segunda-feira, 19 de maio de 2008

Encontros ao acaso em um ônibus para Porto Alegre

A linha intermunicipal entre Caxias do Sul e Porto Alegre, da empresa Caxiense, tem me rendido encontros com antigos amigos e conhecidos, que agora, da mesma forma que eu, estudam na capital e voltam para o lar no interior de vez em quando. Na viagem desta noite, trombei com dois colegas do tempo do Ensino Médio.

O Ensino Médio foi uma época sombria de minha vida – a solidão era a única a sempre me acompanhar pelos longos e escuros corredores do antigo colégio, e de tanto andar comigo tornou-se minha melhor amiga. Sentia-me só mesmo quando junto de outros. Cada vez que encontro alguém daquela época, toda a torrente de memórias, especialmente as ruins, vêm à tona. Entretanto, é com alegria que encontro a grande maioria de meus ex-colegas. Hoje não foi exceção.

Foram eles que me viram primeiro; estava por demais enredado em minhas próprias divagações para perceber o que acontecia ao meu redor (exceto se o ônibus abria), e acordei um tanto quanto bruscamente deste sonho acordado ao ouvir meu nome gritado de algum canto da rodoviária. Cumprimentei-os, já que fazia um bom tempo que não os via, e pus-me a falar de coisas comuns: faculdade, vida em Porto Alegre, problemas do curso. Este tipo de conversa miúda é um problema para mim, mas tenho adquirido um certo grau de habilidade para encontros sociais fortuitos e de média duração, onde “Oi! Tudo bem?” não é suficiente, e criei algo como um arquivo de assuntos para falar quando necessário. Não é um arquivo grande, como podem perceber, mas segura as pontas.

Talvez por querer desafiar a mim mesmo, talvez por que alguma parte do meu ser sente falta daquela época tenebrosa, sentei-me perto deles, de forma que ficava fácil de conversarmos os três. Foi durante as duas horas que separam Porto Alegre de Caxias do Sul que notei que a distância entre eu e meus agora ex-colegas permanece grande. Os assuntos que lhes agradavam eram os mesmos de três anos atrás: festas, bebida, mulher. Claro, há também os tópicos sobre faculdade (os dois fazem cursos das Ciências Exatas) e sobre morar na capital, mas o repertório não aumentou muita coisa. Internamente, enquanto eles falavam daquilo que mais lhe dizia respeito, ria de como hoje reflito sobre liberdade, angústia, ciência e individuação, enquanto eles davam roupagens novas para assuntos velhos. Fiquei calado ou falei pouco durante a viagem, se comparado com eles. Igualzinho como era na escola. De certa forma, posso dizer que minha vida deu uma guinada de 360 graus – voltei para o mesmo lugar de antes, só que completamente transformado. A diferença entre o Eu do Ensino Médio e o Eu da Faculdade é a mesma que existe entre o Baixo e o Alto Nirvanas: os atos são os mesmos, mas os significados são outros. Pelo menos para mim.

Não quero dar a entender que antigamente era inferior a todos os outros e superior hoje, ou que meus colegas estão estagnados em seu processo de desenvolvimento pessoal, ou até mesmo que este processo pelo qual estou passando é positivo. Quero apenas fazer um relato pessoal do que percebi em uma de minhas viagens de Caxias do Sul para Porto Alegre, e de um encontro ao acaso que tive com dois ex-colegas meus, pois nada posso falar com certeza dos outros ou dos mistérios que cercam o crescimento pessoal; como eu, cada leitor deste blog é livre para interpretar o que relato da forma que bem lhe aprouver – só posso dizer que sinto-me muito melhor hoje do que antigamente. Meus companheiros de viagem, não sei. Mas duvido.

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