sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Memética: Ciência e Arte da babaquice

Vocês já ouviram falar de memes, correto? Sabem que, na blogosfera, esta fossa nasal da internet (o esfíncter já tem dono), memes são uma idéia que um blogueiro tem, posta em seu blog, e pede para blogs parceiros fazerem o mesmo. A internet por si só está cheia de memes. Aquelas correntes de e-mails, alarmes falsos de vírus do Orkut, piadas do Capitão Nascimento, e muitas outras bobagens que de tão numerosas iriam tomar todo meu tempo. Desnecessário dizer que a vida real também está cheia de memes.

O conceito de meme foi proposto originalmente por Richard Dawkins, para explicar como e porquê os seres humanos têm e passam idéias adiantes. A menor unidade de pensamento seria o "meme". Este termo foi escolhido por ser relacionado com memória, e por soar de forma muito parecida com "gene" (um termo mais apropriado seria "mneme", mas daí a sonoridade iria para o espaço). Os memes, tal como os genes, têm como função se procriar e se espalhar pelo mundo, com a diferença que os genes realmente existem, enquanto que os memes são só um construto muito bem bolado. Dawkins teve uma idéia genial (o conceito de meme é um meme em seu próprio direito) para explicar como funciona nossa comunicação, apesar de os memes não contemplarem idéias mais complexas, como religião e filosofia, ou por que alguns memes têm sucesso e outros não, mas a idéia em si é muito boa para explicar a idiotice humana.

A Rede Globo de Televisão é uma criadora sem par de memes. Alguém se lembra da novela "O Clone"? Provavelmente não, pois eu tive muita dificuldade para lembrar do nome dela, mas não tive nenhum problema para lembrar de sua criatura mais popular: o bordão "né brinquedo não!". Toda vez que eu escutava essa frase (geralmente, era em sala de aula, vinda da boca de uma colega um tanto quanto "polêmica", por assim dizer) eu sentia um desejo quase incontrolável de tirar as meias e enfiar na garganta de quem derramou o meme por todo o recinto. Os bailes funk cariocas e companias de marketing, com suas músicas e jingles e bordões, também demonstraram um alto nível de capacidade de criar memes. As músicas e os jingles também são conhecidos como "Earworms" - vermes de ouvido - devido a sua prodigiosa capacidade de grudar no ouvido de quem quer que tenha as ouvido, e por sua alta capacidade de reprodução. Ou por acaso você nunca se flagrou cantando "piriguete" ou "tô curtindo o batidão" em voz levemente alta perto de outras pessoas? Por que é assim que eles, memes, se reproduzem - sendo passados de pessoa para pessoa, através de comportamentos verbais (e as vezes, não verbais também). Digo "comportamentos verbais" porque pode ser também por meio da escrita - veja a internet por exemplo. Quem aqui não leu em algum blog ou site sobre o vídeo das Uvas Elétricas do Lasier Martins?

Como disse anteriormente, a memética não se presta para explicar como idéias complexas são passadas de pessoa para pessoa, mas para idéias simples ela é quase perfeita. A memética é perfeita quando se trata de estudar como idéias e pensamentos simples e irracionais se irradiam pelo universo. A Memética, de certa forma, é uma ciência e uma arte. Ciência, pois nos ajuda a compreender, mesmo que de uma forma mais limitada do que gostaríamos, a dinâmica do pensamento humano, e arte, por que espalhar memes por aí envolve um certo trabalho de gênio. E de imbecil (os trabalhos do Kibe Loco ilustram bem os dois casos - ele colocou o vídeo do William Bonner imitando o Clodovil por conta própria, mas repassou muitos memes alheios como se fossem seus).

O fenômeno dos livros de auto-ajuda pode ser explicado através da Memética: o autor escreve um livro cheio de texto simples, muitas vezes reducionistas, incompletos, superficiais, infantis ou perigosos (ou todos esses atributos juntos), com um título catchy (termo em inglês que signfica "de boa sonoridade e memorização") e manda para a editora. A editora publica o livro com uma capa dura bem colorida e bonitinha, alguém compra, devido à campanhas de marketing agressivas ou pelo velho boca-a-boca, lê, acha as idéias legais (e principalmente, fáceis de lembrar), fala para um amigo, esse amigo compra e repete o processo, e assim, um livro boboca vende como água no deserto. e os memes do livro se espalham como gonorréia na zona.

A internet seria um campo fértil para o estudo da proliferação de idéias contagiosas, por causa de sua facilidade para obter e enviar informações. A dificuldade em avaliar a fonte e a veracidade dos fatos também colabora, mas não é central para transformar as intrawebs no nicho preferido dos memes. Um fator que facilita o estudo dos e-memes (essa palavra eu inventei agora) é a possibilidade de, mesmo anos após seu nascimento e "morte", encontrar registros dele em algum lugar (por isso "morte" entre aspas. E-memes nunca morrem. Apenas hibernam).

O ser humano tem uma face racional e uma face irracional. A Memética, que seria um subcampo da Psicologia Social, estudaria este lado irracional, que não pensa, apenas reage e repassa uma idéia para todo um grupo apenas porque ela é simples. De certa forma, a Memética estudaria os comportamentos reflexos de repassar informações simples, e/ou idiotas e/ou desnecessárias para os demais, fazendo com que também seja ligada à Análise Experimental do Comportamento, mas também à Fenomenologia, por também estudar as motivações de quem cria, e em menor escala, de quem repassa os memes.


Eu deveria explicar o que raios é Análise Experimental do Comportamento e Fenomenologia, mas não estou com vontade.

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