segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Humano, Demasiado Humano Gosto de Julgar

O ser humano me fascina. Todos nós somos criaturas extremamente complexas, extremamente contraditórias. A prática de observar comportamentos, tanto nossos quanto alheios, é uma forma de conhecer um pouco mais e melhor a essência de nossa espécie. Entretanto, vemos coisas diferentes quando observamos pessoas diferentes, por motivos muito diversos: local, classe sócio-econômica, genética, educação, forças inconscientes. O que for. E posso dizer, do alto dos meus 19 anos de experiência como ser humano, que as pessoas adoram falar de outras pessoas. Se for falar mal, mais ainda.

Falar mal é uma arte e uma terapia. Acredito ser razoável dizer que todo mundo já se beneficiou desta técnica cognitiva, mas que são pessoas emocionalmente pouco educadas as que mais fazem isto. Não é difícil encontrar motivos para falar mal de alguém, pois como somos imperfeitos, qualquer coisa pode servir: desde comportamentos socialmente inaceitáveis até a cor da roupa. Falar mal dos outros nos dá a impressão de que somos superiores, pois nós não fazemos as mesmas coisas terríveis que eles fazem (como não combinar a cor do cinto com a do sapato), e se fazemos, fazemos melhor por que escondemos. Ou assim imaginamos. Talvez tenha alguém falando mal da gente neste exato momento, apesar de minhas orelhas não estarem quentes agora.

Em casos mais extremos, junto com o falar mal, vem a desaprovação social. Tomemos como exemplo o casal Nardoni. Eu não preciso me esforçar verdadeiramente para achar alguém falando mal deles – é só procurar “Caso Isabella” no Google que eu acho uma pletora de blogs revoltados chamando-os de assassinos selvagens e defendendo a pena de morte para os dois. Eles estão presos, mas se andassem na rua, seriam alvo de, no mínimo, olhares atravessados. Gostamos de excluir os maus elementos de nossa sociedade, por que eugenisticamente achamos que os genes ruins de nossa espécie serão extirpados com eles. Não preciso nem dizer que isto não funciona na prática, pois a única maneira de eliminarmos nossos genes egoístas seria uma guerra nuclear que destruísse a tudo e a todos. Entretanto, não vejo esta limpeza genética como sendo muito eficiente, já que ela não é muito... seletiva quanto ao que elimina.

Não faz muito tempo, um amigo meu, a quem tenho em muita alta conta, fizera algo que considero indigno. Não vale a pena dizer aqui o que ele fizera, mas em todo caso, diria que é grave. E mesmo assim, apesar da gravidade do fato, não consigo repugná-lo. O que teria mudado na pessoa que tanto admiro depois de tal erro? Muito pouco, talvez nada. Não seria este meu amigo imperfeito, e, portanto passível de enganos? Não seria ele tão imperfeito quanto eu? Sim. Então por que deveria eu renegá-lo? Fazê-lo seria o mesmo que renegar a mim mesmo. Por que renegaria a mim mesmo?

Em minhas observações não encontrei muitas pessoas que pensassem de tal maneira. Na maioria dos casos, tudo o que fazem é criticar, apontar o dedo e esquecer que, ao fazerem isso, apontam três dedos para si próprios. Mas como já disse, são apenas pessoas emocionalmente imaturas que fazem isto, que não tiveram chance ou tempo para aprender a perceber as próprias contradições. Em última análise, são tão imperfeitas quanto eu. Então, por que deveria julgá-las por julgarem outros?

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