quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Atenção

Lembro-me de ler um trecho de um livro de Lord Baden-Powell, o fundador do movimento escoteiro, onde ele fazia troça dos gregos, que chamavam o ser humano de "antropos" - o que olha para cima - quando raramente as pessoas olham para cima. Ele dizia isso baseado em experiência própria, pois quando fugia para o mato atrás de sua escola, ele se escondia dos professores nas árvores mais altas, onde seus professores nunca pensavam em procurá-lo. Já testei empiricamente a afirmação do Chefe Escoteiro Mundial, e devo dizer que as pessoas não olham para nada em seu redor. São cegos.

Antes de continuar, devo dizer que eu não sou especial, e que não sei até que ponto eu não sou cego para o mundo. Ainda assim, tenho a impressão de que vejo mais do que os que estão ao meu redor. Um exemplo disto é este próprio blog. Nunca divulguei ele massivamente, ao contrário do que já fiz com o R&A, tendo, no máximo, passado o link para um amigo por vez. Originalmente eu não fazia nem isso. Mas depois de um tempo, fui amolecendo, e passei a fazer coisas que anteriormente abominava. Colocar o link do Espadachim Cego no Orkut, na guia de "Página web" e até mesmo na guia de feeds no lado esquerdo da tela, que informa quando ele é atualizado! Eu imaginava que o blog não tinha muitas visitas por que eu deixava nas mãos dos internautas de acharem ele - tá no meu perfil do Blogger, é só ir lá e clicar - e que isso mudaria se eu colocasse um link no meu Orkut. Ledo engano. Ninguém clica. Isso não é uma reclamação sobre como meu blog é bom e é subvalorizado, e que as pessoas deveriam ler. Para ser sincero, eu escrevo por que me faz bem, não por que as pessoas queiram desesperadamente ler (apesar de levar em consideração o pessoal que realmente lê, comenta e às vezes reclama por atualizações). Mas eu fico realmente impressionado com esta cegueira. Acho que, se colocasse o link no corpo do texto principal do Orkut (no "Quem Sou Eu", que, aliás, precisa de um texto novo escrito por mim e para mim) a coisa mudaria um pouco de figura, mas isso já seria divulgação ativa, coisa que não quero fazer.

E acho que sou um pouco diferente dos demais, pois eu realmente procuro as coisas. Quando adiciono alguém no Orkut, eu olho as comunidades e procuro por algum link de blog, flog ou qualquer outro tipo de site. Acredite se quiser, mas o Orkut realmente reflete sua personalidade: não é à toa que você entrou na comunidade Eu Odeio a Xuxa ao invés de Existencialismo, ou vice-e-versa. E também não é à toa que você escreva no seu flog sobre todas as mulheres que você comeu no final de semana ao invés de falar sobre Epistemologia da Psicologia e questões existenciais. Não quero apontar quem está certo e quem está errado aqui - não faria sentido. Apenas quero ressaltar que o coração das pessoas só é tocado por algo que já está lá - "onde está teu tesouro, também está teu coração". E, obviamente, há mais pessoas que se interessam por sexo do que por filosofias complicadas. Quando olho as comunidades "orkuticas" dos outros ou seus blogs, eu quero conhecê-las melhor. Eu sou um buscador, isso é um traço de minha personalidade, ainda que eu não seja lá muito bom nisso (alguns colegas meus discordariam desta afirmação, depois do episódio do vídeo dos Smurfs que encontrei na internet). E, ao contrário de mim, a maioria das pessoas não procura entrar em contato com o "mundo fenomenal" alheio, pois estão absortas demais no seu próprio: atualizam o perfil do Orkut de hora em hora, publicam vídeos, fotos e textos em seus sites pessoais, adicionam amigos até estourar o limite imposto pelo site, mas raramente vão além disto. E eu não estou falando de coisas complicadas como ler meus carregados textos sobre Psicologia, mas olhar as comunidades que os outros fazem parte! Eu cansei de ver pessoas ficarem surpresas sobre detalhes da minha vida, quando estava tudo lá, naquele maldito link "comunidades". Fico feliz quando percebo que alguém realmente se deu ao trabalho de fazer isso, não por que quero que as pessoas saibam tudo sobre mim, mas por que é algo difícil de se ver.


Eu poderia sair culpando estes sites de relacionamento por isolarem as pessoas ou algo igualmente irracional (como "é um plano do FBI para conquistar o Brasil"), mas o Orkut é apenas um reflexo de nossa civilização egocêntrica. As pessoas são desatentas em suas vidas offline, até mais frequentemente do que no Orkut. Não as julgo, ou pelo menos tento não julgá-las. Prefiro tornar-me cada vez mais atento e consciente do meu ambiente e dos que vivem ao meu redor.