segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Arte de Fazer Indiadas

Eu sou um cara aventureiro. Desde o primeiro ano da faculdade, e muito tempo antes de entrar para a UFRGS, me meto em jornadas e viagens cujos níveis de conforto estão aquém do agradável, tanto que tornou-se sinônimo para mim "aventurar-me" com "ferrar-me". Ou como disse o velho Bonifácio, durante um acampamento especialmente chuvoso e complicado: "vocês se espreguiçam ao sol na praia! Isso aqui é um acampamento!" Quando ele falou isto, eu fiquei levemente irritado, já que ele tinha recém chegado ao local onde estávamos dormindo, e suas bandeirantes não tomaram um pingo de chuva em seus cabelos alisados com chapinha, mas hoje vejo a sabedoria de suas palavras. Moleza? Eu tenho isso em casa! Tô aqui pra sofrer, me desafiar e ter uma história para contar!

Contudo, esta minha vontade de ir além e viver uma vida significativa me fez desenvolver outro traço de personalidade: um certo desprezo por hedonistas. Para ser mais preciso, fiquei meio elitista. Sinto isso bastante quando vou correr no Parque dos Macaquinhos em dias de sol, e tenho que ficar desviando dos tiozões e demais preguiçosos que só saíram de casa por que seria fácil. Prefiro correr em dias de chuva ou muito frios por que, se tenho que desviar de alguém, é de alguém que escolheu sair de casa no pior dos climas e transcendeu a si mesmo. Merece meu respeito. OK, algum chato poderia escrever um comentário dizendo que eu devo respeitar todas as pessoas, sejam elas preguiçosas ou não. Minha resposta para isto é: eu respeito. Mas isto não significa que eu deva tratar todos como se fossem farinha do mesmo saco. Admiro muito mais as pessoas auto-transcendentes e disciplinadas pois sei como é difícil ser assim.

Tenho outro exemplo mais recente, que aconteceu faz uma semana ou menos. Nosso Diretório Acadêmico está organizando uma viagem para um congresso que ocorrerá em Buenos Aires em dezembro. A procura para ir neste evento está tão grande que já fechamos dois ônibus inteiros de 40 lugares e ainda há pessoas na lista de espera. Fomos ano passado neste mesmo congresso, mas com muito menos pessoas. E no ENEP foram só 7 estudantes de Porto Alegre. E uma veterana minha, que vai este ano pela primeira vez para um congresso com o pessoal, perguntou se no albergue em que ficaríamos havia banheiros em cada quarto. CACETE! QUER BANHEIRO NO QUARTO FICA EM CASA! OK, ela tem a opção de pagar um pouco mais e ficar em um hotel com banheiro individual, e isso é problema dela, mas fico indignado mesmo assim de querer viajar e não querer pagar o preço. Fazendo uma pequena comparação, sou como aquele cara que deixa de ser fã de uma banda quando ela deixa de ser underground e vai para o mainstream, como se o que me fazia admirar as músicas se perdesse com a fama. Congresso de Direitos Humanos e Saúde Mental em Buenos Aires? Bleh. Muito popular.

Mas minha indignação é, mais uma vez, sem sentido. Cada um escolhe ser o que bem entende. Se a maioria dos meus veteranos querem ser "pirralhos de carpete", isso não é da minha conta. Pois eu prefiro pegar um ônibus capenga para qualquer lugar distante, viver tanto quanto puder e tornar-me maior do que era.

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