quarta-feira, 14 de maio de 2008

Uma Teoria da Motivação Humana

Tenho uma teoria da motivação humana. Ela não é original, já que muitos teóricos antes de mim tiveram idéias muito semelhantes, como Jung, Rogers, Maslow, Frankl, Adler e tantos outros antes deles, e muito menos um consenso entre os psicólogos e cientistas humanos, pois para que ela seja verdadeira, é necessário que haja algo maior que todos nós regendo o universo.

Baseado no que tenho lido, visto e vivido, sinto-me seguro que nós somos livres, mas nossos corpos não o são. Todos os determinantes físicos, biológicos, psíquicos e sociais agem sobre nosso organismo, o veículo de nosso espírito, que por não poder manifestar-se independentemente, fica enormemente limitado, com apenas uma pequena margem de possibilidades para agir. Metaforicamente falando, somos motoristas presos dentro de nossos próprios carros. Por mais que isto tolha nosso poder, ainda dispomos de uma grande liberdade, pois apesar de todos os determinantes, ainda somos grandemente indeterminados.

Minha teoria é de que todos os nossos atos, conscientes ou não, são em direção a um bem maior. Mesmo atos cruéis buscam a transcendência, apesar de ser de uma forma distorcida e perversa. Todas as músicas compostas, todos os discursos escritos e lidos, todas as obras de arte criadas, as compras no mercado, as noites em claro, os beijos e abraços, as alegrias e as tristezas que vivenciamos são um degrau em direção ao Bem Supremo. O que é esse Bem Supremo? Minha mente está por demais envolvida na matéria para ser capaz de imaginar o que ele seria. Ficar pensando a respeito de sua natureza pode ser interessante, mas não passaria de um exercício escolástico tão útil quanto discutir o sexo dos anjos.

Dentro de nós, há um potencial para tornamo-nos algo. Isto pode ser dar através da genética, da evolução, do aprendizado social ou revoluções mentais, talvez até da influência dos quarks ou das estrelas distantes. O que quer que seja, esta vontade de potência não é fechada e imutável o bastante para tornar-nos em andróides, nem ilimitada – ela é circunstancial, e depende tanto do que acontece dentro de nós quanto em nossa volta. Uma pessoa saudável irá naturalmente seguir esta pulsão para o bem, enquanto que uma pessoa doente tentará seguir seu caminho de uma maneira mais canhestra, errática, buscará curar-se primeiro para então seguir adiante, ou se curará enquanto avança.

Este potencial é limitado, mas somos livres para decidir se queremos realizá-lo e transformá-lo em ato ou se desejamos fazer qualquer outra coisa. Parece-me que o único caminho saudável é aceitá-lo como nossa verdade de vida e realizá-lo. Uma semente de carvalho só tem um caminho a seguir, que é desenvolver-se e apontar para o alto, mas pode permanecer como é, mera e minúscula semente. Esta escolha existe, mas fica claro qual é preferível. Esta minha afirmação parece contradizer o que disse anteriormente sobre a liberdade humana de escolher pelo menos em parte seu destino, mas acredito firmemente que este caminho torna-se possível apenas quando ardorosamente desejado. Quando se busca tornar-se o que realmente se é. Podem existir pessoas mais bem preparadas para subir esta escadaria para o Céu, física e mentalmente, mas apenas as que isto tentaram tiveram sucesso, independente de sua força. O melhor corredor do mundo não pode ganhar nenhuma maratona se não competir, e nenhum forte alpinista pode escalar o Everest se não der o primeiro passo em direção ao leste.

Temos tudo que precisamos para esta jornada dentro de nós mesmos: as capacidades, a energia, a disposição. Mas elas sozinhas nada conseguem, se não forem guiadas por uma vontade persistente, que supera as barreiras impostas pelo mundo. E não existe jornada sem obstáculos – todo guerreiro já foi derrotado, fraquejou, desesperou-se. Uma jornada fácil não é uma verdadeira jornada, é apenas um passeio inconseqüente.

Nossas vidas não são caminhadas pelo parque – há um sentido na existência de todo ser vivo. Só por que somos incapazes de perceber isto não quer dizer que não exista. E no caso dos seres humanos, o sentido não apenas existe: ele pode ser encontrado, escolhido ou ativamente criado por nós.

Se nós somos meros fantoches de algum ser superior, ou se somos meros amontoados de átomos, pouco importa. Existimos, e isto para mim basta. Nossa existência é efêmera, mas isto é mais um motivo para desenvolvermos todo o potencial que pudermos. A morte torna nossas vidas belas, pois não importa o que façamos, será único. Talvez vivamos de forma parecida com outros, talvez as angústias que enfrentamos sejam as mesmas que a humanidade enfrenta há milênios, mas ainda assim somos únicos.

Somos programados para cumprir um destino: nascer, crescer, desenvolver todo nosso potencial, espalhá-lo pelo mundo e então cessar de existir. Brilhar tanto quanto pudermos, mesmo sabendo que nos apagaremos no final. Este é o melhor caminho que podemos seguir, mas ainda somos livres o suficiente para trilhar qualquer outro que houver. Mas se escolhemos o caminho do crescimento, devemos fazê-lo com todo nosso espírito, para que no fim nossos esforços frutifiquem.

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