sábado, 26 de abril de 2008

Sono, Cansaço e Outras Paradas Muito Loucas

Passei essa noite em claro para fazer o trabalho requerido para o curso de extensão sobre Intervenção Social de que tenho tanto reclamado. Por mais frustrante que ele tenha sido até agora (e aposto que hoje é ladeira abaixo de ruim), foi produtivo fazer este trabalho e ler os artigos.

Fiquei procrastinando ontem (1) o dia inteiro a respeito deste trabalho, e sempre que começava a ler, arrumava outra coisa para fazer. No caso, eu fui escrever para o blog. É um comportamento louvável, que muito enriquece minha vida intelectual, mas na dada ocasião não só era desnecessário como era absolutamente inútil, e estava me atrapalhando. Pode parecer uma atitude um tanto quanto esquizo pôr a culpa em um comportamento próprio ao invés de culpar a si mesmo. E é. Relevem.

Entretanto, uma certa hora da noite, depois de comer um pouco, comecei a jogar um joguinho que tenho instalado no computador: Little Fighter II. Grosso modo, é um jogo de luta de anões (2). Acredito que esta descrição deixe claro a inutilidade que era ficar jogando aquilo (3). Então, subitamente lembrei-me que tinha um trabalho por fazer. Não, “lembrar” não exprime o impacto que senti. Foi como se um tijolo tivesse sido jogado no poço de minha consciência, agitando as águas anteriormente tranqüilas. Tive um choque de realidade, não por causa do trabalho, mas por causa de minha atitude – passou por minha mente que comportamentos recorrentes são neurologicamente “marcados”, e tornam-se cada vez mais fáceis de se repetirem. “É assim que quero viver o resto de minha vida?” perguntei para mim mesmo. Respondi que “não” da forma mais enérgica possível, e pus-me a trabalhar novamente.

Foquei-me na leitura dos artigos recomendados (que até pareciam mais legíveis) e em escrever minha resenha de uma maneira que não lembro ter conseguido anteriormente. Fiz vários intervalos, mas nenhum maior que 45 minutos. Trabalhei por muito tempo.

E senti diferenças fisiológicas. Ao contrário do que ocorreu em situações passadas em que tentei permanecer acordado para estudar, não senti sono algum. Pelo contrário, fiquei mais desperto do que de costume; focava minha atenção com facilidade, e podia tranquilamente alternar as janelas do Windows entre um texto e outro, e depois para meu trabalho (4). O único comportamento disfuncional era minha leve falta de controle sobre minhas pernas. Quanto ao resto, meu maquinário mental funcionava a pleno vapor. Agora que terminei o trabalho, contudo, minha vigília e minha atenção esmaecem e desaparecem. Este estado de fraqueza que sinto agora lembra-me vagamente do acampamento de sobrevivência do qual participei quando era escoteiro sênior. Depois de dois dias apenas comendo pinhão e tomando água, não sentia fome, mas uma leve e persistente canseira.

Sei que, em situações extremas de privação ou esforço físico, as pessoas começam a delirar, como os corredores de longa distância que sentem uma estranha euforia após uma corrida especialmente dura, ou religiosos que sentem-se em êxtase religioso após uma semana ou mais de jejum. Neuroquimicamente falando, estes fenômenos são devidos aos neurotransmissores serotonina e dopamina (ou algum outro que eu não saiba. Não vou culpar meu cansaço pela minha ignorância), responsáveis por ativar as vias e centros relacionados ao prazer. Seria uma resposta adaptativa do corpo para “motivar” o pobre coitado correndo do leão há 4 horas e sem comer há 48 a seguir em frente ao invés de desmaiar por exaustão. Acho que o mesmo deve acontecer depois de muito tempo sem dormir (não é meu caso. Foram só 8 horas).

Bem, com licença. Vou dormir.




1. Ou hoje. Essa questão temporal fica bem bagunçada quando se vê o sol nascer e não se dorme.
2. Na verdade, desenhinhos cuticuti. Se cagando a pau, mas cuticuti ainda assim.
3. Mas anões se sovando é divertido, nonetheless.
4. Estou vendo gnomos agora.

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