domingo, 23 de março de 2008

A Ciência Humana

O comportamento humano é influenciado por muitas forças diferentes. Na verdade, não se pode precisar com certeza essas forças - a ciência apenas as dividiu da forma mais conveniente possível, para facilitar seus estudos.

De maneira geral, estas forças determinantes são os aspectos físicos, biológicos, ambientais, sociais e psicológicos do ser humano. Não é uma divisão cientificamente embasada, apesar de ser baseada em muitas pesquisas científicas, mas por mim feita de acordo com o que imagino determinar nossas ações.

O determinante físico é simplesmente o mundo em que vivemos: um mundo físico, em que não podemos voar como o Superman, ou ter um laço mágico como a Mulher-Maravilha. E também é neste mundo que nossos cérebros, estômagos e baços vêm a existir e funcionam. Pode parecer óbvio, mas o mundo físico e (aparentemente) material em que vivemos determina muito a maneira como nosso organismo trabalha.

A parte biológica envolve nossa herança genética de primatas superiores, e tudo o que implica nisto. Por exemplo, não temos liberdade para sermos seres humanos hoje e peixes amanhã; não podemos escolher entre defecar pelo ânus ou por uma cloaca; e não sei se podemos viver só a base de luz (controverso, eu sei). Em outras palavras, estamos fadados a sermos seres humanos, e a viver como tais.

O ambiente é o local em que vivemos - acredito que é um tanto quanto óbvio que um indivíduo que nasceu e foi criado em uma zona desértica terá comportamentos muito diferentes de um outro alguém que viveu toda sua vida ao lado do rio Amazonas.

A sociedade é o agrupamento de pessoas dentro do qual nos desenvolvemos e com quem interagimos. É impossível para um ser humano viver sua vida inteira só - somos uma das poucas espécies cujos filhotes recém-nascidos não são capazes de viverem por conta própria no momento em que saem do útero. Isso nos torna criaturas naturalmente sociáveis, ou pelo menos, nos é altamente vantajoso sermos sociáveis. E viver em sociedade, trocando experiências e entrando em contato com muitos outros indivíduos determina de forma bastante acentuada nossa forma de pensar e agir. São hábitos e crenças compartilhadas entre um certo grupo que constituem uma cultura.

E por fim, a parte psicológica do ser humano: como pensamos. É possível dividir o fator mental em inconsciente e consciente. A parte inconsciente, como deve ficar um tanto óbvio, fazemos "sem pensar" - por exemplo, não temos que ficar raciocinando para saber qual perna colocar depois da outra quando caminhamos. A parte consciente é a nossa "mente racional", que faz cálculos, planos e coisas assim. Também é possível fazer outra subdivisão, entre pensamentos racionais e emocionais, mas que na verdade estão ligados de forma muito estreita, como as últimas pesquisas neurocientíficas vêm demonstrando.

Estas são as forças conhecidas e reconhecidas universalmente como determinantes do nosso comportamento. É possível que existam outras forças atuantes, como forças espirituais, advindas das estrelas ou da reencarnação das almas, mas estas não foram satisfatoriamente estudadas e comprovadas. Como disse anteriormente, esta é uma divisão meramente didática, utilizada para melhor se estudar as influências do mundo sobre nós seres humanos. Se observarmos bem esta divisão que fiz, notaremos que uma influencia a outra: nossa constituição cerebral influencia nossa forma de pensar, as leis da física determinam como nosso cerébro pode funcionar, certas qualidades genéticas são preferíveis em certas sociedades, e nossos projetos, como hidroelétricas, alteram de forma significativa nosso ambiente.

De certa forma, todas estas forças são determinantes de nossas ações, em outras palavras, condicionam como sempre iremos fazer as coisas. Todas, exceto nossa Consciência. Não a consciência de termos que comprar pão para o café da manhã, mas a Consciência de que existimos, que sofremos e que um dia vamos morrer. Diria que esta força é um indeterminante, pois nos torna muito mais imprevisíveis. Por mais condicionados que somos física, ambiental, biológica e sociologicamente, sempre podemos fazer o oposto do que é esperado. Na Íliada, Heitor, quando desafiado por Aquiles nos portões de Tróia, poderia ter fugido, se escondido, negado-se a lutar, ou então poderia ter feito um trato com os gregos, entregando Tróia e metade de seus tesouros em troca de sua vida, mas como disse Homero, "por que pensa meu coração tais coisas?" Ele escolheu o caminho que considerou mais digno: sua própria morte. Nossa Consciência é o que os filósofos existencialistas chamam de Dasein - o Ser-Aqui, o Ser-Agora. Não pretendo transformar este post em uma explicação da filosofia existencial (até por que não a compreendo tão bem assim para ficar explicando), mas o Dasein é o que nos torna uma espécie única de animais.

Estes fatores não atuam em blocos, ou de forma separada, mas ao mesmo tempo e de forma sobreposta, sendo um único comportamento influenciado por vários determinantes. E esta é a grande dificuldade de uma Ciência Humana, pois no atual momento que vivemos, não é possível prever ações de forma precisa (uma professora minha costumava dizer que 30% de precisão em um instrumento psicológico é motivo pra soltar foguete). E frequentemente, para burlar este pequeno problema, os cientistas caem ou no reducionismo - considerando todos os comportamentos como sendo influenciados exclusivamente por um fator, ou no anticientificismo - atacando a ciência preditiva, e limitando-se apenas a descrever os acontecimentos. O representante nato do primeiro movimento é o Behaviorismo Radical, representado principalmente por B.F. Skinner, e do segundo a Psicologia Social que me ensinam na faculdade. Nenhuma das duas é eficiente e abrangente no longo prazo, apesar de terem feito contribuições significativas para o todo.

Todas as Ciências Humanas são complicadas. Mas se eu quisesse moleza, teria feito Engenharia.

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