domingo, 29 de junho de 2008

Nada foi em vão

Em um post anterior, disse que não sou muito dado a explosões sentimentais. Esta definição, apesar de bastante precisa, é insuficiente, pois é uma afirmação negativa – diz o que não sou com certeza, mas não diz o que sou verdadeiramente. Se tivesse que definir-me de tal maneira, poética mas brevemente, diria que sou implacável como uma força da natureza. Sturm und drang, tempestade e ímpeto! Do fundo de meu ser, brota uma energia muito grande, que quando posta em ação é simplesmente irresistível, e tentar me impedir é como tentar impedir o Sol de nascer. Não é algo que consigo sempre, pois como uma habilidade há muito perdida, preciso trazê-la de volta à consciência e praticá-la, e neste processo, muitos erros acontecem. É assim que deve ser. Mas todas as vezes que toquei esta força e tornei-me uno com ela, meus movimentos, pensamentos e sentimentos fluíram em harmonia, tornei-me sagaz, ágil e forte. Quando estou neste estado, posso ser atrasado por contingências externas, mas nunca derrotado. Algum estranho que porventura venha a ler este meu texto provavelmente pensará que sou um megalomaníaco dos mais afetados. E, para ser sincero, eu mesmo tenho dificuldades em diferenciar esta minha descrição do depoimento de uma pessoa com Transtorno de Humor Bipolar em sua fase maníaca, ou de alguém com Transtorno Narcisista de Personalidade. Mas apesar destas dificuldades, não tenho a menor dúvida de este estado de fluxo está para o narcisismo assim como o mestre está para o charlatão. É algo que a ciência simplesmente não é capaz de compreender, quanto mais explicar.

Esta semana que passou foi provavelmente uma das mais difíceis que já tive que encarar. Meu adversário não era a natureza que tantas vezes enfrentei, ou as outras pessoas que tanto confrontei. Meu inimigo era eu mesmo, armado com todas as dúvidas que me afligiam. Cada angústia que me afligia era como fogo a queimar minha alma, e a dor quase insuportável. Talvez esteja sendo dramático demais, mas não importa agora. Mas eu suportei a dor, e uma hora ela passou. No seu lugar, ficou uma sensação de leveza e bem-estar, como se o fogo tivesse queimado apenas aquilo que me feria, apesar de acreditar serem parte de mim – parasitas que em algum momento se agarraram a meu ser, e que de mim sugavam força e vida. O tempo deles acabara, e era preciso arrancá-los de mim, por mais doloroso que pudesse ser.

Ficou, contudo, também a sensação de que todos os eventos recentes por que passei foram sem propósito, e que todas as memórias seriam mera fonte de dor e nostalgia. Então, tive um insight. Em minha jornada da alma, passando por uma rua, avistei uma pequena igreja, que logo chamou minha atenção. Ela era mal cuidada, e o reboco estava caindo. Mesmo assim, subi as escadarias que levavam até ela.



Passo os olhos em revista pelo pórtico, quando a minha atenção é capturada.

Nada foi em vão. Nada nunca é.

Um comentário:

Anônimo disse...

Já que é para diagnosticar a lá louca, não creio que seja um caso de bipolaridade em fase maníaca.
A partir do que eu entendo por experiência pessoal, posso inferir uma neurose obsessiva acompanhada de um condicionamento forte para obstinação, autonomia e força.

Eu sei como é a sensação de ser irrefreável. Entretando, essa onipotência encontra novamente a humanidade limitada de onde parte quando o obstáculo a ser transposto são outras pessoas. No caso do ônibus, não há meios de agenciar os desejos dos outros o suficiente para que um projeto coletivo seja realizável.

O inferno são os sujeitos.