sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Direitos Humanos, Direitos Animais

Enquanto o mundo comemora a renúncia do ditador egípcio como uma conquista dos direitos humanos e da liberdade, outros, mais modestos e mais próximos de casa, comemoram o cancelamento do Show de Touros do XV Rodeio Internacional de Passo Fundo:

"Em virtude dos protestos recebidos pela Prefeitura Municipal e Funzoctur a respeito do show de touros, marcado para acontecer no XV Rodeio Internacional de Passo Fundo a partir desta noite, a atividade foi cancelada pela coordenação de evento. A apresentação, que já foi realizada em outras edições do evento e também em dezenas de rodeios por todo o Rio Grande do Sul, prevê brincadeiras envolvendo o público e o gado que corre solto dentro da pista.
O presidente da Funzoctur, Antônio Augusto Reveilleau destaca que jamais seriam permitidos maus tratos aos animais dentro do Rodeio de Passo Fundo e que a intenção da atividade era divertir e integrar o público que participa da festa. “Estamos suspendendo a atividade para atender as solicitações das pessoas que se colocaram contra. Mas temos consciência de que nenhum animal seria maltratado durante a apresentação”, concluiu.
O show deveria durar 45 minutos e teria vários momentos, como a Mesa da Amargura, onde 4 pessoas da platéia são convidadas a sentar no meio da arena, junto com um boi sem chifres, que corre solto pelo local."

Vejo um certo paralelismo entre esses dois acontecimentos, e que vai além do fato de ambos terem se tornado realidade graças ao ativismo de um número considerável de pessoas. Permitam-me explicar por que.

Desde o início do ano passado, adotei uma dieta estritamente vegetariana, depois de um longo e gradativo processo de diminuição no meu consumo de carne e derivados. Apesar de ter sido apreciador de um bom bife desde a mais tenra idade, tomei esta decisão por vários motivos. Entretanto, o fundamento básico por trás dessa decisão é bastante simples: os animais sacrificados para meu consumo sofrem, e eu não quero mais ser responsável por este sofrimento. Nunca adotei uma posição ativa como defensor da ética vegetariana, por detestar o proselitismo, e preferir que as pessoas tomem suas decisões baseadas em suas próprias experiências ao invés de sofrerem influências invasivas e excessivas de pregadores inadequados. Escrevo este texto com sabor mais militante, contudo, por que não o vejo como um artigo do proselitismo: cada um que visitar este blog poderá lê-lo, refletir a respeito dele, considerá-lo correto ou não e, se quiser, pode adotar ou não uma ética vegetariana. Por favor, lembrem-se disso ao lerem este texto. Considero o posicionamento aqui explicitado como sendo o correto, mas estou aberto a outras opiniões.

O mesmo não pode ser dito de muitas pessoas carnívoras que conheço. Quando falo que sou vegetariano para alguns conhecidos, frequentemente encontro respostas debochadas como "sente peninha dos animaizinhos?", como se isto fosse um absurdo. Como corolário (decorrência imediata de um teorema, segundo a sempre presente Wikipédia) desta atitude inconsciente, vem outra afirmação: por que devemos nos preocupar com a sorte de animais de corte como vacas e ovelhas, quando há tantos seres humanos passando fome por aí? Talvez seja um equívoco da minha parte pensar que ela é frequentemente dita por aí, porém, não tenho a menor dúvida de que ela é bastante forte no inconsciente coletivo da maior parte da população: por que nos preocuparmos com espécies diferentes das nossas? Temos tantas pessoas por aí sofrendo que é perder o foco nos preocuparmos com criaturas inferiores.

É uma forma lógica de pensar, e eu mesmo consigo perceber seu fundamento: primeiro cuidamos do que está mais próximo, e depois, se necessário, resolvemos o resto. Entretanto, ainda me incomodo com este posicionamento filosófico, por três motivos básicos. O primeiro deles é que é uma atitude inconsciente - dificilmente ela se sustenta depois de uma reflexão cuidadosa e aprofundada. Segundo, é uma crença egocêntrica e hedonista, como o próprio carnivorismo. Quando questionadas por que devemos continuar comendo carne, as respostas mais frequentes são "por que é bom", "por que é nutritivo" e "por que carne de soja é ruim e não nutre". Terceiro, e mais importante, esta crença me incomoda por que ela estimula o egoísmo e comodismo se escondendo atrás de uma fachada de preocupação e altruísmo: deixamos de nos preocupar com o sofrimento de criaturas diferentes de nós, sem com isso aumentar nossa capacidade de nos importarmos com nossos semelhantes. O contrário, entretanto, é verdadeiro: quem se importa com os direitos animais também se importa com os direitos humanos, e, por empatia funcional, quando um aumenta de intensidade, o outro também. Claro que existem anomalias por aí, como por exemplo aqui em Porto Alegre, onde um grupo de defesa dos animais se posicionou contra os carroceiros por que eles maltratam os cavalos que puxam suas carroças, mas, por experiência própria, tendo a acreditar que isto é exceção, e não regra, e quanto mais nós nos interessamos e nos importamos com outras espécies, maior calor e compaixão guardamos para nossos semelhantes.

Sei que este texto deixou muitas pontas soltas, especialmente no que diz respeito à ética vegetariana e minhas críticas ao que chamo de carnivorismo. Detesto ter que deixá-las soltas agora, por que não é realmente adequado escrever a respeito delas aqui. Entretanto, se alguém quiser discutir isso comigo, me espera na saída da escola que eu te encho de porrada, seu mané deixe um comentário aqui no blog que eu respondo.