quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Experiências Cinemáticas - O Exterminador do Futuro II

E, conforme prometido, acabei de assistir "O Exterminador do Futuro II". E, conforme eu não tinha prometido, vou escrever uma resenha sobre esse filme também, aproveitando que ele está fresco na minha memória.

Como eu disse no post anterior, todo mundo já assistiu "O Exterminador do Futuro II" pelo menos algumas vezes na Tela Quente, ou qualquer outro programa de filmes da TV aberta - eu também, tanto que minha lembrança de certas cenas é bastante antiga. Ainda assim, assistir esse filme tendo assistido sua "preqüência" faz toda a diferença. Talvez não tanto em termos de história, já que é plenamente possível vê-lo e entender tudo sem ter visto o número 1, mas sim para fazer algumas comparações.

Fica claro, pelo menos para mim, que o primeiro filme da franquia tinha um orçamento muito menor do que o do segundo. Como apontou um anônimo nos comentários do post anterior, James Cameron era apenas um ilustre desconhecido quando lançou "O Exterminador do Futuro". Certamente ele não poderia ter na época os mesmos recursos dos quais ele dispunha na produção e gravação do segundo filme. Não vejo isso nem como bom, nem como ruim. Entretanto, isto certamente afeta o desenvolvimento da trama.

É muito comum na indústria cinematográfica acontecer o que o TV Tropes chama de Real Life Writes the Plot - isto é, a Vida Real Escreve a Trama. Nos casos em que isto acontece, o diretor, ou quem quer que seja o responsável pelo roteiro, é obrigado a fazer mudanças na história por que algum problema de gravação ou produção não permite que a idéia original seja posta em prática. O próprio "Exterminador do Futuro" foi vítima disto: James Cameron queria que o filme fosse uma guerra de robôs, o que implicava em vários robôs ao mesmo na tela. Entretanto, como ele não tinha cacife para bancar uma coisa dessas, resolveu adotar uma outra abordagem: pegar um ator de verdade, ou, na falta disso, Arnold Schwarzenegger, dizer que ele é um robô do futuro com pele humana e por ele a caçar uma pessoa nos tempos de hoje. Qual história é mais impactante? O filme teria sido melhor se James Cameron contasse desde o início com todo o dinheiro e recursos do mundo no primeiro filme do Exterminador? Francamente, é difícil dizer, mas, na minha opinião, a história que ele nos contou, sobre um andróide extremamente humano que vem do futuro eliminar nossa última esperança é muito mais cativante (e assustadora) do que robôs lutando contra robôs, e talvez Cameron não fosse o titã hollywoodiano que é hoje com ela, nem Schwarzenegger governador da Califórnia.

O fato é que, muitas vezes, a vida real escrever a trama, e mudar o que o diretor tinha em mente de alguma forma, é uma coisa positiva, por que acaba limpando o roteiro de idéias ruins, e substituindo-as por outras mais dinâmicas. E, quando o diretor tem poder demais sobre o filme, este processo acaba não acontecendo. Dizem por aí que este é o principal motivo para os novos filmes da saga de Star Wars serem tão inferiores à trilogia antiga - como George Lucas tinha todo o dinheiro do mundo, toda a tecnologia e ninguém para lhe dizer coisas como "hey, George, a trama está muito ruim e não faz sentido", "sério cara, você está muito preocupado com efeitos especiais" e "por favor, mata esse coelho retardado com sotaque jamaicano", os erros fundamentais da trama não foram eliminados.

Quero dizer com isto que "Exterminador do Futuro II" é ruim por que dispôs de dinheiro demais para sua filmagem, e que Cameron deixou o poder subir à cabeça? Não. Na verdade, apesar de achar o primeiro filme da série muito melhor, sua continuação é também excelente. Quero apenas apontar que a quantidade de recursos disponíveis afeta de maneiras imprevisíveis a produção de um filme. Fica óbvio que, além de ter mais pilas pra gastar, Cameron também tem objetivos muito mais ousados com "Exterminador do Futuro II". Com o primeiro, ele tinha que se preocupar apenas em lotar os cinemas e convencer as pessoas a irem às locadoras pegar em VHS. Ele conseguiu, e com um sucesso retumbante. Agora, com este filme que acabei de assistir, ele não se preocupava mais com isso - ele sabia que o sucesso comercial para ele era líquido e certo. Como ele fez ano passado com "Avatar", ele se dedicou ao desenvolvimento de novas tecnologias cinematográficas, como técnicas de animação digital mais avançadas, de filmagem e também de narração. O resultado? Outra obra-prima. Tenho que dizer que, polêmico do jeito que é, James Cameron é um mestre no que ele faz. O que ele faz? Duas coisas: contar histórias e ganhar dinheiro contando essas histórias. Talvez alguém poderia acusá-lo de ser "clichê" ou "manipulativo", por usar tantos símbolos e temas emocionalmente carregados para a grande parte da humanidade, mas eu considero isto parte de sua genialidade. Em "Exterminador do Futuro", ele abordou nosso medo de sermos destruídos por nossas próprias criações, ao mesmo tempo humanas e monstruosas; na seqüência, ele continuou com este tema, e o expandiu, colocando a velha questão "podem máquinas aprender a amar?" em pauta mais uma vez. Pode ser exagero meu chamá-lo de filósofo; porém, os seus filmes contém muito daquilo que poderia se chamar filosofia, e fazem os espectadores pensar de maneiras diferentes.

"Exterminador do Futuro II" não é melhor do que seu antecessor, mas se sustenta sozinho brilhantemente e, em alguns momentos, até mesmo supera o primeiro filme. As cenas de ação, na minha opinião, apesar de serem mais bem montadas, simplesmente por causa do excesso de dinheiro disponível, não são tão boas quanto as do primeiro, que passa melhor a idéia do desespero por trás de uma luta contra máquinas. Ainda assim, são muito boas, e te deixam, 20 anos depois da estréia, em um permanente estado de expectativa por John Connor e sua família. As expressões faciais de tronco de árvore de Schwarzenegger são muito bem utilizadas, e sua interação com o jovem John Connor, que acaba vendo-o como um pai, são de fazer muito marmanjo chorar (não que tenha acontecido comigo, claro). Por fim, Linda Hamilton reprisando o papel de Sarah Connor está fantástica. Quem mais fica impressionado com sua atuação é quem viu o primeiro filme, e é tomado pela sensação de "quem te viu, quem te vê": de moça simpática que trabalha num restaurante, à máquina destruidora que faz de tudo para proteger seu filho e treiná-lo para ser um grande líder militar, ela é muito convincente.

Então, se você não viu esse filme, além de sair de baixo dessa pedra onde você está morando nos últimos 20 anos, eu recomendo que você assista os dois primeiros filmes da série "O Exterminador do Futuro" em seqüência, por que vale muito à pena.