sexta-feira, 11 de abril de 2008

Treinos

Fui treinar Kung Fu hoje na academia. Demorei esta semana para fazer isto, graças à minha necessidade de ter que ir fazer uma observação de grupos na quarta-feira (que vai durar mais quatro semanas no mínimo), Psico 8 e ½ e outras pendengas. Mas valeu a pena.

Há três ou quatro anos, quando recém tinha começado a treinar em Caxias, conversei com um cara com mais tempo de treino, que me disse que “só fico satisfeito com o treino quando acordo dolorido no outro dia. Daí eu sei que eu me puxei”. Achei uma definição de produtividade bastante impactante, mas só em Porto Alegre desenvolvi um parâmetro próprio similar: para mim, treino bom é aquele que me faz voltar arrastando as pernas para casa. E ultimamente, apesar sentir que estou treinando menos do que deveria (e gostaria), tenho tido poucos treinos assim – não por falta de freqüência em aula, mas proporcionalmente. Alguns meses atrás, era batata ir para a academia e voltar quase morrendo. Agora, faço o treino completo e não me sinto tão fatigado (com exceções). Consigo até caminhar reto!

Outro parâmetro de produtividade pessoal que criei é o de formas praticadas, com pontos extras para aprender formas novas. E hoje foi um dia duplamente produtivo, pois além de sofrer para chegar em casa, foi-me ensinada a primeira parte completa da forma Louva-Deus, depois de um mês sem aprender nada de novo. É uma forma bem complicada, cheia de movimentos rápidos e estranhos (exatamente como um louva-deus), mas o que foi especialmente gratificante disso não foi apenas sua dificuldade, mas o tempo que levou para que me ensinassem. Senti-me próximo dos grandes guerreiros de antigamente, que levavam anos para aprender uma forma básica. O pai do Karatê-Do moderno passou 10 anos com um mesmo mestre para aprender apenas 3 katas (formas em japonês. Em chinês é katy). Dá uma média de 3 anos para cada, e os dias que ficaram de fora ele provavelmente ficou rachando lenha no mato (ou apanhando do mestre. Ou os dois. Ao mesmo tempo).

Para um bom preguiçoso, isso soa como masoquismo puro e simples, e só um abobado louco como eu se sujeitaria a tais condições. Mas a sensação de paz que sinto toda vez que entro no solo sagrado de treinamento, de deixar todos os meus problemas mundanos do lado de fora de suas paredes, de estar em harmonia comigo mesmo e com o universo mais do que supera a dor que às vezes sinto, mas dá sentido para ela. Os samurais antigos chamam esse estado mental de satori, os monges budistas de nirvana, e os psicólogos positivos de flow – fluir, pois não pensamos muito, apenas fluímos com a corrente, e cada passo dado em uma corrida, cada golpe desferido em uma luta, cada movimento em um katy é a única coisa que fazemos, a única que percebemos e a única com que nos importamos naquele momento. É uma meditação em movimento. O mundo cessa. É apenas um momento efêmero, mas que muitas vezes fez dias deprimentes que vivi tornarem-se subitamente iluminados. A dor é apenas uma plataforma para um crescimento pessoal maior, uma transcendência de si. Cada instante na academia é um instante bem aproveitado, e hoje mais do que muitos outros dias.

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