissional. Digo isto por que, com o tempo que passamos dentro do Instituto, perdemos perspectiva de quase todo o resto do mundo, que vibra, fala e faz coisas que nós muitas vezes nem ao menos imaginamos, envolvidos que estamos em discutir a cientificidade da Psicanálise ou da Psicologia.

Não me limitei às broxantes aulas presenciais, e fiz muitas outras coisas que a universidade, a academia como um todo e a "vida real" (por que vivemos em conto de fadas dentro da faculdade) me proporcionaram: fiz cursos extracurriculares, fui em congressos e em encontros estudantis, participei e participo de programas de pesquisa e extensão, troquei idéias com pessoas de todas as regiões do Brasil (sem exagero - sul, sudoeste, centro-oeste, nordeste e até mesmo norte) e li muito, não só os polígrafos que os professores disseram que deveríamos ler, como coisas que me interessam e sei que dificilmente verei em aula.

Não há uma coisa mais importante que a outra nesta pequena lista de coisas que fiz. Matricular-se e ser aprovado nas disciplinas é obrigatório se eu quiser ter um diploma de bacharel em Psicologia, mas não me torno um bom psicólogo apenas por comparecer às aulas. Aprendo com tudo que faço. Não é um processo linear e previsível, como uma "adição de conhecimentos" do tipo "Ler Freud = Saber Psicanálise Freudiana", por que poucas pessoas no mundo sabem citar de cor qualquer parágrafo de um livro, e os poucos que sabem talvez não saibam o que estão falando, e por que conhecimento puro e simples não tem muito valor. "Não sejam um vagão de munição, sejam uma espingarda!" já disse um professor de Carl Rogers, que foi muito influenciado por esta filosofia. Não acumulemos conhecimento por acumular, vamos aplicá-lo! Por isso, acho que o que aprendemos não é simplesmente jogado em um depósito mental e de lá retirado quando necessário, mas é integrado aos nossos processos humanos de mudança, modifica e é modificado pelos nossos pensamentos, emoções, motivações e comportamentos. O que aprendemos adiciona força ao que já sabíamos antes, mas não é uma adição puramente mecânica e simplista. Não sei qual seria a melhor forma de explicar isto, mas a imagem mental que tenho do processo de aprendizado é de uma bola de energia, que cresce cada vez que descubro algo novo, até o infinito.

Acho que isto tem muito a ver com a formação do psicólogo, não importa em que área ele atua ou venha atuar. Como disse anteriormente, a boa prática de nossa profissão depende muito fortemente da nossa personalidade, que deve ser moldada (ou amolada) constantemente para continuarmos sendo eficientes e eficazes. Dificilmente o que eu aprendi na faculdade terá uso na minha vida profissional, mas o fato de eu ter estudado, aprendido, assimilado certamente me influenciou, e me tornou cognitivamente mais capaz - em outras palavras, afetou a gestalt da minha personalidade, e essa gestalt em particular nunca se fechará, e estará sempre em mudança. E é essencial que assim seja, pois a própria humanidade muda com o tempo, e é necessário que mudemos juntos para podermos compreendê-la.

Se ficasse o tempo todo na faculdade, indo em todas as aulas mas sendo preguiçoso e lendo só o que eles dissessem para ler, e mais nada, eu certamente seria capaz de passar em todas as disciplinas (o que não é lá tão difícil no Instituto de Psicologia, onde um macaco bem treinado poderia se doutorar), mas ao chegar nos estágios, eu certamente sofreria bastante - afinal de contas, meu único referencial, o único lugar que busquei desenvolver meu repertório "psi" (detesto essa expressão, mas relevem) foi naquele antro de gente bitolada que é a faculdade! Talvez o estágio me salvasse e eu expandisse meus horizontes, mas ainda assim eu não seria a metade do profissional que eu poderia ser se tivesse ido mais vezes fazer programas como almoçar com o pessoal da Psicologia da UNISINOS, ou tomar nescau no corredor do alojamento do ENEP com umas baianas perdidas. Eu fiz isso tudo, e muitas outras coisas que não lembro mais. Certamente, não sou capaz de imaginar como eu seria, que tipo de psicólogo eu me tornaria se não tivesse participado de ENEPs, EREPs e tudo o mais. Mas tenho bons motivos para dizer que não seria tão bom quanto o que estou me tornando.

Músicas do Carilha

The Living Daylights
A-ha

Hey driver, where we going?
I swear, my nerves are showing
Set my hopes up way too high
Living's in the way we die
Comes the morning and the headlights fade away
Hundred thousand people, I'm the one they frame
I've been waiting long for one of us to say
"Save the darkness, let it never fade away"
Ooohh, the living daylights
Ooohh, the living daylights (the living daylights)
Alright, hold on tight now,
It's down, down to the wire
Set your hopes up way too high
Living's in the way we die
Comes the morning and the headlights fade away
Hundred thousand changes, everything's the same
I've been waiting long for one of us to say
"Save the darkness, let it never fade away"
Ooohh, the living daylights
Ooohh, the living daylights (the living daylights)
Ooohh, the living daylights (the living daylights)
Comes the morning and the headlights fade away
Hundred thousand people, I'm the one they frame
Ooohh, the living daylights
Ooohh, the living daylights (the living daylights)
(the living daylights) set your hopes up way too high
(the living daylights) living's in the way we die
(the living daylights) set your hopes up way too high
(the living daylights) living's in the way we die
(the living daylights) set your hopes up way too high

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

No Pain, No Gain!

Só para continuar no assunto de Wushu.

Quarta-feira, quando saí da academia, tentei me balaquear para fechar uma porta com o pé, calculei mal a distância e bati o ombro com tudo na parede, depois de ter acertado meu cotovelo com o nuntchako e minha coxa com o cotovelo (não vou dar muitos detalhes, só digo que doeu). Já não sinto mais dor nenhuma.

Estas são apenas as lesões mais recentes. A pior de todas, pelo menos das que eu lembre, foi quando resolvi treinar uma hora de rolamentos, dois dias seguidos. Passei um final de semana inteiro prostrado em dor. Acho que já falei desse causo antes, mas cabe repetir. A segunda pior de todas não doeu no corpo, mas na minha alma masculina. Treinando Karatê, em dupla, resolvi complicar um pouco a técnica e oferecer resistência. Acabei levando um joelhaço no saco. Posso não ser tão sem-noção quanto alguns por aí, mas eu realmente não sei onde eu estava com a cabeça quando decidi que seria divertido ficar de palhaçada com uma faixa preta.

Uma coisa que o Kung Fu nos proporciona é tolerância à dor e alta velocidade na recuperação de machucados. Claro, depois de muito se lesionar e muito ficar chorando de dor.

Dia de Faixa Verde

Essa tarde, participei de um minicurso de fotografia digital no Salão de Extensão da UFRGS (tanto o minicurso quanto o salão foram muito legais, mas falarei disto em outro post). Como já estava no centro mesmo, decidi que iria treinar hoje também. Foi meu primeiro treino como faixa verde. Achei estranho que a minha imagem no espelho da academia não tivesse a cintura amarela.

Foi um treino como qualquer outro - não fiquei mais cansado do que costumo ficar, mesmo sendo a "sexta-feira infernal" do prof. Fábio. Na verdade, ele inventa exercícios novos e mais extenuantes do que nunca e, para aplicá-los, diz que sexta-feira é dia de se ralar. Besteira. TODO treino com ele é de ralar. Mas isso não vem ao caso aqui.

A maior diferença que notei foi quando treinei luta ensaiada com o outro faixa verde do horário: ele não teve medo de me machucar, coisa que nunca acontecia entre faixas amarelas. Não que ele tenha me acertado um cotovelaço na cara ou chutado meu saco sem querer, mas se eu bobeasse alguma coisa deste tipo teria acontecido. Parece que a faixa verde passa a mensagem de que eu agüento, e que ele não precisa se refrear. Consegui me defender e manter o ritmo da técnica sem grandes problemas, apesar de ter notado muitos erros meus. Eu achava que o treino dos faixas verdes era mais puxado, que os professores pegavam mais pesado. Talvez o aspecto mais marcante seja o foco e a falta de medo de se machucar.

Motivação

Gostaria de falar um pouco do que me motiva a escrever neste blog. Antes de tudo, tenho enorme vontade de pôr minhas habilidades em prática, de desenvolvê-las e ampliá-las. Isto tanto o blog quanto o Kung Fu me proporcionam, e ambas as práticas me trazem maior equilíbrio emocional. O blog, contudo, possui um ar diferenciado, pois nele me permito trazer à tona todas as minhas angústias, dúvidas e incertezas, da mesma forma que meus êxtases, convicções e alegrias, compartilhá-las com outras pessoas e discutí-las. Mesmo que poucas pessoas comentem aqui e falem comigo no meu dia-a-dia, é uma experiência animadora.

Vejo o Espadachim Cego como o meu diário de campo: uma ferramenta de pesquisa científica, onde escrevo sobre minhas impressões, tanto do ponto de vista "objetivo" quanto "subjetivo". Escrevo para outras pessoas lerem sobre assuntos que considero relevantes, de uma forma idiossincrática. Considero isto muito positivo e válido, pois me passa a impressão de que estou ajudando a construir algo maior e melhor para a humanidade (perdoem o exagero).

O que não entendo muito bem é por que algumas pessoas criam blogs para ficar falando apenas das festas que foram, do jogo do Grêmio ou das olimpíadas. Em outras palavras, não vejo sentido em criar um blog para fazer dele um flog ruim. Para ser mais exato, consigo imaginar alguns motivos que levam as pessoas a escreverem sobre e para si mesmos apenas, como necessidade de auto-afirmação ou desejo de aparecer, mas nenhum deles é egosintônico para mim, ou o é de forma muito reduzida e superficial. Em mim, é muito mais forte a motivação de dar uma contribuição original e espontânea ao mundo. Talvez mude de idéia futuramente, mas acredito que é isto que faço com o blog.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sócrates Modernos

Muitos fatores influenciam na escolha de uma profissão. Desejo de prestígio e poder, interesse, curiosidade, vontade de sentido, fatores culturais e até mesmo genéticos. Quando decidi que queria fazer Psicologia, não tinha muito claro por que o queria, mas sabia que não fazia minha escolha de forma mercenária ou por meramente não ter melhor opção. Tinha claro, contudo, que é uma profissão nobre. Hoje, mais do que antigamente, tenho certeza disto.

Sei que há muitas atribuições tecnológicas ao psicólogo, como avaliação psicológica, psicoterapia, aconselhamento e outras tantas que nos são ensinadas nas salas de aula, mas é nossa função filosófica, que aprendemos em toda nossa experiência estudantil, tanto antes quanto depois da graduação, como nossa mais importante missão.

Herdamos da Filosofia, e especialmente de Sócrates e Kierkegaard, a missão de questionarmos a vida em si mesma, tirá-la de sua redoma de óbvia naturalidade e mostrá-la de formas nunca antes vistas. Talvez mais do que outros cientistas humanos e sociais, é nosso papel desconstruir as verdades absolutas que nos cercam, e mostrar que há outras alternativas para elas. Mas ao contrário dos pós-estruturalistas, que meramente destroem tudo que lhes agrada, devemos ir além de desmontar tijolo por tijolo os frágeis prédios de nossas certezas; devemos reconstruí-los, maiores e mais firmes que antes, para então, quando se provar necessário, recomeçar tudo do início.

Não podemos nos arrogar o posto de senhores da razão, estáticos em nossa sabedoria. Antes de tudo, devemos sempre manter-nos humildes e em constante mudança. Não podemos nos permitir que crenças e esquemas se cristalizem em nós mesmos, ou caso contrário nos tornaremos aquilo que deveríamos combater - fontes de preconceito e estagnação. Devemos, isto sim, nunca nos darmos por satisfeitos, e continuarmos a nos formar, tanto como pessoas quanto como profissionais. Não há uma única maneira certa e clara de fazermos isto, pois se existisse, já teria sido descoberta. Cada um encontra a sua própria, enquanto tenta desvendar seu enigma. Não digo com tudo isto que os psicólogos são os mais importantes de todos os profissionais. Certamente seríamos bastante inúteis sem a ajuda de médicos, engenheiros, faxineiros, pedagogos, nutricionistas e sabe-se lá mais que outras profissões eu poderia citar aqui! O que desejo demonstrar é que temos uma importância igual as demais, só que deveras singular se comparada com elas.

Realmente não sabia o que esperar da Psicologia quando entrei na faculdade, e sou incapaz de recordar com precisão o que realmente imaginava que estava por vir. Talvez eu acreditasse que veria coisas mais "técnicas" e "objetivas", ou que a coisa mais importante seriam minhas leituras. Só agora começo a vislumbrar que o que realmente importa é o que nos tornamos com tudo o que vemos e vivemos, Sócrates modernos, tentando conhecer a si mesmos, para ajudar os outros a fazer o mesmo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Minha Universidade em Fotos

Foto em preto e branco do prédio do Parobé, sede do curso de Engenharia Mecânica da UFRGS (eu acho).

Faz algum tempo que estou pensando em pegar minha máquina digital e sair fotografando os prédios da UFRGS, mas eu nunca tinha tempo. Esta tarde participei de um minicurso (frustrado) de fotografia digital no Salão de Extensão. Tirei a foto em preto e branco por que, teoricamente, iríamos a recolorir depois com o Photoshop, mas como faltou luz justamente na sala onde iríamos fazer isto, tivemos que largar a idéia de mão. Hopefully, sexta-feira retomaremos o minicurso. Mas acho que vou tirar outras fotos, de outros prédios, e talvez uma foto do Parobé colorida.

At long last...

Rock on.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Dias de Treino

Vencendo uma forte onda de marasmo que corria por meu corpo, fui treinar na academia ontem à noite. Impressionante como, por mais que eu saiba que eu nunca me arrependo de treinar, eu quase sempre tenha que ultrapassar uma forte barreira inercial. Como sempre, valeu à pena caminhar à noite pelas ruas de Porto Alegre para exercitar não só meu corpo como minha mente e meu espírito. Mas, desta vez, a satisfação veio de coisas outras além do prazer intrínseco ao exercício físico.

Entrando no local de treino, cumprimentei um dos professores. Ele olhou para meu uniforme e perguntou, à queima-roupa "não recebeu tua faixa nova ainda?". Estou esperando o resultado do exame há mais de dois meses. Toda vez que fazia alguma pergunta relacionada com o exame eu recebia como resposta "calma, tudo a seu tempo". E não precisava nem ser a clássica "passei, Laoshi?". Que ele mencionasse este assunto tão despreocupadamente só poderia ser bom sinal. Fiquei sabendo por uma colega que o pessoal que passou da faixa branca para a faixa amarela já tinha recebido a sua nova "cor". Fiquei levemente preocupado com este novo dado - será que eu não passei?

Planejei perguntar para o outro professor no final da aula, mas não foi preciso. Todos os treinos são estruturados da mesma maneira: começa todo mundo se aquecendo e alongando, depois se treina coletivamente as quatro primeiras formas, e, então, dependendo do que o professor tem em mente, divide-se o grande grupo pelo nível de treinamento - faixas brancas para lá com o monitor, faixas amarelas e o cara quase passando pra amarela ali e faixas verdes para cima do lado da janela. As formas funcionam um pouco como uma peneira. Todo mundo faz as duas primeiras, só a metade faz a terceira, e a última só três ou quatro já conseguem fazer, por ser do "currículo" da faixa verde. Eu sempre ia até a última forma junto com os faixas verdes, mas era mandado para treinar com os faixas amarelas. Isto já estava me incomodando. Não que eu me ache melhor que todos os outros faixas amarelas, mas andei treinando com um pessoal que me dava a impressão de fazer corpo mole, o que realmente me irritava. Ontem foi diferente. No clássico momento de dividir a turma, o professor falou "todos os faixas amarelas pra lá, menos o Andarilho" (obviamente ele me chamou pelo meu nome verdadeiro, mas isto não importa aqui). Pela primeira vez, treinei como um faixa verde de verdade. Já treinara anteriormente com os faixas verdes, mas por que era o único faixa amarela do horário, e não fazia sentido treinar com os faixas brancas. Ontem foi bem diferente.

E ontem eu senti dificuldade em acompanhar os outros. Fomos instruídos a treinar uma forma específica, que ainda não sei por inteira. Não consegui acompanhar os outros. Na hora de treinar as técnicas de torções, bobeei e tomei um cotovelaço na cara. Claro, não era a intenção do meu colega me acertar: simplesmente, eu estava trabalhando em uma velocidade aquém da necessária. Ele compreendeu isto, mas poderia ter interpretado como sendo má vontade ou preguiça. Por isso não acho que tenho mais direito de ficar nervoso com meus outros colegas. Nada que um cotovelo na bochecha não mude, não? Para minha sorte, ele não estava com tanto ânimo, e não me nocauteou.

No final do treino, depois das duas séries de flexões saltitantes, quando já estava indo para o vestiário, o monitor me chamou, e perguntou se eu não estava interessado em participar do campeonato de Kung Fu que vai acontecer em novembro. Fiquei pensando no que teria levado ele a perguntar isto justamente para mim. Sou tão bom que eu poderia competir? Meu ego gostou desta alternativa, mas refutei-a rapidamente porque... bem... eu não sou tão bom assim! Preciso treinar muito mais! Isto me levou a pensar "ele tem alguma coisa a ver com a organização e tá ganhando um por fora por cada competidor inscrito", hipótese que me levou a perguntar quem estava organizando o campeonato (se ele dissesse que era alguma organização da qual ele era membro, já saberia a resposta). Mas, pelo que pude inferir, ele não tem nada a ver com a história. Então me caiu a ficha. Uns tempos atrás, um dos professores me falou que só competia faixa verde pra cima. Na verdade, ele se referia aos campeonatos de luta, mas eu nunca fiquei sabendo de nenhum faixa amarela competindo em formas. Fui feliz da vida para casa.

Astrofísica do Saco Cheio

A primeira aula da tarde está tão chata que eu receio que um vórtex de tédio surgirá da nossa sala de aula e sugará todo o universo.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Crueldade e Ética na Internet

Hoje tive a graça de entrar no blog Ballastexistenz, que há tempos não lia, e dei de cara com o texto "Internet Eugenics". Certamente o título do texto chamou minha atenção, mas quando comecei a ler, percebi que ele era baseado grandemente em um outro texto, "The Trolls Among Us". Resumidamente, eles falam sobre um assunto muito antigo e muito humano, a crueldade humana, mas em um contexto relativamente recente, a internet.

Na famosa rede mundial de computadores, nasceu e existe uma subcultura, cujos membros são chamados de "trolls". Trolls são pessoas que se divertem incomodando os outros, escrevendo comentários intencionamente ingênuos, irrelevantes ou irritantes, com o objetivo de ver as reações alheias, e ver quem cai na brincadeira. Nos primórdios da internet, nos anos 1980, ficava só por isso mesmo, mas atualmente a coisa é muito mais séria: há casos de bullying pela internet, violação de propriedade e ameaças de morte. Bem, não acho necessário ficar relatando estes causos em detalhes, pois está tudo nos artigos que linkei aqui. O que importa aqui é que coisas muito violentas acontecem, e tudo por que alguns indivíduos querem dar umas risadas - they did it for the lulz. Não que isto seja algo inédito na história da humanidade, mas o fato de que qualquer pessoa com uma conexão à internet, um pouco de paciência e disciplina e muita vontade de fazer mal aos outros possa fazer isto, e de forma absolutamente anônima é sem precedentes.

Coisas como estas fazem pipocar na minha mente o velho argumento de que o ser humano é uma criatura essencialmente má, anti-social e egoísta que precisa refrear seus impulsos mais profundos e verdadeiros, sublimá-los em formas mais positivas e altruístas de comportamento para ser-lhe permitido viver em sociedade e portanto sobreviver e perpetuar seus genes. Não tenho certeza se Freud foi o primeiro a desenvolver este argumento, mas certamente seus artigos e pontos de vista são os mais conhecidos no mundo inteiro, seja por cientistas sociais ou pessoas leigas no assunto. De forma grosseira e sucinta, concordar com Freud é aceitar que as pessoas consideradas mais puras por nós são na verdade as mais desonestas de todas, e que nossa espécie não tem salvação, pois eventualmente os nossos desejos mais profundos serão libertados, e destruiremos a nós mesmos.

Mas além de lembrar-me do velho Sigmund, estes textos fizeram-me relembrar um outro texto que li em um blog por aí, "Fragmentos da Sociedade Virtual", do Saíndo da Matrix. Neste artigo, o autor fala de sua experiência como jogador de um Massive Multiplayer Online Role-Playing Game (MMORPG), Lineage II. Como nos dois textos anteriores, o assunto deste artigo são as relações sociais criadas no jogo, que funciona de muitas maneiras como uma feira livre medieval, com livre comércio, lutas com monstros demoníacos e interação entre jogadores. O autor fala que é como ver uma sociedade, primitivamente sem regras, formar-se e estabelecer códigos de conduta próprios. E, no jogo, a prática de atacar outros jogadores é desencorajada de todas as maneiras: você não ganha nem experiência, nem dinheiro, e seu nome fica marcado em vermelho, indicando que você é um PK (Player Killer). E, apesar de todas estas desvantagens, sempre existem PKs. Sempre há quem esteja disposto a matar seus iguais apenas por poder fazer isto. Fazendo um pequeno paralelo com a sociedade, é um fenômeno parecido com a Sociopatia, que em longo prazo, não traz nenhum benefício para ninguém, nem para a sociedade, nem para o sociopata. Isto poderia ser apontado como mais uma prova da maldade intrínseca do ser humano. Mas, neste mesmo jogo, existem pessoas heróicas, que arriscam suas vidas para caçar os PKs, e contribuir para o bem comum. E mesmo em assuntos menos dramáticos, a boa vontade e a sinceridade parecem ser mais a regra do que a exceção ali. Os MMORPGs seguem regras próprias, mas estão sempre subordinados às regras sociais humanas mais amplas, pois nada mais são do que grandes aglomerados de pessoas, convivendo e buscando seus próprios objetivos. E lembro-me de Carl Rogers, que dizia que a essência mais verdadeira do ser humano é positiva e boa, sendo a maldade apenas a distorção dos nossos impulsos mais profundos, de amor e crescimento.