segunda-feira, 19 de maio de 2008

Obsessões - Part Quatre

Freud dizia que todas as pessoas bem ajustadas e adaptadas à sociedade são, em maior ou menor grau, neuróticas. Discordo desta afirmação, e que acredito que existam pessoas sem nenhum tipo de distúrbio, mas que não posso me incluir neste grupo.

Tenho uma neurose bem particular. Na verdade, o termo neurose é bem antiquado, pois há um nome mais específico para o que tenho: chama-se Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Se não me engano, eu não atinjo todos os pré-requisitos diagnósticos para ser considerado um TOC verdadeiro, e mesmo que atingisse, o transtorno não me impede de funcionar normalmente – vou para a faculdade, tenho uma vida social, não deixo minhas obsessões dominarem minha vida. Entretanto, elas me deixam um tanto quanto mais infeliz.

Tenho uma certa compulsão por números, especialmente de posts para este blog. Acho muito bonito ver o contador do Capacitor de Fluxo com números cada vez maiores, e isto torna o ato de publicar textos novos um prazer por si só. Todo mês, tento fazer pelo menos uma atualização por dia, 30 ou 31 dependendo do mês. Até agora não deixei a peteca cair, e tenho feito mais atualizações mensais do que isto, portanto não sei como agiria o momento que não o fizesse. Entretanto, sei como agirei se deixar as obsessões tomarem conta de minha vida.

Em janeiro, ainda no Roqueiro & Alcoólatra, prometi a mim mesmo que todos os dias teriam no mínimo três atualizações diferentes: imagens, vídeos e textos legais. A sensação de ter que cumprir esta promessa me fazia constantemente pensar na próxima coisa para postar no blog, qual imagem, ou qual vídeo catar por aí. Mais importante ainda, sobre que assunto versar. Escrever sempre fora um ponto de honra para mim – desde o dia que comecei a escrever redações, escrevo bem. Claro, escrevo melhor hoje do que na 2ª ou 3ª séries, mas desde aquela época sou bastante elogiado pelo meu estilo. As imagens e os vídeos que pegava por aí, postava no blog para dar maior diversidade, m as ainda considerava a arte de escrever meu forte. Ironicamente, por causa desta “demanda” por posts e textos bem escritos sobre assuntos bacanas, fiquei bloqueado. Tudo que conseguia pensar quando lembrava-me do blog (estava de férias, então tinha bastante tempo livre para ficar lembrando de muitas coisas, especialmente do R&A) era algo como “precisoatualizaroblogmasnãotenhoassuntosobreoqueescreveraimeudeusoquevaiserdoblogsemumtextolegal”.

Não sei se dá para dizer se pensamentos são compridos, mas este pensamento em especial era grande, e ocupava todo e qualquer espaço para idéias legais. Alguém no R&A fez um comentário sobre a podridão das últimas atualizações (em termos muito mais gentis), e eu entrei em modo meditativo. Ponderei que, apesar de estar atualizando com constância nunca antes vista, não estava agradando os leitores. Tinha abandonado a qualidade em nome da quantidade. Decidi então abandonar essa frescura de três posts por dia, e criei o Espadachim Cego, onde eu faria atualizações da melhor forma que posso: textos, textos e mais textos, algumas figuras que acho que valem a pena colocar na web, um vídeo aqui e acolá, e deu. Se fizesse um post ou três por dia, tanto faz. Estranhamente, foi justamente isso que abriu as comportas que antes barravam meu inconsciente criativo, e passei a escrever mais do que nunca (o Capacitor de Fluxo aqui do lado não me deixa mentir).

Também tenho uma outra neurose, bem menor, quase insignificante, mas que pode me dar trabalho um dia: tenho adoração por escrever textos longos e ficar olhando para eles no blog, e um certo desprezo por tiradas curtas. Sinto-me um pouco trapaceiro quando faço atualizações como os sobre as provações que encaro na faculdade: “porra, isso aqui é um blog, não é o teu floguxo pra ficar escrevendo frasezinhas telegráficas como se fosse alguma coisa decente!” penso eu. Nada contra quem tenha floguxo e faça isso: sou chato comigo mesmo e não com os outros, e espero muito mais de mim do que dos outros, correlacionalmente (por que não dá para estabelecer a direção causal neste caso: sou chato comigo mesmo por que sou exigente, ou sou exigente por que sou chato?).

E falando das minhas neuroses escrevo um texto bem grandinho. Ai ai.

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