segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Vida Dura (Parte 7)

Tarefas domésticas realmente não são meu forte. Como li em algum blog por aí, "faxina é o trabalho dos bravos e aguerridos". Concordo plenamente. Não é qualquer um que consegue manter a higiene caseira e a sanidade mental sem muito esforço.

Digo isso por que é impressionante como as coisas ficam sujas. O ralo do chuveiro é um excelente exemplo: três dias de banho e ele já enche de cabelos, pêlos pubianos e qualquer sujeira grande o suficiente para ficar por ali também. No começo dá para ignorar, mas depois, quando a água passa a demorar demais para encontrar seu caminho até o Grande Dilúvio (ou Grande Tega, em Caxias), é hora de meter a mão na massa de pentelhos e crinas e limpar o ralo. Como diria meu colega Luiz Alexandre "tua adolescência se vai e tu te torna um homem depois que tu limpou um ralo". Interessante notar que nós dois chegamos a mesma conclusão, sem termos falado a respeito disso, em tempos completamente diferentes: depois de termos saído da casa dos pais. Aliás, o ralo da casa dos meus pais está sempre limpo. Gostaria de saber que tipo de tecnologia faz isso. Faz falta por aqui.

Lixo doméstico é outra questão problemática. Tanto o seletivo quanto o orgânico incomodam. O seletivo nem tanto, pois por mais que se empilhem caixas de pasta de papelão vazias, elas nunca darão um estorvo maior que ocupar espaço. No meu caso, ele pode, sim, dar um estorvo maior. Como atulho o lixo seletivo na área de serviço, que é aberta, em dias de vento forte, fica tudo espalhado. Mesmo assim, não é grande transtorno, pois eu só tenho que chutar as caixinhas de suco para os lados enquanto caminho por lá. O lixo orgânico é bem diferente. Primeiro porque ele é orgânico, portanto ele se decompõe, ou seja: apodrece. Como ele apodrece, ele fica fedendo, e impregna a cozinha inteira com um odor de morte celular. Além, muitos restos orgânicos quando entram em decomposição liberam uma aguazinha nojenta, que geralmente vaza do saco de supermercado que uso como saco de lixo para dentro da lixeira em si, fazendo tudo muito mais nojento. Para completar esta cena escatológica, essa aguazinha é uma Fonte da Vida para criaturas igualmente nojentas, moscas em especial. Certa vez, deixei o lixo orgânico dentro da lixeira por um final de semana inteiro, e quando levantei sua tampa para ver a situação (ou melhor dizendo, cheirar a situação), quatro ou cinco mosquinhas que não estavam lá quando fui embora, saíram voando em direção à liberdade. A partir daquele momento, deixei de lado o que a Biologia diria e passei a acreditar na Abiogênese, a geração espontânea de vida. Pasteur nunca morou sozinho para refutar esta importante teoria.

A última coisa que falarei neste post que me incomoda (mas não a última coisa que me incomoda) são os prazos de validade e requisitos de conservação de diversos produtos, alimentos principalmente. É comum para um universitário recém saído de casa, solteiro e estudando feito japonês do Flemming* abrir um pacote de comida, pegar o que quer e esquecer em algum canto. Se fosse só isso, não teria nenhum problema. O problema de fato é que, tudo que é esquecido um dia é reencontrado. No caso, é reencontrado por causa do mau cheiro, das moscas voando em volta de um ponto ignorado ou por causa da fome, que leva o indivíduo a ir atrás de suas fontes de nutrientes habituais, a geladeira e a despensa. A mais linda história real que tenho para exemplificar esse problema é a vez que, tendo nós aqui em casa decidido se livrar das coisas intragáveis que estavam na cozinha (vejam que não estou nem falando em "fora do prazo de validade"), peguei uma caixinha de creme de leite, aberta por pelo menos dois meses, e decidi olhar o que (ou quem, se fosse o caso de uma outra microcivilização superavançada) tinha ali dentro. Má idéia. Era uma massa verde disforme e fedorenta, que ninguém no mundo diria ter sido um dia creme de leite (os membros da microcivilização chamariam-na de "Berço de Mungdah", seu deus criador, pai da linhagem imperial e nome de sua capital). Também tem o caso da vez que fomos para a casa de praia de um colega, e percebemos que quase todas as coisas dentro da geladeira estavam em situação igualmente deplorável, mas por motivos diversos dos meus (desejo de poupar tudo e não jogar nada fora, ao invés de descuido e preguiça). No momento, tenho um pote de mumu dentro da geladeira que ficou mais de 15 dias fora desta, no armário, contrariando o que diz em sua embalagem. Estou com medo de abrir a sua tampa. Outra vez.

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