Pois é. Tecnologia é uma coisa maravilhosa, mas quando dá pra te ferrar, te ferra com jeito. Fui hoje até o Centro de Porto Alegre, entrevistar uma psicóloga do Instituto de Delphos de Psicologia Humanista, para o trabalho de conclusão da cadeira de... bem, Psicologia Humanista! Eu sabia da importância de gravar o que era dito, por que depois eu não lembraria de quase nada, e que escrever tudo não funciona lá muito bem (5 reuniões observando Nar-Anon e tentando fazer isso me mostraram isso). Por isso, fui especialmente até o Zaffari da Lima e Silva para comprar pilhas para meu superultrahipermega MP3 Pen Drive Gravador, e testei se ele funcionava, na fila do RU. Tudo perfeito, lá fui eu pegar o São Manoel. Não, não tenho taras por estátuas de santos de igreja, é uma linha de ônibus que vai até o Mercado Público, que fica perto da Delphos.
A entrevista foi ótima, a pessoa que entrevistei foi muito simpática, havia empatia em nossa relação. Mas depois da terceira pergunta, percebi que o gravador não estava ligado. Ótimo. Fiquei atucanado com isso pelo resto da entrevista, achando que ainda não estava gravando. Quando cheguei em casa e fui ouvir o arquivo de som, não estava lá. Maravilhoso. Admito que isso deve ter sido por causa da minha imperícia no manuseio dessa porcaria, mas é bem frustrante ter que refazer as perguntas para fazer meu trabalho. E se digo que vou ter que refazer as perguntas ao invés da entrevista, é por que sei que essa entrevista de hoje está perdida para todo o sempre. Paciência.
Não que eu não tenha mais nada para fazer: preciso escrever três relatórios do Seminário de Pesquisa em Psicologia, o quarto relatório para a cadeira de Processos Grupais, o esboço do trabalho final sobre Psicologia Analítica de Psicopatologia I, fazer a prova e o trabalho final de Teorias da Personalidade. Imaginem a carga de leituras que fazer tudo isso traz de arrasto. Aguardem para esta madrugada mais alguns posts da série “As Provações da Faculdade”.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
quarta-feira, 28 de maio de 2008
A Decepcionante Política
Esta é uma época politicamente efervescente na UFRGS. Universidades públicas, federais em particular, têm por característica mais marcante sua intensa movimentação política, já que os destinos da instituição estão mais ligados ao governo e seus membros do que as instituições particulares, mas este ano tem sido mais movimentado do que o anterior. Primeiro por que esta semana está se realizando o plebiscito sobre o REUNI na UFRGS, organizado pelo pessoal do DCE, dentro em breve acontecerá a eleição para a reitoria, e no segundo semestre, teremos a tradicional eleição para o DCE, e todos os outros cargos que vão de arrasto.
Confesso que, apesar do meu interesse em política, sinto-me bastante desmotivado este ano, apesar de toda essa algazarra. Nos meus tempos de bixo, que acabaram a não faz tanto tempo assim, eu tinha mais esperança de ver as coisas darem certo se as pessoas se mobilizassem. Além disso, tudo aqui na Federal era novo para mim, tinha um sabor de descoberta, então me envolvia tanto quanto podia e achava seguro nas pendengas políticas. Às vezes, comparo minha estadia aqui na UFRGS com os livros do Harry Potter, pois cada semestre conheço faces novas desta universidade. O primeiro semestre fora meu livro de estréia, “Andarilho e o Instituto de Psicologia” e consistiu nas minhas proezas como novato aqui pelo Campus Saúde e no Centro; o segundo continuara minha saga, “Andarilho e a Política Universitária”, e conta minhas andanças pelo Campus do Vale e meu interesse e envolvimento nas eleições para o DCE. Não consigo definir um título para este terceiro semestre, pelo menos não ainda. Sei, contudo, que o seu livro falará das minhas descobertas no infame mundo da pesquisa e do Reino CAPES. Política? Só de leve, por que não dá para evitar receber panfletos bobocas na saída do RU.
O movimento estudantil é um movimento prioritariamente político, em seu sentido mais usado – lida com o presidente da república, o governador do estado, o prefeito municipal e as leis e políticas que eles inventam. A Educação aparece, sim, mas só como bandeira oportunista, pois como meu colega de apartamento já me dissera, eles nunca fazem campanhas por bibliotecas maiores e melhor equipadas, ou por ensino de excelente qualidade. No máximo, colocam alguma coisa a respeito nos seus panfletos e cartazes.
Como falei no primeiro parágrafo, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) está organizando esta semana um plebiscito para conhecer a opinião dos estudantes da UFRGS sobre o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Mas esperto que sou, já sei o resultado. Não que precise ser um rocket scientist para saber isto, basta saber ler e interpretar textos adequadamente. Certo dia, ao ir almoçar no RU, foi me entregue um panfleto escrito no cabeçalho “Plebiscito Nacional sobre o REUNI – diga NÃO!”. Considero perfeitamente aceitável que se faça propaganda política antes de uma votação importante como esta, dita nacional, mas não vi ninguém por aí distribuindo panfletos dizendo “SIM ao REUNI!”. Gozado isso. E lendo meio por cima o tal do panfleto dá para ver seu conteúdo. O texto é dividido nos seguintes três subtítulos:
1 – Você concorda com o decreto REUNI do governo Lula, que praticamente dobra o número de alunos por professor e institui os cursos tecnólogos?
2 – Você concorda com uma eleição para reitor em que os professores têm 70% do peso dos votos, os estudantes têm 15% e os técnicos administrativos 15%?
3 – Você é a favor que se mantenham ligadas às universidades as fundações de apoio, que facilitam o desvio de dinheiro público para fins privados?
No final da folha, está escrito em letras garrafais “VAMOS DIZER NÃO AO REUNI!”
Não consegui entender como a segunda e a terceira questões estão ligadas ao REUNI, mas pensei que o panfleto não estava escrito assim, com subtítulos em forma de questão por nada. Intui que estas perguntas estariam na cédula de votação do tal plebiscito, mas achei que isto seria absurdo demais. Seria melhor colocar algo como “Sim, sou contra o REUNI” e “Não, não sou a favor do REUNI”. Logo depois de receber o tal panfleto, conversei com uma veterana minha que confirmou minhas expectativas. Os organizadores do plebiscito compareceram a uma reunião do DAP (Diretório Acadêmico de Psicologia) para pedir nosso apoio para sua causa, que é dizer não ao REUNI de qualquer jeito, e que provavelmente as perguntas do panfleto seriam as mesmas na cédula.
Muitas vezes já ouvi que os jovens, os estudantes têm direito à voz, de dizer o que pensam e que os governantes devem ouvi-los, mas certamente o máximo de atenção que daria como presidente ou reitor para um plebiscito desses seria para dizer que ele é altamente enviesado e inválido. E o pior é que é inválido de propósito. A atitude do DCE me parece muito com daquelas crianças pequenas que querem ganhar tudo no berro, que se fossem capazes de articular frases coerentes diriam em sua defesa “como eu gritei bem alto, eu estou certa, então ME DÁ O DOCE!”. Mais do que isso, é uma atitude autocrática e manipuladora, pois tem por objetivo levar milhares de estudantes pelo cabresto para dizer não ao REUNI, sem ao menos dar-lhes a chance de decidir por conta própria os méritos e deméritos deste projeto.
Esta atitude manifesta-se não só no tal do plebiscito, mas nos comportamentos de seus campeões também. Um dia desses, estava eu assistindo uma aula de Processos Grupais I bem interessante (o que é raro), quando me lembrei de que queria procurar mais tarde um artigo no portal de periódicos da CAPES, e que precisava de um livro para encontrá-lo. Saí da sala e fui até em casa pegar o tal do livro (moro a uma quadra de distância do Instituto de Psicologia). Quando voltei, um grupo relativamente grande de pessoas carregando bandeiras da CONLUTE e com adesivos “REUNI NÃO!” estavam paradas na frente da porta da sala em que estava tendo aula. Em volta de cinco minutos depois de ter entrado, eles batem à porta e pedem se podem entrar para falar do plebiscito. O professor faz uma cara meio estranha e faz um sinal dando a entender que a decisão era nossa, dos estudantes. Algumas pessoas se manifestaram, e falaram “não”, e acredito que o sentimento da turma fosse que não queríamos ouvir nada a respeito, pelo menos não durante aquela aula específica. Ainda assim, o cara que bateu na porta entrou na sala mesmo assim para falar do tal plebiscito, e seus companheiros para entregar mais panfletos (fiz um aviãozinho bem bonito com o meu). Indignado com essa falta de respeito, um colega meu exclamou que tínhamos dito que não, e perguntou por que ele entrara mesmo assim. “Ah, é que o ‘não’ tava meio tímido, e vai que tem um ‘sim’ escondido?” foi a resposta que ouvimos. Então, ele perguntou qual nosso curso, e quando constatou que éramos da área da saúde, começou a falar de um curso de tecnólogo que estava por abrir na UFRGS, “Administração de Redes de Saúde Pública” ou algo assim. Ele não falou muita coisa, pois já tínhamos sido desrespeitados o suficiente por aquela aula, e meu colega novamente os mandou irem embora (educadamente, apesar de um “SE TOQUEM DAQUI AGORA!” ser apropriado para a ocasião).
Acho que esta atitude por parte deste cidadão deixa claro que eles não se importam com nossa opinião, com nossos desejos ou inclinações políticas – a gente só tem que ouvir e fazer o que eles nos dizem. E se há algo neste mundo que me deixa indignado é esse tipo de comportamento. Por que tenho que aceitar passivamente como verdadeiro o que eles, ou qualquer outra pessoa, sobre qualquer outro assunto, nos dizem? Acho vergonhoso e preocupante ver que as pessoas por trás de um plebiscito dito democrático tenham atitudes tão autoritárias.
A eleição para reitoria é outra apurrinhação. Se tivesse acontecido ano passado eu teria ficado bem empolgado, mas esse ano, toda vez que eu vejo os montes de cartazes colados por aí, só consigo pensar quem é que vai limpar essa sujeira quando a brincadeira acabar. Só posso dizer com certeza que não vai ser nem o reitor eleito, nem os outros candidatos. São quatro chapas concorrendo este ano, mas estou por fora das propostas de todas. Sei que um candidato à vice-reitor parece o Olívio nos tempos áureos de seu bigode e tem um nome esquisito, e que um dos candidatos à reitor, o Schmidtão, foi um figurão da ADUFRGS (Associação Docente da UFRGS), que conseguiu comprar um apartamento em Paris com salário de professor, e que, pra tirar uma graninha em cima disso, publicou no boletim da referida instituição que o tal apartamento estava disponível para aluguel. No mais, apesar de poder votar, não estou muito interessado: tenho trabalhos por fazer e textos por ler, e se envolvimento político é algo secundário em minha vida, a eleição para a reitoria é terciário. O panfleto contra o REUNI não diz só abobrinhas, por que os professores de fato detêm 70% do peso dos votos na eleição para reitor, ficando os 30% divididos entre estudantes e funcionários administrativos. Não vou gastar pólvora em chimango, ir até a urna mais próxima, preencher a cédula e votar na chapa “Kiko e Seu Madruga: pela união da vizinhança”, pois eu sei que não vai mudar nada. Estou ciente de que esta é uma atitude omissa, e que tudo que o mal precisa para triunfar é que os homens bons não façam nada (Alucard, 1997). Mas não vejo como os estudantes poderiam virar a mesa nesse tipo de eleição. Votando em massa em um candidato que vá instituir a paridade 33/33/33? Duvido que o melhor estrategista de campanha seja capaz de fazer todos os estudantes da UFRGS votarem, quanto mais votarem no mesmo candidato. Fazer um voto simbólico, um ato de vontade contra a injustiça do mundo? Isso é mais a minha cara, mas dadas as circunstâncias, prefiro ser pragmático e deixar a poesia para quando eu puder.
E, por fim, as eleições para o DCE. Acho que já mostrei como a atual gestão trabalha, seus altos ideais de liberdade e democracia, mas seria injusto se não fizesse o mesmo com as outras facções estudantis dentro da UFRGS que não ganharam o primeiro prêmio da eleição DCE 2007. Faltam alguns meses para a próxima eleição, mas não vai ser muito diferente do que já vi ano passado, considerando que serão as mesmas pessoas a participarem do jogo eleitoral.
Quando se fala de política estudantil, pode-se agrupar as facções em dois grandes grupos: esquerda e direita. Alguns cursos são tradicionalmente de esquerda, como História, Ciências Sociais e Comunicação, outros de direita, como Medicina, Engenharias e Direito. Isso pode parecer uma generalização um tanto grosseira, e de fato o é, exceto em dois casos, Medicina e Comunicação. Explicarei mais adiante por que. Podemos continuar dividindo a esquerda de acordo com seus matizes de esquerdismo – esquerda moderados, esquerda radicais e esquerda Heloísa Helena. Na última eleição, havia uma chapa para cada um desses matizes:
- A Chapa 1, “Todos Iguais, Braços Dados ou Não” (1), da atual gestão que na época buscava a reeleição, é financiada pelo P-Sol.
- A Chapa 2, “Quem vem com tudo não cansa” (2), era financiada pela União Juventude Socialista, movimento Jovem do PC do B.
- A Chapa 4, “Roda Viva” (3), não era financiada por nenhum partido que eu saiba, mas vários de seus membros participam da Kizomba, movimento jovem dentro do PT (e campo fértil para malas sem alça).
E essas facções ficam se bicando durante as eleições, tentando roubar voto umas das outras e acabam se enfraquecendo. Isso não acontece com a direita, pois por mais subdivisões que possam ter (neonazistas, liberais, democratas, membros da Igreja Universal, lenhadores, ursos...) eles geralmente sabem que a união faz a força, e unem-se em volta de uma só chapa, e ficam pegando votos enquanto a esquerda está distraída tentando se destruir. Foi isso que aconteceu ano passado. A chapa 3, DCE Livre (4), do Movimento Estudantil Liberdade (MEL), dizia que não era bancada por partido algum, mas seus membros tinham sido, até antes das inscrições de chapas para concorrer, membros do Democratas, antigo PFL. Além disso, alguns de seus membros estavam (pelo menos na época) sendo processados racismo e apologia ao nazismo. Uma chapa bem diversificada, no mínimo.
A bandeira mais hasteada e balançada ano passado foram as ações afirmativas, e de especial maneira, as cotas raciais e sociais. Segundo decreto federal, todas as universidades federais eram obrigadas a desenvolver um projeto de ações afirmativas por conta própria e implementá-lo, caso contrário o governo empurraria um projeto goela abaixo da universidade. Ano passado acabava esse prazo para a UFRGS, e o projeto e sua implantação estavam sendo discutidos, com muita polêmica. As cotas raciais até hoje geram controvérsia (5), mas na época aquilo tudo estava muito fresco e recente. O CONSUN teve que fazer duas reuniões para decidir se as cotas seriam aprovadas ou não, pois na primeira algumas pessoas assistindo começaram a fazer tumulto e a sessão teve que ser interrompida.
Não sei como foi a “entrada” das cotas em universidades de outros estados, mas aqui no sul, uma região tradicionalmente racista, elas não iriam entrar sem uma boa briga. Em outubro, época da campanha, elas já tinham sido aprovadas pelo CONSUN, mas a chapa 3 não esmoreceu, e prometia entrar na justiça para proibi-las. As outras três chapas a acusavam de racista, preconceituosa e nazista (eu mesmo fui em sala de aula alheia pedir para que não votassem nela[6]) mas isso não a enfraquecia. Pelo contrário: fazia marketing para ela. O fato é que, as três chapas de esquerda eram todas iguais, divergindo só em algumas coisas . A chapa 1 era de longe a mais forte das três, mas ela perdia muitos votos preciosos para a 2 e a 4. Entretanto, com a chapa 3 a coisa era diferente. Ela tinha um diferencial, que era ser contra as cotas de todo o coração. Muita gente, na UFRGS e no estado inteiro, sentiu-se indignada com esse sistema de dar barbada para alguns poucos entrarem na Federal, a mais tradicional e bem conceituada universidade do estado, e o MEL soube bem capitalizar os votos destas pessoas.
A campanha, apesar de ter quatro concorrentes, ficou polarizada entre a chapa 1 e a chapa 3: quem era a favor das cotas contra quem era contra as cotas. E nesta briga, a baixaria foi generalizada. Tanto uma quanto a outra colecionava print screens das discussões do Orkut onde alguém falava algo que não devia: afirmações racistas, ditatoriais, que pegavam mal de algum jeito. Toda semana eu ouvia alguém de alguma dessas duas chapas dizer que “agora nós temos isso aqui em mãos, eles estão ferrados, por que vai queimar muito o filme deles”. Se lembro bem, esses print screens eram bobagem pura, mas falavam como se fosse o Dossiê Pelicano da chapa adversária. As discussões, especialmente na comunidade da UFRGS no Orkut, a troca de ofensas era a moeda de troca. O dia da votação foi especial, pois tanto a chapa 1 quanto a 3 tentou impugnar alguma urna onde sabia que iria perder. As urnas da Medicina e da FABICO (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação), como disse antes, foram as mais estereotipadas: a primeira continha votos quase que exclusivamente para o MEL, enquanto que a segunda quase só para a “Todos Iguais, Braços Dados ou Não”. No fim, o MEL perdeu as eleições, mas a vitória da chapa 1 não foi completa.
Historicamente, os estudantes universitários e a academia como um todo têm uma tendência à esquerda muito forte, tanto que eu posso ser considerado um reacionário fascista por causa de minhas idéias (aliás, já fui chamado assim, duas vezes por duas pessoas diferentes). Mas por causa das atitudes politiqueiras das gestões do DCE (7) e dessa mania da esquerda ficar fazendo fogo amigo, muitos estudantes começaram a cansar dos amigos do Che Guevara, e começaram a votar na única chapa diferente – a da direita. A chapa DCE Livre não fizera sua estréia em 2007, mas já em 2006 (e talvez até antes) o MEL concorrera para o DCE, e apesar de ter perdido as duas eleições, seu número de votos, tanto relativo quanto absoluto, cresceu, ao passo que os votos para todas as outras chapas de esquerda diminuíram nos dois quesitos. Além disso, com sua expressiva votação, a chapa 3 conseguiu emplacar membros no Conselho Universitário (CONSUN), o órgão deliberativo máximo dentro da UFRGS. Se a coisa continuar assim, eles ainda vão ganhar a eleição para o DCE. Talvez não esse ano, mas no próximo é bastante provável.
Além de todas essas coisas que me fazem desgostoso do mundo da política, há algo mais que me faz voltar meus interesses para os estudos e para os treinos. Sinto, perto de pessoas muito envolvidas com política, como os coordenadores e secretários do DCE, que militam ativamente para algum partido, um ar de falsidade. Não os estou chamando de mentirosos, mas o que quero dizer é que, por trás de todo o barulho e impacto que fazem por suas causas políticas não encontro nenhuma substância moral que sustente tudo, e ao sinal da primeira dificuldade (ou facilidade), eles irão para o outro lado do front. Eles são existencialmente desonestos, e enganam a si mesmos. Não duvido que eles realmente acreditem no que dizem, mas tenho dúvidas se a crença deles é tão sólida quanto vendem. Hoje eles estão no PSTU, mas no futuro não estranharia de vê-los no PP, fazendo tudo aquilo que abominavam quando jovens. Não quero isso para mim. Dê-me livros e Wushu.
------
1. Nome de chapa pra DCE geralmente é ridículo assim mesmo.
2. Viu? Falei que era tudo ridículo.
3. Quase se salva esse nome. Quase.
4. Nome ridículo também, mas pelo menos faz sentido.
5. Eu próprio não tenho bem certeza se sou a favor ou contra as cotas, apesar de ter bixos cotistas e achá-los admiráveis pelas pessoas que são.
6. Ah, a contradição: não gosto que me digam o que fazer, mas digo aos outros o que eles devem fazer!
7. Durante a votação, um dos integrantes da chapa 1 não nos permitiu abrir nossa urna na Psicologia enquanto tivessem estudantes de Medicina por perto para votar.
Confesso que, apesar do meu interesse em política, sinto-me bastante desmotivado este ano, apesar de toda essa algazarra. Nos meus tempos de bixo, que acabaram a não faz tanto tempo assim, eu tinha mais esperança de ver as coisas darem certo se as pessoas se mobilizassem. Além disso, tudo aqui na Federal era novo para mim, tinha um sabor de descoberta, então me envolvia tanto quanto podia e achava seguro nas pendengas políticas. Às vezes, comparo minha estadia aqui na UFRGS com os livros do Harry Potter, pois cada semestre conheço faces novas desta universidade. O primeiro semestre fora meu livro de estréia, “Andarilho e o Instituto de Psicologia” e consistiu nas minhas proezas como novato aqui pelo Campus Saúde e no Centro; o segundo continuara minha saga, “Andarilho e a Política Universitária”, e conta minhas andanças pelo Campus do Vale e meu interesse e envolvimento nas eleições para o DCE. Não consigo definir um título para este terceiro semestre, pelo menos não ainda. Sei, contudo, que o seu livro falará das minhas descobertas no infame mundo da pesquisa e do Reino CAPES. Política? Só de leve, por que não dá para evitar receber panfletos bobocas na saída do RU.
O movimento estudantil é um movimento prioritariamente político, em seu sentido mais usado – lida com o presidente da república, o governador do estado, o prefeito municipal e as leis e políticas que eles inventam. A Educação aparece, sim, mas só como bandeira oportunista, pois como meu colega de apartamento já me dissera, eles nunca fazem campanhas por bibliotecas maiores e melhor equipadas, ou por ensino de excelente qualidade. No máximo, colocam alguma coisa a respeito nos seus panfletos e cartazes.
Como falei no primeiro parágrafo, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) está organizando esta semana um plebiscito para conhecer a opinião dos estudantes da UFRGS sobre o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Mas esperto que sou, já sei o resultado. Não que precise ser um rocket scientist para saber isto, basta saber ler e interpretar textos adequadamente. Certo dia, ao ir almoçar no RU, foi me entregue um panfleto escrito no cabeçalho “Plebiscito Nacional sobre o REUNI – diga NÃO!”. Considero perfeitamente aceitável que se faça propaganda política antes de uma votação importante como esta, dita nacional, mas não vi ninguém por aí distribuindo panfletos dizendo “SIM ao REUNI!”. Gozado isso. E lendo meio por cima o tal do panfleto dá para ver seu conteúdo. O texto é dividido nos seguintes três subtítulos:
1 – Você concorda com o decreto REUNI do governo Lula, que praticamente dobra o número de alunos por professor e institui os cursos tecnólogos?
2 – Você concorda com uma eleição para reitor em que os professores têm 70% do peso dos votos, os estudantes têm 15% e os técnicos administrativos 15%?
3 – Você é a favor que se mantenham ligadas às universidades as fundações de apoio, que facilitam o desvio de dinheiro público para fins privados?
No final da folha, está escrito em letras garrafais “VAMOS DIZER NÃO AO REUNI!”
Não consegui entender como a segunda e a terceira questões estão ligadas ao REUNI, mas pensei que o panfleto não estava escrito assim, com subtítulos em forma de questão por nada. Intui que estas perguntas estariam na cédula de votação do tal plebiscito, mas achei que isto seria absurdo demais. Seria melhor colocar algo como “Sim, sou contra o REUNI” e “Não, não sou a favor do REUNI”. Logo depois de receber o tal panfleto, conversei com uma veterana minha que confirmou minhas expectativas. Os organizadores do plebiscito compareceram a uma reunião do DAP (Diretório Acadêmico de Psicologia) para pedir nosso apoio para sua causa, que é dizer não ao REUNI de qualquer jeito, e que provavelmente as perguntas do panfleto seriam as mesmas na cédula.
Muitas vezes já ouvi que os jovens, os estudantes têm direito à voz, de dizer o que pensam e que os governantes devem ouvi-los, mas certamente o máximo de atenção que daria como presidente ou reitor para um plebiscito desses seria para dizer que ele é altamente enviesado e inválido. E o pior é que é inválido de propósito. A atitude do DCE me parece muito com daquelas crianças pequenas que querem ganhar tudo no berro, que se fossem capazes de articular frases coerentes diriam em sua defesa “como eu gritei bem alto, eu estou certa, então ME DÁ O DOCE!”. Mais do que isso, é uma atitude autocrática e manipuladora, pois tem por objetivo levar milhares de estudantes pelo cabresto para dizer não ao REUNI, sem ao menos dar-lhes a chance de decidir por conta própria os méritos e deméritos deste projeto.
Esta atitude manifesta-se não só no tal do plebiscito, mas nos comportamentos de seus campeões também. Um dia desses, estava eu assistindo uma aula de Processos Grupais I bem interessante (o que é raro), quando me lembrei de que queria procurar mais tarde um artigo no portal de periódicos da CAPES, e que precisava de um livro para encontrá-lo. Saí da sala e fui até em casa pegar o tal do livro (moro a uma quadra de distância do Instituto de Psicologia). Quando voltei, um grupo relativamente grande de pessoas carregando bandeiras da CONLUTE e com adesivos “REUNI NÃO!” estavam paradas na frente da porta da sala em que estava tendo aula. Em volta de cinco minutos depois de ter entrado, eles batem à porta e pedem se podem entrar para falar do plebiscito. O professor faz uma cara meio estranha e faz um sinal dando a entender que a decisão era nossa, dos estudantes. Algumas pessoas se manifestaram, e falaram “não”, e acredito que o sentimento da turma fosse que não queríamos ouvir nada a respeito, pelo menos não durante aquela aula específica. Ainda assim, o cara que bateu na porta entrou na sala mesmo assim para falar do tal plebiscito, e seus companheiros para entregar mais panfletos (fiz um aviãozinho bem bonito com o meu). Indignado com essa falta de respeito, um colega meu exclamou que tínhamos dito que não, e perguntou por que ele entrara mesmo assim. “Ah, é que o ‘não’ tava meio tímido, e vai que tem um ‘sim’ escondido?” foi a resposta que ouvimos. Então, ele perguntou qual nosso curso, e quando constatou que éramos da área da saúde, começou a falar de um curso de tecnólogo que estava por abrir na UFRGS, “Administração de Redes de Saúde Pública” ou algo assim. Ele não falou muita coisa, pois já tínhamos sido desrespeitados o suficiente por aquela aula, e meu colega novamente os mandou irem embora (educadamente, apesar de um “SE TOQUEM DAQUI AGORA!” ser apropriado para a ocasião).
Acho que esta atitude por parte deste cidadão deixa claro que eles não se importam com nossa opinião, com nossos desejos ou inclinações políticas – a gente só tem que ouvir e fazer o que eles nos dizem. E se há algo neste mundo que me deixa indignado é esse tipo de comportamento. Por que tenho que aceitar passivamente como verdadeiro o que eles, ou qualquer outra pessoa, sobre qualquer outro assunto, nos dizem? Acho vergonhoso e preocupante ver que as pessoas por trás de um plebiscito dito democrático tenham atitudes tão autoritárias.
A eleição para reitoria é outra apurrinhação. Se tivesse acontecido ano passado eu teria ficado bem empolgado, mas esse ano, toda vez que eu vejo os montes de cartazes colados por aí, só consigo pensar quem é que vai limpar essa sujeira quando a brincadeira acabar. Só posso dizer com certeza que não vai ser nem o reitor eleito, nem os outros candidatos. São quatro chapas concorrendo este ano, mas estou por fora das propostas de todas. Sei que um candidato à vice-reitor parece o Olívio nos tempos áureos de seu bigode e tem um nome esquisito, e que um dos candidatos à reitor, o Schmidtão, foi um figurão da ADUFRGS (Associação Docente da UFRGS), que conseguiu comprar um apartamento em Paris com salário de professor, e que, pra tirar uma graninha em cima disso, publicou no boletim da referida instituição que o tal apartamento estava disponível para aluguel. No mais, apesar de poder votar, não estou muito interessado: tenho trabalhos por fazer e textos por ler, e se envolvimento político é algo secundário em minha vida, a eleição para a reitoria é terciário. O panfleto contra o REUNI não diz só abobrinhas, por que os professores de fato detêm 70% do peso dos votos na eleição para reitor, ficando os 30% divididos entre estudantes e funcionários administrativos. Não vou gastar pólvora em chimango, ir até a urna mais próxima, preencher a cédula e votar na chapa “Kiko e Seu Madruga: pela união da vizinhança”, pois eu sei que não vai mudar nada. Estou ciente de que esta é uma atitude omissa, e que tudo que o mal precisa para triunfar é que os homens bons não façam nada (Alucard, 1997). Mas não vejo como os estudantes poderiam virar a mesa nesse tipo de eleição. Votando em massa em um candidato que vá instituir a paridade 33/33/33? Duvido que o melhor estrategista de campanha seja capaz de fazer todos os estudantes da UFRGS votarem, quanto mais votarem no mesmo candidato. Fazer um voto simbólico, um ato de vontade contra a injustiça do mundo? Isso é mais a minha cara, mas dadas as circunstâncias, prefiro ser pragmático e deixar a poesia para quando eu puder.
E, por fim, as eleições para o DCE. Acho que já mostrei como a atual gestão trabalha, seus altos ideais de liberdade e democracia, mas seria injusto se não fizesse o mesmo com as outras facções estudantis dentro da UFRGS que não ganharam o primeiro prêmio da eleição DCE 2007. Faltam alguns meses para a próxima eleição, mas não vai ser muito diferente do que já vi ano passado, considerando que serão as mesmas pessoas a participarem do jogo eleitoral.
Quando se fala de política estudantil, pode-se agrupar as facções em dois grandes grupos: esquerda e direita. Alguns cursos são tradicionalmente de esquerda, como História, Ciências Sociais e Comunicação, outros de direita, como Medicina, Engenharias e Direito. Isso pode parecer uma generalização um tanto grosseira, e de fato o é, exceto em dois casos, Medicina e Comunicação. Explicarei mais adiante por que. Podemos continuar dividindo a esquerda de acordo com seus matizes de esquerdismo – esquerda moderados, esquerda radicais e esquerda Heloísa Helena. Na última eleição, havia uma chapa para cada um desses matizes:
- A Chapa 1, “Todos Iguais, Braços Dados ou Não” (1), da atual gestão que na época buscava a reeleição, é financiada pelo P-Sol.
- A Chapa 2, “Quem vem com tudo não cansa” (2), era financiada pela União Juventude Socialista, movimento Jovem do PC do B.
- A Chapa 4, “Roda Viva” (3), não era financiada por nenhum partido que eu saiba, mas vários de seus membros participam da Kizomba, movimento jovem dentro do PT (e campo fértil para malas sem alça).
E essas facções ficam se bicando durante as eleições, tentando roubar voto umas das outras e acabam se enfraquecendo. Isso não acontece com a direita, pois por mais subdivisões que possam ter (neonazistas, liberais, democratas, membros da Igreja Universal, lenhadores, ursos...) eles geralmente sabem que a união faz a força, e unem-se em volta de uma só chapa, e ficam pegando votos enquanto a esquerda está distraída tentando se destruir. Foi isso que aconteceu ano passado. A chapa 3, DCE Livre (4), do Movimento Estudantil Liberdade (MEL), dizia que não era bancada por partido algum, mas seus membros tinham sido, até antes das inscrições de chapas para concorrer, membros do Democratas, antigo PFL. Além disso, alguns de seus membros estavam (pelo menos na época) sendo processados racismo e apologia ao nazismo. Uma chapa bem diversificada, no mínimo.
A bandeira mais hasteada e balançada ano passado foram as ações afirmativas, e de especial maneira, as cotas raciais e sociais. Segundo decreto federal, todas as universidades federais eram obrigadas a desenvolver um projeto de ações afirmativas por conta própria e implementá-lo, caso contrário o governo empurraria um projeto goela abaixo da universidade. Ano passado acabava esse prazo para a UFRGS, e o projeto e sua implantação estavam sendo discutidos, com muita polêmica. As cotas raciais até hoje geram controvérsia (5), mas na época aquilo tudo estava muito fresco e recente. O CONSUN teve que fazer duas reuniões para decidir se as cotas seriam aprovadas ou não, pois na primeira algumas pessoas assistindo começaram a fazer tumulto e a sessão teve que ser interrompida.
Não sei como foi a “entrada” das cotas em universidades de outros estados, mas aqui no sul, uma região tradicionalmente racista, elas não iriam entrar sem uma boa briga. Em outubro, época da campanha, elas já tinham sido aprovadas pelo CONSUN, mas a chapa 3 não esmoreceu, e prometia entrar na justiça para proibi-las. As outras três chapas a acusavam de racista, preconceituosa e nazista (eu mesmo fui em sala de aula alheia pedir para que não votassem nela[6]) mas isso não a enfraquecia. Pelo contrário: fazia marketing para ela. O fato é que, as três chapas de esquerda eram todas iguais, divergindo só em algumas coisas . A chapa 1 era de longe a mais forte das três, mas ela perdia muitos votos preciosos para a 2 e a 4. Entretanto, com a chapa 3 a coisa era diferente. Ela tinha um diferencial, que era ser contra as cotas de todo o coração. Muita gente, na UFRGS e no estado inteiro, sentiu-se indignada com esse sistema de dar barbada para alguns poucos entrarem na Federal, a mais tradicional e bem conceituada universidade do estado, e o MEL soube bem capitalizar os votos destas pessoas.
A campanha, apesar de ter quatro concorrentes, ficou polarizada entre a chapa 1 e a chapa 3: quem era a favor das cotas contra quem era contra as cotas. E nesta briga, a baixaria foi generalizada. Tanto uma quanto a outra colecionava print screens das discussões do Orkut onde alguém falava algo que não devia: afirmações racistas, ditatoriais, que pegavam mal de algum jeito. Toda semana eu ouvia alguém de alguma dessas duas chapas dizer que “agora nós temos isso aqui em mãos, eles estão ferrados, por que vai queimar muito o filme deles”. Se lembro bem, esses print screens eram bobagem pura, mas falavam como se fosse o Dossiê Pelicano da chapa adversária. As discussões, especialmente na comunidade da UFRGS no Orkut, a troca de ofensas era a moeda de troca. O dia da votação foi especial, pois tanto a chapa 1 quanto a 3 tentou impugnar alguma urna onde sabia que iria perder. As urnas da Medicina e da FABICO (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação), como disse antes, foram as mais estereotipadas: a primeira continha votos quase que exclusivamente para o MEL, enquanto que a segunda quase só para a “Todos Iguais, Braços Dados ou Não”. No fim, o MEL perdeu as eleições, mas a vitória da chapa 1 não foi completa.
Historicamente, os estudantes universitários e a academia como um todo têm uma tendência à esquerda muito forte, tanto que eu posso ser considerado um reacionário fascista por causa de minhas idéias (aliás, já fui chamado assim, duas vezes por duas pessoas diferentes). Mas por causa das atitudes politiqueiras das gestões do DCE (7) e dessa mania da esquerda ficar fazendo fogo amigo, muitos estudantes começaram a cansar dos amigos do Che Guevara, e começaram a votar na única chapa diferente – a da direita. A chapa DCE Livre não fizera sua estréia em 2007, mas já em 2006 (e talvez até antes) o MEL concorrera para o DCE, e apesar de ter perdido as duas eleições, seu número de votos, tanto relativo quanto absoluto, cresceu, ao passo que os votos para todas as outras chapas de esquerda diminuíram nos dois quesitos. Além disso, com sua expressiva votação, a chapa 3 conseguiu emplacar membros no Conselho Universitário (CONSUN), o órgão deliberativo máximo dentro da UFRGS. Se a coisa continuar assim, eles ainda vão ganhar a eleição para o DCE. Talvez não esse ano, mas no próximo é bastante provável.
Além de todas essas coisas que me fazem desgostoso do mundo da política, há algo mais que me faz voltar meus interesses para os estudos e para os treinos. Sinto, perto de pessoas muito envolvidas com política, como os coordenadores e secretários do DCE, que militam ativamente para algum partido, um ar de falsidade. Não os estou chamando de mentirosos, mas o que quero dizer é que, por trás de todo o barulho e impacto que fazem por suas causas políticas não encontro nenhuma substância moral que sustente tudo, e ao sinal da primeira dificuldade (ou facilidade), eles irão para o outro lado do front. Eles são existencialmente desonestos, e enganam a si mesmos. Não duvido que eles realmente acreditem no que dizem, mas tenho dúvidas se a crença deles é tão sólida quanto vendem. Hoje eles estão no PSTU, mas no futuro não estranharia de vê-los no PP, fazendo tudo aquilo que abominavam quando jovens. Não quero isso para mim. Dê-me livros e Wushu.
------
1. Nome de chapa pra DCE geralmente é ridículo assim mesmo.
2. Viu? Falei que era tudo ridículo.
3. Quase se salva esse nome. Quase.
4. Nome ridículo também, mas pelo menos faz sentido.
5. Eu próprio não tenho bem certeza se sou a favor ou contra as cotas, apesar de ter bixos cotistas e achá-los admiráveis pelas pessoas que são.
6. Ah, a contradição: não gosto que me digam o que fazer, mas digo aos outros o que eles devem fazer!
7. Durante a votação, um dos integrantes da chapa 1 não nos permitiu abrir nossa urna na Psicologia enquanto tivessem estudantes de Medicina por perto para votar.
Marcadores:
Ciências Políticas,
Meus Erros,
Minhas Indiadas,
Momento Misantropia,
Sociologia,
Transcendência,
Wushu
terça-feira, 27 de maio de 2008
Cuba e minha posição política
Todo bom acadêmico esquerdista brasileiro adora falar bem de Cuba e de Fidel Castro. Não tenho nada contra isto, mas considerando que este tipo de acadêmico é maioria nas universidades públicas, e que frequentemente eles tentam calar vozes dissidentes, sinto-me um pouco indignado quando eles começam a falar de Cuba.
Pode ser impressão minha, mas parece que, para estas pessoas Cuba é o paraíso na terra: elogiam o sistema de saúde, o governo socialista, o sistema de educação, a distribuição de renda. Estes são realmente os pontos fortes do governo cubano. Mas não sei se não são os únicos.
E meus amigos esquerdistas frequentemente esquecem de mencionar que o governo cubano é uma ditadura há quase 50 anos, desde que Fidel Castro e seus compadres tomaram o poder, que pouquíssimos cubanos podem sair do país livremente e que inúmeras balsas abarrotadas de fugitivos saem clandestinamente em direção aos EUA, el gran satan. Já ouvi muitas racionalizações sobre os dois primeiros pontos, mas sobre os fugitivos ninguém que defenda Fidelzito consegue me explicar. Francamente, acho estranho que haja mais pessoas estrangeiras à Cuba defendendo o regime cubano do que cubanos. Ou o mundo sofre de esquizofrenia, ou Cuba não é esse paraíso que tentam me vender.
Quando falo em “esquerda”, “esquerdistas” e termos afins, dou a entender que não sou de esquerda, mas não sou capaz de definir exatamente o que sou. Já me chamaram de “reacionário”, que vem a ser o supra-sumo do direitismo. Mas considerando que todas as vezes que me chamaram assim vieram de arrasto alguns palavrões e ofensas diretas (“arrogante” por exemplo, além de outros que prefiro não mencionar), não dá pra considerar estas definições sobre minhas opiniões políticas como sendo válidas, pois partiram de pessoas raivosas, mais preocupadas em me atingir do que debater.
Certamente, não sou de esquerda. Não acho que eu preencha o quesito número 1 para ser assim definido – não sou acéfalo. Também não acho que eu seja um direitista – por que eu tenho coração. Deleuze disse uma vez que direitista é todo aquele que pensa primeiro em si, na indústria, no governo e depois nos outros, e que esquerdista é quem pensa primeiro nos outros. Nunca levei Deleuze a sério, mas esta afirmação dele é a mais tendenciosa que poderia existir. Se ele não fosse um cara com mestrado, doutorado e não sei mais o quê, se ele fosse uma pessoa sem muita educação ele teria dito “a esquerda é do bem e a direita do mal. Quem não for de esquerda é do mal.” OK, posso estar interpretando erroneamente esta afirmação dele, e que na verdade ele estava tentando definir esquerda-direita pela bondade, e não tentando dicotomizar a política entre certo e errado, mas como já disse, Deleuze falou pouca coisa que presta (e só não digo que não falou nada que presta por que é estatisticamente provável que ele já tenha dito algo útil).
Não acho que não existam diferenças ideológicas e políticas entre esquerda direita, mas acredito que, num panorama mais amplo, estas diferenças tornam-se irrelevantes. Não acho que quem seja de esquerda pense primeiro no bem-estar alheio e que quem seja de direita pense primeiro no bem-estar do dinheiro: os dois pensam no bem maior, mas de maneiras diferentes. Mas daí para antagonismos entre as partes é um salto. O governo Lula é um governo de esquerda e prioriza programas sociais, mas seu maior mérito é ter adotado a política econômica do governo anterior, direitista. Ou pelo menos isso é o que me dizem vários formadores de opinião em política e economia.
Há diferenças entre esquerda e direita? Sim, mas elas são irrelevantes. Não acho que exista um continuum entre estes dois extremos, com o DEM de um lado e o P-Sol do outro. Acho que o que existe é um círculo, onde os extremos se tocam, e onde o antigo PFL e o partido da Heloísa Helena se encontram em seus extremismos.
Não acho que o caminho mais curto para um mundo melhor seja abandonarmos as diferenças – das últimas vezes que tentaram isso não prestou, e até por que seria muito chato se realmente acontecesse. É com as diferenças que crescemos (ô frase tirada de livro de auto-ajuda!), com o atrito gerado por idéias divergentes. Mas acredito que o que devemos deixar de lado é a idéia de que nossas idéias são melhores que as dos outros.
Pode ser impressão minha, mas parece que, para estas pessoas Cuba é o paraíso na terra: elogiam o sistema de saúde, o governo socialista, o sistema de educação, a distribuição de renda. Estes são realmente os pontos fortes do governo cubano. Mas não sei se não são os únicos.
E meus amigos esquerdistas frequentemente esquecem de mencionar que o governo cubano é uma ditadura há quase 50 anos, desde que Fidel Castro e seus compadres tomaram o poder, que pouquíssimos cubanos podem sair do país livremente e que inúmeras balsas abarrotadas de fugitivos saem clandestinamente em direção aos EUA, el gran satan. Já ouvi muitas racionalizações sobre os dois primeiros pontos, mas sobre os fugitivos ninguém que defenda Fidelzito consegue me explicar. Francamente, acho estranho que haja mais pessoas estrangeiras à Cuba defendendo o regime cubano do que cubanos. Ou o mundo sofre de esquizofrenia, ou Cuba não é esse paraíso que tentam me vender.
Quando falo em “esquerda”, “esquerdistas” e termos afins, dou a entender que não sou de esquerda, mas não sou capaz de definir exatamente o que sou. Já me chamaram de “reacionário”, que vem a ser o supra-sumo do direitismo. Mas considerando que todas as vezes que me chamaram assim vieram de arrasto alguns palavrões e ofensas diretas (“arrogante” por exemplo, além de outros que prefiro não mencionar), não dá pra considerar estas definições sobre minhas opiniões políticas como sendo válidas, pois partiram de pessoas raivosas, mais preocupadas em me atingir do que debater.
Certamente, não sou de esquerda. Não acho que eu preencha o quesito número 1 para ser assim definido – não sou acéfalo. Também não acho que eu seja um direitista – por que eu tenho coração. Deleuze disse uma vez que direitista é todo aquele que pensa primeiro em si, na indústria, no governo e depois nos outros, e que esquerdista é quem pensa primeiro nos outros. Nunca levei Deleuze a sério, mas esta afirmação dele é a mais tendenciosa que poderia existir. Se ele não fosse um cara com mestrado, doutorado e não sei mais o quê, se ele fosse uma pessoa sem muita educação ele teria dito “a esquerda é do bem e a direita do mal. Quem não for de esquerda é do mal.” OK, posso estar interpretando erroneamente esta afirmação dele, e que na verdade ele estava tentando definir esquerda-direita pela bondade, e não tentando dicotomizar a política entre certo e errado, mas como já disse, Deleuze falou pouca coisa que presta (e só não digo que não falou nada que presta por que é estatisticamente provável que ele já tenha dito algo útil).
Não acho que não existam diferenças ideológicas e políticas entre esquerda direita, mas acredito que, num panorama mais amplo, estas diferenças tornam-se irrelevantes. Não acho que quem seja de esquerda pense primeiro no bem-estar alheio e que quem seja de direita pense primeiro no bem-estar do dinheiro: os dois pensam no bem maior, mas de maneiras diferentes. Mas daí para antagonismos entre as partes é um salto. O governo Lula é um governo de esquerda e prioriza programas sociais, mas seu maior mérito é ter adotado a política econômica do governo anterior, direitista. Ou pelo menos isso é o que me dizem vários formadores de opinião em política e economia.
Há diferenças entre esquerda e direita? Sim, mas elas são irrelevantes. Não acho que exista um continuum entre estes dois extremos, com o DEM de um lado e o P-Sol do outro. Acho que o que existe é um círculo, onde os extremos se tocam, e onde o antigo PFL e o partido da Heloísa Helena se encontram em seus extremismos.
Não acho que o caminho mais curto para um mundo melhor seja abandonarmos as diferenças – das últimas vezes que tentaram isso não prestou, e até por que seria muito chato se realmente acontecesse. É com as diferenças que crescemos (ô frase tirada de livro de auto-ajuda!), com o atrito gerado por idéias divergentes. Mas acredito que o que devemos deixar de lado é a idéia de que nossas idéias são melhores que as dos outros.
Marcadores:
Antropologia,
Baldes Voadores,
Ciências Políticas,
Sociologia
Uma revolução digna de nos inspirar
No meio que vivo, a grande maioria das pessoas adora desancar os Estados Unidos, chamá-los de escroques, imperialistas e gananciosos, enquanto adoram elogiar o Fidel Castro e como ele governou bem Cuba. Tudo isso com um exemplar de “O Capital” do Marx de baixo do braço.
Mas eu sou do contra, realmente. Já pensei de maneira muito parecida com a que estes meus colegas pensam, mas depois de morar seis meses como intercambista nos Estados Unidos (que era na verdade minha segunda opção), revi meus conceitos. Acadêmicos esquerdistas adoram falar na Revolução Cubana, ou nas revoluções do proletariado que ocorreram por todo o mundo, graças à obra de Marx e Engels. Mas acredito que nenhuma dessas teria ocorrido se não fosse pela Revolução Americana de 1776.
Americana, sim, pois todo nosso continente, de norte a sul estremeceu com a audácia das colônias que decidiram tornar-se uma nação. Sem a sua inspiração, nem a Revolução Francesa de 1789, nem nenhum outro levante popular teria encontrado forças para acontecer.
Apesar de a democracia existir desde a Grécia antiga, e de já no século XVIII existirem repúblicas muito antigas, como Veneza e Holanda, o primeiro governo realmente democrático e popular foi o dos Estados Unidos da América. Podem argumentar que a declaração de independência dos EUA e sua Constituição foram escritas por homens brancos, ricos e donos de escravos que queriam manter seus direitos, mesmo que à revelia do direito dos demais. Mas ninguém poderá dizer que, mesmo com todos os preconceitos inerentes a classe deles, os founding fathers não criaram uma nação forte, democrática, buscando sempre uma união mais perfeita. Também não poderão dizer que os EUA tornaram-se independentes apenas pelo desejo de uma minoria abastada – a guerra de independência tomou as trezes colônias, de norte a sul, e todos os cidadãos estavam nela envolvidos de corpo e alma. Bem diferente do que aconteceu 1822 aqui no Brasil.
Não sei se posso dizer que é uma tendência, mas noto que é mais comum xingarmos os EUA por sua ignorância e elogiarmos os países europeus por sua cultura. Francamente, acho que a Europa é um continente deprimente; cheio de história, mas também de preconceitos, em especial contra americanos – não só dos EUA, mas brasileiros, mexicanos e canadenses também. Para eles, não passamos de colonos mal agradecidos, que não souberam se comportar. E mesmo assim, ficamos a paparicar os europeus e seus hábitos superiores.
Prefiro os americanos de todo o continente, mas admiro de especial maneira aqueles que juram fidelidade ao star spangled banner. Eles são cheios de defeitos, são impulsivos, um pouco prepotentes, têm um governo ruim, mas em muitos aspectos são o melhor modelo que temos de democracia. Hoje é a Europa se inspira neles.
Não sou historiador, mas acredito que, quando foi declarada a independência dos Estados Unidos da opressão britânica, acredito que o fizeram por motivos econômicos, religiosos, culturais, mas principalmente por amor-próprio. Eles cansaram de serem tratados como lixo, tal e qual os espanhóis nos trataram nos aeroportos. Se há algo que me inspira nos EUA, é o amor que eles têm por seu país, e a capacidade de autocrítica que eles possuem. Eles são cheios de defeitos e sabem disso, mas tentam de todas as formas de tornarem sua terra um lugar melhor para se viver. Deveríamos esquecer Cuba e seu governo ditatorial, Marx e suas preleções, o arrogante continente europeu, e nos inspirarmos em nossos irmãos do norte. Eles não são uma potência hoje por nada. Por isso peço que Deus abençoe a América: os EUA, o Brasil e todo o continente.
Mas eu sou do contra, realmente. Já pensei de maneira muito parecida com a que estes meus colegas pensam, mas depois de morar seis meses como intercambista nos Estados Unidos (que era na verdade minha segunda opção), revi meus conceitos. Acadêmicos esquerdistas adoram falar na Revolução Cubana, ou nas revoluções do proletariado que ocorreram por todo o mundo, graças à obra de Marx e Engels. Mas acredito que nenhuma dessas teria ocorrido se não fosse pela Revolução Americana de 1776.
Americana, sim, pois todo nosso continente, de norte a sul estremeceu com a audácia das colônias que decidiram tornar-se uma nação. Sem a sua inspiração, nem a Revolução Francesa de 1789, nem nenhum outro levante popular teria encontrado forças para acontecer.
Apesar de a democracia existir desde a Grécia antiga, e de já no século XVIII existirem repúblicas muito antigas, como Veneza e Holanda, o primeiro governo realmente democrático e popular foi o dos Estados Unidos da América. Podem argumentar que a declaração de independência dos EUA e sua Constituição foram escritas por homens brancos, ricos e donos de escravos que queriam manter seus direitos, mesmo que à revelia do direito dos demais. Mas ninguém poderá dizer que, mesmo com todos os preconceitos inerentes a classe deles, os founding fathers não criaram uma nação forte, democrática, buscando sempre uma união mais perfeita. Também não poderão dizer que os EUA tornaram-se independentes apenas pelo desejo de uma minoria abastada – a guerra de independência tomou as trezes colônias, de norte a sul, e todos os cidadãos estavam nela envolvidos de corpo e alma. Bem diferente do que aconteceu 1822 aqui no Brasil.
Não sei se posso dizer que é uma tendência, mas noto que é mais comum xingarmos os EUA por sua ignorância e elogiarmos os países europeus por sua cultura. Francamente, acho que a Europa é um continente deprimente; cheio de história, mas também de preconceitos, em especial contra americanos – não só dos EUA, mas brasileiros, mexicanos e canadenses também. Para eles, não passamos de colonos mal agradecidos, que não souberam se comportar. E mesmo assim, ficamos a paparicar os europeus e seus hábitos superiores.
Prefiro os americanos de todo o continente, mas admiro de especial maneira aqueles que juram fidelidade ao star spangled banner. Eles são cheios de defeitos, são impulsivos, um pouco prepotentes, têm um governo ruim, mas em muitos aspectos são o melhor modelo que temos de democracia. Hoje é a Europa se inspira neles.
Não sou historiador, mas acredito que, quando foi declarada a independência dos Estados Unidos da opressão britânica, acredito que o fizeram por motivos econômicos, religiosos, culturais, mas principalmente por amor-próprio. Eles cansaram de serem tratados como lixo, tal e qual os espanhóis nos trataram nos aeroportos. Se há algo que me inspira nos EUA, é o amor que eles têm por seu país, e a capacidade de autocrítica que eles possuem. Eles são cheios de defeitos e sabem disso, mas tentam de todas as formas de tornarem sua terra um lugar melhor para se viver. Deveríamos esquecer Cuba e seu governo ditatorial, Marx e suas preleções, o arrogante continente europeu, e nos inspirarmos em nossos irmãos do norte. Eles não são uma potência hoje por nada. Por isso peço que Deus abençoe a América: os EUA, o Brasil e todo o continente.
Marcadores:
Amolações,
Baldes Voadores,
Ciências Políticas,
Transcendência
domingo, 25 de maio de 2008
Vida Dura (Parte 11)
Hoje apareceu no Jornal Nacional que salvaram 8 pandas gigantes dos escombros do terremoto, e que agora eles estão em segurança num zoológico em Beijing. A população deu pulos de alegria quando os bichinhos apareceram na curva da estrada. E eu não podia achar isso mais esdrúxulo.
Em toda a história recente da evolução, não consigo pensar em criatura mais inútil que os pandas. Sabem o imbecil que passa em todo vestibular para um curso extremamente concorrido de universidade federal? Pois é, os pandas são esse mentecapto, pois passaram na seleção natural, apesar de serem as criaturas ridículas que são.
Considero-me incapaz de entender como estes seres, que não conseguem nem ao menos trpara para perpetuar a espécie geram tanto fascínio, a ponto de serem símbolo da WWF e xodó de eco-chatos ao redor do mundo (junto com as baleias, mas as baleias eu respeito, pois elas são grandes daquele jeito só comendo fitoplâncton). Devo admitir que, se pensar estritamente em termos evolutivos, os pandas fazem um trabalho excelente: são preto e branco, abobadinhos, comem só bambu e fazem qualquer menina de 5 à 50 anos (e meninos com cabelos lambidos por cima dos olhos) querer abraçá-los e chorar por estarem em extinção. Foi assim que eles conseguiram casa, comida e tratamento médico completo em zoológicos de alto nível. But, quite frankly, isso não é muito útil se não tiver filhotinhos. Mas até para isso eles têm ajuda, que varia desde coisas high-tech como fertilização in vitro, até coisas que estão ao alcance de qualquer moleque com internet, como filmes pornôs estrelados por pandas.
Não sou contra salvarem os pandas. A natureza é legal, devemos preservar não só o meio ambiente, mas todo ele, e todas essas frases que eu provavelmente já escrevi em textos para a escola sobre como os animaizinhossubiram de dois em dois são nossos amiguinhos, e que, apesar de achar que eles são criaturas inúteis que mereciam uma indicação honoris causa do Darwin Awards por seu empenho em tentar eliminar seus genes idióticos da natureza, acredito que eles tenham direito à vida. Só acho que o esforço empreendido para salvá-los deveria ser dirigido para salvar outras criaturas mais interessantes, como por exemplo leões asiáticos, tigres ou o Daubentonia madagascariensis, conhecido vulgarmente por aye-aye. Por que não? Pandas foram eleitos para a salvação por serem tão cutchi-cutchi bunitinhu fofuxxxu (o que reforça minha afirmação sobre a influência dos pandas sobre a população emo), ao contrário do aye-aye, que é mais feio que tombo com a mão no bolso. Pelo menos, o senso comum acredita que ele é feio, e para ser bem sincero, esse foi o maior erro que ele poderia ter cometido no exame da seleção natural: não agradar os seres humanos afrescalhados, que gostam de bichos fofos. Pelo menos ele sabe fazer nhéco-nhéco gostoso, e será extinto com honra.
Em toda a história recente da evolução, não consigo pensar em criatura mais inútil que os pandas. Sabem o imbecil que passa em todo vestibular para um curso extremamente concorrido de universidade federal? Pois é, os pandas são esse mentecapto, pois passaram na seleção natural, apesar de serem as criaturas ridículas que são.
Considero-me incapaz de entender como estes seres, que não conseguem nem ao menos trpara para perpetuar a espécie geram tanto fascínio, a ponto de serem símbolo da WWF e xodó de eco-chatos ao redor do mundo (junto com as baleias, mas as baleias eu respeito, pois elas são grandes daquele jeito só comendo fitoplâncton). Devo admitir que, se pensar estritamente em termos evolutivos, os pandas fazem um trabalho excelente: são preto e branco, abobadinhos, comem só bambu e fazem qualquer menina de 5 à 50 anos (e meninos com cabelos lambidos por cima dos olhos) querer abraçá-los e chorar por estarem em extinção. Foi assim que eles conseguiram casa, comida e tratamento médico completo em zoológicos de alto nível. But, quite frankly, isso não é muito útil se não tiver filhotinhos. Mas até para isso eles têm ajuda, que varia desde coisas high-tech como fertilização in vitro, até coisas que estão ao alcance de qualquer moleque com internet, como filmes pornôs estrelados por pandas.
Não sou contra salvarem os pandas. A natureza é legal, devemos preservar não só o meio ambiente, mas todo ele, e todas essas frases que eu provavelmente já escrevi em textos para a escola sobre como os animaizinhos
Marcadores:
Baldes Voadores,
Biologia,
Vida Dura
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Eternidade
Imortalidade. Eis um tema que desde tempos muito remotos fascina a nós, meros mortais. Foi em sua busca que os egípcios construíram as pirâmides e embalsamaram seus mortos, que os alquimistas buscassem a Pedra Filosofal, e muitos outros casos que sou incapaz de lembrar ou relatar. Pode parecer uma crença infantil, mas ainda hoje alguns cientistas acreditam que, se conseguirmos reverter o envelhecimento das células, poderemos viver para sempre, ou se conseguirmos clonar seres humanos com perfeição, teremos sempre um corpo novo à nossa disposição. Até agora, nada disto foi alcançado, e, pessoalmente, acredito que nosso destino final é a morte, não importa quanto tempo nossas células vivam. Mas isto é apenas vã especulação; o que posso dizer de concreto é que, até o momento, prova-se impossível viver eternamente.
Acho esta questão irrelevante. Realmente, soa tentador nunca morrer, e sempre ter tempo para fazer tudo que quisermos fazer. Mas caso isto se tornasse possível, creio que seria o fim da humanidade, pois tornaríamos todos monstros. Seríamos como os deuses do Olímpo, eternos e eternamente entediados. O motivo de acreditar que o destino final de todo homem e toda mulher é a morte é justamente a beleza de nossa efemeridade: por termos tão pouco tempo, vivemos da melhor e mais intensa forma que pudemos. Podemos não conseguir sempre, mas sempre tentamos. Cada abraço e cada beijo que damos deve ser dado como sendo o último que jamais daremos, pois de fato, ele nunca se repetirá – abraçaremos e beijaremos outras vezes, outras pessoas e em outros lugares, mas aquele primeiro momento nunca voltará: ele está morto e sepultado. Entretanto, sua beleza foi tanta que mesmo morto ele permanece vivo em nossa memória, e isto é o que interessa.
Não vivemos nem viveremos pela eternidade, mas é através de nossas vidas que a eternidade vive. Ser imortal é para pessoas fracas – os fortes vivem cada dia como se fosse seu último, até o dia de sua morte.
Acho esta questão irrelevante. Realmente, soa tentador nunca morrer, e sempre ter tempo para fazer tudo que quisermos fazer. Mas caso isto se tornasse possível, creio que seria o fim da humanidade, pois tornaríamos todos monstros. Seríamos como os deuses do Olímpo, eternos e eternamente entediados. O motivo de acreditar que o destino final de todo homem e toda mulher é a morte é justamente a beleza de nossa efemeridade: por termos tão pouco tempo, vivemos da melhor e mais intensa forma que pudemos. Podemos não conseguir sempre, mas sempre tentamos. Cada abraço e cada beijo que damos deve ser dado como sendo o último que jamais daremos, pois de fato, ele nunca se repetirá – abraçaremos e beijaremos outras vezes, outras pessoas e em outros lugares, mas aquele primeiro momento nunca voltará: ele está morto e sepultado. Entretanto, sua beleza foi tanta que mesmo morto ele permanece vivo em nossa memória, e isto é o que interessa.
Não vivemos nem viveremos pela eternidade, mas é através de nossas vidas que a eternidade vive. Ser imortal é para pessoas fracas – os fortes vivem cada dia como se fosse seu último, até o dia de sua morte.
Marcadores:
Biologia,
Divagações,
Dúvidas Existenciais,
Filosofia,
Transcendência
Meu Trabalho de Conclusão de Curso Ideal
Sou da primeira turma do novo currículo do curso de graduação em Psicologia da UFRGS. Dentre muitas características de estar em tal situação, há uma que se destaca: ninguém sabe no que esse currículo vai dar. Ao contrário do antigo, onde o curso divide-se em blocos epistemológicos-departamentais (1) (primeiro ano, Desenvolvimento; segundo ano, Psicologia Social; terceiro ano, Psicanálise), desde a primeira semana de aula do primeiro ano vemos todas as três visões. No currículo antigo, como o enfoque final era em Psicanálise, os graduandos acabavam tornando-se psicanalíticos, seja por acabarem desenvolvendo maior afinidade, seja por falta de opção. Isso não acontece conosco.
No currículo novo, pela metade do terceiro ano, temos que decidir em quais ênfases nos formaremos. Cada departamento criou uma ênfase, consoante com sua forma de pensar, agir e fazer pesquisa (por que pesquisa não é pensar nem agir!): há uma ênfase em Desenvolvimento Humano e Personalidade, uma em Psicologia Social e Institucional e uma em Psicanálise e Psicopatologia. Destas, temos que fazer no mínimo duas, mas é possível fazer as três (com um ano a mais de faculdade).
É fácil imaginar como serão as ênfases em Psicologia Social e Institucional e em Psicanálise e Psicopatologia, já que os departamentos responsáveis por estas são epistemologicamente bem homogêneos: é só Deleuze, Guattari, Foucault e Lacan. Os temas também são bem delimitados. No caso de Desenvolvimento Humano e Personalidade, a coisa é bem mais difícil. A começar pelo nome: qualquer coisa em Psicologia encaixa-se, de uma forma ou de outra, em Desenvolvimento e/ou Personalidade, inclusive Psicologia Social e Psicanálise. Além disso, o próprio departamento é um saco de gatos teórico. Nos corredores do Instituto, corre a piada que, se tivéssemos que definir cada departamento com uma única palavra, a de Social seria “subjetividade”, da Psicanálise “Lacan”, e do Desenvolvimento “Verba” (2), por que a única coisa que diferencia este departamento dos demais é o dinheiro abundante, graças
à seus inúmeros projetos de pesquisa e à sua pós-graduação nota 7 pela CAPES. Nele, há desde psicanalistas mais moderados até neuropsicólogos. Orientador para todos os gostos e necessidades filosóficas.
Sexta-feira passada, durante a reunião da Comissão de Estágios, na qual sou representante discente (dos estudantes), descobri como o Desenvolvimento pensa em estruturar teoricamente sua ênfase, lendo uma pequena lista de possíveis “sub-ênfases”. Nesta lista de cinco ou seis itens encontram-se dois de especial interesse para mim: Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia (3). E ler isto foi um grande transtorno para minha participação na reunião, pois passei a divagar sobre a ênfase e meu trabalho de conclusão de curso. Terapia Cognitivo-Comportamental pode soar um assunto bem limitado e circunscrito para quem não a conhece. Entretanto, Aaron Beck, um de seus idealizadores, escreveu um livro intitulado “O Poder Integrador da Terapia Cognitiva”. Não sei do que o livro trata especificamente, mas o título me soa bastante sugestivo e congruente com o que tenho estudado a respeito.
Baseado em meus estudos, posso dizer que esta linha teórica é extremamente flexível, pragmática e ampla, e não poderia pensar em assunto melhor para um trabalho de conclusão de curso. A TCC é ao mesmo tempo uma psicoterapia e uma teoria da personalidade econômica, que se baseia em poucos conceitos teóricos. Isto permite realizar um trabalho sobre Psicoterapia e Personalidade em geral. Sendo mais específico, permite que várias linhas teóricas diferentes da Psicologia sejam abordadas e integradas. Garanto ao meu leitor que, se para um psicanalista lacaniano é teoricamente incoerente ele aplicar técnicas comportamentais em sua terapia (4), o inverso não é verdadeiro para um terapeuta cognitivo-comportamental. De fato, outras teorias como a Psicologia Humanista-Existencial, a Psicologia Analítica, algumas linhas da Psicanálise e do Comportamentalismo não só são congruentes, mas também complementam a Cognitiva-Comportamental. Sentido da vida, arquétipos e individuação, estágios da vida e condicionamento operante não são desvirtuados se adaptados para uso nesta linha oferecida na ênfase. Pelo contrário, enriquecem a teoria. Sinceramente, acho que a Psicologia como ciência encontrou um paradigma unificador na Terapia Cognitivo-Comportamental, que permite uma ampla gama de pesquisas sem que tudo vire um saco de gatos raivosos, e uma teoria unificadora sólida (5).
Fiquei divagando sobre que tema falaria no trabalho de conclusão de curso. Já venho pensando nisso desde muito antes de conhecer estes detalhes da ênfase em Desenvolvimento Humano, e já tive três idéias diversas: fazer um estudo de caso sobre o preconceito racial em Caxias do Sul e na Serra Gaúcha, ensinar fundamentos de psicoterapia e psicodiagnóstico para padres de confessionário e religiosos que lidam diretamente com pessoas e seus problemas, e entrevistar mestres em diversas artes marciais e identificar traços de personalidade presentes. Surgiu agora uma quarta idéia: fazer um ensaio teórico sobre o Desenvolvimento Humano Superior – auto-atualização, auto-realização, individuação: o crescimento biopsicosocioespiritual de pessoas adultas saudáveis. Utilizaria como referência autores como Maslow, Rogers, Allport, Jung, Bandura, Erikson e Bronfenbrenner, e citaria por alto Piaget, Freud, Winnicott e Bowlby. Beck, Ellis e Young seriam obrigatórios. Talvez tenha que citar mais teóricos, mas estes com certeza. Poderia também relacionar tudo isto com conceitos de Neurociências e criar algum teste para medir este sutil desenvolvimento. Assim, eu abordaria toda a Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade, e de lambuja Neurociências. Tudo através da Terapia Cognitivo-Comportamental. Valeu, Aaron Beck!
------
1. Preciso escrever um post sobre as diferenças político-teóricas entre os três departamentos, as brigas deles e as conseqüências disto para a graduação.
2. Alternativas possíveis são: “Dispositivo”, “Angústia” e “CNPq”.
3. Tinha outras coisas, como Transtornos do Desenvolvimento, Avaliação Psicológica e algo mais que não lembro agora, mas nenhum realmente tão interessante.
4. É teoricamente incoerente, mas funcionalmente não. Terapia é terapia.
5. Provavelmente os psicanalistas pensam a mesma coisa da Psicanálise. Acharia estranho se não o fizessem.
No currículo novo, pela metade do terceiro ano, temos que decidir em quais ênfases nos formaremos. Cada departamento criou uma ênfase, consoante com sua forma de pensar, agir e fazer pesquisa (por que pesquisa não é pensar nem agir!): há uma ênfase em Desenvolvimento Humano e Personalidade, uma em Psicologia Social e Institucional e uma em Psicanálise e Psicopatologia. Destas, temos que fazer no mínimo duas, mas é possível fazer as três (com um ano a mais de faculdade).
É fácil imaginar como serão as ênfases em Psicologia Social e Institucional e em Psicanálise e Psicopatologia, já que os departamentos responsáveis por estas são epistemologicamente bem homogêneos: é só Deleuze, Guattari, Foucault e Lacan. Os temas também são bem delimitados. No caso de Desenvolvimento Humano e Personalidade, a coisa é bem mais difícil. A começar pelo nome: qualquer coisa em Psicologia encaixa-se, de uma forma ou de outra, em Desenvolvimento e/ou Personalidade, inclusive Psicologia Social e Psicanálise. Além disso, o próprio departamento é um saco de gatos teórico. Nos corredores do Instituto, corre a piada que, se tivéssemos que definir cada departamento com uma única palavra, a de Social seria “subjetividade”, da Psicanálise “Lacan”, e do Desenvolvimento “Verba” (2), por que a única coisa que diferencia este departamento dos demais é o dinheiro abundante, graças
à seus inúmeros projetos de pesquisa e à sua pós-graduação nota 7 pela CAPES. Nele, há desde psicanalistas mais moderados até neuropsicólogos. Orientador para todos os gostos e necessidades filosóficas.
Sexta-feira passada, durante a reunião da Comissão de Estágios, na qual sou representante discente (dos estudantes), descobri como o Desenvolvimento pensa em estruturar teoricamente sua ênfase, lendo uma pequena lista de possíveis “sub-ênfases”. Nesta lista de cinco ou seis itens encontram-se dois de especial interesse para mim: Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia (3). E ler isto foi um grande transtorno para minha participação na reunião, pois passei a divagar sobre a ênfase e meu trabalho de conclusão de curso. Terapia Cognitivo-Comportamental pode soar um assunto bem limitado e circunscrito para quem não a conhece. Entretanto, Aaron Beck, um de seus idealizadores, escreveu um livro intitulado “O Poder Integrador da Terapia Cognitiva”. Não sei do que o livro trata especificamente, mas o título me soa bastante sugestivo e congruente com o que tenho estudado a respeito.
Baseado em meus estudos, posso dizer que esta linha teórica é extremamente flexível, pragmática e ampla, e não poderia pensar em assunto melhor para um trabalho de conclusão de curso. A TCC é ao mesmo tempo uma psicoterapia e uma teoria da personalidade econômica, que se baseia em poucos conceitos teóricos. Isto permite realizar um trabalho sobre Psicoterapia e Personalidade em geral. Sendo mais específico, permite que várias linhas teóricas diferentes da Psicologia sejam abordadas e integradas. Garanto ao meu leitor que, se para um psicanalista lacaniano é teoricamente incoerente ele aplicar técnicas comportamentais em sua terapia (4), o inverso não é verdadeiro para um terapeuta cognitivo-comportamental. De fato, outras teorias como a Psicologia Humanista-Existencial, a Psicologia Analítica, algumas linhas da Psicanálise e do Comportamentalismo não só são congruentes, mas também complementam a Cognitiva-Comportamental. Sentido da vida, arquétipos e individuação, estágios da vida e condicionamento operante não são desvirtuados se adaptados para uso nesta linha oferecida na ênfase. Pelo contrário, enriquecem a teoria. Sinceramente, acho que a Psicologia como ciência encontrou um paradigma unificador na Terapia Cognitivo-Comportamental, que permite uma ampla gama de pesquisas sem que tudo vire um saco de gatos raivosos, e uma teoria unificadora sólida (5).
Fiquei divagando sobre que tema falaria no trabalho de conclusão de curso. Já venho pensando nisso desde muito antes de conhecer estes detalhes da ênfase em Desenvolvimento Humano, e já tive três idéias diversas: fazer um estudo de caso sobre o preconceito racial em Caxias do Sul e na Serra Gaúcha, ensinar fundamentos de psicoterapia e psicodiagnóstico para padres de confessionário e religiosos que lidam diretamente com pessoas e seus problemas, e entrevistar mestres em diversas artes marciais e identificar traços de personalidade presentes. Surgiu agora uma quarta idéia: fazer um ensaio teórico sobre o Desenvolvimento Humano Superior – auto-atualização, auto-realização, individuação: o crescimento biopsicosocioespiritual de pessoas adultas saudáveis. Utilizaria como referência autores como Maslow, Rogers, Allport, Jung, Bandura, Erikson e Bronfenbrenner, e citaria por alto Piaget, Freud, Winnicott e Bowlby. Beck, Ellis e Young seriam obrigatórios. Talvez tenha que citar mais teóricos, mas estes com certeza. Poderia também relacionar tudo isto com conceitos de Neurociências e criar algum teste para medir este sutil desenvolvimento. Assim, eu abordaria toda a Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade, e de lambuja Neurociências. Tudo através da Terapia Cognitivo-Comportamental. Valeu, Aaron Beck!
------
1. Preciso escrever um post sobre as diferenças político-teóricas entre os três departamentos, as brigas deles e as conseqüências disto para a graduação.
2. Alternativas possíveis são: “Dispositivo”, “Angústia” e “CNPq”.
3. Tinha outras coisas, como Transtornos do Desenvolvimento, Avaliação Psicológica e algo mais que não lembro agora, mas nenhum realmente tão interessante.
4. É teoricamente incoerente, mas funcionalmente não. Terapia é terapia.
5. Provavelmente os psicanalistas pensam a mesma coisa da Psicanálise. Acharia estranho se não o fizessem.
Marcadores:
Faculdade,
Fantasia,
Myself,
Neurociências,
Psicologia,
Quasiciência,
Teoria da Personalidade
terça-feira, 20 de maio de 2008
Uma divulgação não divulgada
Hoje eu mudei o perfil do Blogger. Refiro-me à frasezinha que aparece aqui no blog, no canto direito superior, sob o título de “O Espadachim”. Para quem não achou, e para registrar para o futuro, caso eu mude o perfil novamente, escrevi o seguinte:
Muitos os chamados, poucos os escolhidos. Vá além, procure onde os demais ignoram, e talvez tu encontres um tesouro que nunca imaginara.
Depois disso, coloquei no meu perfil do Orkut o link para o blog dos Amoladores. Este foi o compromisso que cheguei comigo mesmo sobre a divulgação do Espadachim. Não quero ficar mandando e-mails para minha turma, ou scraps “flood tudo” no próprio Orkut para divulgar – considero isso uma dessacralização do blog e tudo o que ele representa para mim, além de detestar quando fazem isso comigo. Entretanto, sinto que ficar escrevendo aqui só para mim mesmo não passa de masturbação intelectual. Sei que há outras pessoas que lêem o que escrevo, mas são muito poucas. Decidi, então, que divulgaria o blog, ao mesmo tempo que não o faria.
Sou um pouco elitista, admito. Não quero ver os comentários do Espadachim com coisas mal-escritas e mal-pensadas, como frequentemente vejo em outros blogs por aí. Temia que, se eu mandar para todos os meus amigo do Orkut um link para o este site, isto pudesse acontecer.
Posso definir minha divulgação como sendo sui generis. Não coloquei link algum em lugar nenhum para cá – divulguei o Amoladores de Facas. Como isso pode ser divulgação para o Espadachim? É simples. No Amoladores, há um hyperlink para meu perfil no Blogger, onde estão listados todos os blogs onde escrevo. Entre eles encontra-se este onde escrevo estas linhas. É fácil encontrar o Espadachim, basta apenas ter o desejo de encontrar algo diferente, que vá além do resto. Duvido que existam muitos outros blogs como o meu, tão bem escritos e com temas tão variados e intrigantes.
Para mim, quem encontrar este blog, seja por este caminho que incentivei ou por qualquer outro, é por que estava destinado a encontrá-lo. De forma mais científica, o Acaso o levou a encontrar o Espadachim Cego.
Muitos os chamados, poucos os escolhidos. Vá além, procure onde os demais ignoram, e talvez tu encontres um tesouro que nunca imaginara.
Depois disso, coloquei no meu perfil do Orkut o link para o blog dos Amoladores. Este foi o compromisso que cheguei comigo mesmo sobre a divulgação do Espadachim. Não quero ficar mandando e-mails para minha turma, ou scraps “flood tudo” no próprio Orkut para divulgar – considero isso uma dessacralização do blog e tudo o que ele representa para mim, além de detestar quando fazem isso comigo. Entretanto, sinto que ficar escrevendo aqui só para mim mesmo não passa de masturbação intelectual. Sei que há outras pessoas que lêem o que escrevo, mas são muito poucas. Decidi, então, que divulgaria o blog, ao mesmo tempo que não o faria.
Sou um pouco elitista, admito. Não quero ver os comentários do Espadachim com coisas mal-escritas e mal-pensadas, como frequentemente vejo em outros blogs por aí. Temia que, se eu mandar para todos os meus amigo do Orkut um link para o este site, isto pudesse acontecer.
Posso definir minha divulgação como sendo sui generis. Não coloquei link algum em lugar nenhum para cá – divulguei o Amoladores de Facas. Como isso pode ser divulgação para o Espadachim? É simples. No Amoladores, há um hyperlink para meu perfil no Blogger, onde estão listados todos os blogs onde escrevo. Entre eles encontra-se este onde escrevo estas linhas. É fácil encontrar o Espadachim, basta apenas ter o desejo de encontrar algo diferente, que vá além do resto. Duvido que existam muitos outros blogs como o meu, tão bem escritos e com temas tão variados e intrigantes.
Para mim, quem encontrar este blog, seja por este caminho que incentivei ou por qualquer outro, é por que estava destinado a encontrá-lo. De forma mais científica, o Acaso o levou a encontrar o Espadachim Cego.
Marcadores:
Interweb,
Organização,
Transcendência
Sociedade, Personalidade e Neurodiversidade
Para viver em sociedade é necessário ser bem ajustado de várias maneiras. A mais global destas maneiras é ter uma personalidade socialmente aceitável. Agrupamentos sociais selecionam pessoas com traços de personalidade mais bem vistos e vantajosos para o grupo. Não vejo nenhum problema nisto, até por que seria um contra-senso selecionar características que prejudicam a todos. Porém, isso acarreta alguns problemas. O primeiro é o processo de seleção. Em geral, seleciona-se as pessoas mais parecidas com a população em geral – em outras palavras, pessoas excêntricas, fora do centro comum, acabam excluídas socialmente. Por “centro comum” quero dizer qualquer coisa: brancos ou pretos, judeus ou arianos, introvertidos ou extrovertidos... ou qualquer outro parâmetro que se desejar. Hoje em dia isso não quer dizer grande coisa, já que dá para viver sozinho num apartamento comendo comida congelada e tele-entrega, mas há não muito tempo atrás, viver isolado de qualquer coletivo significava morte certa (e em algumas situações-limite ainda significa).
O processo de seleção não é, contudo, um sistema meramente binário, tendo mais possibilidades do que DENTRO DO GRUPO e FORA DO GRUPO. Na verdade, a exclusão social é o último recurso, pelo menos na civilização atual. Antes disso, ocorre uma tentativa de moldar a personalidade do excêntrico. Isso por si só não é ruim, e acredito ser possível justificar tal prática numa isolada tribo da Nova Guiné, mas suas conseqüências podem ser nefastas. Acho que não é necessário explicar com muita profundidade no que consiste esse processo, pois acredito que todos que lêem este blog já passaram por alguma situação em que sentiram-se pressionados a mudarem seu jeito de agir para serem socialmente aceitos: tirar boas notas, pegar mulher na festa, beber até cair, não urinar em sala de aula... qualquer coisa. Como já disse, essa mudança não é necessariamente ruim (sinceramente, eu não gostaria que mijassem na sala aqui de casa). Acho que o buraco é mais embaixo.
Historicamente, personalidades ditas ruins foram consideradas patológicas – a mais exemplar destas é a personalidade anti-social, mais conhecida como personalidade de psicopata. Não quero defender os crimes cometidos por psicopatas por aí, pois acho que qualquer ser humano que conscientemente (1) se torna um risco para outros e não sente remorso por isso, ou, se remorso for pedir demais, não ver vantagens em ser socialmente adaptado, ele deve ser mantido fora da sociedade. Deve ser tratado com dignidade e respeito, mas isolado para que não cause danos a ninguém. Entretanto, muitas pessoas são discriminadas por características comportamentais e personológicas que são mal-vistas por causa de crenças coletivas infundadas. Entre essas pessoas encontram-se psicóticos, Autistas (3), “portadores” (2) de Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade (TDA/H), e outros cujos comportamentos estão definidos no DSM ou na seção 7 da CID (4).
Aqueles que se enquadram em uma ou mais destas definições não são perigosos por causa de seus transtornos. Admito que um psicótico em surto pode ser bem perigoso, especialmente se ele achar que é Azrael o Anjo da Morte e que a hora de todos os seus vizinhos chegou (5), mas não é durante o surto que o preconceito acontece (até porque não dá tempo de fazer isso enquanto se tenta impedir que Azrael te decapite a pauladas), mas depois, com as rubricas sociais: “te cuida com aquele ali, ó, ele já foi pro São Pedro (6) quatro vezes. É louco de pedra!”; “é doido, coitado. Segura tua bolsa, querida.”; “lugar de louco é no hospício!” O sujeito pode ser a criatura mais mansa do universo, mas a mancha está lá, e ele está condenado ao limbo da sociedade.
Com os autistas, a coisa é um pouco mais complicada. Em termos gerais, o distúrbio caracteriza-se por uma grande dificuldade de socialização, de empatizar com outras pessoas e tendência a ficar muito tempo em seu “mundo interior”. Há casos mais sérios, mas o núcleo comportamental comum a todos que se encaixam no espectro autista está aí (se estiver errado ou incompleto me corrijam). Isto não é necessariamente ruim, e não o é na maioria dos casos, mas como dificuldade de socialização é uma coisa socialmente mal-vista (DÃ!), e muitos pais de crianças autistas sentirem na pele como é duro seu filho não olhar em seus olhos, faz-se de tudo para desenvolver técnicas para que eles tornem-se mais capazes destas coisas e saiam de dentro de suas conchas. De novo, considerando as coisas positivas que socializar-se traz, não vejo nada errado com isso. Só que o processo é bem duro, e muitas vezes maltrata os autistas. Por exemplo, autistas que tomaram remédios para tornarem-se mais mansos relatam que sentiam-se mentalmente inertes. Em uma situação mais cruel, autistas têm os olhos muito sensíveis para luzes fluorescentes, e quando entram em recintos iluminados predominantemente por lâmpadas deste tipo começam a gritar, fazer escândalo, essas coisas que a gente não quer ver por aí, por que dói. Para que isto não aconteça (e para que os pais dos autistas sintam-se como pais normais), as crianças são condicionados via Análise Aplicada do Comportamento para não emitirem este comportamento. A dor nos olhos continua, mas pelo menos eles são bons meninos e boas meninas, e é isso que conta.
O problema dos “TDA/Hs” é diferente. Eles são perfeitamente capazes de socialização, mas tem maior dificuldade do que a média da população para concentrar-se em uma tarefa só e manter-se nela por um período considerável de tempo, e precisam estar em constante movimento, além de “viajarem” com muita facilidade (de forma similar aos autistas, TDA/Hs são bastante introspectivos). Trazendo para o plano concreto, é mais difícil para eles prestarem atenção em aulas (especialmente expositivas) e trabalharem, pois não conseguem prestar atenção direito e ficam “brincando” de alguma forma para manterem-se em movimento (por exemplo, malabarismos de uma mão só, com canetas, controles remotos e similares). Não é que não consigam – é só bem mais complicado. Sou um paciente com TDA/H típico, e sinto na pele estes problemas. Falando por experiência própria, quando preciso trabalhar, eu trabalho, e quando preciso estudar, eu estudo. A diferença entre eu e uma pessoa não-TDA/H é o tempo que eu levo para sair de um estado passivo de vadiagem para um estado ativo de estudo/trabalho. Em um panorama mais geral, são poucos portadores deste transtorno que não conseguem realmente trabalhar – se a preguiça é a mãe da necessidade, a necessidade é mãe do trabalho árduo. Adultos que dependem de seu salário sabem que, se vadiarem, vão para rua. Inclusive TDA/Hs. Quem mais sofre com este “problema” são as crianças em idade escolar. Não conseguir parar quieto em aula não só é um comportamento mal-visto, mas é encarado como desrespeito pelo professor e falta de interesse em aprender por parte do aluno. Não considero aulas expositivas o modelo de ensino ideal para ninguém, mas, como sinto na própria pele, é muito pior para quem têm déficit de atenção e/ou hiperatividade (7). Assuntos que em outro contexto seriam muito interessantes tornam-se francamente aversivos, como Física ou Química, e o aluno TDA/H sofre muito mais para estudar (esqueci de dizer que a tolerância à frustração para portadores deste distúrbio é menor do que a média da população). E daí, dá-lhe ritalina pro guri parar quieto e obedecer o professor!
Numa sociedade perfeita, a distância entre o socialmente aceitável e o existencialmente mais agradável seria a menor possível, permitindo que as pessoas convivessem em harmonia, mas não tolhessem seu crescimento pessoal e potencialidades para tanto. Não é assim onde nasci e me desenvolvo. Os remédios e técnicas utilizados para tornar estas pessoas mais socialmente aceitáveis funciona e trás benefícios claros – um surto psicótico causa danos irreparáveis no cérebro, e quanto mais puderem ser evitados, melhor, e não há via mais eficiente que o tratamento farmacológico (8). Posso dizer o mesmo para autistas e TDA/Hs, pois ambos se beneficiam de certos tratamentos. Entretanto, a personalidade destes, seu próprio modo de ser é mutilado, destruído até. E por que isso? Por causa de uma sociedade incapaz de acolher e aceitar as diferenças. Soa patético e piegas isso, eu sei. Mas é real. Não foram poucos os psicóticos, autistas e hiperativos que demonstraram aptidões artísticas e científicas excepcionais. O São Pedro está cheio de artistas; desconfia-se que Einstein era aspergher, e pode-se inferir com bastante certeza de que Jung era um TDA/H também (e eu, é claro).
Recentemente, um grupo de autistas e simpatizantes trocou idéias e uniu-se pela causa de garantir maior liberdade para os autistas poderem ser o que são – autistas. Como eles próprios afirmam, eles são cidadãos de pleno direito, mas com um funcionamento cerebral diferenciado. Chamam sua causa de Neurodiversidade. Acredito que o mesmo pode ser dito dos outros “transtornos” que citei aqui, e esta busca ampliada para incluí-los também. Por que não considerá-los formas de personalidade diferentes? O próprio Jung, segundo diz meu pai, identificara o TDA/H antes dos psiquiatras do DSM o classificarem. Mas ao contrário destes, Jung o definiu como sendo a personalidade intuitiva – cujo foco libidinal é mais voltado para o mundo interior. Bem diferente da doentificação psiquiátrica.
Não defendo deixar os autistas viverem como estão, deixar os psicóticos em surto correndo por aí ou os TDA/Hs eternamente perdidos em suas divagações – isto não seria saudável. Em sua obra, Jung fala do processo de Individuação. Este processo de crescimento se dá através do desenvolvimento das funções pouco desenvolvidas em nós: introvertidos tornam-se mais extrovertidos, pessoas racionais tornam-se mais emotivas; o contrário também acontece (9). Acredito que, em uma sociedade ideal, nossas diferenças seriam respeitadas, mas nos seria permitido desenvolver aquilo que precisamos para nos tornarmos indivíduos únicos e saudáveis, e acredito que, se desejamos que tal sonho torne-se realidade, devemos primeiro criar uma sociedade mais neurotolerante.
------
1. A questão da consciência em psicopatas me soa complicada demais para poder dizer se eles possuem consciência ou não de seus atos, mas considerando que muitas pessoas com transtorno de personalidade anti-social são muito inteligentes e capazes de elaborar detalhadamente planos para longo prazo, vou assumir que eles têm consciência de que o que fazem é errado.
2. Palavra ruim, eu sei, mas não consigo pensar em nenhuma melhor.
3. Por motivos práticos, considero autista todos os portadores de condições que se encaixam no espectro autista, como a síndrome de Asperger.
4. DSM = Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, atualmente na quarta edição revisada; CID = Classificação Internacional de Doenças, atualmente na décima edição. A seção 7 da CID é de transtornos mentais (se não me engano).
5. Nesse caso, internação em uma ala psiquiátrica de hospital geral com vigilância faz MUITO sentido. No momento aqui no Brasil, e mais especificamente em Porto Alegre, os psicóticos surtados são internados em hospitais psiquiátricos, mas por motivos que não quero comentar aqui, não é a situação ideal. O Marcelo já falou sobre isso aqui e aqui.
6. Hospital Psiquiátrico São Pedro, também conhecido como “O Glorioso”. Pelo menos é assim que o diretor daquela joça chama o lugar.
7. Nunca conversa informal esses dias, o Lobo da Estepe (outro TDA/H óbvio e assumido) disse que a escola ideal para um TDA/H seria um parque de diversões com livros em locais específicos e bem chamativos, para que as crianças pudessem movimentar-se e ler à vontade quando achassem melhor. Os professores ficariam por perto para tirar dúvidas e cuidar para que os moleques não se esfolem além da conta (por que infância sem joelho ralado não existe). Talvez isso não funcionasse em uma escola primária, mas eu certamente adoraria se a Psicologia da UFRGS funcionasse dessa maneira.
8. Claro que, para alguns, o melhor remédio é um “bom ambiente”.
9. Na tipologia jungiana, há quatro funções psíquicas diferentes, além dos pólos extroversão-introversão da direção da libido: sensação, pensamento, intuição e emoção. Simplificando bastante, intuição é a função oposta de sensação, e pensamento a oposta de emoção. Cada pessoa tem uma dessas como função primária, a mais importante e desenvolvida, outra como função secundária, auxiliar à primária e tão desenvolvida quanto, a terciária e a quaternária, que são muito pouco desenvolvidas se comparadas com as duas primeiras. No processo de individuação, busca-se harmonizar estas funções e torná-las igualmente desenvolvidas. Se dispostas em um círculo, as quatro funções ficariam cada uma em um ponto cardeal, sendo seu centro o Self (arquétipo do desenvolvimento humano máximo e ideal a perseguir). Para uma melhor explicação, clique aqui (em inglês).
O processo de seleção não é, contudo, um sistema meramente binário, tendo mais possibilidades do que DENTRO DO GRUPO e FORA DO GRUPO. Na verdade, a exclusão social é o último recurso, pelo menos na civilização atual. Antes disso, ocorre uma tentativa de moldar a personalidade do excêntrico. Isso por si só não é ruim, e acredito ser possível justificar tal prática numa isolada tribo da Nova Guiné, mas suas conseqüências podem ser nefastas. Acho que não é necessário explicar com muita profundidade no que consiste esse processo, pois acredito que todos que lêem este blog já passaram por alguma situação em que sentiram-se pressionados a mudarem seu jeito de agir para serem socialmente aceitos: tirar boas notas, pegar mulher na festa, beber até cair, não urinar em sala de aula... qualquer coisa. Como já disse, essa mudança não é necessariamente ruim (sinceramente, eu não gostaria que mijassem na sala aqui de casa). Acho que o buraco é mais embaixo.
Historicamente, personalidades ditas ruins foram consideradas patológicas – a mais exemplar destas é a personalidade anti-social, mais conhecida como personalidade de psicopata. Não quero defender os crimes cometidos por psicopatas por aí, pois acho que qualquer ser humano que conscientemente (1) se torna um risco para outros e não sente remorso por isso, ou, se remorso for pedir demais, não ver vantagens em ser socialmente adaptado, ele deve ser mantido fora da sociedade. Deve ser tratado com dignidade e respeito, mas isolado para que não cause danos a ninguém. Entretanto, muitas pessoas são discriminadas por características comportamentais e personológicas que são mal-vistas por causa de crenças coletivas infundadas. Entre essas pessoas encontram-se psicóticos, Autistas (3), “portadores” (2) de Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade (TDA/H), e outros cujos comportamentos estão definidos no DSM ou na seção 7 da CID (4).
Aqueles que se enquadram em uma ou mais destas definições não são perigosos por causa de seus transtornos. Admito que um psicótico em surto pode ser bem perigoso, especialmente se ele achar que é Azrael o Anjo da Morte e que a hora de todos os seus vizinhos chegou (5), mas não é durante o surto que o preconceito acontece (até porque não dá tempo de fazer isso enquanto se tenta impedir que Azrael te decapite a pauladas), mas depois, com as rubricas sociais: “te cuida com aquele ali, ó, ele já foi pro São Pedro (6) quatro vezes. É louco de pedra!”; “é doido, coitado. Segura tua bolsa, querida.”; “lugar de louco é no hospício!” O sujeito pode ser a criatura mais mansa do universo, mas a mancha está lá, e ele está condenado ao limbo da sociedade.
Com os autistas, a coisa é um pouco mais complicada. Em termos gerais, o distúrbio caracteriza-se por uma grande dificuldade de socialização, de empatizar com outras pessoas e tendência a ficar muito tempo em seu “mundo interior”. Há casos mais sérios, mas o núcleo comportamental comum a todos que se encaixam no espectro autista está aí (se estiver errado ou incompleto me corrijam). Isto não é necessariamente ruim, e não o é na maioria dos casos, mas como dificuldade de socialização é uma coisa socialmente mal-vista (DÃ!), e muitos pais de crianças autistas sentirem na pele como é duro seu filho não olhar em seus olhos, faz-se de tudo para desenvolver técnicas para que eles tornem-se mais capazes destas coisas e saiam de dentro de suas conchas. De novo, considerando as coisas positivas que socializar-se traz, não vejo nada errado com isso. Só que o processo é bem duro, e muitas vezes maltrata os autistas. Por exemplo, autistas que tomaram remédios para tornarem-se mais mansos relatam que sentiam-se mentalmente inertes. Em uma situação mais cruel, autistas têm os olhos muito sensíveis para luzes fluorescentes, e quando entram em recintos iluminados predominantemente por lâmpadas deste tipo começam a gritar, fazer escândalo, essas coisas que a gente não quer ver por aí, por que dói. Para que isto não aconteça (e para que os pais dos autistas sintam-se como pais normais), as crianças são condicionados via Análise Aplicada do Comportamento para não emitirem este comportamento. A dor nos olhos continua, mas pelo menos eles são bons meninos e boas meninas, e é isso que conta.
O problema dos “TDA/Hs” é diferente. Eles são perfeitamente capazes de socialização, mas tem maior dificuldade do que a média da população para concentrar-se em uma tarefa só e manter-se nela por um período considerável de tempo, e precisam estar em constante movimento, além de “viajarem” com muita facilidade (de forma similar aos autistas, TDA/Hs são bastante introspectivos). Trazendo para o plano concreto, é mais difícil para eles prestarem atenção em aulas (especialmente expositivas) e trabalharem, pois não conseguem prestar atenção direito e ficam “brincando” de alguma forma para manterem-se em movimento (por exemplo, malabarismos de uma mão só, com canetas, controles remotos e similares). Não é que não consigam – é só bem mais complicado. Sou um paciente com TDA/H típico, e sinto na pele estes problemas. Falando por experiência própria, quando preciso trabalhar, eu trabalho, e quando preciso estudar, eu estudo. A diferença entre eu e uma pessoa não-TDA/H é o tempo que eu levo para sair de um estado passivo de vadiagem para um estado ativo de estudo/trabalho. Em um panorama mais geral, são poucos portadores deste transtorno que não conseguem realmente trabalhar – se a preguiça é a mãe da necessidade, a necessidade é mãe do trabalho árduo. Adultos que dependem de seu salário sabem que, se vadiarem, vão para rua. Inclusive TDA/Hs. Quem mais sofre com este “problema” são as crianças em idade escolar. Não conseguir parar quieto em aula não só é um comportamento mal-visto, mas é encarado como desrespeito pelo professor e falta de interesse em aprender por parte do aluno. Não considero aulas expositivas o modelo de ensino ideal para ninguém, mas, como sinto na própria pele, é muito pior para quem têm déficit de atenção e/ou hiperatividade (7). Assuntos que em outro contexto seriam muito interessantes tornam-se francamente aversivos, como Física ou Química, e o aluno TDA/H sofre muito mais para estudar (esqueci de dizer que a tolerância à frustração para portadores deste distúrbio é menor do que a média da população). E daí, dá-lhe ritalina pro guri parar quieto e obedecer o professor!
Numa sociedade perfeita, a distância entre o socialmente aceitável e o existencialmente mais agradável seria a menor possível, permitindo que as pessoas convivessem em harmonia, mas não tolhessem seu crescimento pessoal e potencialidades para tanto. Não é assim onde nasci e me desenvolvo. Os remédios e técnicas utilizados para tornar estas pessoas mais socialmente aceitáveis funciona e trás benefícios claros – um surto psicótico causa danos irreparáveis no cérebro, e quanto mais puderem ser evitados, melhor, e não há via mais eficiente que o tratamento farmacológico (8). Posso dizer o mesmo para autistas e TDA/Hs, pois ambos se beneficiam de certos tratamentos. Entretanto, a personalidade destes, seu próprio modo de ser é mutilado, destruído até. E por que isso? Por causa de uma sociedade incapaz de acolher e aceitar as diferenças. Soa patético e piegas isso, eu sei. Mas é real. Não foram poucos os psicóticos, autistas e hiperativos que demonstraram aptidões artísticas e científicas excepcionais. O São Pedro está cheio de artistas; desconfia-se que Einstein era aspergher, e pode-se inferir com bastante certeza de que Jung era um TDA/H também (e eu, é claro).
Recentemente, um grupo de autistas e simpatizantes trocou idéias e uniu-se pela causa de garantir maior liberdade para os autistas poderem ser o que são – autistas. Como eles próprios afirmam, eles são cidadãos de pleno direito, mas com um funcionamento cerebral diferenciado. Chamam sua causa de Neurodiversidade. Acredito que o mesmo pode ser dito dos outros “transtornos” que citei aqui, e esta busca ampliada para incluí-los também. Por que não considerá-los formas de personalidade diferentes? O próprio Jung, segundo diz meu pai, identificara o TDA/H antes dos psiquiatras do DSM o classificarem. Mas ao contrário destes, Jung o definiu como sendo a personalidade intuitiva – cujo foco libidinal é mais voltado para o mundo interior. Bem diferente da doentificação psiquiátrica.
Não defendo deixar os autistas viverem como estão, deixar os psicóticos em surto correndo por aí ou os TDA/Hs eternamente perdidos em suas divagações – isto não seria saudável. Em sua obra, Jung fala do processo de Individuação. Este processo de crescimento se dá através do desenvolvimento das funções pouco desenvolvidas em nós: introvertidos tornam-se mais extrovertidos, pessoas racionais tornam-se mais emotivas; o contrário também acontece (9). Acredito que, em uma sociedade ideal, nossas diferenças seriam respeitadas, mas nos seria permitido desenvolver aquilo que precisamos para nos tornarmos indivíduos únicos e saudáveis, e acredito que, se desejamos que tal sonho torne-se realidade, devemos primeiro criar uma sociedade mais neurotolerante.
------
1. A questão da consciência em psicopatas me soa complicada demais para poder dizer se eles possuem consciência ou não de seus atos, mas considerando que muitas pessoas com transtorno de personalidade anti-social são muito inteligentes e capazes de elaborar detalhadamente planos para longo prazo, vou assumir que eles têm consciência de que o que fazem é errado.
2. Palavra ruim, eu sei, mas não consigo pensar em nenhuma melhor.
3. Por motivos práticos, considero autista todos os portadores de condições que se encaixam no espectro autista, como a síndrome de Asperger.
4. DSM = Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, atualmente na quarta edição revisada; CID = Classificação Internacional de Doenças, atualmente na décima edição. A seção 7 da CID é de transtornos mentais (se não me engano).
5. Nesse caso, internação em uma ala psiquiátrica de hospital geral com vigilância faz MUITO sentido. No momento aqui no Brasil, e mais especificamente em Porto Alegre, os psicóticos surtados são internados em hospitais psiquiátricos, mas por motivos que não quero comentar aqui, não é a situação ideal. O Marcelo já falou sobre isso aqui e aqui.
6. Hospital Psiquiátrico São Pedro, também conhecido como “O Glorioso”. Pelo menos é assim que o diretor daquela joça chama o lugar.
7. Nunca conversa informal esses dias, o Lobo da Estepe (outro TDA/H óbvio e assumido) disse que a escola ideal para um TDA/H seria um parque de diversões com livros em locais específicos e bem chamativos, para que as crianças pudessem movimentar-se e ler à vontade quando achassem melhor. Os professores ficariam por perto para tirar dúvidas e cuidar para que os moleques não se esfolem além da conta (por que infância sem joelho ralado não existe). Talvez isso não funcionasse em uma escola primária, mas eu certamente adoraria se a Psicologia da UFRGS funcionasse dessa maneira.
8. Claro que, para alguns, o melhor remédio é um “bom ambiente”.
9. Na tipologia jungiana, há quatro funções psíquicas diferentes, além dos pólos extroversão-introversão da direção da libido: sensação, pensamento, intuição e emoção. Simplificando bastante, intuição é a função oposta de sensação, e pensamento a oposta de emoção. Cada pessoa tem uma dessas como função primária, a mais importante e desenvolvida, outra como função secundária, auxiliar à primária e tão desenvolvida quanto, a terciária e a quaternária, que são muito pouco desenvolvidas se comparadas com as duas primeiras. No processo de individuação, busca-se harmonizar estas funções e torná-las igualmente desenvolvidas. Se dispostas em um círculo, as quatro funções ficariam cada uma em um ponto cardeal, sendo seu centro o Self (arquétipo do desenvolvimento humano máximo e ideal a perseguir). Para uma melhor explicação, clique aqui (em inglês).
Marcadores:
Amolações,
Antropologia,
Educação,
Neurociências,
Psicologia,
Sociologia,
Teoria da Personalidade,
Transcendência
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Observação Irrelevante #49
Eu sou muito mais produtivo de madrugada. Talvez isto seja assim por que meus controles racionais e conscientes do que penso fiquem enfraquecidos pelo cansaço. Eu estou lendo Freud demais.
Marcadores:
Faculdade,
Inane Banter,
Psicologia
As Provações da Faculdade XV
Lá se vão os gnomos com seus potes de ouro. E com eles se vai minha honestidade intelectual.
Assinar:
Postagens (Atom)