segunda-feira, 22 de junho de 2009

Vida Dura (Parte 24)

Ao contrário do que o senso comum poderia dizer, o centro de uma grande universidade não é a reitoria, mas o restaurante universitário. Para o diabo com o reitor e suas politicagens, pois o povo quer saber é de comida barata! É no RU onde todas as tribos se encontram pois, afinal de contas, desde o bicho-grilo cheirando à maconha mais chinelão das Ciências Sociais à patricinha mais rica e perfumada da Odontologia* querem poupar dinheiro (o primeiro para comprar livros do Marx e "erva doce da paz" e a segunda para comprar cremes da Avon e suas botas para cair na noite do Madras). Além disso, é o local onde estes tão diversos estereótipos convivem e ocupam as mesmas mesas, os mesmos talheres e, claro, comem o mesmo rango.

Claro, a relação que os estudantes de universidades particulares têm com seus RUs é um tanto quanto diversa da dos estudantes de universidades públicas (especialmente federais). Nas particulares, como todas as outras coisas, ela é definida pelo preço da refeição - sempre caro, entre 5 ou 6 reais. Já nas públicas, a questão do preço surge apenas esporadicamente, geralmente quando a reitoria decide aumentar o preço e o DCE organiza passeatas e protestos e os estudantes ficam gritando até o reitor mudar de idéia e deixar tudo como está, sendo o mais importante a natureza duvidosa da comida servida. Tá, eu sei que as estagiárias de Nutrição estão lá, zelando pela nossa saúde e cuidando para que não ocorra uma intoxicação alimentar em massa, mas a impressão corrente é que elas não têm muito sucesso nesta empreitada, e comer no RU da UFRGS é sempre uma aventura. Já ouvi relatos de já terem servido feijão peludo e da nutricionista responsável vir a publico dizer que aquilo na bandeja de todo mundo não era cabelo, mas carne desfiada (eu gostaria de estar inventando isto). Estes são apenas os casos saídos da Twilight Zone, que acontecem de vez em quando. São realmente bizarros, mas não dá para construir uma sólida reputação apenas com um ou dois grandes eventos, mas nas coisas pequenas e constantes de nosso dia a dia, como o feijão com pedrinhas, o arroz cru, a salada radioativa, as bandejas pré-servidas, o suco sabor caneta marca-texto, a carne que deveria ser estudada pelos geólogos e não por nutricionistas... enfim, todas as miudezas que fazem do RU ser tão nosso!

Diante desta situação, como reagem os estudantes? Continuam comendo lá, mas nem por isso deixam de reclamar. É fato que reclamar do RU é um esporte extremamente popular na UFRGS (e este deve ser meu enésimo post nesta categoria). Contudo, todavia, porém, dentre os muitos dias de comida esquisita (e que pode morder em retaliação), aparecem alguns dias que fazem valer a pena gastar R$1,30 para almoçar: os dias que servem delícias como banana com calda de chocolate.




Claro, a banana deve estar verde e tem pouca calda de chocolate, mas ainda é banana com calda de chocolate! E notem que o feijão com arroz também vem acompanhado com batata palha.

*Só pra constar: aqui na UFRGS esse encontro de titãs é difícil, mas pode acontecer em pelo menos um RU - o do Campus do Vale, onde o curso de Odontologia tem pelo menos algumas disciplinas.

Viva a Sociedade Alternativa!

Sentei-me hoje na biblioteca com duas colegas minhas para estudar. Não foi nada extraordinário - para ser franco, para um observador externo seria uma cena um tanto quanto monótona, pois quase nem conversamos. Ainda assim, senti como se algo fantástico estivesse acontecendo naquele exato momento, naquela mesa onde estavamos sentados fazendo algo tão comum.

Senti algo parecido semana passada, e na outra, durante a reunião do nosso diretório. Mais uma vez, não estavamos fazendo nada que não se faz em qualquer reunião de qualquer coisa, seja de diretório ou de clube de biriba: discutimos pautas, tomamos decisões práticas, ouvimos informes, fizemos piada a respeito de algumas bobagens. No meio de toda a algazarra, deixei-me levar e apenas observar, sentir e ouvir o que acontecia ali, e senti-me profundamente contente, pois foi-me permitido ver um coletivo estudantil decidindo seus próprios rumos, mesmo durante o inferno do final de semestre, e tudo isto sem conflitos partidários e brigas mesquinhas! Pode ser que dure pouco e que esta semana o DAP morra novamente, mas durante os últimos seis meses, como ele viveu! Fiquei ainda mais contente quando um outro colega meu, também presente nesta reunião, falou que sentiu algo muito parecido com o que eu mesmo senti.

Que sensação é essa? A resposta surgiu antes mesmo que conseguisse formular a pergunta - é a sensação de pertencer a um grupo, a algo maior que si mesmo e mesmo assim continuar um indivíduo único - de poder depender dos outros mas continuar independente. Se todo movimento estudantil fosse assim, viveriamos uma verdadeira revolução.