segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Vida Dura (Parte 8)

Em meu post anterior, falei das microcivilizações de bactérias e micróbios a quem dou terreno fértil para desenvolverem-se. Pensei em criar uma enciclopédia inteira dedicada à suas características antropológicas, sociológicas e psicológicas, além de tecnológicas e besteirológicas. Mas isso fica para outro dia, provavelmente um dia em que eu esteja bêbado de ar e drogado com chocolate (ou Benflogin). Neste post, quero falar de outra microcivilização, que apesar de se desenvolver às custas de minhas cagadas, não foi por mim criada, e pela qual tenho grande respeito: as formigas.

Tenho um pote de mel que deixo guardado no armário da cozinha. Quando fui para Caxias, ele estava pela metade; quando voltei, só um terço do que tinha deixado ainda estava lá. Prefiro pensar que meu colega de apartamento comeu bastante pão com mel (por não ter coisa melhor), pois a outra alternativa, que as formigas comeram, é muito mais pavorosa, pois não é impossível que elas me devorem durante meu sono.

Já matei muitas formigas, tanto aqui em Porto Alegre em meu apartamento, quanto em outros lugares. Essas pequenas criaturas estão por toda parte. Várias vezes deixei um copo sujo de suco em cima da pia, com a intenção de buscá-lo mais tarde para tomar mais suco. Mas sempre que voltava, elas estavam lá, colhendo os espólios de sua guerra contra minha cozinha. Me dá pena ver estas valorosas guerreiras morrerem afogadas quando vou lavar a louça, mas ou elas ou a higiene. Para reconfortar-me, penso que elas ressurgem e ressucitam como filhas do povo de Blebleberg (os que infestam o ralo da pia). Seriam elas zumbis? Não sei.

A questão é que sempre admirei estas bichinhas. Gostava de jogar Coca-Cola em seus caminhos bem ordenados para vê-las depois em volta da mancha de pura glicose negra pegando o que pudessem levar para seu reino, o formigueiro (palavra essa, aliás, que me causava confusão, pois formigueiro não é quem cria formigas?). Também gostava de deixá-las desnorteadas colocando folhas em suas trilhas de hormônios e vê-las apavoradas, mas faz muito tempo que não faço isso, pois respeito-as demais para tanto.

Também tenho grande respeito pelos cupins que neste exato momento dilaceram a porta do banheiro aqui de casa, pelas abelhas de quem roubo mel e especialmente das vespas e marimbondos que me apavoram, por suas estruturas sociais tão organizadas e complexas. Não sei, mas acho estes insetos sociais as criaturas mais interessantes do reino animal, por serem tão parecidos com os gregos antigos e suas Pólis, ou as cidades-estado da Idade Média como Veneza, que enriqueciam através do comércio e da guerra. Digo que as vespas e os marimbondos me causam maior interesse porque, além de dispor de menos informações à seu respeito, eles são como os espartanos dos insetos sociais: idênticos em quase tudo, só que muito mais guerreiros (e com um mel muito pior, mas isso não vem ao caso).

Todas essas sociedades tem uma realeza: geralmente só uma rainha, mas as térmitas (cupins brancos) também tem um rei. As abelhas têm os zangões, que seriam os concubinos da rainha. Não vou cair na tentação de antropomorfizar estas espécies, mas as semelhanças com os seres humanos são impressionantes.

Talvez valha a pena para um futuro psicólogo como eu estudar a sociologia destes bichos. Não só para minha vida profissional, mas também pra deixar minha cozinha um lugar mais seguro.

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