sexta-feira, 13 de maio de 2011

Considerações filosóficas de final de tarde sobre educação

Atendendo muitos adolescentes, eu fico impressionado com a atitude que muitos pais têm em relação ao comportamento dos seus filhos. Quando eles vêm falar comigo, sempre fazem questão de dizer "doutor, eu dou tudo pra ele: roupa de marca, comida da boa, TV da Sky, me esfalfo trabalhando por ele e ele se comporta desse jeito! Tem cabimento, doutor?"

Nessa hora, ao ouvir tão fatídica pergunta, eu me faço de morto, mas normalmente preciso me controlar para não perguntar de volta "mas o senhor ensina ele o que fazer ao invés de agir dessa maneira?" Me controlo, por que tenho medo de desorganizar esse pai ou essa mãe, colocando no colo dele ou dela uma responsabilidade muito grande, que talvez eles não percebam possuir: a educação do seu filho.

Não quero defender apenas um lado aqui: normalmente, os adolescentes (e as crianças) que eu atendo fazem coisas terríveis. Mas daí eu pergunto: onde estão os adultos para controlar ela? Quem vai lá, aponta o que está errado e ensina como fazer direito? Se eu fizesse todas estas perguntas, aposto que duas coisas aconteceriam:

1) O pai/mãe ia me dizer "mas doutor, eu já estraguei todos os meus cintos e chinelos de tanto que bati nesse guri!"
2) Eu ia perder o paciente, por que o pai/mãe ia se sentir ofendido.

Ofender só funciona em um lugar nesse mundo: no seriado House, e olha que mesmo lá ele já teve sua cota de sofrimento por pisar nos calos da pessoa errada. Além disso, ofender seria incorrer no mesmo erro que esses pais incorrem: machucar ao invés de ensinar. Tomar uma surra ensina que não dá pra ser pego, e que se você consegue fazer o que quer sem que ninguém saiba, está tudo certo. Xingar na terapia também: se o doutor não souber, não acontece nada. É uma maneira primária de pensar, e a maioria dos meus leitores devem estar muito acima dela. Entretanto, não dá pra dizer o mesmo de grande parte da população.

Então, pra finalizar esse post, vou dizer algumas pérolas de senso-comum, mas que a experiência como psicoterapeuta me mostraram serem verdadeiras. A primeira é que "pai é quem cria", está lá, presente em nossos sucessos e também em nossos fracassos. A segunda é "bater não é educar" - se surra adiantasse alguma coisa, os presídios estariam cheios de santos e almas iluminadas, e não seriam considerados os piores lugares para se passar a vida. Terceiro, o ensino mais eficaz é o exemplo, a presença. Eu posso fazer meus filhos lerem vários tratados filosóficos sobre Ética, mas se eu não mostrar, através do meu comportamento, como colocar isso em prática, tudo o que eu vou estar fazendo é ensinando eles a justificarem os próprios erros. Justificativas normalmente não servem para nada, por que elas normalmente visam tornar correto o incorreto, ao invés de corrigi-lo e mudá-lo. E, em quarto e último lugar, o que vale para meus (no momento hipotéticos) filhos, vale para meus pacientes também: se eu quero que eles ensinem seus filhos a serem mais educados, eu tenho que ensinar da maneira que eu considero correta.

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