sábado, 19 de julho de 2008

Ainda mais algumas notas sobre minha alimentação

Como ainda estou embalado, decidi escrever um terceiro post sobre meus hábitos alimentares: o hábito de comer carne. Vegetarianismo e carnivorismo são dois movimentos alimentares tão opostos quanto Grêmio e Internacional. De minha parte, estou dividido entre os dois.

Há muitos argumentos contra o consumo de carne – religiosos, éticos e científicos. Como este não é o lugar para ficar falando extensamente sobre a questão de comer carne ou não, citarei apenas os principais: infligimos sofrimento aos animais, que são nossos semelhantes e não possuem meios de defenderem-se do ser humano, o que gera karma. Além disso, um número considerável de pesquisas científicas tem demonstrado que comer carne faz mal para a saúde em diversos aspectos, e que o consumo de vegetais (frutas, legumes e verduras) é extremamente saudável. Em contrapartida, também há argumentos religiosos, éticos e científicos em defesa do consumo de carne, a saber: Deus criou os animais para servirem o ser humano, o que inclui a alimentação; nos preocupamos com os animais e não com as pessoas morrendo de fome, e, para coroar tudo, há um número igualmente considerável de pesquisas demonstrando exatamente que consumir carne faz bem para a saúde, e que ingerir apenas vegetais pode ser danoso à saúde.

Não vou discutir se estes argumentos são válidos ou não (aposto que alguém vai fazer algum comentário sobre isso). Quero apenas enumerá-los para mostrar como a questão é complexa. Como já disse, sinto-me dividido entre comer e não comer carne. O argumento de que causamos sofrimento desnecessário aos animais ressoa muito fortemente dentro de mim, da mesma forma que não somos superiores a eles. Continuo a comer carne, contudo, por diversos motivos. O primeiro deles é por que é gostoso. Fui criado comendo carne, e admito que gosto.O segundo motivo é comodismo: o RU da Saúde é ótimo, mas não dá muita trela para vegetarianos, e eu não gosto da idéia de negligenciar minha dieta por um idealismo que não faz sentido para mim, pelo menos não agora. O terceiro, e talvez mais importante motivo, é justamente a minha saúde – não acho que as pesquisas científicas de ambos os lados tenham chegado à conclusão definitiva alguma. Poderia deixar de comer carne, mas não sei o que comeria em seu lugar. Carne de soja? Tem gosto de sola de sapato. E não, nunca comi sola de sapato, mas só queria usar um comparativo que deixasse claro que abomino o gosto do supracitado alimento. Já ouvi vegetarianos dizerem que carne de soja tem o sabor que o cozinheiro desejar, desde que este saiba o que está fazendo com as panelas, mas não sei não. Além disso, não conheço muitos modelos alimentares vegetarianos confiáveis. A quintessência da alimentação 100% sem carne, para mim, é a macrobiótica, e não a vejo com bons olhos. Segundo ela, não poderíamos comer feijão com arroz, por que o primeiro é um legume, e o segundo uma semente, ou alguma babaquice sem fundamento do gênero (tá certo, o fato de ter ouvido uma pessoa sem o menor conhecimento de Nutrição falar isso com a maior convicção do mundo ajudou a moldar minha opinião, mas isso não vem ao caso). E histórias que ouvi de gente que passa uma semana só comendo arroz integral me soam absurdas.

Apesar das minhas dúvidas, não fiquei paralisado. Seguindo o conselho do meu antigo professor de Kung Fu, parei de comer carne de gado e de porco, e, exceto em situações extraordinárias (o RU servindo bife na chapa e eu ter só R$ 1,30 no bolso e nada pra comer em casa), como só carne de frango e peixe. A lógica por trás desta decisão é tão científica quanto a explicação macrobiótica para não comermos feijão com arroz, mas fez sentido (e por confiar no meu professor): primeiro, paro de comer carne de animais de quatro patas; depois, de duas patas, e, por fim, deixo de comer qualquer tipo de animal, tenha ele patas ou não. Esse processo é gradual, e não me faria ter uma “crise de abstinência carnívora”, e me acostumaria aos poucos com uma dieta mais vegetariana.

3 comentários:

. disse...

Gostei da honestidade. Mas, primeiro, uma correção: carnivorismo não é um movimento filosófico-político ou qualquer coisa do gênero. O que temos é uma cultura que cada vez mais considera a exploração animal como algo parte essencial da civilização. Não existe nenhum grande autor ou filósofo que argumente a favor do consumo de carne, pelo menos não sem usar falácias ou cair em idéias esdrúxulas. O Peter Singer, autor do Libertação Animal, por uma ironia cretina, atualmente ele é um bem-estarista flexitariano que leva a sua escola utilitarista ao extremo, e o movimento dos direitos dos animais está abandonando-o, por ter se tornado um bundão. O Tibor Machan é um estadounidense liberal bem antropocêntrico que não entende nada de ética ou de evolução, autor do livro Putting Humans First: Why We Are Nature's Favorite Species. Tem o René Descartes também, com o argumento super científico de que os gritos de dor dos animaizinhos não passam de um ranger de cordas, e que afinal, eles não possuem uma mente dotada de livre-arbítrio como nós. Isso que tu chamaste de carnivorismo também não é nada organizado, sendo simplesmente um lobby confuso de fazendeiros e granjeiros, com manifestações brilhante como a "ONG Instituto Pró-carne", com o slogan "é gostosa, é saudável, é natural", e que a justificativa ética para o consumo de carne é porque é uma "parte importante da nossa economia". Ou o site Vegetarians Are Evil, nada enviesado e com informações super fidedignas, como, por exemplo, o fato de Caim ser vegetariano.

Olha, considerando o acesso a informação que tu tens, não saber como organizar uma dieta vegetariana não é justificativa para continuar a comer carne. Ignorância não é uma justificativa moral considerável.

Sinceramente, eu questiono o valor de qualquer pessoa que ache que sua vida vale a de tantos outros inocentes. Mesmo que ser vegetariano trouxesse danos à saúde, ainda seria a escolha certa.

Se tu organiza uma hierarquia do respeito, baseado na quantidade de patas usadas pra caminhar, a situação não mudou nada. A escolha da vítima não muda o horror do ato.

Virar vegetariano é a atitude certa a tomar, e uma das decisões mais honestas que uma pessoa pode tomar.

Andarilho disse...

Pô, me deixa um comentário desse tamanho, me obriga a responder, mesmo sabendo que tu não vai ler minha réplica. O senhor é cruel, Lobo.

Mas enfim, só gostaria de esclarecer um ponto que acho que tu não entendeu. A hierarquia por número de patas não é de respeito - é pra parar de comer todo e qualquer tipo de carne, mas eventualmente. A escolha pra deixar de comer primeiro carne de bichos com quatro patas ao invés de nenhuma pata é arbitrário. Pode fazer sentido pro meu professor, mas pra mim, é só uma sugestão que me soou bem. Acho que ficar falando em "horror do ato" é descontextualizado, já que eu quero parar de comer carne, mas de uma forma tal que eu não volte a comer carne por cortar no joelhaço.

Se não posso usar a ignorância como desculpa para organizar uma dieta vegetariana, posso usar a preguiça? Como eu te conheço Lobo, tu não vai entender que isso é uma piada e vai citar 15 filósofos para justificar o argumento que somos responsáveis por nossas omissões, e vai me passar dois sites que geram dietas automáticas. Portanto, digo já de cara: isso não é sério.

E vê se responde isso aqui, ô vagabundo.

. disse...

Hehehehehehehe.

Eu posso brincar com ciência ou com política, mas com ética nom se brinca. Até porque, mesmo quando as pessoas não falam sério, tem sempre imbecis que lêem o enunciado e acreditam que é verdade. Por isso é bom sempre manter a pose e atacar qualquer erro.

De qualquer forma, a iniciativa é ótima. De um ponto de visto existencial, faz muito sentido a tua argumentação.
Mas, eu sou um eticista malvado, mwahawhahwhahwhahwhaw.

http://www.eatveg.com/trans2veg.htm