quarta-feira, 7 de maio de 2008

Livre-Arbítrio

No jornal “Folha de São Paulo”, há uma coluna semanal escrita por um cidadão chamado Hélio Schwartsman. Gosto muito das coisas que ele escreve e da forma como ele escreve. Ainda assim, sinto-me autorizado a discordar dele de vez em quando.

Em sua última coluna publicada, “O não tão Livre Arbítrio”, ele afirma que as pesquisas no campo das neurociências vem confirmando que o conceito de Livre Arbítrio é meramente uma ilusão necessária para nossa vida mental. Como já disse anteriormente, gosto muito das pesquisas no campo das neurociências, e duvido que Schwartsman escreveria abobrinhas infundadas em sua coluna.

No parágrafo em que afirma isto, ele cita algumas pesquisas importantes, demonstrou que a atividade cerebral inconsciente que faz alguém mover o braço, por exemplo, precede em pelo menos meio segundo a "decisão consciente" de mexer o braço. Entretanto, acredito que não possamos confirmar ou negar a existência da Vontade apenas em pesquisas relativamente simples do funcionamento neuronal.

Corro o risco de cair em um poço de sofismas ao tratar deste assunto, mas arrisco-me ainda assim. Se não temos livre arbítrio, por que pensamos em tal coisa? Por que cogitamos se somos capazes de decidir nossa vida por nós mesmos, ou se já temos um destino traçado, seja nos genes ou nas estrelas? Parece-me que, por mais presos que estejamos aos átomos, ao nosso corpo, ao nosso ambiente, à conjunção de Júpiter com Capricórnio, à Deus ou à Força, ainda retemos algum grau de liberdade.

Outra coisa que fico pensando é sobre o valor da vida humana. De que adianta viver se não posso decidir o que farei de minha vida e como o farei? Um determinista poderia muito bem me responder que estas dúvidas são perfeitamente previsíveis, e que depois de um período X de tempo, eu voltarei ao meu estado mental normal, ou que é necessário que tenhamos uma ilusão de liberdade para que possamos viver satisfeitos com a vida. Mas este último argumento seria uma validação da liberdade humana.

Acredito que exista livre arbítrio, sinceramente. Só sou incapaz de definir o que ele vem a ser. Talvez não sejamos tão livres assim para decidir se queremos comer doce de Cosme Damião (ou ganhar a bola de Natal, sei lá), mas sejamos livres para dar um rumo para nossas vidas. Ou talvez, a liberdade seja realmente um “presente de Deus”, que nos permite decidir nosso destino (em parte, devo dizer), mas que, entretanto, não o usemos a maior parte do tempo, por estarmos demasiadamente influenciados pelas forças à nós externas.

Liberdade talvez seja, em última análise, nossa capacidade de admitir nossos limites, de que não somos tão poderosos quando gostaríamos ou imaginamos (aquela “ilusão necessária”). Só com este conhecimento, seríamos capazes de transcender a nós mesmos e ser realmente livres.

Mas eu não sei.