domingo, 29 de junho de 2008

Honestidade Existencial

Comparando-me com outras pessoas, vejo que sou diferente. Ao contrário dos demais de minha idade, fiz coisas concebidas como absurdas ou deixei de fazer outras consideradas como “essenciais” ou boas para a vida de qualquer um, pelo simples fato de achar que era o correto, se não para todos, pelo menos para mim. Falando desta maneira não dá para identificar qualquer diferença entre eu e outras pessoas já que, em teoria, todos fazem o que acham correto. E, de fato, isto é verdade. Mas o que acredito diferenciar-me de boa parcela da humanidade é o que fundamenta o que acho certo – busco sempre a mais absoluta pureza, em meu corpo, minha mente e meu espírito. Pensando racionalmente, não consigo encontrar nenhum argumento que comprove a superioridade de minha conduta sobre a de acatar o que os outros dizem e agir como qualquer um agiria. Seria até mais fácil seguir a corrente. Apenas não consigo fazer isto. É como se voltasse agora para Caxias e passasse a estudar na UCS: seria muito mais fácil, pois teria o carro dos meus pais à minha disposição (em termos), casa limpa, comida quente e roupa lavada todo dia, além da tranqüilidade de voltar a andar por ruas que são velhas conhecidas minhas. Seria muito mais prático, mas não dá. É como a resposta que uma colega de Kung Fu deu quando lhe perguntaram se ela nunca tinha pensado em praticar um esporte mais leve – “eu adoraria, mas não quero”. Seria navegar com a corrente, mas ir contra mim mesmo.

Não estou dizendo que consigo esta pureza de espírito sempre – apenas tento atingi-la em tudo o que eu faço. No fim, tomar as próprias decisões de acordo com o que tua alma diz é muito mais doloroso, pois ela está acima e além dos grilhões do tempo e do espaço, e seus chamados ignoram a matéria rude que nos envolve. E por mais cruel que possa parecer não há liberdade maior do que aceitar a própria essência. Podemos ter todo o prestígio, dinheiro, poder e prazer do mundo e ver tudo como insignificante, pois não fomos sinceros com nós mesmos nesta busca. É como Ricardo III de Shakespeare (obra que infelizmente não li, por que deve valer muito a pena), que tudo fez para subir ao trono da Inglaterra – enganou, trapaceou, matou todos os que via como pedras em seu caminho – para então, já rei, sentir uma estranha angústia, mas que nunca admitiu ser por envergonhar-se de si mesmo. É triste saber que todos, em pelo menos um momento de suas vidas têm a oportunidade de serem verdadeiros consigo mesmos, mas deixam passar, e sofrem pelo resto de suas vidas, e sem saber por que! Enganam as dores, compram mais roupas, vão em mais festas, mas a acídia continua lá. Não quero seguir este caminho. Prefiro assumir toda a dor que tiver que sentir, e carregarei a minha cruz. Eu quero mais. Mais uma vez, tenho que ser sincero e dizer que não sei se este é o melhor caminho a se seguir – mas é o que tenho a minha frente.

Um comentário:

Luiza Vanset disse...

"E por mais cruel que possa parecer não há liberdade maior do que aceitar a própria essência."

Muito bom.