sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Por que eu entrei para uma chapa

(Texto publicado no PSIU! número 17, de outubro/novembro de 2008)

Estamos em plena campanha para as eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Quatro chapas concorrem este ano, e como vocês talvez já saibam, estou na nominata (lista oficial de integrantes) da chapa 3, a “Pode Chegar”. Foi uma decisão inesperada da minha parte, porém, ainda assim, um número considerável de colegas disse votará na nossa chapa ou nos apoiará por minha causa. É uma grande responsabilidade. Por isto, acredito que devo dar uma explicação sobre por que decidi concorrer pela chapa 3 para o cargo de coordenador do Campus Saúde.

Das muitas pessoas que conheci por causa da campanha, várias mostraram-se surpresas em ver um estudante de Psicologia envolvido de forma tão profunda nestas eleições. Isto não me surpreende. A nossa entidade política mais representativa, o DAP, é uma auto-gestão, e não tem eleições, chapas nem partidões influenciando seu trabalho – só quem realmente quer trabalhar por uma Psico melhor está lá, sacrificando um tempinho do seu dia informando sobre o que acontece em algum departamento, reclamando do banheiro do segundo andar para a diretoria ou indo nas reuniões do DAP e dando sua opinião. E este jeito DAP de ser é o exato oposto do que sempre imaginei o DCE, com suas campanhas barulhentas, chapas se bicando e siglas como PT, PSOL e PSTU financiando tudo isto. Nenhum dos DAPessauros esconde sua desconfiança em relação a tudo isto, e cita vários motivos para que ninguém se meta nisto. Então, que motivos eu teria para me envolver com esta bagunça?

Vejo a mim mesmo como um indivíduo impetuoso. Não gosto de ser apenas um observador e ficar olhando de longe a ação acontecer, especialmente quando se trata de algo importante, que possa influenciar de maneira positiva os estudantes, o DAP, a universidade ou a sociedade. Não quero ser apenas um espectador. E, com o DCE, não só eu, mas a Psicologia quase que em sua totalidade tem feito isto: olhar e não fazer nada. De vez em quando nós fazemos alguma crítica ao sistema representativo de democracia, elogiamos a nós mesmos e nossa auto-gestão e nos isolamos em nossa conchinha. Não é para menos que o pessoal que eu conheci se surpreendeu. E o DCE, por mais impuro que possa nos parecer, é uma das ferramentas de mudança positiva mais poderosas que os estudantes têm a sua disposição, pois através dele torna-se possível aglutinar a força não só da Psicologia, mas de todos os cursos de graduação da UFRGS e transformá-la para melhor. Eu quero e eu posso contribuir para que isto aconteça. Mas na mesma intensidade em que o DCE pode fazer o bem, também pode fazer o mal, colocando colega contra colega, incitando preconceitos, criando intrigas ou fazendo bobagens em larga escala. Eu também posso fazer isso tudo, apesar de não ser meu desejo. Para ser sincero, esta possibilidade me faz ter medo de realmente ser eleito, pois posso não corresponder a confiança que meus amigos depositam em mim.

Ainda assim, prefiro arriscar. Eu posso cometer muitos erros, mas mesmo a mera tentativa de fazer algo positivo no DCE é melhor do que apenas ficar deitado no sofá do DAP bebendo e reclamando da vida. Não acho que a chapa 3 seja perfeita, e sei que discordo de muitas posições de muitos companheiros que nela também participam. Mas é justamente neste ponto que acredito poder dar a minha melhor contribuição: a de discordar de forma educada, porém firme, de apontar as incoerências que vejo, de fazer como Sócrates e questionar o porquê de nossas decisões. É um trabalho difícil, e o próprio Sócrates pode atestar isto. Mais do que isto, eu quero aprender e crescer com esta experiência, e tornar-me uma pessoa melhor.

Decidi agir, e entrar para a chapa 3. Não peço seu voto, pois não posso assegurar que realmente sou a melhor opção para ser coordenador do Campus Saúde, nem que nossa chapa é a melhor para a UFRGS. Mas prometo que faremos o possível para que isto se torne verdade. Talvez no futuro eu venha a me arrepender de ter tomado esta decisão, mas só vou poder dizer isto depois de ter tudo acabado.

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