segunda-feira, 2 de junho de 2008

Eros versus Tânatos

Por séculos, filósofos, cientistas e pessoas comuns têm buscado definir qual é a essência humana: somos criaturas naturalmente bondosas que foram pervertidas pelo ambiente hostil, como Rousseau dizia? Ou somos poços vivos de podridão que tentam, em vão expiar seus pecados, como Freud acreditava? A discussão continua viva, mas acho que a melhor resposta que temos, até agora, é a defendida por Frankl e muitos outros: podemos ser os dois – depende apenas qual lado favorecemos mais.

O mal, essa força que nos leva a destruir e ferir, existe em potência dentro de todos nós. Mais do que isso, é parte constituinte de nosso ser, sem o qual seríamos meras criaturas bidimensionais. Portanto, não há maneira de extirparmos ele de dentro de nós sem ferirmos profundamente a nós mesmos, e talvez a humanidade como um todo. Entretanto, não podemos simplesmente dar vazão à nossas pulsões de morte, causando dor e tragédia ao nosso redor, na vã esperança de que desta maneira estaremos vivendo de forma saudável. O que fazer, então?

Não há consenso sobre a resposta para esta pergunta, mas acredito já a termos encontrado. Até onde eu saiba, ela não é exatamente nova, mas mesmo assim não há nenhuma comprovação científica de sua veracidade – apenas de gerações incontáveis de mestres de todas as partes do mundo, que alcançaram um estado superior de consciência e serenidade. É a aceitação de nossa própria maldade interior. Aceitar não significa resignar-se e deixar-nos levar por todo impulso de crueldade que perpassa nossos pensamentos; é meramente constatar sua existência. Um médico não pode tratar um doente que não admita sua enfermidade (a não ser que o médico em questão se chame Gregory House). O mesmo se aplica para nossa maldade. Talvez, ela não seja tão má assim. Como tudo neste universo, há um lugar especial para ela, e se for bem utilizada, será capaz de gerar transformações positivas ao longo prazo. Não falo só da crueldade, mas da ignorância, da irreverência exacerbada, da infantilidade. Por que deveríamos fazer como muitos dos meus professores fizeram, comigo e com colegas meus, partir do pressuposto que este tipo de coisa é absurdo, inaceitável, e causar estragos no desenvolvimento alheio?

Tenho observado que, mesmo pessoas pouco desenvolvidas são capazes de atos de amor, amizade e bondade. Talvez não com o mesmo grau de consciência que os mestres, mas no fim das contas, um ato de bondade é um ato de bondade, independente da intenção por trás dele. E o bem aparece em todos, apesar do mal. Isso deve significar algo.

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